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Por Anderson Bahia
Arcos da Lapa, Rio de Janeiro. Um palco grande, tendas e milhares de rostos jovens e sotaques diferentes mudam o cenário rotineiro do local. Preenchido por moradores de rua e alcóolatras. No outro lado dos Arcos, o Circo Voador fervilha de vibração e entusiasmo sob a apresentação do espetáculo Macunaíma e, em seguida, ao som do sambista Arlindo Cruz. É 19h de 1 de fevereiro. Está aberta a 9 Bienal de Cultura da UNE, #VozesDoBrasil.
A cena não é de mais uma balada regada à samba na cidade onde ele é mais forte. A fotografia não revela, a menos inicialmente, o que une essas diferentes vozes de um mesmo idioma ali reunidas. Entretanto, a fala da presidenta da entidade organizadora, Vic Barros, dá o tom. Ali estão ativistas estudantis que acreditam nas transformações do Brasil e, mais do que isso, lutam por elas diariamente. E nos próximos dias, estarão celebrando sua cultura em atividades que vão destrinchar o tema do evento.
Essa nova edição da Bienal da UNE é sintomática. Mistura tradição e modernidade. O engajamento que marca toda a história da organização no contexto dessa juventude, que tem desafios e peculiaridades próprias. É a organização que vai, ao longo dos dias do evento, reestruturar o Circuito Universitário de Cultura e Arte (CUCA) para organizar e estimular a produção cultural nas universidades. Bebendo da experiência do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, mas com molde próprio como o tempo presente exige. Sobretudo num período em que as universidades tem mais negros, trabalhadores, mulheres, LGBT´s e que a luta é para que tenha mais.
Quanto aos desafios, eles permeiam toda a Bienal. O evento é a primeira grande atividade do movimento social brasileiro no início do segundo governo Dilma, marcado por medidas econômicas conservadoras e com corte em orçamento de pastas estratégicas do governo, como a educação. O vertiginoso peso institucional que a UNE construiu em toda a sua história a faz receber quatro ministros até a próxima sexta (6). Certamente não passarão incólumes. Principalmente, Rosseto, da Casa Civil. Há respostas que precisam ser dadas.
Para além disso, há desafios da própria UNE, enquanto instituição, sendo esmiuçado durante sua primeira atividade nesse 2015. Que é a de expressar os anseios dessa nova composição de estudantes universitários no país. E além de dar mais destaque a cultura, outras questões como o debate LGBT e o fortalecimento da assistência estudantil para permitir com que a massa de trabalhadores e seus filhos que adentram o ensino superior possam concluir efetivamente sua formação estão no foco da organização.
Os olhares vão além disso. Num cenário de Congresso Nacional bastante conservador, que acaba de afrontar a República com a eleição do lobista Eduardo Cunha para a presidência da Câmara, a expectativa é de que a UNE jogue muito peso para as mobilizações de rua tão necessárias num momento como esse, em que a representação dos segmentos populares nos espaços de poder está diminuta.
Como se ver, os desafios que circundam mais uma Bienal de Cultura da UNE são grandiosos. E a receita para enfrenta-los possivelmente esteja ali, na cena do próprio evento. Mobilização massiva - o evento abriu com cerca de quatro mil estudantes e deve chegar de oito a dez até o final de hoje (2), a irreverência, entusiasmo e a energia da juventude como instrumento para a ação política.
* Anderson Bahia é diretor nacional de comunicação da UJS.
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