Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
Não existe nada mais arrogante e falso do que a tal “nova política” de Marina Silva.
Arrogante porque pressupõe superioridade moral por parte de quem promete mudar as coisas.
Subentende-se que, no governo Marina, não haverá corrupção. Como não? Ela é do PSB, um partido tão ou mais corrupto como qualquer outro. O PSB é coligado ao PPS, uma legenda com os mesmos problemas morais enfrentados por qualquer outra.
A nova política é uma mentira.
Vender ao povo brasileiro que a corrupção vai acabar de uma hora para outra é enganá-lo.
A corrupção é um chaga contra a qual lutaremos ainda por muito tempo.
Para combatê-la, faz-se necessário uma série de medidas administrativas, como o fortalecimento das instituições e o aumento da transparência.
Isso já tem acontecido. Só que nada é fácil. As instituições que combatem a corrupção às vezes se tornam, elas mesmas, corruptas, como é o caso do Ministério Público e do Judiciário.
O governo federal pode fazer muito pouco para reduzir a corrupção no MP e no Judiciário, porque se o fizesse correria o risco de provocar instabilidade institucional.
A democracia precisa da independência de poderes. Cada macaco em seu galho.
O governo federal também pode fazer muito pouco para entrar na cabeça das pessoas e convencê-las a serem mais honestas e mais éticas.
O aperfeiçoamento moral de um povo é um processo que, em geral, coroa o amadurecimento sócio-econômico de todas as classes.
E tem a ver, seguramente, com a redução das desigualdades, pois dificilmente um país poderá ser considerado moralmente saudável se as diferenças nas oportunidades forem tão abissais como são no Brasil.
De um lado, crianças nas ruas, usando crack, passando necessidades e sofrendo todo o tipo de abuso físico e psicológico.
De outro, os proprietários das Organizações Globo figurando na lista dos mais ricos do mundo, com uma fortuna nascida do cadáver da nossa democracia, e do sofrimento de milhões de cidadãos cujas vidas foram prejudicadas pela ditadura.
Tem muita coisa errada no Brasil, com certeza!
Há muita coisa errada na administração federal.
Dilma é uma presidenta com inúmeros defeitos.
Seus melhores aliados admitem que ela é ruim de política. Não se expressa bem.
Seu governo promoveu um apagão político e comunicacional que pode ter sido uma das razões para as “jornadas de junho”.
Entendam: não digo que o único problema do governo é na comunicação.
Não, o que estou dizendo é que o problema na comunicação nasceu, dentre outras razões, da intransigência e inexperiência de Dilma, defeitos que se refletiram em vários outros setores da administração.
E a comunicação é uma via de mão dupla. Se o governo não consegue falar, ele também não consegue ouvir as demandas da sociedade.
Eu critiquei muito alguns aspectos das “jornadas”. Mas acho que houve um momento em que era preciso, sim, criticá-las, porque elas tomavam um rumo perigoso, que podia descambar para a instabilidade política, para o golpismo e para uma reação conservadora violentíssima.
Os manifestantes sentiram na pele, aliás, essa reação.
A mesma mídia que tanto aplaudiu as manifestações passou a criminalizar seus protagonistas de uma maneira aterrorizante.
Havia, quiçá, um plano de botar fogo no país para fazer o povo querer a vinda de um “homem forte”, de um conservador linha dura que pusesse ordem na casa.
Não seria a primeira vez que isso acontece na história. Os exemplos são muitos.
Entretanto, o mesmo mefistófeles democrático que produziu as jornadas de junho, também produziu as críticas que se fizeram a elas.
Críticas são fundamentais para o nosso amadurecimento democrático. E houve aprendizado. Em pouco tempo, as manifestações foram se tornando mais responsáveis, mais focadas e mais organizadas.
Eu estava em Brasília no dia 13 de junho de 2013. Era meu aniversário e saí de onde eu estava, num shopping próximo à esplanada, e resolvi acompanhar a multidão.
