Por Breno Altman, em seu blog:
Muita calma nessa hora.
A pergunta não diz respeito a modelos de sociedade e Estado, mas exclusivamente ao paradigma de comunicação.
Apesar de ambas experiências pertencerem ao mesmo campo ideológico, percorreram diferentes caminhos e obtiveram distintos resultados.
Muitos se indagam, aliás, o porquê de Cuba ter resistido ao colapso do socialismo, apesar de sua fragilidade econômica.
Uma das razões, penso, é que a narrativa de Fidel e seus companheiros frequentemente expôs ao povo cubano, com clareza, frequentemente de maneira ríspida, os problemas e erros cometidos.
Não se chamava urubu de meu louro. Simples assim.
Mesmo enfrentando sacrifícios dramáticos, os cidadãos aprenderam a confiar em sua direção.
Nem tanto por sua capacidade para resolver os estrangulamentos provocados pelo bloqueio, a falência da URSS e as barbeiragens cometidas, mas por estarem seguros que seus líderes não faltavam com a verdade e não os tratavam como audiência bovina.
Ao contrário do que propagam os inimigos da Revolução Cubana, o Partido Comunista incentivou, dentro de suas instâncias e na população, processos amplos de crítica e autocrítica, cujo ápice ocorreu exatamente nestes 25 anos depois da quebra soviética.
Claro que houve muitos momentos cinzentos e dominados pelo secretismo palaciano. Mas o comportamento habitual, do comando revolucionário, tem sido o de colocar as cartas sobre a mesa.
Os chineses, a propósito, particularmente sob a liderança de Deng Xiaoping, nos anos 80, também optaram por método semelhante.
Os soviéticos, ao menos desde os anos sessenta, preferiram o jogo do feliz.
Até os anos finais da crise, relatórios oficiais apresentavam cenários maravilhosos: pleno emprego, conquistas sociais e culturais formidáveis, desenvolvimento incessante, tremenda pujança em comparação ao capitalismo supostamente doente e terminal.
Medidas eventualmente tomadas para desatar nós eram apresentadas em linha de continuidade com encaminhamentos que haviam provocado os próprios problemas a serem resolvidos.
Afinal, na linguagem do contente, nunca há erros. Apenas novos desafios.
A lógica era trivial: falar de contradições, equívocos e fracassos favorecia a propaganda inimiga.
Como os fatos são usualmente mais vigorosos que a comunicação, ao longo do tempo abriu-se um fosso entre o que falavam os governantes e a consciência social.
Os cidadãos soviéticos e a própria militância comunista, que tinham travado históricas batalhas para construir o socialismo e derrotar o nazismo, foram desacreditando de uma direção que propagava logros revolucionários sem enfrentar com franqueza os evidentes problemas em curso.
Quando abriu-se a panela de pressão, durante o governo Gorbachev, já era tarde. Ao contrário de renovar laços de confiança entre o povo e o Partido Comunista, o sentimento generalizado foi de fúria contra o que parecia ser uma tremenda enganação, levando de roldão as fenomenais conquistas da revolução de 1917.
A situação brasileira, por inúmeras razões, está muito distante dos processos cubano e soviético.
Ainda assim, no que diz respeito ao discurso público, os dois casos ajudam a debater qual a melhor abordagem.
O assunto talvez seja um pouco extemporâneo e genérico. Mas confesso, ao observar certos comportamentos do governo e da militância de esquerda, que corremos o risco da “inspiração soviética” acabar dando o tom na atitude das forças progressistas frente ao povo brasileiro.
Muita calma nessa hora.
A pergunta não diz respeito a modelos de sociedade e Estado, mas exclusivamente ao paradigma de comunicação.
Apesar de ambas experiências pertencerem ao mesmo campo ideológico, percorreram diferentes caminhos e obtiveram distintos resultados.
Muitos se indagam, aliás, o porquê de Cuba ter resistido ao colapso do socialismo, apesar de sua fragilidade econômica.
Uma das razões, penso, é que a narrativa de Fidel e seus companheiros frequentemente expôs ao povo cubano, com clareza, frequentemente de maneira ríspida, os problemas e erros cometidos.
Não se chamava urubu de meu louro. Simples assim.
Mesmo enfrentando sacrifícios dramáticos, os cidadãos aprenderam a confiar em sua direção.
Nem tanto por sua capacidade para resolver os estrangulamentos provocados pelo bloqueio, a falência da URSS e as barbeiragens cometidas, mas por estarem seguros que seus líderes não faltavam com a verdade e não os tratavam como audiência bovina.
Ao contrário do que propagam os inimigos da Revolução Cubana, o Partido Comunista incentivou, dentro de suas instâncias e na população, processos amplos de crítica e autocrítica, cujo ápice ocorreu exatamente nestes 25 anos depois da quebra soviética.
Claro que houve muitos momentos cinzentos e dominados pelo secretismo palaciano. Mas o comportamento habitual, do comando revolucionário, tem sido o de colocar as cartas sobre a mesa.
Os chineses, a propósito, particularmente sob a liderança de Deng Xiaoping, nos anos 80, também optaram por método semelhante.
Os soviéticos, ao menos desde os anos sessenta, preferiram o jogo do feliz.
Até os anos finais da crise, relatórios oficiais apresentavam cenários maravilhosos: pleno emprego, conquistas sociais e culturais formidáveis, desenvolvimento incessante, tremenda pujança em comparação ao capitalismo supostamente doente e terminal.
Medidas eventualmente tomadas para desatar nós eram apresentadas em linha de continuidade com encaminhamentos que haviam provocado os próprios problemas a serem resolvidos.
Afinal, na linguagem do contente, nunca há erros. Apenas novos desafios.
A lógica era trivial: falar de contradições, equívocos e fracassos favorecia a propaganda inimiga.
Como os fatos são usualmente mais vigorosos que a comunicação, ao longo do tempo abriu-se um fosso entre o que falavam os governantes e a consciência social.
Os cidadãos soviéticos e a própria militância comunista, que tinham travado históricas batalhas para construir o socialismo e derrotar o nazismo, foram desacreditando de uma direção que propagava logros revolucionários sem enfrentar com franqueza os evidentes problemas em curso.
Quando abriu-se a panela de pressão, durante o governo Gorbachev, já era tarde. Ao contrário de renovar laços de confiança entre o povo e o Partido Comunista, o sentimento generalizado foi de fúria contra o que parecia ser uma tremenda enganação, levando de roldão as fenomenais conquistas da revolução de 1917.
A situação brasileira, por inúmeras razões, está muito distante dos processos cubano e soviético.
Ainda assim, no que diz respeito ao discurso público, os dois casos ajudam a debater qual a melhor abordagem.
O assunto talvez seja um pouco extemporâneo e genérico. Mas confesso, ao observar certos comportamentos do governo e da militância de esquerda, que corremos o risco da “inspiração soviética” acabar dando o tom na atitude das forças progressistas frente ao povo brasileiro.
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