Por Achille Lollo, no jornal Brasil de Fato:
Depois de dez anos de permanência no Afeganistão nas fileiras do contingente ISAF, criado pelo Comando Geral da OTAN para garantir a “democracia” do governo de Hamid Karzai, os primeiros 400 soldados italianos desembarcaram no aeroporto de Ciampino. O governo italiano anunciou seu desempenho da guerra no Afeganistão, programando a saída gradual de seu contingente que ficará limitado a 1.800 soldados, dos quais 700 “conselheiros” militares. Uma decisão tomada depois que os estrategistas da OTAN reconheceram que a guerra contra os “terroristas taleban” está, de fato, perdida.
Depois de dez anos de permanência no Afeganistão nas fileiras do contingente ISAF, criado pelo Comando Geral da OTAN para garantir a “democracia” do governo de Hamid Karzai, os primeiros 400 soldados italianos desembarcaram no aeroporto de Ciampino. O governo italiano anunciou seu desempenho da guerra no Afeganistão, programando a saída gradual de seu contingente que ficará limitado a 1.800 soldados, dos quais 700 “conselheiros” militares. Uma decisão tomada depois que os estrategistas da OTAN reconheceram que a guerra contra os “terroristas taleban” está, de fato, perdida.
Um cenário político pouco animador para os “conselheiros da OTAN”– Organização do Tratado do Atlântico Norte –, tendo em mente que nestes dez anos de guerra o contingente de estadunidenses e o da OTAN conseguiu “libertar”apenas 50% do território nacional e alguns grandes eixos rodoviários que, entretanto, durante a noite, tornam-se território de ninguém. O restante 50 % pode ser atribuído aos taleban (30%), aos senhores do ópio (10%) e aos grupos jihadistas Haqqani e Hezbi Islami (10%).
Por isso a Loya Jirga [Assembleia Nacional Tradicional] que reúne 2,5 mil integrantes, na maioria chefes tribais,votou pela manutenção do corpo de expedição estadunidense que ficará concentrado em sete grandes bases operativas. Uma decisão que não contou com a simpatia do presidente Hamid Karzai,que continua cada vez mais desconfiado com as promessas de Barack Obama,depois que o Departamento de Estado dos EUA, em 2012, abriu, separadamente, um canal de negociação com os taleban em Doha, capital do Qatar, onde o emir havia oferecido um “escritório para conversações reservadas”.
Em junho deste ano, os emissários do Departamento de Estado foram, novamente a Doha, para se encontrar com Zabihullah Mujahid e tentar criar uma agenda de negociações oficiais entre os EUA e os taleban que ainda se consideram os legítimos governantes do Afeganistão. Infelizmente os negociadores estadunidenses insistiram demasiadamente na ruptura dos taleban com a Al Qaeda, obtendo de Zabihullah Mujahid apenas uma resposta muito vaga, segundo a qual “o Taleban apoia a solução política do conflito no Afeganistão e os esforços feitos para repristinar a paz.” Apenas isso.
Nem uma palavra sobre o futuro do governo chefiado por Hamid Karzai, sobre a Loya Jirga [Assembléia Nacional Tradicional] e sobre a relação institucional que o novo governo deverá manter com os “senhores do ópio”.
De fato, ninguém sabe o que vai acontecer após 2014, isto é, quando o contingente da OTAN e grande parte do estadunidenses deixarão definitivamente o Afeganistão. Certo é que o presidente Hamid Karzai, terá a sua disposição um exército com 400 mil soldados, bem equipados e treinados por instrutores originários dos exércitos da OTAN.Um exército que, potencialmente, deixa o governo de Cabul com uma boa margem de segurança, mesmo se os problemas permanecerem nas províncias que a guerrilha dos taleban e dos senhores do ópio controlam.
“Senhores do ópio”
Durante esse 12 longos e extenuantes anos de guerra, que para muitos soldados estadunidenses foi um longo pesadelo, os dirigentes civis e militares dos EUA sempre sublinharam que a manutenção do corpo de expedição no Afeganistão, além de combater o terrorismo, pretendia, também, acabar com os “senhores do ópio”, e assim combater a expansão do narcotráfico no mundo.