Havia uma grande alegria no ar.
Os jovens chegavam de todas as partes, carregando pequenos cartazes, protestando contra todo o tipo de coisa.
Havia inúmeras manifestações de humor, como um cartezete onde se lia: “Mais ruivas”.
Muitos cartazes contra a mídia e contra a Globo.
Quando a multidão engrossou, a alegria dispersa nas centenas de grupos se concentrou numa onda de euforia crescentemente agressiva, embora não violenta. Era uma agressividade antes hormonal. Um frenesi.
Diante dos veículos das emissoras, as pessoas gritavam: “Mí-dia fascista! Sensa-ciona-lista!”
Não havia ódio.
Havia euforia e uma exótica consciência de… classe, de geração?, que se traduzia num irreverente e altivo grito de guerra:
“Ih, fudeu, o povo apareceu!”
Desde então, quantos debates fizemos, em auditórios e, sobretudo, em bares, sobre o significado de tudo aquilo?
Admitimos os inúmeros erros dos governos Lula e Dilma, e do PT.
Apesar da tentativa da direita e da mídia de cooptar as manifestações, o conservadorismo foi um parasita minoritário, embora barulhento e astuto.
Desde os escritos de Tito Lívio que se conhece o golpe da extrema direita, de usar a intolerância de grupos de extrema esquerda para dividir e conquistar o poder.
Lá no meu antigo blog, o Óleo do Diabo, eu contei a história de Apius Claudius, um astuto aristocrata de extrema direita da Roma republicana, que ofereceu aliança com grupos de plebeus de extrema esquerda. O resultado, invariavelmente, é negativo para o lado popular.
Os plebeus perderam poder durante décadas.
Mas depois se recuperaram.
Entretanto, é bom deixar claro que o papo de “nova política” é tão velho que deve ter nascido antes mesmo da “velha política”.
A “nova política” é uma velha caquética, mal cheirosa e doente, disfarçada de mocinha.
Não existe velha ou nova política.
A política é uma só.
Dura, complexa, contraditória.
Os adultos devem ensinar os jovens a conhecê-la, a domar sua selvageria, a compreender seus caprichos.
Pretender que os jovens dêem aulas sobre política é fugir à responsabilidade imposta pela experiência.
A política é tão complexa por razão simples. O homem é complexo.
As melhores personalidades, os cérebros mais brilhantes, os espíritos mais altruístas, corrompem-se diante do poder.
E o mais complicado nisso tudo é que a gente não sabe o que é pior: se aquele que muda sua personalidade diante do poder, ou se aquele que não muda!
Os maiores cientistas políticos e filósofos escreveram inúmeros ensaios sobre a ética na política. Em geral, aceita-se que a ética individual não vale para a política. Ou nem sempre vale.
Esse é um ensinamento científico importante, que infelizmente não interessa à mídia ensinar, porque, se o fizesse, teria que ensinar muitos outros segredos aos cidadãos.
Em política, não se sabe o que é pior: fazer um pacto com o diabo, ou não fazê-lo!
Era exatamente isso que dizia Churchill, político conservador inglês, quando lhe perguntaram porque selara um pacto militar e político com Stálin, seu antípoda ideológico: para enfrentar Hitler, explicou, faria o pacto com o próprio diabo em pessoa.
Inveja, ambição, covardia, por exemplo, são vícios horríveis, que destroem e corrompem as melhores pessoas.
Quando nos aprofundamos no estudo da filosofia, no entanto, aprendemos que até mesmo esses vícios obedecem a necessidades psicológicas importantes para o desenvolvimento do espírito humano.
Uma pessoa totalmente desprovida de inveja, absolutamente vazia de ambições e sem qualquer tipo de medo, seria, em verdade, um monstro. Um autômato.
Daí a irritação tão comum que sentimos contra pessoas que se acham perfeitas.
Paradoxalmente, gostamos das pessoas também por seus defeitos.
E aí podemos voltar à política brasileira.
