segunda-feira, 4 de junho de 2012

A mídia e as eleições na Venezuela

Por Jadson Oliveira, no sítio Fazendo Media:

Os blogueiros chamados progressistas estão de olho nas eleições venezuelanas, no próximo 7 de outubro. A provável reeleição do presidente Hugo Chávez – atacado diariamente pela mídia a serviço do império dos Estados Unidos e enfrentando um tratamento contra o câncer – representa muito para a consolidação das mudanças na América Latina. Sim, porque o governo da Venezuela é “a vanguarda do avanço” na luta pela soberania e pelos interesses populares na região. Um dos maiores exemplos dessa posição é a firmeza com que combate os monopólios da comunicação, com um programa arrojado de apoio à mídia comunitária.


Tais aspectos foram destacados pelo professor Dênis de Moraes, da Universidade Federal Fluminense (UFF), autor do livro A Batalha da Mídia, durante um dos mais concorridos painéis (“A mídia e as eleições na Venezuela”) do III Encontro Nacional de Blogueiros, realizado em Salvador nos dias 25, 26 e 27/maio. Ele começou sua palestra lembrando a situação desoladora do Brasil no particular, dando passos iniciais e vacilantes em defesa do marco regulatório da mídia, um dos temais mais discutidos no encontro. Isto é, “talvez seja o país mais atrasado da América do Sul”, diante da concentração da chamada grande imprensa nas mãos de meia dúzia de famílias, ao contrário do estágio de luta de países como Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina, que já contam inclusive com novas legislações.

Além do apoio à mídia comunitária, Dênis de Moraes citou outras ações ofensivas do governo para democratizar as comunicações e se contrapor aos monopólios privados, como a instalação de seis emissoras estatais (cada uma voltada para determinado espectro); não renovação da concessão da RCTV (funciona hoje apenas como TV por assinatura), emissora privada envolvida no golpe de Estado de 2002; investimento em redes digitais; nova lei de incentivo à comunicação popular;

E nova lei de responsabilidade dos meios de comunicação, deixando claro que as concessões não são propriedade de pessoas ou empresas particulares e não são renováveis automaticamente, como acontece no Brasil, onde o Ministério das Comunicações é simplesmente “um cartório do capital”, como frisou o professor. Ou seja, quem detém concessão de rádio e TV é obrigado a respeitar o interesse público e a diversidade informativa e cultural.

O embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arvelaiz, participou dos debates. Ele falou da descoberta da expressão PIG (Partido da Imprensa Golpista, referente à direita que predomina na grande maioria dos veículos da velha mídia, expressão popularizada pelo blog Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim). Comentou que seu alcance é internacional: a ação do PIG lhe chega logo pela manhã com os jornais do dia: é só notícia sobre a escassez de alimentos e a insegurança no seu país. “Parece que eles falam de um outro país”, disse. Não há nenhuma referência ao fim do analfabetismo, ao fim da miséria extrema, o presidente é chamado de ditador e não é lembrado que ele venceu 16 eleições democráticas nesses 13 anos que está no poder (contando com consultas, plebiscitos, etc).

Sobre o candidato presidencial da direita, de oposição ao governo, Henrique Capriles (as pesquisas de opinião lhe dão quase 30% das intenções de voto contra 50% a 60% de Chávez), os jornais passaram a divulgar que ele é de centro-esquerda e que tem como modelo o ex-presidente Lula. Não dizem aos seus leitores – contesta Arvelaiz – que Capriles foi um ativo golpista em 2002, episódio durante o qual participou da invasão à Embaixada de Cuba. Pediu então a vigilância dos blogueiros brasileiros para a eleição em seu país, alertando que o sonho da direita e do império é desestabilizar o governo bolivariano.

Baluarte da luta contra-hegemônica

Já Jaime Amorim, da direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), outro dos palestrantes, fez o apelo: “O povo venezuelano está na obrigação de ganhar as eleições (reeleger Chávez) e nós temos a obrigação de ajudar”. Para ele, a Venezuela é um baluarte da luta contra-hegemônica nas comunicações e é fundamental para as forças da esquerda e dos movimentos populares a vitória do presidente.

- A vitória contra a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) só foi possível depois que Hugo Chávez chegou à presidência, lembrou Amorim, discorrendo que, a partir daí, com a eleição também de outros presidentes da região, como Lula no Brasil, houve uma real mudança na correlação de forças. “Antes a integração da América Latina era com os Estados Unidos, hoje podemos dizer que somos a Pátria latino-americana”, festejou.

Outro que participou da mesa foi Renato Rovai, do Blog do Rovai, editor da revista Fórum e dirigente da AlterCOM (Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação). Baseado nas várias visitas feitas à Venezuela nos últimos 10 anos, ele alertou para as manipulações da mídia contra os avanços democráticos e populares do povo venezuelano. Os debates foram coordenados por Igor Felippe, editor da Página do MST.

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