De fato, era isso que devia acontecer, tendo em vista que o Afeganistão é o maior produtor mundial da papoula (de onde os camponeses extraem o látex do qual se obtém o ópio).
Segundo o UNODC, – Escritório das Nações Unidas contra Drogas e o Crimes – o bloqueio do cultivo da papoula no Afeganistão implicaria a queda imediata dos negócios do narcotráfico, visto que 90% do consumo de heroína na Europa e 82 % nos EUA dependem do látex de ópio produzido no Afeganistão.
Hoje, após 12 anos de investimentos em programas para convencer os camponeses a trocar o cultivo da papoula com outros produtos agrícolas, os resultados são mais que desanimadores. Aliás, mostram-se como um verdadeiro fracasso, visto que em 2005 havia 154 mil hectares plantados com a papoula. Em 2007, a área de cultivo da planta entorpecente aumentou para 193 mil hectares e, depois, em 2013, a mesma havia alcançado o recorde de 209 mil hectares, produzindo aproximadamente 6 mil toneladas de látex de ópio.
Um negócio que movimenta cerca de 1 bilhão de dólares por ano, tendo em conta que, em média, um quilo de látex de ópio afegão é vendido entre um máximo de 150 dólares e um mínimo de 145 dólares. Um negócio que enriquece um punhado de clãs denominado “senhores do ópio” e também os grandes proprietários de terras férteis que alugam ou realizam parcerias com os camponeses, a quem impõem o cultivo da papoula, dando-lhes, para isso, uma miserável gratificação.
Hoje, em 19 das 34 províncias do Afeganistão, se registra um considerável plantio da papoula, cujo cultivo é quantitativamente massivo nas nove províncias do sul do país e, mais recentemente, também na província de Badaksghan, no norte do país. Não se trata de cultivos feitos em áreas escondidas, visto que no Afeganistão a papoula é praticamente cultivada diante de todo o mundo. Por isso, não deveria ser difícil destruir essas plantações, sobretudo se existe um fundo de 6 milhões de dólares que o governo dos Estados Unidos sancionou para financiar a erradicação do plantio da papoula.
Na realidade nunca se conseguiu porque faltou a vontade política em acabar com os “senhores do ópio”. Por isso, os narcotraficantes conseguem convencer os proprietários de terras em investir cada vez mais no cultivo da papoula.
Bancos e consumo de drogas
Todo o mundo sabe que o consumo mundial de drogas pesadas (cocaína, heroínas, crack e drogas químicas) gera, a cada ano, um volume de negócios de quase 300 bilhões de dólares que os narcotraficantes depositam, quase na totalidade, nos bancos dos paraísos fiscais. Tais bancos, chamados de offshore, por sua vez, reciclam os capitais da economia ilegal, sobretudo nas bolsas de valores efetuando inúmeras operações especulativas.
Isso significa que sem a cumplicidade explícita dos bancos offshore, na maioria estadunidenses e britânicos, os narcotraficantes não teriam como sustentar suas estruturas e investir no aumento da produção, tal como aconteceu nos últimos trinta anos.
De fato, o aumento das plantações de papoula no Afeganistão depende, também, do aumento do consumo e da capacidade de oferecer esse produto proibido em sociedades que dizem gastar milhões e milhões de dólares na repressão do narcotráfico.
Em todas suas alocuções, os presidentes dos EUA e os primeiros-ministros dos países da União Europeia nunca questionam o papel dos bancos que reciclam os lucros dos narcotraficantes. Nunca denunciam a atividade nefasta dos bancos dos paraísos fiscais, sem os quais o narcotráfico não poderia sobreviver.
Infelizmente, os bancos europeus e os estadunidenses precisam “movimentar e investir” os dólares da economia ilegal do narcotráfico. Por isso, no Afeganistão, o cultivo da papoula alcançou o recorde de 209 mil hectares, alimentando também um numero enorme de viciados em heroína nos bairros pobres de Cabul e de outras cidades do país.
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