A gente conhece os defeitos de Dilma Rousseff. Mas também conhecemos suas virtudes. É uma mulher com grande honradez pessoal, profundamente comprometida com o desenvolvimento sócio-econômico do Brasil.
Uma eleição presidencial de um país ainda em processo de autoafirmação não é brincadeira.
O que está em jogo, inclusive, nem é apenas o Brasil, mas um processo que envolve todo o mundo emergente.
A direita política, hoje ancorada na candidatura Marina e em suas promessas de “autonomia do Banco Central”, “revisão da política de conteúdo nacional”, entre outras barbaridades, tem interesse em fazer do Brasil uma cunha para manter a hegemonia do mesmo tipo de ordem internacional que tanto sofrimento e fome causou no mundo nos últimos séculos.
Não foi só o Brasil que melhorou nas últimas décadas.
O mundo emergente, caminhando com suas próprias pernas, tirou centenas de milhões pessoas, quiçá bilhões, da miséria.
Mas se ficássemos esperando EUA, Europa e suas Ongs nos ajudarem, a nós da América Latina, a nós da África, a nós da Ásia, continuaríamos na situação desesperadora em que estávamos até meados da década de 90.
Quando se vota para presidente num país com a dimensão continental, econômica e política do Brasil, estamos também orientando o resto do mundo.
Que recado daremos ao resto do mundo?
Que estamos de saco cheio do PT, então resolvemos entregar o poder aos defensores da autonomia do Banco Central, aos que pregam a redução do número de eleições no país. Àqueles que preferem fazer egoístas acordos bilaterais com países ricos a articular novos blocos emergentes, com poder de influenciar e democratizar a nova ordem mundial?
É exatamente isso que Marina representa. Sua defesa enfática, e sem recuos, da autonomia do Banco Central, nada mais é do que uma bandeira antidemocrática e antipopular, porque entregará o pedaço mais importante da nossa soberania econômica em mãos de técnicos sob influência de bancos e mídia.
Seremos governados por editoriais da Economist. Por colunistas do Wall Street Journal. Por chantagens editoriais de jornalões nacionais decadentes.
Aqueles garotos que eu vi caminhando pelas largas avenidas da esplanada dos ministérios, pedindo uma mídia mais responsável e serviços públicos mais eficazes, não querem isso.
Não querem de jeito nenhum!
Com todos os seus defeitos, o governo Dilma é o único que oferece segurança de que as políticas sociais continuarão a ser aprofundadas, que não haverá retrocessos trágicos, como autonomia do Banco Central, e que permaneceremos protagonistas da grande mudança em curso na correlação internacional de forças.
A fundação do banco dos Brics, uma iniciativa brilhante de Dilma Rousseff, constitui um passo importante na consolidação da nossa soberania.
Em governos anteriores, devíamos ao mundo inteiro. Hoje temos mais de 400 bilhões de dólares em reservas, somos credores internacionais e sócios-fundadores do maior banco de investimento multinacional do planeta.
Marina Silva é queridinha das ongs europeias e da rainha da Inglaterra, todos saudosos dos tempos gloriosos do imperialismo britânico.
Não se engane, impetuoso jovem. Não se iluda, intrépida moça.
Queremos uma revolução no Brasil e no mundo. Para isso, porém, precisamos vencer a guerra mais sórdida e mais difícil de todas, a da informação.
Marina reclama de “perseguição”, Aécio processa 66 tuiteiros. Ora, eles não tem sequer ideia do que é enfrentar, dia e noite, a poderosa máquina de mentiras da mídia brasileira. Máquina esta que foi responsável pela mais incrível alquimia de nossa história, fazer nosso povo acreditar que o golpe de 64 era um golpe em prol da democracia.
Assistimos nossa amada pátria ser estuprada à nossa frente e nos venderam que se tratava de uma cópula de amor.
Não podemos deixar isso acontecer de novo.
Não podemos permitir que entreguem as rédeas da nação ao que há de mais velho e viciado em nossa política, enquanto nos vendem que se trata de uma coisa “nova”.
