Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
Em duas semanas de campanha no rádio e na TV, Dilma já perdeu… quinze dias. Sim. Retomemos a cronologia: dia 13 de agosto, às 12h, já se sabia que a agenda eleitoral tinha virado de pernas para o ar, com a morte trágica de Eduardo. Marina transformou-se, naquele momento, no rosto eleitoral a representar a “não-política” de junho/2013.
Dilma, com sua campanha dominada pela marquetagem, seguiu fingindo que nada acontecera. Surgiram na tela programas eleitorais muito bem produzidos. Mas pergunto-me: aquilo dá um voto que seja? Ou só consolida os votos de quem já estava propenso a escolher Dilma? Eram programas feitos para enfrentar os tucanos… Programas, aliás, que quase ninguém assiste pra valer. A TV fica ligada, a dona-de-casa vai terminar o jantar ou botar as crianças pra dormir… Enquanto os mais jovens seguem no celular, papeando pelas redes sociais.
O comando marqueteiro da campanha petista ficou esperando que Aécio desconstruísse Marina. E Aécio ficou à espera de que a mídia velha fizesse o serviço. Nem uma coisa nem outra… Durante 15 dias, Marina surfou sozinha na onda.
No primeiro debate na TV (na Band, semana passada), o que fez Dilma? Escolheu o confronto… com Aécio. Hehe.
É como se Dilma estivesse dirigindo um carro (ainda) em primeiro lugar na corrida, e ficasse xingando, pelo espelho retrovisor, o sujeito do carro de trás. Ao mesmo tempo, pela direita, um outro veículo com símbolos de paz e amor e adesivos do Itaú colados no vidro, acelerou e passou o carro de Dilma…
Falar que “FHC quebrou o país e gerou desemprego” não ganha mais eleição. O PT está brigando com o espelho retrovisor, enquanto é ultrapassado – pela direita, claramente pela direita – por um misto de neo-hippismo, neo-liberalismo e neo-pentecostalismo. Um fenômeno como o de Marina não se desmonta com uma única estratégia. Marina é fruto de múltiplos fatores. Nem todos podem ser enfrentados pelo PT. Mas muitos podem, sim.
A campanha dilmista deveria aproveitar a enorme superioridade de tempo no rádio e TV para usar ao menos os comerciais curtos na desconstrução de Marina. Disparar torpedos de política contra a adversária!
Sem política, Marina vai surfar na onda até outubro, e talvez nem precise de segundo turno.
Ah, mas bater no adversário tira voto. Papo de marqueteiro. Campanha é a hora de você se afirmar e, ao mesmo tempo, derrotar o adversário principal. Marqueteiro não substitui política. Vejam que, em São Paulo, Alckmin tem 50% nas pesquisas. Ainda assim, usa os comerciais curtos para bater em Skaf. O PSDB sabe que é preciso enfrentar o adversário desde o começo.
O PT e Dilma precisam colocar a marquetagem em seu devido lugar: a serviço do projeto político.
O quadro é muito claro: num eventual segundo turno contra Aécio, Dilma venceria. Contra Marina, perderia. O que isso quer dizer? Que nem todo voto em Marina num segundo turno é absolutamente anti-petista. Parte da turma que prefere Marina contra Dilma topa votar em Dilma contra os tucanos. Ou seja, ali no manancial do marinismo (misto de voto ambientalista/progressista, religioso/conservador, anti-politica e anti-petista) há também o voto de quem melhorou (um pouco) de vida com Lula/Dilma, mas não quer mais olhar (apenas) pro espelho retrovisor.
O voto anti-politica, anti-PT, religioso e neo-ambiental, esse não sai de Marina. Mas esse voto jovem (da turma que mudou de vida mas não quer dar mais cheque em branco pro PT) pode ser (re)conquistado para Dilma.
Pra isso, não adianta marquetagem. Esse eleitor (jovem, com celular na mão), acredita tanto em marquetagem quanto eu acredito no Silas Malafaia. Dilma precisa falar de futuro, oferecer uma agenda melhor do que Marina – pra ganhar esse eleitor.
A agenda é pela esquerda. E não falo em pregar “socialismo”. Não. Falo numa agenda concreta, trabalhista, de combate aos banqueiros, defesa do social, fim do fator previdenciário. Emprego e salário.
Essa é a agenda para derrotar o marinismo, que a essa altura é tudo e nada ao mesmo tempo. É preciso oferecer uma agenda de futuro (chega de falar, apenas, que “FHC desempregou”), ao mesmo tempo em que se deixa claro que Marina será um governo com programa confuso, sem força, e por isso mesmo cairá refém dos “tubarões” de sempre. Não há “terceira via”. Não é preciso xingar Marina. Basta dizer que ela tem uma história até respeitável, mas jogou isso fora pela ambição de poder.
