Por Tadeu Porto, no blog O Cafezinho:
2016 vai ser um ano quente, “pelando” como a gente costuma dizer aqui na minha querida Minas Gerais. E, aproveitando o mineirês, posso dizer que não há maneira melhor de enfrentar um ano dessa temperatura, com a sensação térmica do Vale do Jequitinhonha, do que comendo pelas beiradas. Aos poucos, com cautela, mas sem perder o foco de chegar ao centro, no momento oportuno quando a quantidade de calor já não machuca.
Até mesmo porque, convenhamos, começar o dia com a língua queimada é péssimo (a probabilidade de arrumar treta aumenta uns 30%, mesmo sendo bem deboas). Se é necessário estratégia para encarar um caldo, ou um café, imagina para enfrentar uma série de ataques que convergem para um golpe institucional [E o Cafezinho dá energia suficiente para enfrentar esses ataques, acreditem].
Essas semanas terminaram de forma vitoriosa para a esquerda, não há como negar. Digo mais, pareceu um jogo do Galo de tanta emoção que teve. Primeiro vem Cunha e manobra, consegue impor uma derrota para o governo. Mídia e oposição comemoram como uma vitória dentro de casa - 2x0 o placar. Depois, o PSDB deixa cair a máscara “social-democrata” mostrando o rosto “fasci-golpista” e ganhando como aliado o vice-presidente que tem, inclusive, um plano definido (bem conservador) e quer unificar o país. Tava ali, bem costurada, uma frente golpista consistente que preocuparia qualquer pessoa que zela pela nossa democracia.
Aí vem domingo, o dia do futebol que sempre reserva grandes emoções. E como o brasileirão já tinha acabado, as surpresas do granado foram achar outro campo para se manifestar: desde o fiasco das passeatas golpistas (chamadas de “esquenta”, programa da globo) até o massacre que o Faustão levou ao vivo por tentar emplacar um discurso superficial e barato. Aliás, um detalhe importante: não se pode esperar muito sucesso de alguma mobilização que tenha como uma das lideranças Alexandre Frota. No meio da fase mais feminista que esse país vive ele confessou um estupro ao vivo com Danilo Gentili e Roger do Ultraje “rachando” de rir. Um grupo desses não tem como ser levado a sério.
Mas enfim, depois do domingão da monta russa, a ladeira apareceu para os golpistas como uma queda livre do Rio Water Planet. Começou com a devassa total para cima do núcleo do golpe, Eduardo Cunha, e terminou com o STF colocando ordem na casa sobre o rito do impeachment (e claro que Fachin colocou uma pitada de emoção, decepcionante para nós que o apoiamos, declarando um voto que corroborava com a prática suja do presidente da câmara). Ademais, Dilma começou a sinalizar a esquerda recebendo movimentos sociais e sindicatos com ideias e propostas para o Brasil mais progressistas.
E assim terminou essas últimas semanas emocionantes, com a sensação de que navegaremos por águas mais calmas daqui em diante.
E é aí mora o perigo, pois certamente os ataques conservadores não pararão por aqui. Não só porque Toffoli e Gilmar estão no TSE com um golpe paralelo, ou mesmo porque Cunha não vai cair tão fácil sem tentar arrastar o país inteiro com ele.
Há de se considerar, também, que estamos a ponto de uma ruptura do sistema republicano que utilizamos há duas décadas e se esgotou como uma garrafa de cachaça no inverno mineiro.
A má notícia é que dentro desse rompimento a esquerda está jogando muito na defensiva, pelo fato de ser atacada o tempo inteiro. E isso gera poucos espaços para agendas propositivas.
Por exemplo: qual a proposta que temos agora para substituir um modelo de coalização que está sabidamente falido? Se o sistema atual cair (imaginem o Cunha caindo e arrastando uns 200 deputados com ele), quem vai assumir as rédeas? Picciani? Renan? Ciro? Marina? Katiguiri?