Arrogante porque pressupõe superioridade moral por parte de quem promete mudar as coisas.
Subentende-se que, no governo Marina, não haverá corrupção. Como não? Ela é do PSB, um partido tão ou mais corrupto como qualquer outro. O PSB é coligado ao PPS, uma legenda com os mesmos problemas morais enfrentados por qualquer outra.
A nova política é uma mentira.
Vender ao povo brasileiro que a corrupção vai acabar de uma hora para outra é enganá-lo.
A corrupção é um chaga contra a qual lutaremos ainda por muito tempo.
Para combatê-la, faz-se necessário uma série de medidas administrativas, como o fortalecimento das instituições e o aumento da transparência.
Isso já tem acontecido. Só que nada é fácil. As instituições que combatem a corrupção às vezes se tornam, elas mesmas, corruptas, como é o caso do Ministério Público e do Judiciário.
O governo federal pode fazer muito pouco para reduzir a corrupção no MP e no Judiciário, porque se o fizesse correria o risco de provocar instabilidade institucional.
A democracia precisa da independência de poderes. Cada macaco em seu galho.
O governo federal também pode fazer muito pouco para entrar na cabeça das pessoas e convencê-las a serem mais honestas e mais éticas.
O aperfeiçoamento moral de um povo é um processo que, em geral, coroa o amadurecimento sócio-econômico de todas as classes.
E tem a ver, seguramente, com a redução das desigualdades, pois dificilmente um país poderá ser considerado moralmente saudável se as diferenças nas oportunidades forem tão abissais como são no Brasil.
De um lado, crianças nas ruas, usando crack, passando necessidades e sofrendo todo o tipo de abuso físico e psicológico.
De outro, os proprietários das Organizações Globo figurando na lista dos mais ricos do mundo, com uma fortuna nascida do cadáver da nossa democracia, e do sofrimento de milhões de cidadãos cujas vidas foram prejudicadas pela ditadura.
Tem muita coisa errada no Brasil, com certeza!
Há muita coisa errada na administração federal.
Dilma é uma presidenta com inúmeros defeitos.
Seus melhores aliados admitem que ela é ruim de política. Não se expressa bem.
Seu governo promoveu um apagão político e comunicacional que pode ter sido uma das razões para as “jornadas de junho”.
Entendam: não digo que o único problema do governo é na comunicação.
Não, o que estou dizendo é que o problema na comunicação nasceu, dentre outras razões, da intransigência e inexperiência de Dilma, defeitos que se refletiram em vários outros setores da administração.
E a comunicação é uma via de mão dupla. Se o governo não consegue falar, ele também não consegue ouvir as demandas da sociedade.
Eu critiquei muito alguns aspectos das “jornadas”. Mas acho que houve um momento em que era preciso, sim, criticá-las, porque elas tomavam um rumo perigoso, que podia descambar para a instabilidade política, para o golpismo e para uma reação conservadora violentíssima.
Os manifestantes sentiram na pele, aliás, essa reação.
A mesma mídia que tanto aplaudiu as manifestações passou a criminalizar seus protagonistas de uma maneira aterrorizante.
Havia, quiçá, um plano de botar fogo no país para fazer o povo querer a vinda de um “homem forte”, de um conservador linha dura que pusesse ordem na casa.
Não seria a primeira vez que isso acontece na história. Os exemplos são muitos.
Entretanto, o mesmo mefistófeles democrático que produziu as jornadas de junho, também produziu as críticas que se fizeram a elas.
Críticas são fundamentais para o nosso amadurecimento democrático. E houve aprendizado. Em pouco tempo, as manifestações foram se tornando mais responsáveis, mais focadas e mais organizadas.
Eu estava em Brasília no dia 13 de junho de 2013. Era meu aniversário e saí de onde eu estava, num shopping próximo à esplanada, e resolvi acompanhar a multidão.
Havia uma grande alegria no ar.