Não há terceira via: há a turma dos bancos e do desemprego (com Marina) versus a turma trabalhista (com Lula e Dilma).
Para concluir, uma rápida digressão: uma campanha dominada pela marquetagem (como é a campanha de Dilma hoje) talvez seja apenas a continuação óbvia de um governo dominado pela síndrome de “gerência”.
O que a estratégia da “faxina”, da “gerente” e do ”diálogo”com a velha mídia rendeu para Dilma? Nada, ela apenas se rendeu à agenda dos adversários, enquanto a imagem do PT era triturada na maior campanha midiática anti-trabalhista desde os anos 50. Ainda em 2012, escrevi sobre isso: a tentativa era “fatiar” PT, Lula e Dilma. Atacava-se os dois primeiros, fingindo-se que a terceira seria poupada:
“Os geniais condutores da estratégia de comunicação da presidenta acham que ela se salvará sozinha dos ataques. Acreditam – ou fingem acreditar – no canto de sereia da velha mídia conservadora... Gostam de ver Dilma apontada como a condutora de um “novo PT”. Não é preciso ser muito esperto para perceber que não há “novo” ou “velho” PT. O que existe é o PT – com sua história de erros e acertos. O velho e o novo ganham juntos, ou naufragam juntos. A arena da oposição é o “gerenciamento” e o “moralismo” udenista. A arena da centro-esquerda é a política, a defesa do Estado, das reformas democráticas e dos programas sociais. Dilma parece ter-se esquecido disso.”
Valia para 2012. E vale agora. O governo Dilma tem méritos (manteve as políticas sociais, enfrentou os EUA na arena externa e tentou enfrentar os bancos). Mas tem muitos erros. Cedeu além da conta. E segue a ceder agora na campanha. Se não reagiu antes, ao longo de 4 anos, que Dilma ao menos lembre da campanha de 2010: quando jogou a marquetagem fora e enfrentou Serra no primeiro debate do segundo turno (ali, a diferença entre eles estava em apenas 4 pontos), foi naquele momento que Dilma ganhou a eleição.
Em 2014, o cenário é pior. De novo, o único caminho é a política, o confronto político. Para ganhar ou para perder. Dilma e o PT têm a chance de refazer uma agenda que unifique os movimentos sociais, os trabalhadores e o povão. Uma agenda que sirva para governar melhor a partir de 2015, ou (no quadro hoje mais provável) que sirva para resistir ao desmonte que um governo Marina certamente vai significar.
Em duas semanas de campanha no rádio e na TV, Dilma já perdeu… quinze dias. Sim. Retomemos a cronologia: dia 13 de agosto, às 12h, já se sabia que a agenda eleitoral tinha virado de pernas para o ar, com a morte trágica de Eduardo. Marina transformou-se, naquele momento, no rosto eleitoral a representar a “não-política” de junho/2013.
Dilma, com sua campanha dominada pela marquetagem, seguiu fingindo que nada acontecera. Surgiram na tela programas eleitorais muito bem produzidos. Mas pergunto-me: aquilo dá um voto que seja? Ou só consolida os votos de quem já estava propenso a escolher Dilma? Eram programas feitos para enfrentar os tucanos… Programas, aliás, que quase ninguém assiste pra valer. A TV fica ligada, a dona-de-casa vai terminar o jantar ou botar as crianças pra dormir… Enquanto os mais jovens seguem no celular, papeando pelas redes sociais.
O comando marqueteiro da campanha petista ficou esperando que Aécio desconstruísse Marina. E Aécio ficou à espera de que a mídia velha fizesse o serviço. Nem uma coisa nem outra… Durante 15 dias, Marina surfou sozinha na onda.
No primeiro debate na TV (na Band, semana passada), o que fez Dilma? Escolheu o confronto… com Aécio. Hehe.
É como se Dilma estivesse dirigindo um carro (ainda) em primeiro lugar na corrida, e ficasse xingando, pelo espelho retrovisor, o sujeito do carro de trás. Ao mesmo tempo, pela direita, um outro veículo com símbolos de paz e amor e adesivos do Itaú colados no vidro, acelerou e passou o carro de Dilma…
Falar que “FHC quebrou o país e gerou desemprego” não ganha mais eleição. O PT está brigando com o espelho retrovisor, enquanto é ultrapassado – pela direita, claramente pela direita – por um misto de neo-hippismo, neo-liberalismo e neo-pentecostalismo. Um fenômeno como o de Marina não se desmonta com uma única estratégia. Marina é fruto de múltiplos fatores. Nem todos podem ser enfrentados pelo PT. Mas muitos podem, sim.
A campanha dilmista deveria aproveitar a enorme superioridade de tempo no rádio e TV para usar ao menos os comerciais curtos na desconstrução de Marina. Disparar torpedos de política contra a adversária!
Sem política, Marina vai surfar na onda até outubro, e talvez nem precise de segundo turno.
