Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Os números do Ibope divulgados ontem mostram que Dilma Rousseff e Aécio Neves permanecem no mesmo patamar anterior a Copa, em 7 de junho: 38% e 22% das intenções de voto, respectivamente.
Quem caiu foi Eduardo Campos, rebaixado de 13% para 8%.
A maioria dos analistas apressou-se em dizer que estes números mostram que a Copa das Copas não trouxe benefícios para Dilma. É uma tentativa de transformar uma derrota em vitória.
Explico. O que a oposição pretendia - e as bolas de Cristal da mídia sobre a Copa refletiam isso - era para arrancar eleitores do governo. Apostando numa profecia que se revelou um fiasco histórico, achava inevitável que Dilma saísse da Copa menor do que entrou.
Mas Dilma permanece do mesmo tamanho e os adversários não cresceram. O terceiro colocado até diminuiu. Quem você acha que ganhou?
Quem tem tamanho para jogar na defesa, sabendo que irá ganhar se impedir ataques adversários. Este é o retrato político que o Ibope desenhou. Não é uma surpresa.
O sociólogo Antônio Lavareda, insuspeito de simpatias petistas, criou o Índice Band, que trabalha com votos válidos, universo que exclui nulos e brancos, de quem já resolveu em quem irá votar em 5 de outubro. O resultado é o seguinte:
- 50% para Dilma
- 27% para Aécio
- 11% para Eduardo Campos
- 4% para o pastor Everaldo
E só.
Isso quer dizer que se as eleições fossem hoje, Dilma levava no primeiro turno por 50% a 42% sobre o conjunto dos adversários - muito além de qualquer margem de erro.
Você pode argumentar que os “votos válidos” irão aumentar até o dia da eleição – e isso é verdade. Pode até calcular que nos próximos levantamentos, os adversários de Dilma irão ganhar num ritmo maior do que o dela - é possível, até porque ela já atingiu um bom tamanho, conquistou a metade dos votos de quem já sabe em que vai votar.
Mas o retrato do momento, a eleição real, está aqui. Lavareda construiu o Índice Band fazendo uma média dos números dos principais institutos de pesquisa. É um índice válido, cada vez mais usado, por exemplo, em eleições norte-americanas. Tem um grau de confiança maior, mas não é infalível, evidentemente. Sua vantagem é que ajuda a evitar que institutos que têm um viés - político, regional, ou qualquer outro - possam contaminar o resultado final. A desvantagem é que, trabalhando com vários números, de datas diferentes, pode se mostrar mais lento para apontar tendências e mudanças de ultima hora.
O dado importante é que apesar de toda torcida Aécio Neves e Eduardo Campos tem caminhado bem devagar.
Compare com 2010. Em fevereiro daquele ano, quando já não podia ser chamada de poste, Dilma perdia de 28% a 35% para José Serra.
Mas em 23 de junho de 2010, a data em que o último Ibope foi fechado, Dilma já estava na dianteira, cravou 40% a 35% - e não parou mais.
Em julho de 2014, com um mês a menos até a votação, Dilma lidera as pesquisas e nenhum candidato representa como uma ameaça próxima. Aécio segue firme em segundo e Eduardo Campos ainda não chegou ao patamar que Marina Silva exibia em 2010, no mesmo período. Já em abril ela havia atingido 9 pontos.
Essa situação traduz um aspecto importante. A campanha de 2014 está longe de expressar um movimento irresistível contra o governo. Dilma entrou como favorita e segue nesta situação. Em 2010, mesmo em desvantagem numérica para Serra, nenhum observador atento deixaria de apontar a candidata do PT como provável vitoriosa.
Ainda assim, é razoável avaliar que o condomínio Lula-Dilma enfrenta, em 2014, a mais difícil disputa eleitoral em doze anos.
A eleição ocorre em ambiente político muito diferente.
Nem a primeira vitória de Lula, em 2002, quando o mercado financeiro ameaçou jogar o país no precipício como forma de terrorismo eleitoral, ocorreu num ambiente tão hostil e difícil.
