Por Marina Terra, no sítio Opera Mundi:
No entanto, apesar de ter participado de encontro com Maduro no início do ano – fato que chegou a ser criticado por certos membros da MUD (Mesa de Unidade Democrática) –, o dirigente opositor se recusou a comparecer à roda de conversa. Em contrapartida, os principais representantes da classe empresarial venezuelana estiveram presentes, como o dono da Empresas Polar, Lorenzo Mendoza, responsável por boa parte do abastecimento de alimentos na Venezuela.
Mendoza sugeriu a criação de uma “comissão da verdade econômica”, com a intenção de dissolver “contradições”, proposta que foi imediatamente aceita por Maduro. “Vamos nos concentrar em parar as barricadas e a violência, e estabelecer um bom nível de respeito à Constituição, para nos focarmos mais na economia. Estou preparado para isso e quero fazer isso”, afirmou o presidente.
Além disso, o empresário chegou a admitir que houve “avanços muito importantes” na Venezuela durante os últimos 15 anos que o chavismo esteve no poder, com um crescimento de renda expressivo do venezuelano. “Isso fez com que as classes mais baixas tivessem mais possibilidades para consumir”, disse Mendoza. “O setor privado é parte das soluções desse país”, continuou.
Com essa movimentação, setores mais radicais da oposição, liderados pela deputada Maria Corina Machado, Capriles, e o prefeito-metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, acabaram ficando isolados na estratégia de dar continuidade às manifestações, que já deixaram 17 mortos e centenas de feridos. Apesar de Capriles não apoiar as barricadas construídas em vias de todo o país, conforme reconheceu em entrevista à BBC Mundo, defende a saída “constitucional” de Maduro.
Por sua vez, o presidente com essa atitude estabelece como interlocutores os grandes empresários do país, afastando a ideia de que lidera um governo “ditatorial”, contrário ao diálogo, dedicado somente a reprimir manifestações e fortalece um ato político que pode ser melhor recebido pelos setores moderados a nível nacional e internacional.
Oposição
Enquanto setores mais radicais da oposição estiveram ausentes da conferência de paz, outros que conformam a MUD – uma heterogênea agrupação de partidos – compareceram à reunião, deixando ainda mais claro que há divergência em torno da unidade.
Leopoldo Puchi, do MAS (Movimento ao Socialismo), que em 20 de fevereiro já havia se pronunciado contra a violência, reconhecendo que um setor da oposição “havia se adiantado na estratégia de provocar a saída forçada de Maduro”, classificou de “primordial” o encontro em Miraflores.
Ele propôs ainda a criação de uma conferência “pela paz entre os partidos”, com a participação de outros como a AD (Ação Democrática), Copei (Partido Social-Cristão) e PPT (Pátria Para Todos). Os dois primeiros atuam na cena política venezuelana desde a década de 1940.
Escassez
Uma das principais reclamações da população venezuelana é a escassez de itens básicos de consumo, como farinha de milho, óleo, frango e papel higiênico, a maioria importados. Na Venezuela, que mantém uma economia dependente da exportação petrolífera, cerca de 70% dos alimentos vem de fora.
Enquanto o governo culpa parte do empresariado, afirmando existir uma “guerra econômica” com a retenção de itens em estoque, diminuição de produção, especulação com preços e tentativas de “sabotagem” na distribuição e comercialização, as empresas atribuem a escassez e a diminuição da produção ao difícil acesso ao dólar para a importação.
Segundo o banco central do país, a falta de alimentos é a maior em cinco anos. Um dos itens mais escassos é a “harina pan”, um tipo de farinha de milho pré-cozida usada para preparar as famosas arepas e que é produzida pela Polar, que chegou a ser acusada em maio do ano passado de reduzir deliberadamente sua produção.
Curiosamente, após a reunião com Maduro em Miraflores ontem, diversos carregamentos de pacotes da farinha começaram a chegar neste sábado (01/03) a diversos supermercados de Caracas, provocando imensas filas do lado de fora.
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