Ah, mas bater no adversário tira voto. Papo de marqueteiro. Campanha é a hora de você se afirmar e, ao mesmo tempo, derrotar o adversário principal. Marqueteiro não substitui política. Vejam que, em São Paulo, Alckmin tem 50% nas pesquisas. Ainda assim, usa os comerciais curtos para bater em Skaf. O PSDB sabe que é preciso enfrentar o adversário desde o começo.
O PT e Dilma precisam colocar a marquetagem em seu devido lugar: a serviço do projeto político.
O quadro é muito claro: num eventual segundo turno contra Aécio, Dilma venceria. Contra Marina, perderia. O que isso quer dizer? Que nem todo voto em Marina num segundo turno é absolutamente anti-petista. Parte da turma que prefere Marina contra Dilma topa votar em Dilma contra os tucanos. Ou seja, ali no manancial do marinismo (misto de voto ambientalista/progressista, religioso/conservador, anti-politica e anti-petista) há também o voto de quem melhorou (um pouco) de vida com Lula/Dilma, mas não quer mais olhar (apenas) pro espelho retrovisor.
O voto anti-politica, anti-PT, religioso e neo-ambiental, esse não sai de Marina. Mas esse voto jovem (da turma que mudou de vida mas não quer dar mais cheque em branco pro PT) pode ser (re)conquistado para Dilma.
Pra isso, não adianta marquetagem. Esse eleitor (jovem, com celular na mão), acredita tanto em marquetagem quanto eu acredito no Silas Malafaia. Dilma precisa falar de futuro, oferecer uma agenda melhor do que Marina – pra ganhar esse eleitor.
A agenda é pela esquerda. E não falo em pregar “socialismo”. Não. Falo numa agenda concreta, trabalhista, de combate aos banqueiros, defesa do social, fim do fator previdenciário. Emprego e salário.
Essa é a agenda para derrotar o marinismo, que a essa altura é tudo e nada ao mesmo tempo. É preciso oferecer uma agenda de futuro (chega de falar, apenas, que “FHC desempregou”), ao mesmo tempo em que se deixa claro que Marina será um governo com programa confuso, sem força, e por isso mesmo cairá refém dos “tubarões” de sempre. Não há “terceira via”. Não é preciso xingar Marina. Basta dizer que ela tem uma história até respeitável, mas jogou isso fora pela ambição de poder.
Não há terceira via: há a turma dos bancos e do desemprego (com Marina) versus a turma trabalhista (com Lula e Dilma).
Para concluir, uma rápida digressão: uma campanha dominada pela marquetagem (como é a campanha de Dilma hoje) talvez seja apenas a continuação óbvia de um governo dominado pela síndrome de “gerência”.
O que a estratégia da “faxina”, da “gerente” e do ”diálogo”com a velha mídia rendeu para Dilma? Nada, ela apenas se rendeu à agenda dos adversários, enquanto a imagem do PT era triturada na maior campanha midiática anti-trabalhista desde os anos 50. Ainda em 2012, escrevi sobre isso: a tentativa era “fatiar” PT, Lula e Dilma. Atacava-se os dois primeiros, fingindo-se que a terceira seria poupada:
“Os geniais condutores da estratégia de comunicação da presidenta acham que ela se salvará sozinha dos ataques. Acreditam – ou fingem acreditar – no canto de sereia da velha mídia conservadora... Gostam de ver Dilma apontada como a condutora de um “novo PT”. Não é preciso ser muito esperto para perceber que não há “novo” ou “velho” PT. O que existe é o PT – com sua história de erros e acertos. O velho e o novo ganham juntos, ou naufragam juntos. A arena da oposição é o “gerenciamento” e o “moralismo” udenista. A arena da centro-esquerda é a política, a defesa do Estado, das reformas democráticas e dos programas sociais. Dilma parece ter-se esquecido disso.”
Valia para 2012. E vale agora. O governo Dilma tem méritos (manteve as políticas sociais, enfrentou os EUA na arena externa e tentou enfrentar os bancos). Mas tem muitos erros. Cedeu além da conta. E segue a ceder agora na campanha. Se não reagiu antes, ao longo de 4 anos, que Dilma ao menos lembre da campanha de 2010: quando jogou a marquetagem fora e enfrentou Serra no primeiro debate do segundo turno (ali, a diferença entre eles estava em apenas 4 pontos), foi naquele momento que Dilma ganhou a eleição.
Em 2014, o cenário é pior. De novo, o único caminho é a política, o confronto político. Para ganhar ou para perder. Dilma e o PT têm a chance de refazer uma agenda que unifique os movimentos sociais, os trabalhadores e o povão. Uma agenda que sirva para governar melhor a partir de 2015, ou (no quadro hoje mais provável) que sirva para resistir ao desmonte que um governo Marina certamente vai significar.
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