Foto: Roberto Stuckert Filho/PR |
Até aqui, a figura da presidente Dilma Rousseff conseguiu se manter preservada do bombardeio de denúncias disparadas praticamente desde o primeiro dia do seu governo contra ministros, ministérios e empresas estatais. Nada atingia diretamente a presidente, mas apenas seus auxiliares, que foram sendo afastados um a um, enquanto a presidente se portava como uma rainha cercada de malfeitores por todos os lados.
Agora, com as novas revelações sobre a estranhíssima compra superfaturada feita pela Petrobras de uma usina em Pasadena, nos Estados Unidos, Dilma viu seu nome diretamente envolvido no caso, já que era na época do negócio, em 2006, presidente do Conselho de Administração da empresa e aprovou a compra.
Em resumo, a Petrobras pagou à Astra Oil US$ 360 milhões por metade da refinaria de Pasadena, que havia sido comprada pela empresa belga no ano anterior por apenas US$ 42,5 milhões. Para completar, a Petrobras perdeu uma ação na Justiça e teve que pagar mais US$ 820,5 milhões pela outra metade, totalizando U$ 1,19 bilhão. Ou seja, a Petrobras pagou por uma refinaria desativada 20 vezes mais do que valia no mercado pouco tempo antes. Dilma votou a favor da compra.
Era tudo o que a oposição e a mídia amiga esperavam para bombardear a presidente, que caminhava até o final do ano passado para uma tranquila reeleição. A reação de Dilma, divulgando uma nota escrita de próprio punho para responder à revelação feita pelo Estadão, também não ajudou em nada a diminuir os prejuízos.
Em vez de discutir antes com a Petrobras o teor da nota, a presidente se reuniu apenas com alguns ministros próximos para criticar o parecer "técnica e juridicamente falho, com informações incompletas" em que baseou sua decisão e argumentou que, se todas as cláusulas fossem conhecidas, não seriam aprovadas pelo conselho. Pior: na mesma nota, afirmou que a Petrobras já tinha aberto, em 2008, um procedimento de apuração de prejuízos e responsabilidades, fato negado pela estatal, que informou ao Congresso Nacional, em setembro do ano passado, que o negócio não foi objeto de apreciação por órgão de controle interno.
Em política, como se sabe, ainda mais em ano eleitoral, toda vez que um candidato é obrigado a dar explicações sobre algum fato controverso já entra mal no jogo. O caso colocou o governo na defensiva e daqui para frente vai ter que ficar toda hora tentando justificar o injustificável. Mesmo atribuindo a responsabilidade a terceiros, a presidente não tem como negar que tenha sido relapsa ao analisar um negócio de tamanho vulto, que acabou dando um prejuízo bilionário à Petrobras.
E acabou dando munição à oposição, que não perdeu tempo. "Agora é uma questão com a sociedade brasileira. E acho, digo isso como presidente do maior partido de oposição no Brasil, que a presidente da República deve uma explicação direta à sociedade brasileira. O que a fez tomar esta decisão? O desconhecimento do tema ou foi induzida por um relatório que tinha outras intenções?", cobrou o presidenciável Aécio Neves da tribuna do Senado.
Quem poderia dar estas respostas é o autor do relatório, o então diretor da Área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, atual diretor financeiro da BR Distribuidora, que viajou rapidinho para a Europa na mesma quarta-feira em que a bomba estourava em Brasília. Caberia ainda outra pergunta: como é que, depois da lambança do parecer "técnica e juridicamente falho", segundo Dilma, Cerveró não só não foi demitido como ganhou um cargo de diretor em outra estatal?
Só agora, oito anos após a compra da refinaria de Pasadena, o Tribunal de Contas da União, a Polícia Federal e o Ministério Público poderão esclarecer o que aconteceu e quem são os responsáveis por esta inacreditável transação. Dilma e a Petrobras não quiseram fazer ontem comentários oficiais sobre o caso, que certamente permanecerá no noticiário por um bom tempo, alimentando os discursos da oposição e rendendo manchetes contra a Petrobras e o governo.
Para quem estava em busca de um fato novo na campanha presidencial, não poderia surgir nada melhor, ainda mais na semana em que o Ibope está em campo para divulgar uma nova pesquisa eleitoral.
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