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Em 2010, quando Maria Judith Brito, então presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e executiva do grupo Folha de S. Paulo, anunciou que a imprensa deveria assumir, de fato, “a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada”, escancarou o ovo de serpente que estava sendo chocado.
O filme “O ovo da serpente”, do sueco Ingmar Bergman, produzido em 1977, retratou a Alemanha dos anos pós I Guerra Mundial, e captou com magistral sutileza uma sociedade à beira do caos econômico e político, onde já era possível vislumbrar o réptil que estava sendo gerado: o nazismo.
Muitas das faixas carregadas na avenida paulista, na manifestação do dia 15 de março, se devem à essa partidarização da mídia brasileira. Sem as amarras da legislação que regem os partidos políticos, a mídia se sentiu livre para criminalizar a política, de modo geral, e, especificamente, destilar seu ódio de classe contra o partido que venceu as últimas quatro eleições presidenciais, o PT.
Até poucos anos atrás, era impensável imaginar que os setores retrógrados, minoritários e que sempre existiram, se atreveriam ir às ruas carregando faixas com a suástica nazista ou pedindo a volta da ditadura militar. Sentiram-se encorajados e incentivados por um único motivo: também fazem oposição ao atual governo federal.
Não se esconde mais a baba de ódio e de preconceito desses grupos fascistas. Os alvos preferidos são os esquerdistas, comunistas, os negros, os nordestinos, os petralhas, gayzistas, feministas, bolivarianos, chavistas etc. São alvos por causa da sua militância política e pela sua posição social, gênero e/ou raça.
Ver o senador tucano Aluísio Nunes, de honroso passado de lutas contra a ditadura militar, dizer com mórbido prazer que quer sangrar a presidenta da República é algo estarrecedor. Talvez, ele, com sua face crispada de ódio, sintetize o melhor retrato da transformação que vem ocorrendo em nossa sociedade.
Privilegiadíssima pelo oligopólio midiático que lidera – e encorajada pelo acovardamento do partido que governa o país – a Rede Globo choca seus ovos de serpente.
Haverá a história de elucidar quem segurava a faca no pescoço do STF, durante o julgamento da Ação Penal 470 – o mensalão petista –, denúncia feita por um dos ministros do próprio Supremo. A espetacularização midiática daquele julgamento assegurou o resultado desejado e anunciado insistentemente pela mídia, às custas de que a verdade é uma quimera.
É vergonhosa, e cada vez mais escancarada, a forma como mídia partidariza o seu jornalismo. Escândalos nos governos aliados aos seus interesses, principalmente dos tucanos, não são noticias. A conta-gotas se noticia a corrupção existente no transporte público de trens em São Paulo, governado há duas décadas pelo PSDB.
Sobre o governo de Aécio Neves, em Minas Gerais, só há espaços para elogios e para enaltecer seu “choque de administração”. Veremos como será noticiado/ocultado a radiografia das finanças do Estado, feita nesses primeiros 100 dias de governo petista em Minas.
Deverá receber tanto destaque quanto recebeu o helicóptero apreendido com 450 quilos de pasta de cocaína, pertencente (o helicóptero!!) ao senador amigo e aliado político do senador Aécio Neves.
O mensalão tucano, devolvido à primeira instância do poder Judiciário – direito negado aos petistas – espera apenas, tudo indica, prescrever e deixar impunes tucanos gordos e vivos.
As vezes que aparece o nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em denúncias que possam ligá-lo aos casos de corrupção, há sempre a sutil observação de editores atentos: podemos tirar, se achar melhor.
Há que se reconhecer, no entanto, que esse zelo que a mídia tem pela imagem de alguns partidos não se restringe aos tucanos. O senador Agripino Maia (DEM/RN), desfila alegremente nas passeatas como paladino da ética na politica e na luta contra a corrupção, mesmo acusado pelo Procurador Geral da Republica, Rodrigo Janot, de cobrar propinas para permitir um esquema de corrupção no serviço de inspeção veicular, no seu Estado.
E Demóstenes Torres, ex-senador e procurador de Justiça acusou o senador Ronaldo Caiado (DEM/GO) de roubar, mentir e trair, ter campanhas eleitorais financiadas pelo contraventor Carlos Cachoeira e de passar férias na Bahia às custas da empresa OAS. Virou mais uma não-notícia, na mídia partidarizada.
Não bastasse a corrupção partidária em suas fileiras, a mídia agora precisa não noticiar as milionárias contas bancárias mantidas no HSBC, na Suíça e a bilionária sonegação e impostos, desbaratada pela Policia Federal, na Operação Zelotes.
No primeiro caso aparece até mesmo a viúva de Roberto Marinho, Lyly de Carvalho. Integrantes da família Saad, donos da Rede Bandeirantes, também estão lá, juntamente com os da Rádio Jovem Pan. Não é ilegal ter uma conta bancária no exterior, desde que declarada à Receita Federal.
Na operação Zelotes, está lá a RBS, umas das principais afiliadas da Rede Globo.
Começam a ser tantos os fatos não noticiados que será necessário aumentar o tempo das novelas.
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