Os jovens chegavam de todas as partes, carregando pequenos cartazes, protestando contra todo o tipo de coisa.
Havia inúmeras manifestações de humor, como um cartezete onde se lia: “Mais ruivas”.
Muitos cartazes contra a mídia e contra a Globo.
Quando a multidão engrossou, a alegria dispersa nas centenas de grupos se concentrou numa onda de euforia crescentemente agressiva, embora não violenta. Era uma agressividade antes hormonal. Um frenesi.
Diante dos veículos das emissoras, as pessoas gritavam: “Mí-dia fascista! Sensa-ciona-lista!”
Não havia ódio.
Havia euforia e uma exótica consciência de… classe, de geração?, que se traduzia num irreverente e altivo grito de guerra:
“Ih, fudeu, o povo apareceu!”
Desde então, quantos debates fizemos, em auditórios e, sobretudo, em bares, sobre o significado de tudo aquilo?
Admitimos os inúmeros erros dos governos Lula e Dilma, e do PT.
Apesar da tentativa da direita e da mídia de cooptar as manifestações, o conservadorismo foi um parasita minoritário, embora barulhento e astuto.
Desde os escritos de Tito Lívio que se conhece o golpe da extrema direita, de usar a intolerância de grupos de extrema esquerda para dividir e conquistar o poder.
Lá no meu antigo blog, o Óleo do Diabo, eu contei a história de Apius Claudius, um astuto aristocrata de extrema direita da Roma republicana, que ofereceu aliança com grupos de plebeus de extrema esquerda. O resultado, invariavelmente, é negativo para o lado popular.
Os plebeus perderam poder durante décadas.
Mas depois se recuperaram.
Entretanto, é bom deixar claro que o papo de “nova política” é tão velho que deve ter nascido antes mesmo da “velha política”.
A “nova política” é uma velha caquética, mal cheirosa e doente, disfarçada de mocinha.
Não existe velha ou nova política.
A política é uma só.
Dura, complexa, contraditória.
Os adultos devem ensinar os jovens a conhecê-la, a domar sua selvageria, a compreender seus caprichos.
Pretender que os jovens dêem aulas sobre política é fugir à responsabilidade imposta pela experiência.
A política é tão complexa por razão simples. O homem é complexo.
As melhores personalidades, os cérebros mais brilhantes, os espíritos mais altruístas, corrompem-se diante do poder.
E o mais complicado nisso tudo é que a gente não sabe o que é pior: se aquele que muda sua personalidade diante do poder, ou se aquele que não muda!
Os maiores cientistas políticos e filósofos escreveram inúmeros ensaios sobre a ética na política. Em geral, aceita-se que a ética individual não vale para a política. Ou nem sempre vale.
Esse é um ensinamento científico importante, que infelizmente não interessa à mídia ensinar, porque, se o fizesse, teria que ensinar muitos outros segredos aos cidadãos.
Em política, não se sabe o que é pior: fazer um pacto com o diabo, ou não fazê-lo!
Era exatamente isso que dizia Churchill, político conservador inglês, quando lhe perguntaram porque selara um pacto militar e político com Stálin, seu antípoda ideológico: para enfrentar Hitler, explicou, faria o pacto com o próprio diabo em pessoa.
Inveja, ambição, covardia, por exemplo, são vícios horríveis, que destroem e corrompem as melhores pessoas.
Quando nos aprofundamos no estudo da filosofia, no entanto, aprendemos que até mesmo esses vícios obedecem a necessidades psicológicas importantes para o desenvolvimento do espírito humano.
Uma pessoa totalmente desprovida de inveja, absolutamente vazia de ambições e sem qualquer tipo de medo, seria, em verdade, um monstro. Um autômato.
Daí a irritação tão comum que sentimos contra pessoas que se acham perfeitas.
Paradoxalmente, gostamos das pessoas também por seus defeitos.
E aí podemos voltar à política brasileira.
