Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
O Brasil que dá certo é o título de um livro do contabilista e administrador de empresas Stephen Charles Kanitz, cuja primeira edição saiu em 1994, e também uma frase que inspira muitas iniciativas editoriais e eventos sobre economia, desenvolvimento e responsabilidade social empresarial. É também a mais recente iniciativa da Folha de S.Paulo, que publica nesta semana caderno especiais, patrocinados, com reportagens sobre histórias de sucesso nos negócios.
Na edição de quinta-feira (26/6), o tema é a região Sudeste. Ao longo da semana, desde segunda-feira, o jornal já produziu perfis da região Centro-Oeste (23/6), do Nordeste (24/6), e da região Norte (25/6). Além do governo federal, que contribuiu com meia página apenas na edição que inaugurou a série, a iniciativa é bancada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela empreiteira Camargo Corrêa.
Não se trata, portanto, de um produto capaz de encher os cofres do jornal, mas também não deve dar prejuízo, principalmente porque é realizado a baixo custo por jornalistas freelancers e articulistas não remunerados. Esse tipo de iniciativa tem sido explorado à exaustão pela mídia impressa, e funciona como fonte de recursos valiosos para fazer frente ao volumoso custo das redações. No entanto, também representa um ponto crítico a ser administrado com cautela, porque em geral traz conteúdos de interesse exclusivo de algum setor da economia, de governantes ou de grupos específicos de empresas.
Nas redações, o núcleo encarregado de produzir essa fonte de receita pode ser malvisto pelos profissionais que só se dedicam ao chamado jornalismo “puro e duro”. Para funcionar bem, esse tipo de suplemento precisa assegurar que a pauta tenha potencial para atrair anunciantes, o que costuma gerar tensões quanto à suposta independência do jornalismo.
No Estado de S. Paulo, um ex-editor de Economia coordena as publicações desse tipo, e sua principal função é evitar que o interesse das agências que negociam a inserção de anúncios nesses cadernos híbridos contamine o núcleo editorial. A grande vantagem é que esse editor não precisa fazer plantões de fim de semana e feriados.
O lixo catastrofista
Com isso, pode-se dizer que não há exatamente uma novidade na série que a Folha de S.Paulo batizou de “O Brasil que dá certo”. A não ser o fato de que, ao ler cuidadosamente seu conteúdo, o leitor pode chegar à conclusão de que os editores do jornal paulista entraram em surto esquizofrênico agudo.
Pois não é que o jornal que se considera o mais crítico do Brasil, aquele para quem supostamente não há “vacas sagradas”, anda produzindo textos megaelogiosos sobre o estado da economia nacional?
Vejamos, por exemplo, o primeiro caderno da série, que traz um perfil da situação econômica do Centro-Oeste: ali se pode ler que a soja e o algodão impulsionaram o parque agroindustrial de Mato Grosso, fazendo com que o estado tivesse uma alta de 73% em seu Produto Interno Bruto nos últimos dez anos. Além disso, há textos sobre negócios de sucesso no setor de franquias e uma reportagem sobre a transformação de um antigo polo de pirataria em novo centro de indústrias regulares de confecção, que geram nada menos do que 17 mil empregos formais.
Na edição seguinte, sobre o Nordeste, o destaque vai para os R$ 37,4 bilhões investidos em dez parques de energia eólica, que devem gerar 125 mil empregos e contribuir para tornar ainda mais limpa a matriz energética do Brasil. O mapa que acompanha a reportagem principal mostra um surpreendente processo de transformação da economia regional, que deixou de ser uma fonte de emigrantes pobres para se tornar um polo atrativo de trabalhadores qualificados.
Na edição de quinta-feira (26/6), o caderno especial da Folha fala da força e da capacidade inovadora da indústria instalada em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, onde se encontra a melhor qualidade de vida do país e onde podem ser constatados números surpreendentes, como os 724% de crescimento do PIB no município fluminense de Porto Real.
Com toda certeza, o caderno de sexta-feira (27/6), sobre a região Sul, vai trazer belos indicadores sobre a pujança da economia no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Então, o leitor e a leitora atentos poderá se perguntar: se o Brasil que dá certo naqueles cadernos especiais é o Brasil inteiro, de onde os jornais tiram o lixo catastrofista com que entopem os olhos do leitor nas primeiras páginas todo santo dia?