Temos que pensar um 2016, no mínimo, como um embrião revolucionário, não há outra saída. E isso passa, principalmente, pela reconstrução dos nossos poderes e suas interações “harmônicas”. Ou seja, não podemos estender as velas para esses ventos da mudança sem um norte seguro sobre o que podemos chamar de “nova república”.
Serra, um oportunista completo, já está fazendo lobby -- aprendeu com a Chevron -- para o parlamentarismo. Temer, semi oportunista, está levando para seus chefes, como um mordomo, a tese de um semiparlamentarismo. Ou seja, a direita golpista já acordou para a mudança de rumos e tem se preparado pra tal (um golpe efetivo tem várias facetas).
A esquerda brasileira também não é nem um pouco amadora - pelo contrário, resistir a essas forças golpistas não é fácil - e vem construindo certa alternativa que tem tudo para ser boa e ser abraçada ano que vem, como, por exemplo, o caso do plebiscito constituinte que teve mais de 7 milhões de assinatura ano passado e é um ótimo pontapé inicial para uma guinada progressista.
O que dificulta é manter o foco, afinal, com tantos ataques - só esse ano teve terceirização, maioridade penal, estatutos da família e do desarmamento, financiamento empresarial, aborto e abertura do pré-sal -- é complicado ter tempo para propor uma estrutura que leve ao Brasil que queremos: com liberdade social e a queda efetiva da desigualdade.
E dentro dessa conjuntura que não nos permite erros grotescos só mesmo a luta qualificada e inteligente, nas ruas e movimentos sociais em geral, nos trará a prerrogativa de construir um país cujo social esteja na frente de qualquer interesse.
Por isso, companheiros e companheiras, esperem qualquer coisa desse 2016 maluco que está por vir. Mas saibam que qualquer cenário apontado, vai requerer de nós uma árdua disputa. E assim temos que estar aí, prontos para enfrentar esse trem!
* Tadeu Porto é Diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF).
2016 vai ser um ano quente, “pelando” como a gente costuma dizer aqui na minha querida Minas Gerais. E, aproveitando o mineirês, posso dizer que não há maneira melhor de enfrentar um ano dessa temperatura, com a sensação térmica do Vale do Jequitinhonha, do que comendo pelas beiradas. Aos poucos, com cautela, mas sem perder o foco de chegar ao centro, no momento oportuno quando a quantidade de calor já não machuca.
Até mesmo porque, convenhamos, começar o dia com a língua queimada é péssimo (a probabilidade de arrumar treta aumenta uns 30%, mesmo sendo bem deboas). Se é necessário estratégia para encarar um caldo, ou um café, imagina para enfrentar uma série de ataques que convergem para um golpe institucional [E o Cafezinho dá energia suficiente para enfrentar esses ataques, acreditem].
Essas semanas terminaram de forma vitoriosa para a esquerda, não há como negar. Digo mais, pareceu um jogo do Galo de tanta emoção que teve. Primeiro vem Cunha e manobra, consegue impor uma derrota para o governo. Mídia e oposição comemoram como uma vitória dentro de casa - 2x0 o placar. Depois, o PSDB deixa cair a máscara “social-democrata” mostrando o rosto “fasci-golpista” e ganhando como aliado o vice-presidente que tem, inclusive, um plano definido (bem conservador) e quer unificar o país. Tava ali, bem costurada, uma frente golpista consistente que preocuparia qualquer pessoa que zela pela nossa democracia.
Aí vem domingo, o dia do futebol que sempre reserva grandes emoções. E como o brasileirão já tinha acabado, as surpresas do granado foram achar outro campo para se manifestar: desde o fiasco das passeatas golpistas (chamadas de “esquenta”, programa da globo) até o massacre que o Faustão levou ao vivo por tentar emplacar um discurso superficial e barato. Aliás, um detalhe importante: não se pode esperar muito sucesso de alguma mobilização que tenha como uma das lideranças Alexandre Frota. No meio da fase mais feminista que esse país vive ele confessou um estupro ao vivo com Danilo Gentili e Roger do Ultraje “rachando” de rir. Um grupo desses não tem como ser levado a sério.
