Por Altamiro Borges
Irônico e certeiro, o escritor Luis Fernando Veríssimo comenta nesta quinta-feira (8) na sua coluna no jornal O Globo a "surpreendente" cobertura da mídia nativa sobre o escândalo do propinoduto em São Paulo. "Me desculpe, grande imprensa nacional", brinca. Ele lembra do caso do "mensalão" do PSDB de Minas Gerais que foi engolido pelo "pântano silencioso" da mídia e critica "os sistemas métricos diferentes" utilizados nas coberturas jornalísticas. Genial. Vale conferir:
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Lóbi irresistível, por Luis Fernando Veríssimo
Devo um pedido de desculpas à grande imprensa nacional. Me desculpe, grande imprensa nacional. Quando li a matéria da “IstoÉ” sobre o cartel consentido formado em São Paulo para a construção de linhas de trem e metrô sob sucessivos governos do PSDB e as suspeitas de um propinoduto favorecendo o partido, comentei com meus botões (que não responderam porque não falam com qualquer um): essa história vai para o mesmo pântano silencioso que já engoliu, sem deixar vestígios, a história do mensalão de Minas, precursor do mensalão do PT.
E não é que eu estava enganado? A matéria vem repercutindo em toda a grande imprensa. Com variáveis graus de intensidade, é verdade, em relação ao tamanho do escândalo, mas repercutindo. Viva, pois, a nossa grande imprensa. Já se começava a desconfiar que o Brasil, onde inventam tanta novidade, tinha adotado, definitivamente, dois sistemas métricos diferentes.
A propósito, ou mais ou menos a propósito, li na revista “The Nation” que só a Associação de Banqueiros Americanos tem noventa e um lobistas em Washington defendendo os interesses dos bancos e lutando para revogar a regulamentação do setor aprovada no Congresso, recentemente. Isto sem falar em outras associações de banqueiros e nos próprios gigantes financeiros, como o Goldman Sachs (cinquenta e um lobistas) e o JP Morgan (sessenta lobistas).
O cálculo é que existam seis lobistas do sistema financeiro para cada congressista americano. Os bancos querem derrotar a regulamentação e evitar as reformas para continuar as práticas, vizinhas do estelionato, que provocaram a grande crise de 2008 e continuam a lhes dar lucros obscenos enquanto o resto da economia derrapa.
O lóbi é uma atividade legítima, ou ao menos uma deformação legitimada pelo uso. A questão é saber quando a presença de mil e tantos lobistas em torno de um Congresso deixa de ser uma pressão e se transforma num cerco.
E como se pode falar em democracia representativa quando o poder do voto é substituído pelo poder de persuasão de seis lobistas, três em cada ouvido, prometendo presentinhos para a patroa?
O que tudo isso tem a ver com o cartel em São Paulo? Nada, a não ser que, talvez, sirva de consolo para quem sucumbiu ao encanto de muito dinheiro, levado pelo lóbi mais irresistível que existe, o da cobiça. Mesmo sendo daquele tipo de pessoa sobre o qual não se pode dizer que também é corrupto sem ouvir um “Quem diria...”
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Leia também:
- Veríssimo espinafra a mídia golpista
- MST e a reforma agrária de Veríssimo
- Veríssimo e a revolta da classe média
- Veríssimo e Sader no Barão de Itararé
Irônico e certeiro, o escritor Luis Fernando Veríssimo comenta nesta quinta-feira (8) na sua coluna no jornal O Globo a "surpreendente" cobertura da mídia nativa sobre o escândalo do propinoduto em São Paulo. "Me desculpe, grande imprensa nacional", brinca. Ele lembra do caso do "mensalão" do PSDB de Minas Gerais que foi engolido pelo "pântano silencioso" da mídia e critica "os sistemas métricos diferentes" utilizados nas coberturas jornalísticas. Genial. Vale conferir:
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Lóbi irresistível, por Luis Fernando Veríssimo
Devo um pedido de desculpas à grande imprensa nacional. Me desculpe, grande imprensa nacional. Quando li a matéria da “IstoÉ” sobre o cartel consentido formado em São Paulo para a construção de linhas de trem e metrô sob sucessivos governos do PSDB e as suspeitas de um propinoduto favorecendo o partido, comentei com meus botões (que não responderam porque não falam com qualquer um): essa história vai para o mesmo pântano silencioso que já engoliu, sem deixar vestígios, a história do mensalão de Minas, precursor do mensalão do PT.
E não é que eu estava enganado? A matéria vem repercutindo em toda a grande imprensa. Com variáveis graus de intensidade, é verdade, em relação ao tamanho do escândalo, mas repercutindo. Viva, pois, a nossa grande imprensa. Já se começava a desconfiar que o Brasil, onde inventam tanta novidade, tinha adotado, definitivamente, dois sistemas métricos diferentes.
A propósito, ou mais ou menos a propósito, li na revista “The Nation” que só a Associação de Banqueiros Americanos tem noventa e um lobistas em Washington defendendo os interesses dos bancos e lutando para revogar a regulamentação do setor aprovada no Congresso, recentemente. Isto sem falar em outras associações de banqueiros e nos próprios gigantes financeiros, como o Goldman Sachs (cinquenta e um lobistas) e o JP Morgan (sessenta lobistas).
O cálculo é que existam seis lobistas do sistema financeiro para cada congressista americano. Os bancos querem derrotar a regulamentação e evitar as reformas para continuar as práticas, vizinhas do estelionato, que provocaram a grande crise de 2008 e continuam a lhes dar lucros obscenos enquanto o resto da economia derrapa.
O lóbi é uma atividade legítima, ou ao menos uma deformação legitimada pelo uso. A questão é saber quando a presença de mil e tantos lobistas em torno de um Congresso deixa de ser uma pressão e se transforma num cerco.
E como se pode falar em democracia representativa quando o poder do voto é substituído pelo poder de persuasão de seis lobistas, três em cada ouvido, prometendo presentinhos para a patroa?
O que tudo isso tem a ver com o cartel em São Paulo? Nada, a não ser que, talvez, sirva de consolo para quem sucumbiu ao encanto de muito dinheiro, levado pelo lóbi mais irresistível que existe, o da cobiça. Mesmo sendo daquele tipo de pessoa sobre o qual não se pode dizer que também é corrupto sem ouvir um “Quem diria...”
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4 comentários:
Verríssimos, Gênios da raça
Que bom que os Veríssimos são brasileiros. O Pai um humanista que por acaso é o maior escritor brasileiro de todos os tempos. Mas não é carioca, ou mesmo paulista. O filho um contista sem igual. Assim pelo Capilé, TV Ninja, e os Veríssimos eu digo: Obrigado Senhor!
Todos, dia 14/08, na frente da REDE GLOBO de SONEGAÇÃO. Façamos cartazes com: TRENSALÃO TUCANO; GLOBO SONEGA 615 MILHÕES; TUCANOTREM da ALEGRIA; GLOBO, CADÊ O DARF?; PSDB=Propino Serra deu Boston; enfim, vamos pegar 2 ‘coelhos’ com 1 cajadada só: a mídia PIGuenta e os TUCANALHAS corruptos. POVO NELES.
Veríssimo, vero como sempre, me permita fazer um comentário, em relação a redenção da grande imprensa (a seu ver). Estão repercutindo o que antes não fazia, aquecidos pelo calor das passeatas, que finalmente, pelo menos para mim, mostraram que não estão jogando de um só lado. Daqui a pouco, volta tudo como dantes.
A fina ironia do Veríssimo parece que não foi captada suficientemente pelo missivista anterior...
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