Por Dennis de Oliveira, no blog Quilombo:
Combater o racismo implica necessariamente ser de esquerda no Brasil. Isto porque ser contra o racismo é ser contra o sistema de opressão vigente que possibilita que o capital se concentre e se reproduza em padrões altíssimos as custas da superexploração da mulher negra e do homem negro. Isto não significa que todo mundo de esquerda é antirracista. Mas o inverso é verdadeiro.
Combater o racismo implica necessariamente ser de esquerda no Brasil. Isto porque ser contra o racismo é ser contra o sistema de opressão vigente que possibilita que o capital se concentre e se reproduza em padrões altíssimos as custas da superexploração da mulher negra e do homem negro. Isto não significa que todo mundo de esquerda é antirracista. Mas o inverso é verdadeiro.
Quando falo em direita e esquerda, estou transcendendo os partidos políticos (já que a grande maioria dos partidos não expressa nitidamente sua ideologia e muitos viraram agremiações “despachantes” que só servem como intermediários entre o cidadão e o poder político – as pouquíssimas exceções confirmam a regra). E direita e esquerda ainda existem sim. Direita é defender o “status quo” de uma sociedade que produz riquezas com base na superexploração do trabalho. Esquerda é ser contra isto e defender uma ordem social em que a lógica da vida se sobrepõe a lógica das coisas.
Como diz David Harvey, há dois partidos no mundo: o do Capital e o dos Indignados com o Capital. O racismo é a ideologia mais eficaz que sustenta este padrão de acumulação de riquezas. A sua eficiência reside na “naturalização” (por meio da apropriação do conceito de “raça” como condição “natural”) da violência em todos os aspectos. Mesmo uma negra ou um negro que eventualmente estejam em posições privilegiadas ou de poder, sofrem racismo porque este racismo serve para manter oprimida a grande maioria de negras e negros.
Joaquim Barbosa, quando presidente do STF, sofreu preconceito racial e este preconceito serve para manter oprimidos a maioria da população negra. Assim como o ex-prefeito Celso Pitta. Por isto, independente de divergências ideológicas e/ou partidárias com estas pessoas, ser de esquerda implica em combater o racismo que eles sofreram, assim como qualquer outro caso de preconceito racial.
Jovens negras e negros foram discriminados em um avião da TAM quando voltavam de Brasília onde participaram da Conferência Nacional da Juventude (clique aqui para ler). Os praticantes do ato discriminatório, em certo momento, exaltaram o deputado Jair Bolsonaro, um defensor da ditadura militar. E também disseram que viajar de avião ficou ruim quando as passagens começaram “a ser vendidas na Casa Bahia” – são contra a redistribuição de riquezas e que pessoas mais pobres possam ter acesso a determinados serviços.
Vários manifestantes pró-golpe no dia 13 de dezembro defendiam abertamente a violência policial contra jovens negros da periferia. Coincidência ou não que dia 13 de dezembro foi o aniversário do AI-5, um dos instrumentos mais obscuros da ditadura militar 1964/85.
Incluir negras e negros de forma profunda implica em uma redistribuição radical de riquezas no país. É tirar de quem tem muito e dar para quem não tem nada. E acabar com a ideologia do racismo que legitima isto. Que faz, por exemplo, que se naturalize ver crianças de pele escura pedindo dinheiro nos semáforos. E ache também normal que mais de 90% dos jovens estudantes da USP, universidade pública sejam brancos, enquanto que na favela São Remo, ao lado do campus Butantã desta mesma universidade, esmagadora maioria dos jovens seja negra e fora da universidade.
Se ser de esquerda é ser contra a ordem das coisas, ser de esquerda e não entender que o racismo é estruturante das relações sociais no país é ter miopia política. E achar que é possível ser de direita e ser contra o racismo, também é miopia política.
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