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Repetindo roteiro semelhante ao das últimas eleições - sobretudo a presidencial de 2010 - a eleição paulistana parece converter-se rapidamente numa guerra santa, misturando a disputa política e eleitoral à afirmação da fé dos eleitores.
Embora não veja propriamente uma novidade no engajamento religioso no processo eleitoral, o professor Ricardo Mariano, da PUC-SP (ouvido pelo jornalista Roldão Arruda numa entrevista reproduzida pelo portal Vermelho), assinala uma novidade na eleição deste ano: a guerra santa eleitoral reflete o pluralismo religioso que passou a vigorar de fato no Brasil nos últimos 30 anos, indicado pelo crescimento das igrejas evangélicas e pelo recuo da participação católica no conjunto da população que, segundo o último Censo do IBGE, foi significativo, chegando a inéditos 60% dos brasileiros.
Isto explicaria o maior embate vivido entre as correntes católicas e evangélicas - os católicos, na defensiva, apoiam ativamente candidaturas alinhadas com sua forma de pensar e mesmo as autoridades eclesiásticas, como a Cúria Metropolitana de São Paulo, entram na disputa, como se viu na nota divulgada na sexta-feira (14) contra o bispo Marcos Pereira, da Igreja Universal, presidente do Partido Republicano Brasileiro (PRB) e coordenador da campanha de Celso Russomano à Prefeitura de São Paulo.
O engajamento religioso confunde, na disputa eleitoral, duas dimensões que, num estado democrático e republicano, precisam ser rigorosamente separadas: a dimensão subjetiva da fé e a esfera objetiva da disputa pelo poder político.
São os mais conservadores que, quase sempre, apelam à crença e aos dogmas religiosos em campanhas políticas. Sem disposição ou condições para debater as relações reais e concretas entre os homens reais e concretos que residem nas cidades, apelam para forças sobrenaturais situadas fora, e acima, do convívio humano, e que impõem a ele a imutabilidade e a permanência de formas de conviver sancionadas por esses poderes sobrenaturais, e às quais todos devem se submeter, sob o risco de viver em pecado.
A conquista democrática do caráter laico do Estado trouxe essas relações dos céus para a terra, para a convivência cotidiana dos cidadãos, cujas normas são sancionadas no plano secular e laico. Nas sociedades divididas em classes, como as sociedades contemporâneas, as normas que regulam a vida social, política e econômica, decorrem da correlação de forças políticas existentes dentro de cada uma delas. E que resultam do conflito social e político e da capacidade de cada protagonista defender seus interesses e transformá-los em política de governo.
O apelo a forças sobrenaturais, nesse sentido, busca “congelar” as relações existentes, fugindo ao conflito de classes ao tentar “divinizar” - e encarar como naturais e imutáveis - as relações existentes na vida real e concreta. Seu objetivo é impedir a mudança das regras sociais e políticas e derrotar, com apoio “divino”, os candidatos mais progressistas cujo programa é justamente o avanço social e a mudança em regras socialmente injustas.
Numa sociedade democrática religião e política deve andar separadas.
A liberdade religiosa - inclusive a liberdade daqueles que não tem religião - é um preceito constitucional fundamental na democracia. Associar Estado e religião significa conferir a uma crença particular a preferência - e, ao cabo, o poder político -, acima das demais crenças. Traz a ameaça de imposições confessionais que podem romper a igualdade e a liberdade asseguradas pela Constituição. É uma maneira de macular a democracia e criar uma desigualdade entre os cidadãos com base no fator subjetivo que a fé religiosa significa.
O apelo aos dogmas religiosos é a maneira mais tradicional de assegurar privilégios sociais e políticos a uma parte da sociedade sobre os demais, como ocorreu no passado quando pertencer à religião de Estado era pré-requisito para o desempenho de funções públicas e oficiais. Os setores mais conservadores, campeões no apelo à fé religiosa em campanhas políticas, sabem o que fazem quando se apoiam na esfera “divina” para intermediar o embate entre questões mundanas: defendem os privilégios que tornam as cidades desumanas, querem manter tudo como está e parar o carro da história e das mudanças sociais e políticas. Querem colocar limites à democracia.
