Por Breno Altman, em seu blog:
A contraofensiva conservadora espeta garras sobre todas as esferas da sociedade, do Estado e do governo. Seus agentes sentem-se à vontade para encurralar o campo progressista até em setores de pouca dependência parlamentar, como é o caso da diplomacia.
A rejeição do nome de Guilherme Patriota, para a embaixada brasileira junto à OEA (Organização dos Estados Americanos), decidida pelo Senado há algumas semanas, é um dos sinais que a escalada reacionária busca romper todas as linhas de defesa.
Os principais veículos da imprensa corporativa, associados a círculos partidários e empresariais, avançam cotidianamente sua agenda para a política externa.
Advogam abertamente, entre outras demandas, por abandono do Mercosul e da integração latino-americana, realinhamento com os Estados Unidos, privilégios a tratados de livre-comércio com potências imperialistas, resistência à criação do banco de investimentos dos BRICS, mudança de atitude em relação ao governo venezuelano e outras nações da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América).
Não se trata apenas de intensificação do cerco, de fora para dentro, contra posições tradicionalmente sustentadas pelos governos sob liderança petista. A novidade dos últimos meses é a expressão de vozes que desejam, de dentro para fora, enterrar a política externa em curso desde 2003.
Uma das evidências da nova trincheira do conservadorismo foi a recente entrevista do ministro Mangabeira Unger, chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, propondo que o eixo da estratégia brasileira se deslocasse do Mercosul para os Estados Unidos, em um pacto contra a expansão chinesa.
Outra demonstração de quinta-colunismo está nos laços estreitos que o ministro Joaquim Levy vem retomando com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Para além da estratégia econômica, centrada na atração dos fluxos internacionais de capital, iniciativas como essa embutem ameaça de deslocar o Brasil do projeto contra-hegemônico lançado pelo ex-presidente Lula.
O Palácio do Planalto resiste à pressão, como expressa o importante acordo firmado com a China no mês passado. Mas operações de sabotagem são crescentes.
Apesar da aprovação parlamentar, o Banco Central retarda capitalização das cotas brasileiras no banco criado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul na cúpula de Fortaleza, em 2013.
Também arrasta-se no tempo a consolidação do chamado Banco do Sul, cujos sócios principais são Venezuela, Argentina e Brasil.
A verdade é que o país já vinha perdendo protagonismo internacional desde 2011, quando parece ter havido certa mescla entre movimentos de distensão com os centros imperialistas, após o conflito com os EUA em torno da questão iraniana, e esvaziamento da diplomacia presidencial.
O cenário se complica, porém, com o exercício da nova política econômica, alinhavada depois da eleições de outubro. A busca indomável por atender exigências da banca mundial e das agências de risco dificilmente deixaria de ter consequências nas relações planetárias, com a crescente preocupação em encontrar zonas de conforto com os Estados Unidos e a União Europeia.
Não corresponderia à verdade, no entanto, qualquer afirmação de que a presidente Dilma Rousseff tenha alterado algum dos pilares da política externa brasileira vigente há treze anos. Sinais de abrandamento e acomodação, porém, começam a despontar.
O Brasil passou a ser, por exemplo, menos incisivo na defesa da autodeterminação do processo venezuelano e mais maleável na repulsa às ações coloniais de Israel.
Mesmo no início de seu governo, quando tinha como objetivo acalmar resistências burguesas contra a vitória petista, o presidente Lula soube manobrar para impedir que a política externa se transformasse em moeda de troca das negociações econômicas.
A seu favor, contou com o fato de que os Estados Unidos, depois do atentado às torres gêmeas, tinham virado as costas para a América Latina, resumindo sua intervenção ao tema venezuelano, por conta das reservas petroleiras. O líder petista conseguiu, então, operar no relativo vácuo de poder e avançar muitas casas no jogo diplomático.
Também contou, progressivamente, como um projeto de desenvolvimento e combate à desigualdade social que angariou simpatia mundo afora, dando-lhe legitimidade para falar grosso com os Estados Unidos, segundo o axioma sintetizado por Chico Buarque de Hollanda.
A presidente Dilma Rousseff enfrenta situação mais adversa. Os Estados Unidos estão voltando a disputar todos os espaços latino-americanos, impasses da economia brasileira reverberam no prestígio mundial do governo e o conservadorismo local pede passagem nos assuntos exteriores.
Na lógica do cavalo-de-pau representado pela doutrina Levy, a chantagem por mudanças na política externa será crescente.
Se o PT e as demais forças progressistas não disputarem, de forma clara e determinada, as fronteiras deste território, sua reocupação paulatina pelos sabujos pró-imperialistas representará perigo real e imediato.
* Esse artigo foi originalmente publicado na edição de junho do jornal Página 13.
