Por Dandara Lima, no site da UJS:
O lançamento do coletivo “Futebol, Mídia e Democracia” aconteceu nessa terça-feira (11) no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em São Paulo, com a participação da jornalista Camila Mattoso (ESPN), do jornalista Luiz Carlos Azenha (Record) e do ex-jogador Adauto, que tem passagens pelo Atlético-PR e Nacional de Montevidéu.
O coletivo foi criado com o objetivo de debater as relações de poder entre a mídia e as instituições que organizam o futebol brasileiro, solidificando cada vez mais um processo de cooptação do esporte mais popular do país por interesses estritamente comerciais.
O jornalista Luiz Carlos Azenha, que na ocasião também estava lançando o livro “O lado sujo do futebol”, iniciou o debate questionando o modelo atual do futebol brasileiro: “Qual é o papel da CBF hoje?”.
Azenha explica que o esquema de propinas através de intermediários começou quando Ricardo Teixeira assumiu a CBF em 1989. O intermediário é usado para que a entidade não receba dinheiro público diretamente. “Ele (Ricardo Teixeira) toca a CBF como se ela fosse uma empresa privada”.
O jornalista comparou o modelo brasileiro com o de outros países. No modelo estadunidense não existe um intermediário para negociar os contratos de televisão, eles possuem um departamento próprio para cuidar disso. A contratação de jogadores também é diferente, lá quando os clubes vão escolher os jogadores amadores que vão ascender para o profissional, quem tem a prioridade é o clube que ficou em último lugar no campeonato passado.
Ele também criticou a distorção na relação geográfica entre times e a população local, causada pelo modelo atual de transmissão estabelecido pela Rede Globo. “A NFL (National Football League) transmite todos os jogos do campeonato em pacotes diferentes. Aqui a Globo decide os horários, prioriza campeonatos, times e ainda influência a programação da Band”.
“A questão central do debate é a relação da CBF com a Globo. Não basta o 7×1 para mostrar que não está tudo bem”, conclui.
A jornalista da ESPN, Camila Mattoso, responsável pela cobertura dos bastidores dos clubes, falou sobre a desorganização e má gestão dos clubes, que acaba dando espaço para uma emissora como a Rede Globo exercer seu poder financeiro.
Ela citou o exemplo do Corinthians, que correu o risco de ver seus dirigentes presos por problemas com a Receita Federal. “Os clubes poderiam questionar o contrato dos direitos de transmissão, mas eles não fazem isso porque dependem desse dinheiro, diferente dos clubes norte- americanos”, afirma Camila.
Além da má gestão dos clubes ela também pautou a corrupção na CBF. “Se a CBF receber diretamente dinheiro público, terá que mostrar suas contas. Então ela cede direitos para uma empresa como a Klefer do Kleber Leite receber por ela e organizar o campeonato”.
Diante de um público majoritariamente masculino, Camila Mattoso também falou sobre as dificuldades em exercer a profissão nessa área sendo mulher. Ela contou que não foram poucas as vezes que precisou explicar que só queria informações sobre a pauta, e não sair com algum figurão. Um dos cuidados que ela toma é nunca ter encontros ou reuniões de trabalho depois das 19h, para não ser “mal vista” ou abrir brechas para o entrevistado em questão tentar algo além de uma entrevista durante um jantar, por exemplo. Ela chega a usar a desculpa de ter “marido e filhos em casa”, para não ser assediada. E ainda tem a desconfiança dos colegas sobre os “métodos” que ela usou para conseguir as informações.
O ex-jogador Adauto começou sua fala se declarando oposição ao “Movimento Bom Senso Futebol Clube” e a favor dos 95% dos atletas que recebem menos de 10 salários mínimos. Ele não acha ruim os clubes negociarem livremente com as emissoras de televisão, mas discorda do monopólio da Rede Globo.
“Eu também discordo da divisão igualitária entre os clubes, um time como o Santo André não pode receber a mesma quantia que o Corinthians, ou o Palmeiras ou o São Paulo. No meu ponto de vista como ex-atleta os Estados Unidos não pode servir de exemplo para o futebol brasileiro”, declara Adauto.
O ex-jogador vê positivamente o modelo “sócio torcedor” importado dos clubes europeus, mas questiona o valor do ingresso que vem mudando a atmosfera popular das torcidas. Ele também crítica a má gestão dos clubes e o apoio do Bom Senso F.C a medida provisória que parcela as dívidas dos clubes da série A.
“Essa medida provisória inclui as dívidas trabalhistas dos clubes com os atletas. Com essa medida os clubes teriam que pagar apenas 20% do valor e em várias parcelas, isso prejudica o atleta. Eu acho que a mudança no futebol brasileiro tem que vir desses 95% que ganham até 10 salários mínimos, e quando ganham”, conclui Adauto.
Leia e assine o manifesto do coletivo aqui.
