Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
A Folha publica hoje, ao lado de um anúncio pró-impeachment da presidenta, uma entrevista exclusiva com Roberto Jefferson.
Não é bem uma entrevista. É antes um palanque para Jefferson. A mídia usa o ex-presidente do PTB, mais uma vez, como bucha de canhão para atacar o PT.
O momento é oportuno.
Nada como um escândalo velho, mas que ainda sangra, para abafar um outro que não interessa à mídia investigar mais profundamente: o escândalo da Fifa-Traffic, que envolve o principal grupo de mídia no Brasil, a Globo.
Depois de abafarem a compra de votos para reeleição, mensalão tucano, o trensalão, o aecioporto (cadê a explicação? cadê o inquérito?), a Zelotes, a mídia agora tenta de tudo para abafar o “Fifalão”.
Oportuno duplamente: abafa escândalos que envolvem tucanos, e ainda requenta o clima antipetista às vésperas do Congresso Nacional do PT…
Desde a eclosão do mensalão, Jefferson se tornou mais um desses delatores-herois que passaram a ser blindados e usados para darem vazão aos propósitos políticos dos grupos de mídia (que são os verdadeiros partidos de oposição no país).
Genoíno não dá entrevistas. José Dirceu não dá entrevistas. João Paulo Cunha não dá entrevistas. Pizzolato só dá entrevistas ao Brasil de Fato (e que a grande mídia não repercute: alguém já se perguntou porque?).
Já a entrevista de Jefferson é a primeira a ser autorizada pela justiça e vai para a primeira página da Folha e repercute em todos os grandes jornais.
Ele volta a fazer um monte de acusações sem provas. Como já foi expulso da Câmara por mentir, não pode ser expulso de novo.
A entrevista, como era de se esperar, não tem pé nem cabeça. Nela, Jefferson e seu partido são santos.
O repórter pergunta a ele: “Dez anos depois, o PT diz que não se comprovou o pagamento de mesada a deputados.”
Jefferson responde: “Havia mesada. A Lava Jato agora clareou isso. Por respeito à decisão do ministro [Luis Roberto] Barroso, eu só posso falar do passado. Mas o [Alberto] Youssef fazia pagamento mensal para vários deputados de partidos da base. Era aquilo que havia na época. As malas chegavam com R$ 30 mil, R$ 60 mil, R$ 50 mil. Não se comprovou porque não fotografaram.”
Ué, por que o repórter não pergunta em seguida: mas então, quem recebeu? Pode dar nomes? De qual partido?
O mensalão foi o escândalo mais investigado na história. Todo o aparato de repressão do Estado foi usado. Quebrou-se o sigilo de dezenas de parlamentares. A imprensa botou em campo todo o seu staff. Por que não se encontrou um mísero parlamentar que tenha recebido essas “mesadas”?
No escândalo da compra da reeleição, a própria Folha publicou vazamentos que mostravam os próprios parlamentares admitindo que haviam recebido propina para votar em favor de FHC.
E hoje o ex-presidente hoje é um paladino moral na mídia. A Folha nunca “requentou” o escândalo da reeleição.
Nem se pode afirmar que “não houve” pagamento a parlamentares. Sabe-se que, infelizmente, há muita corrupção no Legislativo, e que eles recebem propinas de diversas fontes. Mas de quem, a mando de quem, para que? Essas são as perguntas importantes. Os esquemas de corrupção tem centenas de motivos para comprar parlamentares.
Mas tudo isso – e aqui não cabe o advérbio “infelizmente” – precisa de provas.
Que falta vergonha no Legislativo, a gente sabe, mas não podemos acusar sem provas, o que seria sem vergonhice ainda pior; e generalizar, o que é uma consequência desse jogo irresponsável de acusações levianas, e provoca danos ao próprio sistema democrático.
Não vou acusar Jefferson da primeira sem vergonhice: roubar. Deixo isso para o julgamento da história. Mas a sem vergonhice de acusar sem provas, apenas para fazer o jogo político, é marca registrada dele.
O julgamento do mensalão foi inteiramente construído com base em sua delação. As provas foram montadas a posteriori, a partir de interpretações enviesadas feitas a partir das palavras de Jefferson.
Sem saber de onde veio o dinheiro, por exemplo, foram catar um “petista” no Banco do Brasil, Pizzolato. A escolha do Fundo Visanet como fonte do mensalão não poderia ser mais astuta. O Visanet era um recurso gerido de maneira complexa, e que, por ser privado (pertencia, em contrato, ao Visanet, não ao BB), não passava pelos sistemas públicos de controle. Foi fácil criar uma “teoria” com o Fundo Visanet e engambelar a opinião pública.
Daí construíram mentiras com base em mentiras. E hoje, dez anos depois, entrevistam o mentiroso original.
Críticas ao julgamento do mensalão? Nem pensar. Ainda não é o momento. Talvez mais tarde, quando o PT estiver bem longe do poder, os jornalões aceitem trazer à baila todas as contradições que marcaram aquele escândalo.
A terceira sem vergonhice, que é generalizar, essa cabe à imprensa e ao jogo sujo que pratica diuturnamente, criminalizando a política, jogando contra o Brasil, desacreditando nossa economia, nosso futuro, nossa democracia.
A campanha eterna pelo impeachment, expressa num banner posicionado com destaque na capa do caderno de política do jornal, expressa o caráter da Folha.
O problema desses escândalos políticos é justamente pegar uma corrupção existente e produzir uma explicação interessada politicamente.
Ou seja, a própria narrativa política em torno dos escândalos se torna um outro escândalo, envolvendo uma imprensa também corrupta.