Em 2002, um executivo do Goldman Sachs, um dos principais bancos de investimento do mundo, chegou a criar o Lulômetro, instrumento que servia para elevar o pânico junto aos eleitores de classe média. George Soros, um dos maiores especuladores do planeta, chegou a dar declarações de espírito colonial intimando o eleitorado brasileiro a votar em José Serra.
Naquela eleição, no entanto, aceitava-se a vitória de Lula como simples evento democrático: é natural que, vez por outra, ocorra uma alternância no poder. Mas era uma visão formal. Não se imaginava que o governo vitorioso em 2002 fosse implementar um conjunto de mudanças em maior profundidade, que permitiram mais duas vitórias consecutivas e a possibilidade de entrar com uma candidatura favorita 12 anos depois.
Em 2014, o Lulômetro deixou de ser trabalho de uma instituição. A unidade entre a oposição e o grande poder econômico tornou-se explícita e abrangente, o que explica movimentos da Bolsa, que levantam e derrubam - artificialmente - os índices sempre que aparece uma novidade favorável a oposição. Se estivéssemos num ambiente político mais sério, plural, com debates consistentes, essas altas e baixas da Bolsa deveriam prejudicar a oposição. Pois seriam vistos como aquilo que são: prova de que ela faz a alegria dos especuladores, investidores que não geram um posto de trabalho, nem pavimentam o futuro do país, mas promovem um cassino onde a sociedade sempre perde e seus proprietários sempre ganham, como explicou o Premio Nobel Joseph Stiglitz ao falar do colapso de 2008.
São operações de valor 100% especulativo, já que não há a mais remota razão plausível para se imaginar que a vida dos brasileiros - nem das empresas com papéis na Bolsa, a começar pela Petrobrás, bussola dos investimentos no país - pode ficar melhor em caso de uma vitória dos adversários. Essa turma é contra a Petrobrás antes dela ter sido criada. Seus avôs e bisavôs políticos trabalharam pelo suicídio de Vargas, seu fundador, antes que ela começasse a explorar petróleo para valer no país.
O lugar de Dilma se explica por um motivo fácil de entender. No retrospecto, em doze anos a vida da maioria da população tornou-se reconhecidamente melhor. Na perspectiva dos próximos quatro anos, não se vê uma proposta dos adversários capaz de proteger as conquistas obtidas, muito menos ampliar o que já foi feito. Depois de fazer uma única afirmação consistente sobre o rumo de seu eventual governo - a aplicar “medidas impopulares” - Aécio Neves preferiu manter-se em conveniente silêncio a respeito de seus planos para o país.
Mas é este o ponto central da eleição, como explica o professor Fabiano Santos, em coluna recente no Valor Econômico:
“Há algo de novo no ar,” diz ele, comparando 2014 com os pleitos anteriores. “Não se percebia, no contexto do segundo mandato de Lula, o quanto havia de potencialmente conflitivo naquele modelo de crescimento, baseado em políticas de inclusão social. A economia crescia, todos ganhavam. O contexto mudou. Agora, perdas terão de ser impostas no curto prazo para que ganhos sejam retomados em bases mais seguras e promissoras no futuro. Quem pagará a conta?” pergunta Fabiano Santos.
Esta é a pergunta. Mesmo com a inflação em torno de 6%, e um crescimento fraco, ainda que real, o governo tem conseguido manter a opção que lhe permitiu chegar até aqui – e é isso que explica os números de Dilma.
Como explicou Ricardo Berzoini em entrevista para Carolina Oms, da revista Dinheiro:
“O governo busca o centro da meta, mas há duas maneiras de se tratar a meta da inflação. Uma é tratar como objetivo único da economia. Outra é tratar a meta combinada com outros objetivos como emprego, renda dos trabalhadores, crescimento econômico, investimento público e privado. Se o governo pudesse trazer a inflação para 4,5% ao ano, traria, mas temos uma série de pressões inflacionárias. Se você usar a política monetária de maneira demasiada, vai provocar uma recessão. É importante ter um olho na inflação e outro na geração de emprego e renda. A inflação incomoda os trabalhadores. Mas, para o trabalhador, pior do que inflação é desemprego alto e arrocho salarial.”
O debate é este.
