Por Bepe Damasco, em seu blog:
Diante das medidas da equipe econômica comandada por Joaquim Levy, que penalizam os trabalhadores, uma pergunta preocupante vem à tona: estamos assistindo a um esforço pontual e tópico para ajustar as contas públicas e "agradar" ao mercado, ou o governo da presidenta Dilma virou o fio e abraçou as teses derrotadas na última eleição? Como questiona o presidente da CUT nacional, Vagner Freitas, será que o governo resolveu derrubar a economia para domar a inflação e reduzir o rombo nas suas contas? Se for isso, vem aí desemprego e recessão.
Mas ainda estão rolando os dados. Se por um lado declarações recentes de Levy e de Nelson Barbosa acendem ainda forte o sinal amarelo, por outro, as centrais sindicais vão para as ruas (mobilizações nacionais estão marcadas para 28 de janeiro e 26 de fevereiro) e cresce a insatisfação dos setores organizados da sociedade com os rumos adotados até aqui. Contudo, todo cuidado é pouco para não se jogar água no moinho da direita midiática e parlamentar, que segue firme na sua toada golpista, agora agregando as crises hídrica e energética à exploração da operação Lava Jato.
Chama a atenção o fato de o governo não ter sequer acenado até agora com medidas de ajuste que tributem os segmentos mais abastados da população. Aquela minoria que tem mais e, portanto, pode mais. Nenhuma palavra sobre taxação das heranças e das grandes fortunas. Até Obama, em seu Discurso sobre o Estado da União, saiu em defesa da taxação dos ganhos de capital, das heranças e das grandes fortunas como saída para reduzir as desigualdades sociais nos Estados Unidos.
Mas o modelo de ajuste proposto por Levy segue a velha e fracassada cantilena neoliberal de onerar o trabalho e a produção, poupando endinheirados e rentistas. No fundo, é uma cópia medíocre do receituário da chamada Troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu), para combater os efeitos da crise financeira internacional de 2008. Calcula-se que aplicação destas políticas tenha fechado cerca de 60 milhões de postos de trabalho.
E nada mudou em relação aos crônicos problemas de comunicação do governo. Senão vejamos: vamos combinar que o anúncio, ao apagar das luzes de 2014, das Medidas Provisórias que trazem dificuldades para a obtenção do seguro-desemprego, abono salarial (PIS-Pasep), auxílio-doença, auxílio-defeso, auxílio-reclusão e das pensões (além do aumento anunciado posteriormente dos juros para a obtenção de crédito) mereciam explicações públicas por parte da presidenta, quem sabe utilizando até uma cadeia nacional de rádio e tevê.
Faltou sensibilidade política à Dilma para perceber que não se tratam de meras e banais intervenções fiscais para melhorar as contas do governo, mas sim de decisões que contrariam o que foi pregado nos palanques e ferem compromissos eleitorais assumidos com as organizações da classe trabalhadora. Por tudo isso, faz-se necessário um esclarecimento da chefe do governo. O silêncio de Dilma, deixa à vontade seus ministros para subirem o tom no que diz respeito à profundidade e à extensão do ajuste fiscal, semeando ainda mais apreensão.
Assim, Levy afirma que o seguro-desemprego está superado e admite recessão no primeiro trimestre de 2015. Por sua vez, Nelson Barbosa vai além e diz que o modelo da economia brasileira dos últimos 12 anos está esgotado, causando perplexidade entre os que votaram em Dilma justamente porque desejam a continuidade da geração de emprego e renda, com inclusão social, de um mercado interno robusto, da adoção de políticas anticíclicas para proteger a produção, o consumo e a classe trabalhadora da retração da economia global.
É possível até traçar um paralelo entre o ajuste fiscal de Dilma e o implementado por Lula em seu primeiro ano de governo, em 2003. Só que a situação de 11 anos atrás era infinitamente pior do que a de hoje. Naquela época, além de o Brasil contar com um volume pífio de reservas internacionais, o desemprego estava em alta, bem como a inflação. Sem falar que o país devia ao FMI e a relação dívida interna/PIB era bem mais desfavorável. Ou seja, o rigor nos cortes de 2003 não se justifica hoje, embora seja forçoso reconhecer que a acertada decisão de manter o mercado aquecido seja responsável pelo desequilíbrio das contas governamentais.
Tem muita água para correr ainda debaixo da ponte. Decorridos apenas vinte e poucos dias do novo governo, não concordo com a análise precipitada de que seus rumos estão definidos. Céticos, ouço até mesmo militantes do PT dizerem que esse governo é um caso perdido. Devagar com o andor. Primeiro porque esse governo será permanentemente de disputa, cabendo ao PT, PCdoB, centrais sindicais e movimentos sociais puxá-lo para a esquerda. Depois, Dilma, como militante e quadro de esquerda que sempre foi ao longo da vida, merece, no mínimo, o benefício da dúvida. Não custa lembrar que, junto com o ministro Guido Mantega, ela comandou a exitosa virada desenvolvimentista do governo Lula, em 2005.
