Por Renato Rovai, em seu blog:
Mas retornando à entrevista, elas são boas ou ruins pelo que revelam, não pela forma como são feitas. Um indicador que permite avaliá-las é a quantidade de chamadas e títulos que fornecem. Dilma ofereceu inúmeros e uma delas foi obviamente a escolhida por todos os veículos da mídia corporativa: “a regulação econômica da mídia será um tema do meu segundo governo”.
Mas Dilma também disse que “quando o sapato não cabe mais no pé, é hora de trocar de sapato, porque de pé não dá pra trocar”, referindo-se à reforma política. E defendeu que ela aconteça em plebiscito, porque acha que uma constituinte exclusiva seria eleita a partir dos mesmos vícios que hoje levam a alguns segmentos a ser sub-representados no parlamento.
Também falou que hoje o governo tem um sistema de monitoramento por câmeras de hospitais e que isso lhe permite olhar como estão as coisas em alguns deles. E revelou que recentemente viu uma moça esperando para ser atendida numa cadeira de rodas por um bom tempo num corredor e ligou para a administração da unidade para ver o que estava acontecendo. Isso é algo que mereceria uma investigação jornalística. Será que esse tipo de ação pode vir a melhorar a gestão da saúde no Brasil? Dilma comparou-a ao com o que foi feito no atendimento da Previdência Social, que antes era um caos e melhorou significativamente entre o primeiro e o segundo mandato do presidente Lula.
A presidenta, provocada, também concordou que precisa fazer mais política, mas ao mesmo tempo disse que isso não resolve todo o problema. E lembrou a forma como o seu recente discurso na ONU foi deturpado por boa parte da mídia nacional.
Em resposta a minha pergunta sobre a desmilitarização da polícia, revelou que ainda não conhece a proposta de PEC 51. Mas disse sem nenhuma cerimônia que os autos de resistência são em geral utilizados para mascarar assassinatos realizados por policiais. E sinalizou que pretende, se reeleita, agir em relação ao sistema prisional. Neste tema, aliás, Dilma talvez devesse se sentar com especialistas mais progressistas. Diferentemente dela, eles acham que o governo federal pode ser muito mais atuante na área de segurança do que sinalizou. Ou seja, não é suficiente unificar as ações policiais é preciso ir além e propor uma reforma completa da arquitetura institucional o sistema de segurança pública no Congresso. E essa questão não é cláusula pétrea.
Dilma também falou bastante sobre gargalos de logística do Brasil e de obras que o seu governo vem realizando. Demonstrou um imenso conhecimento do que vem sendo feito para melhorar a infraestrutura no Brasil e, como já desconfiava, esse de fato é o tema preferido da presidenta. Dilma parecia se divertir quando ficava, ao falar, viajando o Brasil citando cidades onde vem sendo realizadas melhorias estruturais. Isso ficou claro antes mesmo da entrevista começar e do áudio ser aberto para o público. A conversa começou pelo calor que fazia em Brasília, passou pela São Paulo sem água de Alckmin e foi para as obras do São Francisco. Os olhos de Dilma brilhavam ao falar da grandiosidade da ação que vem sendo feita que no semi-árido nordestino. Ela contou com entusiasmo, por exemplo, como a água desliza por gravidade em imensos deslocamentos. E mostrou, comparando com o tamanho da sala onde estávamos, o tamanho das tubulações. Dilma é apaixonada por infraestrutura.
A presidenta, porém, também mostrou muito mais conhecimento da área de comunicação do que boa parte dos blogueiros imaginava que ela tinha. Discorreu de forma clara sobre os problemas do setor no Brasil e defendeu a tese de que é necessário uma regulamentação econômica do setor oferecendo vários exemplos internacionais.
Na sua última resposta, Dilma concordou que o avanço da cidadania cultural na classe C não ocorreu no mesmo ritmo do acesso ao consumo e disse que isso é comum num país como o Brasil que “tem que resolver problemas do século XIX e ao mesmo tempo atuar em questões do século XXI”.
Enfim, Dilma falou como poucas vezes na entrevista que concedeu para os blogueiros. E falou de fato de forma amigável. Isso significa o quê? Só jornalistas com carteirinhas de veículos que recebem muito mais financiamento do governo do que todos os blogues do mundo juntos têm o direito de fazer perguntas? Autoridades que se abrem ao diálogo para além da mídia tradicional cometem algum crime de lesa pátria?
A presidenta, aliás, deveria passar a fazer rodas de conversas ao vivo pela internet não apenas com blogueiros, mas com representantes de diversos outros setores. Não há porque se manter refém apenas das versões das organizações midiáticas. O momento permite ignorar os mediadores. E da forma como Dilma se mostrou tranquila e preparada, suas conversas fariam grande sucesso.
Ontem a blogosfera escreveu mais um parágrafo neste episódio da democratização das comunicações no Brasil. E Dilma também. Ao abrir as portas do Alvorada para receber seis blogueiros e duas blogueiras do chamado grupo progressista, mostrou que está disposta a iniciar uma nova fase neste campo. Tomara que esse tipo de iniciativa ganhe corpo e influencie outros governantes Brasil afora.
E para aqueles que não gostam disso, fica o nosso carinhoso beijinho no ombro.
1 comentários:
Também como vocês ando muito preocupada com a regulamentação da mídia. Gosto da Dilma, mas acho que ela apesar de ser muito inteligente não está de forma alguma bem assessorada, principalmente na área de comunicação. Eu chego a ter calafrios ao pensar no ministro Bernardo (não sei das quantas.São coisas que não temos como modificar, pois a nossa democracia não contempla nada disto. Temos o ministra da justiça que é outro que pode ser um cara bom, porém eu não sei pra quê.Me desviei,. Quero falar que gostei da entrevista. Um grande abraço.
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