Por Altamiro Borges
A acelerada decadência
A dissidência pragmática
Saiu ontem na coluna de Mônica Bergamo, na Folha:
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O vereador Carlos Apolinário deixa hoje o DEM para entrar no
PMDB e se incorporar à campanha de Gabriel Chalita à prefeitura. “O DEM não existe
mais em São Paulo”, diz ele. “O que tinha era tempo de TV e agora até perdeu um
pouco disso para o PSD”. Ele passa a ser o único vereador do PMDB na cidade.
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A declaração de Carlos Apolinário, que já foi uma referência
dos demos, mostra bem as dificuldades das forças conservadoras e oligárquicas
que se agruparam nesta legenda. Evidencia que a direita não convive bem com a
democracia. Por isso, ela sempre foi golpista e partidária de ditaduras. Antes,
os mesmos cacifes que hoje sucumbem no DEM apostaram as suas fichas em outras
siglas.
Na época da ditadura, muitos deles se abrigaram na Arena,
considerado o maior partido da direita no mundo ocidental. Já nos estertores do
regime militar, eles se travestiram de Partido Democrático e Social (PDS) e mantiveram
certa força. No reinado neoliberal de FHC, fundaram o Partido da Frente Liberal
(PFL) e voltaram a crescer, elegendo mais de 100 deputados federais e vários
governadores.
O ciclo político aberto pelo ex-presidente Lula, porém, foi
fatal para a representação partidária da direita oligárquica. Ela começou a
definhar e, na maior caradura, adotou o nome de Democratas (DEM) para tentar
sobreviver. As oligarquias perderam força nos governos estaduais, inclusive no
Norte e Nordeste, e a sigla teve a sua bancada federal drasticamente reduzida.
Como o cobertor encolheu, a rebeldia pragmática se instalou entre os demos, com muitos abandonando o barco à deriva. O golpe mais duro ocorreu no ano passado com a criação do
PSD, liderado pelo ex-demo Gilberto Kassab, prefeito da capital paulista. Numa só tacada, o DEM perdeu 17 deputados federais, uma senadora, um governador e
centenas de prefeitos e vereadores em todo o país.
“O DEM não existe mais” não apenas em São Paulo. Em vários
estados, ele simplesmente desapareceu do mapa. Os que sobraram na legenda
apostam as suas últimas cartadas nas eleições municipais de outubro próximo. Só
mesmo um milagre poderá salvar os demos do inferno. A extinção deste partido
direitista será muito positiva para a democracia brasileira.
Isto não significa, é lógico, que os conservadores não tenham mais força no Brasil. Eles mantêm o poder econômico e contam,
principalmente, com a mídia – o verdadeiro partido do capital – para difundir
os seus dogmas. Além disso, hoje eles se fazem representar por inúmeras siglas
partidárias. O DEM está próximo da extinção, mas as forças de direita ainda são muito fortes no país.
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