A gente conhece os defeitos de Dilma Rousseff. Mas também conhecemos suas virtudes. É uma mulher com grande honradez pessoal, profundamente comprometida com o desenvolvimento sócio-econômico do Brasil.
Uma eleição presidencial de um país ainda em processo de autoafirmação não é brincadeira.
O que está em jogo, inclusive, nem é apenas o Brasil, mas um processo que envolve todo o mundo emergente.
A direita política, hoje ancorada na candidatura Marina e em suas promessas de “autonomia do Banco Central”, “revisão da política de conteúdo nacional”, entre outras barbaridades, tem interesse em fazer do Brasil uma cunha para manter a hegemonia do mesmo tipo de ordem internacional que tanto sofrimento e fome causou no mundo nos últimos séculos.
Não foi só o Brasil que melhorou nas últimas décadas.
O mundo emergente, caminhando com suas próprias pernas, tirou centenas de milhões pessoas, quiçá bilhões, da miséria.
Mas se ficássemos esperando EUA, Europa e suas Ongs nos ajudarem, a nós da América Latina, a nós da África, a nós da Ásia, continuaríamos na situação desesperadora em que estávamos até meados da década de 90.
Quando se vota para presidente num país com a dimensão continental, econômica e política do Brasil, estamos também orientando o resto do mundo.
Que recado daremos ao resto do mundo?
Que estamos de saco cheio do PT, então resolvemos entregar o poder aos defensores da autonomia do Banco Central, aos que pregam a redução do número de eleições no país. Àqueles que preferem fazer egoístas acordos bilaterais com países ricos a articular novos blocos emergentes, com poder de influenciar e democratizar a nova ordem mundial?
É exatamente isso que Marina representa. Sua defesa enfática, e sem recuos, da autonomia do Banco Central, nada mais é do que uma bandeira antidemocrática e antipopular, porque entregará o pedaço mais importante da nossa soberania econômica em mãos de técnicos sob influência de bancos e mídia.
Seremos governados por editoriais da Economist. Por colunistas do Wall Street Journal. Por chantagens editoriais de jornalões nacionais decadentes.
Aqueles garotos que eu vi caminhando pelas largas avenidas da esplanada dos ministérios, pedindo uma mídia mais responsável e serviços públicos mais eficazes, não querem isso.
Não querem de jeito nenhum!
Com todos os seus defeitos, o governo Dilma é o único que oferece segurança de que as políticas sociais continuarão a ser aprofundadas, que não haverá retrocessos trágicos, como autonomia do Banco Central, e que permaneceremos protagonistas da grande mudança em curso na correlação internacional de forças.
A fundação do banco dos Brics, uma iniciativa brilhante de Dilma Rousseff, constitui um passo importante na consolidação da nossa soberania.
Em governos anteriores, devíamos ao mundo inteiro. Hoje temos mais de 400 bilhões de dólares em reservas, somos credores internacionais e sócios-fundadores do maior banco de investimento multinacional do planeta.
Marina Silva é queridinha das ongs europeias e da rainha da Inglaterra, todos saudosos dos tempos gloriosos do imperialismo britânico.
Não se engane, impetuoso jovem. Não se iluda, intrépida moça.
Queremos uma revolução no Brasil e no mundo. Para isso, porém, precisamos vencer a guerra mais sórdida e mais difícil de todas, a da informação.
Marina reclama de “perseguição”, Aécio processa 66 tuiteiros. Ora, eles não tem sequer ideia do que é enfrentar, dia e noite, a poderosa máquina de mentiras da mídia brasileira. Máquina esta que foi responsável pela mais incrível alquimia de nossa história, fazer nosso povo acreditar que o golpe de 64 era um golpe em prol da democracia.
Assistimos nossa amada pátria ser estuprada à nossa frente e nos venderam que se tratava de uma cópula de amor.
Não podemos deixar isso acontecer de novo.
Não podemos permitir que entreguem as rédeas da nação ao que há de mais velho e viciado em nossa política, enquanto nos vendem que se trata de uma coisa “nova”.
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