O lançamento do coletivo “Futebol, Mídia e Democracia” aconteceu nessa terça-feira (11) no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em São Paulo, com a participação da jornalista Camila Mattoso (ESPN), do jornalista Luiz Carlos Azenha (Record) e do ex-jogador Adauto, que tem passagens pelo Atlético-PR e Nacional de Montevidéu.
O coletivo foi criado com o objetivo de debater as relações de poder entre a mídia e as instituições que organizam o futebol brasileiro, solidificando cada vez mais um processo de cooptação do esporte mais popular do país por interesses estritamente comerciais.
O jornalista Luiz Carlos Azenha, que na ocasião também estava lançando o livro “O lado sujo do futebol”, iniciou o debate questionando o modelo atual do futebol brasileiro: “Qual é o papel da CBF hoje?”.
Azenha explica que o esquema de propinas através de intermediários começou quando Ricardo Teixeira assumiu a CBF em 1989. O intermediário é usado para que a entidade não receba dinheiro público diretamente. “Ele (Ricardo Teixeira) toca a CBF como se ela fosse uma empresa privada”.
O jornalista comparou o modelo brasileiro com o de outros países. No modelo estadunidense não existe um intermediário para negociar os contratos de televisão, eles possuem um departamento próprio para cuidar disso. A contratação de jogadores também é diferente, lá quando os clubes vão escolher os jogadores amadores que vão ascender para o profissional, quem tem a prioridade é o clube que ficou em último lugar no campeonato passado.
Ele também criticou a distorção na relação geográfica entre times e a população local, causada pelo modelo atual de transmissão estabelecido pela Rede Globo. “A NFL (National Football League) transmite todos os jogos do campeonato em pacotes diferentes. Aqui a Globo decide os horários, prioriza campeonatos, times e ainda influência a programação da Band”.
“A questão central do debate é a relação da CBF com a Globo. Não basta o 7×1 para mostrar que não está tudo bem”, conclui.
A jornalista da ESPN, Camila Mattoso, responsável pela cobertura dos bastidores dos clubes, falou sobre a desorganização e má gestão dos clubes, que acaba dando espaço para uma emissora como a Rede Globo exercer seu poder financeiro.
Ela citou o exemplo do Corinthians, que correu o risco de ver seus dirigentes presos por problemas com a Receita Federal. “Os clubes poderiam questionar o contrato dos direitos de transmissão, mas eles não fazem isso porque dependem desse dinheiro, diferente dos clubes norte- americanos”, afirma Camila.
Além da má gestão dos clubes ela também pautou a corrupção na CBF. “Se a CBF receber diretamente dinheiro público, terá que mostrar suas contas. Então ela cede direitos para uma empresa como a Klefer do Kleber Leite receber por ela e organizar o campeonato”.
Diante de um público majoritariamente masculino, Camila Mattoso também falou sobre as dificuldades em exercer a profissão nessa área sendo mulher. Ela contou que não foram poucas as vezes que precisou explicar que só queria informações sobre a pauta, e não sair com algum figurão. Um dos cuidados que ela toma é nunca ter encontros ou reuniões de trabalho depois das 19h, para não ser “mal vista” ou abrir brechas para o entrevistado em questão tentar algo além de uma entrevista durante um jantar, por exemplo. Ela chega a usar a desculpa de ter “marido e filhos em casa”, para não ser assediada. E ainda tem a desconfiança dos colegas sobre os “métodos” que ela usou para conseguir as informações.
O ex-jogador Adauto começou sua fala se declarando oposição ao “Movimento Bom Senso Futebol Clube” e a favor dos 95% dos atletas que recebem menos de 10 salários mínimos. Ele não acha ruim os clubes negociarem livremente com as emissoras de televisão, mas discorda do monopólio da Rede Globo.
“Eu também discordo da divisão igualitária entre os clubes, um time como o Santo André não pode receber a mesma quantia que o Corinthians, ou o Palmeiras ou o São Paulo. No meu ponto de vista como ex-atleta os Estados Unidos não pode servir de exemplo para o futebol brasileiro”, declara Adauto.
O ex-jogador vê positivamente o modelo “sócio torcedor” importado dos clubes europeus, mas questiona o valor do ingresso que vem mudando a atmosfera popular das torcidas. Ele também crítica a má gestão dos clubes e o apoio do Bom Senso F.C a medida provisória que parcela as dívidas dos clubes da série A.
“Essa medida provisória inclui as dívidas trabalhistas dos clubes com os atletas. Com essa medida os clubes teriam que pagar apenas 20% do valor e em várias parcelas, isso prejudica o atleta. Eu acho que a mudança no futebol brasileiro tem que vir desses 95% que ganham até 10 salários mínimos, e quando ganham”, conclui Adauto.
Leia e assine o manifesto do coletivo aqui.
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