A Folha publica hoje, ao lado de um anúncio pró-impeachment da presidenta, uma entrevista exclusiva com Roberto Jefferson.
Não é bem uma entrevista. É antes um palanque para Jefferson. A mídia usa o ex-presidente do PTB, mais uma vez, como bucha de canhão para atacar o PT.
O momento é oportuno.
Nada como um escândalo velho, mas que ainda sangra, para abafar um outro que não interessa à mídia investigar mais profundamente: o escândalo da Fifa-Traffic, que envolve o principal grupo de mídia no Brasil, a Globo.
Depois de abafarem a compra de votos para reeleição, mensalão tucano, o trensalão, o aecioporto (cadê a explicação? cadê o inquérito?), a Zelotes, a mídia agora tenta de tudo para abafar o “Fifalão”.
Oportuno duplamente: abafa escândalos que envolvem tucanos, e ainda requenta o clima antipetista às vésperas do Congresso Nacional do PT…
Desde a eclosão do mensalão, Jefferson se tornou mais um desses delatores-herois que passaram a ser blindados e usados para darem vazão aos propósitos políticos dos grupos de mídia (que são os verdadeiros partidos de oposição no país).
Genoíno não dá entrevistas. José Dirceu não dá entrevistas. João Paulo Cunha não dá entrevistas. Pizzolato só dá entrevistas ao Brasil de Fato (e que a grande mídia não repercute: alguém já se perguntou porque?).
Já a entrevista de Jefferson é a primeira a ser autorizada pela justiça e vai para a primeira página da Folha e repercute em todos os grandes jornais.
Ele volta a fazer um monte de acusações sem provas. Como já foi expulso da Câmara por mentir, não pode ser expulso de novo.
A entrevista, como era de se esperar, não tem pé nem cabeça. Nela, Jefferson e seu partido são santos.
O repórter pergunta a ele: “Dez anos depois, o PT diz que não se comprovou o pagamento de mesada a deputados.”
Jefferson responde: “Havia mesada. A Lava Jato agora clareou isso. Por respeito à decisão do ministro [Luis Roberto] Barroso, eu só posso falar do passado. Mas o [Alberto] Youssef fazia pagamento mensal para vários deputados de partidos da base. Era aquilo que havia na época. As malas chegavam com R$ 30 mil, R$ 60 mil, R$ 50 mil. Não se comprovou porque não fotografaram.”
Ué, por que o repórter não pergunta em seguida: mas então, quem recebeu? Pode dar nomes? De qual partido?
O mensalão foi o escândalo mais investigado na história. Todo o aparato de repressão do Estado foi usado. Quebrou-se o sigilo de dezenas de parlamentares. A imprensa botou em campo todo o seu staff. Por que não se encontrou um mísero parlamentar que tenha recebido essas “mesadas”?
No escândalo da compra da reeleição, a própria Folha publicou vazamentos que mostravam os próprios parlamentares admitindo que haviam recebido propina para votar em favor de FHC.
E hoje o ex-presidente hoje é um paladino moral na mídia. A Folha nunca “requentou” o escândalo da reeleição.
Nem se pode afirmar que “não houve” pagamento a parlamentares. Sabe-se que, infelizmente, há muita corrupção no Legislativo, e que eles recebem propinas de diversas fontes. Mas de quem, a mando de quem, para que? Essas são as perguntas importantes. Os esquemas de corrupção tem centenas de motivos para comprar parlamentares.
Mas tudo isso – e aqui não cabe o advérbio “infelizmente” – precisa de provas.
Que falta vergonha no Legislativo, a gente sabe, mas não podemos acusar sem provas, o que seria sem vergonhice ainda pior; e generalizar, o que é uma consequência desse jogo irresponsável de acusações levianas, e provoca danos ao próprio sistema democrático.
Não vou acusar Jefferson da primeira sem vergonhice: roubar. Deixo isso para o julgamento da história. Mas a sem vergonhice de acusar sem provas, apenas para fazer o jogo político, é marca registrada dele.
O julgamento do mensalão foi inteiramente construído com base em sua delação. As provas foram montadas a posteriori, a partir de interpretações enviesadas feitas a partir das palavras de Jefferson.
Sem saber de onde veio o dinheiro, por exemplo, foram catar um “petista” no Banco do Brasil, Pizzolato. A escolha do Fundo Visanet como fonte do mensalão não poderia ser mais astuta. O Visanet era um recurso gerido de maneira complexa, e que, por ser privado (pertencia, em contrato, ao Visanet, não ao BB), não passava pelos sistemas públicos de controle. Foi fácil criar uma “teoria” com o Fundo Visanet e engambelar a opinião pública.
Daí construíram mentiras com base em mentiras. E hoje, dez anos depois, entrevistam o mentiroso original.
Críticas ao julgamento do mensalão? Nem pensar. Ainda não é o momento. Talvez mais tarde, quando o PT estiver bem longe do poder, os jornalões aceitem trazer à baila todas as contradições que marcaram aquele escândalo.
A terceira sem vergonhice, que é generalizar, essa cabe à imprensa e ao jogo sujo que pratica diuturnamente, criminalizando a política, jogando contra o Brasil, desacreditando nossa economia, nosso futuro, nossa democracia.
A campanha eterna pelo impeachment, expressa num banner posicionado com destaque na capa do caderno de política do jornal, expressa o caráter da Folha.
O problema desses escândalos políticos é justamente pegar uma corrupção existente e produzir uma explicação interessada politicamente.
Ou seja, a própria narrativa política em torno dos escândalos se torna um outro escândalo, envolvendo uma imprensa também corrupta.
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