Por Breno Altman, em seu blog:
O sonho de consumo da cloaca vai além do impedimento de Dilma Rousseff. Não é à toa que o mais recente artigo do autor, publicado na Folha de S.Paulo dessa sexta-feira, ergue a bandeira da cassação do PT.
O propósito de Azevedo, versão politizada de Téo Pereira, hilário personagem encarnado por Paulo Betti na novela “Império”, aparece disfarçada por um truque retórico, mas é nervo exposto:
“Se o que dizem Costa, Youssef, Mendonça Neto e Camargo for verdade,… o Brasil já está sendo governado por uma organização criminosa. A oração subordinada vai definir o exato sentido da principal e se o PT tem ou não de ser posto na ilegalidade.”
Para ler o resto do texto, basta clicar: “PT: organização criminosa?”
A artimanha do articulista remonta às manobras do deputado Barreto Pinto, do PTB fluminense, que levaram à eliminação institucional do Partido Comunista, em 1947.
O petebista forjou uma peça acusatória contra os comunistas pinçando frases de entrevista concedida por Luiz Carlos Prestes, então líder máximo da agremiação, acerca de que lado ficariam seus pares no caso de guerra entre o Brasil e a União Soviética.
Os comunistas foram banidos pelo Tribunal Superior Eleitoral, que aceitou a alegação de ser o PCB uma organização antidemocrática e subordinada à potência estrangeira.
Histriônico como o articulista antipetista, Barreto Pinto foi o primeiro parlamentar cassado por falta de decoro, em 1949, ao se deixar fotografar de cartola, fraque e cueca. Mas aí já é outra história.
A comparação relevante está no método.
Azevedo manipula informações para construir uma mentira.
Não há, até o momento, qualquer prova que envolva o PT nas tramoias de diretores da Petrobrás, salvo referências genéricas de quem deseja preservar o próprio pescoço.
Aliás, se as delações premiadas forem tomadas ao pé da letra, quase todos os partidos teriam de ser colocados na ilegalidade. Afinal, as empresas envolvidas na Operação Lava Jato são financiadoras das principais campanhas eleitorais do país.
Quanto aos depoimentos de Júlio Camargo e Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, executivos da Toyo Setal, Azevedo apela para vil falsificação.
Esconde contradições entre os dois depoimentos, omite informações que negam sua tese e deleta declarações que colocam por terra o envolvimento de dirigentes petistas.
Camargo confessou ter supostamente pago propina a Renato Duque, ex-diretor da Petrobrás.
Não fez, porém, qualquer vínculo dessa operação com doações ao PT.
Revelou que a empresa realizou contribuições ao partido, mas não deu qualquer indicação de que seria contrapartida a algum negócio na companhia petroleira.
Mendonça Neto, esse sim, disse que os R$ 4 milhões doados pela Toyo Setal ao PT, entre 2008 e 2011, seriam pagamento por um contrato na Refinaria Presidente Vargas, no Paraná.
Perguntado especificamente, no entanto, se teria tratado desse assunto com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, negou taxativamente.
Relatou que foi ao partido tratar somente sobre como seriam feitas as doações, que se encontram devidamente contabilizadas junto à Justiça Eleitoral.
Obviamente que não cabe, aos partidos que recebem aportes na forma da lei, investigar como eventuais empresas contribuintes ganham seu dinheiro.
Quem tem a obrigação de estabelecer listas e normas proibitivas, bem como a de investigar companhias que agem de forma delituosa, é o poder judiciário.
Abordar de outra forma seria o mesmo que considerar bandido o honorável Azevedo, assalariado da Editora Abril, caso viesse a ser provado, por exemplo, que a revista Veja recebe publicidade de empresas com práticas criminosas ou está envolvida com quadrilhas do jogo clandestino.
Enfim, há coisas que podem e há coisas que não podem ser feitas, mesmo na atividade jornalística.
Picaretagem informativa não pode. Ao menos entre profissionais sérios e zelosos, quaisquer que sejam suas inclinações ideológicas.
Atentar contra direitos constitucionais, tampouco. Ao menos entre cidadãos que prezam a vida democrática, quaisquer que sejam suas visões sobre o país.
Azevedo não passa de imitação rastaquera do udenista Carlos Lacerda. Infinitamente menos culto, menos inteligente e, acima de tudo, menos corajoso que o Corvo do Lavradio.
Ocultar-se através de oração subordinada condicional, para verter seu veneno reacionário, fala muito sobre o caráter do autor.
Certamente está mais para rato que ruge do que para rottweiler amoroso.
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