Mas enfim, depois do domingão da monta russa, a ladeira apareceu para os golpistas como uma queda livre do Rio Water Planet. Começou com a devassa total para cima do núcleo do golpe, Eduardo Cunha, e terminou com o STF colocando ordem na casa sobre o rito do impeachment (e claro que Fachin colocou uma pitada de emoção, decepcionante para nós que o apoiamos, declarando um voto que corroborava com a prática suja do presidente da câmara). Ademais, Dilma começou a sinalizar a esquerda recebendo movimentos sociais e sindicatos com ideias e propostas para o Brasil mais progressistas.
E assim terminou essas últimas semanas emocionantes, com a sensação de que navegaremos por águas mais calmas daqui em diante.
E é aí mora o perigo, pois certamente os ataques conservadores não pararão por aqui. Não só porque Toffoli e Gilmar estão no TSE com um golpe paralelo, ou mesmo porque Cunha não vai cair tão fácil sem tentar arrastar o país inteiro com ele.
Há de se considerar, também, que estamos a ponto de uma ruptura do sistema republicano que utilizamos há duas décadas e se esgotou como uma garrafa de cachaça no inverno mineiro.
A má notícia é que dentro desse rompimento a esquerda está jogando muito na defensiva, pelo fato de ser atacada o tempo inteiro. E isso gera poucos espaços para agendas propositivas.
Por exemplo: qual a proposta que temos agora para substituir um modelo de coalização que está sabidamente falido? Se o sistema atual cair (imaginem o Cunha caindo e arrastando uns 200 deputados com ele), quem vai assumir as rédeas? Picciani? Renan? Ciro? Marina? Katiguiri?
Temos que pensar um 2016, no mínimo, como um embrião revolucionário, não há outra saída. E isso passa, principalmente, pela reconstrução dos nossos poderes e suas interações “harmônicas”. Ou seja, não podemos estender as velas para esses ventos da mudança sem um norte seguro sobre o que podemos chamar de “nova república”.
Serra, um oportunista completo, já está fazendo lobby -- aprendeu com a Chevron -- para o parlamentarismo. Temer, semi oportunista, está levando para seus chefes, como um mordomo, a tese de um semiparlamentarismo. Ou seja, a direita golpista já acordou para a mudança de rumos e tem se preparado pra tal (um golpe efetivo tem várias facetas).
A esquerda brasileira também não é nem um pouco amadora - pelo contrário, resistir a essas forças golpistas não é fácil - e vem construindo certa alternativa que tem tudo para ser boa e ser abraçada ano que vem, como, por exemplo, o caso do plebiscito constituinte que teve mais de 7 milhões de assinatura ano passado e é um ótimo pontapé inicial para uma guinada progressista.
O que dificulta é manter o foco, afinal, com tantos ataques - só esse ano teve terceirização, maioridade penal, estatutos da família e do desarmamento, financiamento empresarial, aborto e abertura do pré-sal -- é complicado ter tempo para propor uma estrutura que leve ao Brasil que queremos: com liberdade social e a queda efetiva da desigualdade.
E dentro dessa conjuntura que não nos permite erros grotescos só mesmo a luta qualificada e inteligente, nas ruas e movimentos sociais em geral, nos trará a prerrogativa de construir um país cujo social esteja na frente de qualquer interesse.
Por isso, companheiros e companheiras, esperem qualquer coisa desse 2016 maluco que está por vir. Mas saibam que qualquer cenário apontado, vai requerer de nós uma árdua disputa. E assim temos que estar aí, prontos para enfrentar esse trem!
* Tadeu Porto é Diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF).
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