O Brasil que dá certo é o título de um livro do contabilista e administrador de empresas Stephen Charles Kanitz, cuja primeira edição saiu em 1994, e também uma frase que inspira muitas iniciativas editoriais e eventos sobre economia, desenvolvimento e responsabilidade social empresarial. É também a mais recente iniciativa da Folha de S.Paulo, que publica nesta semana caderno especiais, patrocinados, com reportagens sobre histórias de sucesso nos negócios.
Na edição de quinta-feira (26/6), o tema é a região Sudeste. Ao longo da semana, desde segunda-feira, o jornal já produziu perfis da região Centro-Oeste (23/6), do Nordeste (24/6), e da região Norte (25/6). Além do governo federal, que contribuiu com meia página apenas na edição que inaugurou a série, a iniciativa é bancada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela empreiteira Camargo Corrêa.
Não se trata, portanto, de um produto capaz de encher os cofres do jornal, mas também não deve dar prejuízo, principalmente porque é realizado a baixo custo por jornalistas freelancers e articulistas não remunerados. Esse tipo de iniciativa tem sido explorado à exaustão pela mídia impressa, e funciona como fonte de recursos valiosos para fazer frente ao volumoso custo das redações. No entanto, também representa um ponto crítico a ser administrado com cautela, porque em geral traz conteúdos de interesse exclusivo de algum setor da economia, de governantes ou de grupos específicos de empresas.
Nas redações, o núcleo encarregado de produzir essa fonte de receita pode ser malvisto pelos profissionais que só se dedicam ao chamado jornalismo “puro e duro”. Para funcionar bem, esse tipo de suplemento precisa assegurar que a pauta tenha potencial para atrair anunciantes, o que costuma gerar tensões quanto à suposta independência do jornalismo.
No Estado de S. Paulo, um ex-editor de Economia coordena as publicações desse tipo, e sua principal função é evitar que o interesse das agências que negociam a inserção de anúncios nesses cadernos híbridos contamine o núcleo editorial. A grande vantagem é que esse editor não precisa fazer plantões de fim de semana e feriados.
O lixo catastrofista
Com isso, pode-se dizer que não há exatamente uma novidade na série que a Folha de S.Paulo batizou de “O Brasil que dá certo”. A não ser o fato de que, ao ler cuidadosamente seu conteúdo, o leitor pode chegar à conclusão de que os editores do jornal paulista entraram em surto esquizofrênico agudo.
Pois não é que o jornal que se considera o mais crítico do Brasil, aquele para quem supostamente não há “vacas sagradas”, anda produzindo textos megaelogiosos sobre o estado da economia nacional?
Vejamos, por exemplo, o primeiro caderno da série, que traz um perfil da situação econômica do Centro-Oeste: ali se pode ler que a soja e o algodão impulsionaram o parque agroindustrial de Mato Grosso, fazendo com que o estado tivesse uma alta de 73% em seu Produto Interno Bruto nos últimos dez anos. Além disso, há textos sobre negócios de sucesso no setor de franquias e uma reportagem sobre a transformação de um antigo polo de pirataria em novo centro de indústrias regulares de confecção, que geram nada menos do que 17 mil empregos formais.
Na edição seguinte, sobre o Nordeste, o destaque vai para os R$ 37,4 bilhões investidos em dez parques de energia eólica, que devem gerar 125 mil empregos e contribuir para tornar ainda mais limpa a matriz energética do Brasil. O mapa que acompanha a reportagem principal mostra um surpreendente processo de transformação da economia regional, que deixou de ser uma fonte de emigrantes pobres para se tornar um polo atrativo de trabalhadores qualificados.
Na edição de quinta-feira (26/6), o caderno especial da Folha fala da força e da capacidade inovadora da indústria instalada em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, onde se encontra a melhor qualidade de vida do país e onde podem ser constatados números surpreendentes, como os 724% de crescimento do PIB no município fluminense de Porto Real.
Com toda certeza, o caderno de sexta-feira (27/6), sobre a região Sul, vai trazer belos indicadores sobre a pujança da economia no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Então, o leitor e a leitora atentos poderá se perguntar: se o Brasil que dá certo naqueles cadernos especiais é o Brasil inteiro, de onde os jornais tiram o lixo catastrofista com que entopem os olhos do leitor nas primeiras páginas todo santo dia?
1 comentários:
De onde vem o lixo catastrófico? Da sede de poder da oposição e seus aliados, que não medem esforços para tentar manipular as grandes massas.
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