Diante das medidas da equipe econômica comandada por Joaquim Levy, que penalizam os trabalhadores, uma pergunta preocupante vem à tona: estamos assistindo a um esforço pontual e tópico para ajustar as contas públicas e "agradar" ao mercado, ou o governo da presidenta Dilma virou o fio e abraçou as teses derrotadas na última eleição? Como questiona o presidente da CUT nacional, Vagner Freitas, será que o governo resolveu derrubar a economia para domar a inflação e reduzir o rombo nas suas contas? Se for isso, vem aí desemprego e recessão.
Mas ainda estão rolando os dados. Se por um lado declarações recentes de Levy e de Nelson Barbosa acendem ainda forte o sinal amarelo, por outro, as centrais sindicais vão para as ruas (mobilizações nacionais estão marcadas para 28 de janeiro e 26 de fevereiro) e cresce a insatisfação dos setores organizados da sociedade com os rumos adotados até aqui. Contudo, todo cuidado é pouco para não se jogar água no moinho da direita midiática e parlamentar, que segue firme na sua toada golpista, agora agregando as crises hídrica e energética à exploração da operação Lava Jato.
Chama a atenção o fato de o governo não ter sequer acenado até agora com medidas de ajuste que tributem os segmentos mais abastados da população. Aquela minoria que tem mais e, portanto, pode mais. Nenhuma palavra sobre taxação das heranças e das grandes fortunas. Até Obama, em seu Discurso sobre o Estado da União, saiu em defesa da taxação dos ganhos de capital, das heranças e das grandes fortunas como saída para reduzir as desigualdades sociais nos Estados Unidos.
Mas o modelo de ajuste proposto por Levy segue a velha e fracassada cantilena neoliberal de onerar o trabalho e a produção, poupando endinheirados e rentistas. No fundo, é uma cópia medíocre do receituário da chamada Troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu), para combater os efeitos da crise financeira internacional de 2008. Calcula-se que aplicação destas políticas tenha fechado cerca de 60 milhões de postos de trabalho.
E nada mudou em relação aos crônicos problemas de comunicação do governo. Senão vejamos: vamos combinar que o anúncio, ao apagar das luzes de 2014, das Medidas Provisórias que trazem dificuldades para a obtenção do seguro-desemprego, abono salarial (PIS-Pasep), auxílio-doença, auxílio-defeso, auxílio-reclusão e das pensões (além do aumento anunciado posteriormente dos juros para a obtenção de crédito) mereciam explicações públicas por parte da presidenta, quem sabe utilizando até uma cadeia nacional de rádio e tevê.
Faltou sensibilidade política à Dilma para perceber que não se tratam de meras e banais intervenções fiscais para melhorar as contas do governo, mas sim de decisões que contrariam o que foi pregado nos palanques e ferem compromissos eleitorais assumidos com as organizações da classe trabalhadora. Por tudo isso, faz-se necessário um esclarecimento da chefe do governo. O silêncio de Dilma, deixa à vontade seus ministros para subirem o tom no que diz respeito à profundidade e à extensão do ajuste fiscal, semeando ainda mais apreensão.
Assim, Levy afirma que o seguro-desemprego está superado e admite recessão no primeiro trimestre de 2015. Por sua vez, Nelson Barbosa vai além e diz que o modelo da economia brasileira dos últimos 12 anos está esgotado, causando perplexidade entre os que votaram em Dilma justamente porque desejam a continuidade da geração de emprego e renda, com inclusão social, de um mercado interno robusto, da adoção de políticas anticíclicas para proteger a produção, o consumo e a classe trabalhadora da retração da economia global.
É possível até traçar um paralelo entre o ajuste fiscal de Dilma e o implementado por Lula em seu primeiro ano de governo, em 2003. Só que a situação de 11 anos atrás era infinitamente pior do que a de hoje. Naquela época, além de o Brasil contar com um volume pífio de reservas internacionais, o desemprego estava em alta, bem como a inflação. Sem falar que o país devia ao FMI e a relação dívida interna/PIB era bem mais desfavorável. Ou seja, o rigor nos cortes de 2003 não se justifica hoje, embora seja forçoso reconhecer que a acertada decisão de manter o mercado aquecido seja responsável pelo desequilíbrio das contas governamentais.
Tem muita água para correr ainda debaixo da ponte. Decorridos apenas vinte e poucos dias do novo governo, não concordo com a análise precipitada de que seus rumos estão definidos. Céticos, ouço até mesmo militantes do PT dizerem que esse governo é um caso perdido. Devagar com o andor. Primeiro porque esse governo será permanentemente de disputa, cabendo ao PT, PCdoB, centrais sindicais e movimentos sociais puxá-lo para a esquerda. Depois, Dilma, como militante e quadro de esquerda que sempre foi ao longo da vida, merece, no mínimo, o benefício da dúvida. Não custa lembrar que, junto com o ministro Guido Mantega, ela comandou a exitosa virada desenvolvimentista do governo Lula, em 2005.
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