Embora não veja propriamente uma novidade no engajamento religioso no processo eleitoral, o professor Ricardo Mariano, da PUC-SP (ouvido pelo jornalista Roldão Arruda numa entrevista reproduzida pelo portal Vermelho), assinala uma novidade na eleição deste ano: a guerra santa eleitoral reflete o pluralismo religioso que passou a vigorar de fato no Brasil nos últimos 30 anos, indicado pelo crescimento das igrejas evangélicas e pelo recuo da participação católica no conjunto da população que, segundo o último Censo do IBGE, foi significativo, chegando a inéditos 60% dos brasileiros.
Isto explicaria o maior embate vivido entre as correntes católicas e evangélicas - os católicos, na defensiva, apoiam ativamente candidaturas alinhadas com sua forma de pensar e mesmo as autoridades eclesiásticas, como a Cúria Metropolitana de São Paulo, entram na disputa, como se viu na nota divulgada na sexta-feira (14) contra o bispo Marcos Pereira, da Igreja Universal, presidente do Partido Republicano Brasileiro (PRB) e coordenador da campanha de Celso Russomano à Prefeitura de São Paulo.
O engajamento religioso confunde, na disputa eleitoral, duas dimensões que, num estado democrático e republicano, precisam ser rigorosamente separadas: a dimensão subjetiva da fé e a esfera objetiva da disputa pelo poder político.
São os mais conservadores que, quase sempre, apelam à crença e aos dogmas religiosos em campanhas políticas. Sem disposição ou condições para debater as relações reais e concretas entre os homens reais e concretos que residem nas cidades, apelam para forças sobrenaturais situadas fora, e acima, do convívio humano, e que impõem a ele a imutabilidade e a permanência de formas de conviver sancionadas por esses poderes sobrenaturais, e às quais todos devem se submeter, sob o risco de viver em pecado.
A conquista democrática do caráter laico do Estado trouxe essas relações dos céus para a terra, para a convivência cotidiana dos cidadãos, cujas normas são sancionadas no plano secular e laico. Nas sociedades divididas em classes, como as sociedades contemporâneas, as normas que regulam a vida social, política e econômica, decorrem da correlação de forças políticas existentes dentro de cada uma delas. E que resultam do conflito social e político e da capacidade de cada protagonista defender seus interesses e transformá-los em política de governo.
O apelo a forças sobrenaturais, nesse sentido, busca “congelar” as relações existentes, fugindo ao conflito de classes ao tentar “divinizar” - e encarar como naturais e imutáveis - as relações existentes na vida real e concreta. Seu objetivo é impedir a mudança das regras sociais e políticas e derrotar, com apoio “divino”, os candidatos mais progressistas cujo programa é justamente o avanço social e a mudança em regras socialmente injustas.
Numa sociedade democrática religião e política deve andar separadas.
A liberdade religiosa - inclusive a liberdade daqueles que não tem religião - é um preceito constitucional fundamental na democracia. Associar Estado e religião significa conferir a uma crença particular a preferência - e, ao cabo, o poder político -, acima das demais crenças. Traz a ameaça de imposições confessionais que podem romper a igualdade e a liberdade asseguradas pela Constituição. É uma maneira de macular a democracia e criar uma desigualdade entre os cidadãos com base no fator subjetivo que a fé religiosa significa.
O apelo aos dogmas religiosos é a maneira mais tradicional de assegurar privilégios sociais e políticos a uma parte da sociedade sobre os demais, como ocorreu no passado quando pertencer à religião de Estado era pré-requisito para o desempenho de funções públicas e oficiais. Os setores mais conservadores, campeões no apelo à fé religiosa em campanhas políticas, sabem o que fazem quando se apoiam na esfera “divina” para intermediar o embate entre questões mundanas: defendem os privilégios que tornam as cidades desumanas, querem manter tudo como está e parar o carro da história e das mudanças sociais e políticas. Querem colocar limites à democracia.
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