Os números do Ibope divulgados ontem mostram que Dilma Rousseff e Aécio Neves permanecem no mesmo patamar anterior a Copa, em 7 de junho: 38% e 22% das intenções de voto, respectivamente.
Quem caiu foi Eduardo Campos, rebaixado de 13% para 8%.
A maioria dos analistas apressou-se em dizer que estes números mostram que a Copa das Copas não trouxe benefícios para Dilma. É uma tentativa de transformar uma derrota em vitória.
Explico. O que a oposição pretendia - e as bolas de Cristal da mídia sobre a Copa refletiam isso - era para arrancar eleitores do governo. Apostando numa profecia que se revelou um fiasco histórico, achava inevitável que Dilma saísse da Copa menor do que entrou.
Mas Dilma permanece do mesmo tamanho e os adversários não cresceram. O terceiro colocado até diminuiu. Quem você acha que ganhou?
Quem tem tamanho para jogar na defesa, sabendo que irá ganhar se impedir ataques adversários. Este é o retrato político que o Ibope desenhou. Não é uma surpresa.
O sociólogo Antônio Lavareda, insuspeito de simpatias petistas, criou o Índice Band, que trabalha com votos válidos, universo que exclui nulos e brancos, de quem já resolveu em quem irá votar em 5 de outubro. O resultado é o seguinte:
- 50% para Dilma
- 27% para Aécio
- 11% para Eduardo Campos
- 4% para o pastor Everaldo
E só.
Isso quer dizer que se as eleições fossem hoje, Dilma levava no primeiro turno por 50% a 42% sobre o conjunto dos adversários - muito além de qualquer margem de erro.
Você pode argumentar que os “votos válidos” irão aumentar até o dia da eleição – e isso é verdade. Pode até calcular que nos próximos levantamentos, os adversários de Dilma irão ganhar num ritmo maior do que o dela - é possível, até porque ela já atingiu um bom tamanho, conquistou a metade dos votos de quem já sabe em que vai votar.
Mas o retrato do momento, a eleição real, está aqui. Lavareda construiu o Índice Band fazendo uma média dos números dos principais institutos de pesquisa. É um índice válido, cada vez mais usado, por exemplo, em eleições norte-americanas. Tem um grau de confiança maior, mas não é infalível, evidentemente. Sua vantagem é que ajuda a evitar que institutos que têm um viés - político, regional, ou qualquer outro - possam contaminar o resultado final. A desvantagem é que, trabalhando com vários números, de datas diferentes, pode se mostrar mais lento para apontar tendências e mudanças de ultima hora.
O dado importante é que apesar de toda torcida Aécio Neves e Eduardo Campos tem caminhado bem devagar.
Compare com 2010. Em fevereiro daquele ano, quando já não podia ser chamada de poste, Dilma perdia de 28% a 35% para José Serra.
Mas em 23 de junho de 2010, a data em que o último Ibope foi fechado, Dilma já estava na dianteira, cravou 40% a 35% - e não parou mais.
Em julho de 2014, com um mês a menos até a votação, Dilma lidera as pesquisas e nenhum candidato representa como uma ameaça próxima. Aécio segue firme em segundo e Eduardo Campos ainda não chegou ao patamar que Marina Silva exibia em 2010, no mesmo período. Já em abril ela havia atingido 9 pontos.
Essa situação traduz um aspecto importante. A campanha de 2014 está longe de expressar um movimento irresistível contra o governo. Dilma entrou como favorita e segue nesta situação. Em 2010, mesmo em desvantagem numérica para Serra, nenhum observador atento deixaria de apontar a candidata do PT como provável vitoriosa.
Ainda assim, é razoável avaliar que o condomínio Lula-Dilma enfrenta, em 2014, a mais difícil disputa eleitoral em doze anos.
A eleição ocorre em ambiente político muito diferente.
Nem a primeira vitória de Lula, em 2002, quando o mercado financeiro ameaçou jogar o país no precipício como forma de terrorismo eleitoral, ocorreu num ambiente tão hostil e difícil.