A contraofensiva conservadora espeta garras sobre todas as esferas da sociedade, do Estado e do governo. Seus agentes sentem-se à vontade para encurralar o campo progressista até em setores de pouca dependência parlamentar, como é o caso da diplomacia.
A rejeição do nome de Guilherme Patriota, para a embaixada brasileira junto à OEA (Organização dos Estados Americanos), decidida pelo Senado há algumas semanas, é um dos sinais que a escalada reacionária busca romper todas as linhas de defesa.
Os principais veículos da imprensa corporativa, associados a círculos partidários e empresariais, avançam cotidianamente sua agenda para a política externa.
Advogam abertamente, entre outras demandas, por abandono do Mercosul e da integração latino-americana, realinhamento com os Estados Unidos, privilégios a tratados de livre-comércio com potências imperialistas, resistência à criação do banco de investimentos dos BRICS, mudança de atitude em relação ao governo venezuelano e outras nações da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América).
Não se trata apenas de intensificação do cerco, de fora para dentro, contra posições tradicionalmente sustentadas pelos governos sob liderança petista. A novidade dos últimos meses é a expressão de vozes que desejam, de dentro para fora, enterrar a política externa em curso desde 2003.
Uma das evidências da nova trincheira do conservadorismo foi a recente entrevista do ministro Mangabeira Unger, chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, propondo que o eixo da estratégia brasileira se deslocasse do Mercosul para os Estados Unidos, em um pacto contra a expansão chinesa.
Outra demonstração de quinta-colunismo está nos laços estreitos que o ministro Joaquim Levy vem retomando com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Para além da estratégia econômica, centrada na atração dos fluxos internacionais de capital, iniciativas como essa embutem ameaça de deslocar o Brasil do projeto contra-hegemônico lançado pelo ex-presidente Lula.
O Palácio do Planalto resiste à pressão, como expressa o importante acordo firmado com a China no mês passado. Mas operações de sabotagem são crescentes.
Apesar da aprovação parlamentar, o Banco Central retarda capitalização das cotas brasileiras no banco criado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul na cúpula de Fortaleza, em 2013.
Também arrasta-se no tempo a consolidação do chamado Banco do Sul, cujos sócios principais são Venezuela, Argentina e Brasil.
A verdade é que o país já vinha perdendo protagonismo internacional desde 2011, quando parece ter havido certa mescla entre movimentos de distensão com os centros imperialistas, após o conflito com os EUA em torno da questão iraniana, e esvaziamento da diplomacia presidencial.
O cenário se complica, porém, com o exercício da nova política econômica, alinhavada depois da eleições de outubro. A busca indomável por atender exigências da banca mundial e das agências de risco dificilmente deixaria de ter consequências nas relações planetárias, com a crescente preocupação em encontrar zonas de conforto com os Estados Unidos e a União Europeia.
Não corresponderia à verdade, no entanto, qualquer afirmação de que a presidente Dilma Rousseff tenha alterado algum dos pilares da política externa brasileira vigente há treze anos. Sinais de abrandamento e acomodação, porém, começam a despontar.
O Brasil passou a ser, por exemplo, menos incisivo na defesa da autodeterminação do processo venezuelano e mais maleável na repulsa às ações coloniais de Israel.
Mesmo no início de seu governo, quando tinha como objetivo acalmar resistências burguesas contra a vitória petista, o presidente Lula soube manobrar para impedir que a política externa se transformasse em moeda de troca das negociações econômicas.
A seu favor, contou com o fato de que os Estados Unidos, depois do atentado às torres gêmeas, tinham virado as costas para a América Latina, resumindo sua intervenção ao tema venezuelano, por conta das reservas petroleiras. O líder petista conseguiu, então, operar no relativo vácuo de poder e avançar muitas casas no jogo diplomático.
Também contou, progressivamente, como um projeto de desenvolvimento e combate à desigualdade social que angariou simpatia mundo afora, dando-lhe legitimidade para falar grosso com os Estados Unidos, segundo o axioma sintetizado por Chico Buarque de Hollanda.
A presidente Dilma Rousseff enfrenta situação mais adversa. Os Estados Unidos estão voltando a disputar todos os espaços latino-americanos, impasses da economia brasileira reverberam no prestígio mundial do governo e o conservadorismo local pede passagem nos assuntos exteriores.
Na lógica do cavalo-de-pau representado pela doutrina Levy, a chantagem por mudanças na política externa será crescente.
Se o PT e as demais forças progressistas não disputarem, de forma clara e determinada, as fronteiras deste território, sua reocupação paulatina pelos sabujos pró-imperialistas representará perigo real e imediato.
* Esse artigo foi originalmente publicado na edição de junho do jornal Página 13.
0 comentários:
Postar um comentário