Em 2002, um executivo do Goldman Sachs, um dos principais bancos de investimento do mundo, chegou a criar o Lulômetro, instrumento que servia para elevar o pânico junto aos eleitores de classe média. George Soros, um dos maiores especuladores do planeta, chegou a dar declarações de espírito colonial intimando o eleitorado brasileiro a votar em José Serra.
Naquela eleição, no entanto, aceitava-se a vitória de Lula como simples evento democrático: é natural que, vez por outra, ocorra uma alternância no poder. Mas era uma visão formal. Não se imaginava que o governo vitorioso em 2002 fosse implementar um conjunto de mudanças em maior profundidade, que permitiram mais duas vitórias consecutivas e a possibilidade de entrar com uma candidatura favorita 12 anos depois.
Em 2014, o Lulômetro deixou de ser trabalho de uma instituição. A unidade entre a oposição e o grande poder econômico tornou-se explícita e abrangente, o que explica movimentos da Bolsa, que levantam e derrubam - artificialmente - os índices sempre que aparece uma novidade favorável a oposição. Se estivéssemos num ambiente político mais sério, plural, com debates consistentes, essas altas e baixas da Bolsa deveriam prejudicar a oposição. Pois seriam vistos como aquilo que são: prova de que ela faz a alegria dos especuladores, investidores que não geram um posto de trabalho, nem pavimentam o futuro do país, mas promovem um cassino onde a sociedade sempre perde e seus proprietários sempre ganham, como explicou o Premio Nobel Joseph Stiglitz ao falar do colapso de 2008.
São operações de valor 100% especulativo, já que não há a mais remota razão plausível para se imaginar que a vida dos brasileiros - nem das empresas com papéis na Bolsa, a começar pela Petrobrás, bussola dos investimentos no país - pode ficar melhor em caso de uma vitória dos adversários. Essa turma é contra a Petrobrás antes dela ter sido criada. Seus avôs e bisavôs políticos trabalharam pelo suicídio de Vargas, seu fundador, antes que ela começasse a explorar petróleo para valer no país.
O lugar de Dilma se explica por um motivo fácil de entender. No retrospecto, em doze anos a vida da maioria da população tornou-se reconhecidamente melhor. Na perspectiva dos próximos quatro anos, não se vê uma proposta dos adversários capaz de proteger as conquistas obtidas, muito menos ampliar o que já foi feito. Depois de fazer uma única afirmação consistente sobre o rumo de seu eventual governo - a aplicar “medidas impopulares” - Aécio Neves preferiu manter-se em conveniente silêncio a respeito de seus planos para o país.
Mas é este o ponto central da eleição, como explica o professor Fabiano Santos, em coluna recente no Valor Econômico:
“Há algo de novo no ar,” diz ele, comparando 2014 com os pleitos anteriores. “Não se percebia, no contexto do segundo mandato de Lula, o quanto havia de potencialmente conflitivo naquele modelo de crescimento, baseado em políticas de inclusão social. A economia crescia, todos ganhavam. O contexto mudou. Agora, perdas terão de ser impostas no curto prazo para que ganhos sejam retomados em bases mais seguras e promissoras no futuro. Quem pagará a conta?” pergunta Fabiano Santos.
Esta é a pergunta. Mesmo com a inflação em torno de 6%, e um crescimento fraco, ainda que real, o governo tem conseguido manter a opção que lhe permitiu chegar até aqui – e é isso que explica os números de Dilma.
Como explicou Ricardo Berzoini em entrevista para Carolina Oms, da revista Dinheiro:
“O governo busca o centro da meta, mas há duas maneiras de se tratar a meta da inflação. Uma é tratar como objetivo único da economia. Outra é tratar a meta combinada com outros objetivos como emprego, renda dos trabalhadores, crescimento econômico, investimento público e privado. Se o governo pudesse trazer a inflação para 4,5% ao ano, traria, mas temos uma série de pressões inflacionárias. Se você usar a política monetária de maneira demasiada, vai provocar uma recessão. É importante ter um olho na inflação e outro na geração de emprego e renda. A inflação incomoda os trabalhadores. Mas, para o trabalhador, pior do que inflação é desemprego alto e arrocho salarial.”
O debate é este.
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