Por Joaquim de Carvalho, no blog Diário do Centro do Mundo:
Imediatamente após ser indicado pelo senador Fernando Collor para compor a comissão do impeachment, o senador Zezé Perrella foi à tribuna do Senado para cobrar rapidez na conclusão do processo. ”O país não aguenta mais”, disse.
Se a Justiça usasse contra Perrella o mesmo critério que ele cobra de seus colegas senadores - celeridade -, seria grande a chance de Perrella já estar com a ficha suja, tantos são inquéritos e processos a que ele responde.
Ele só tem uma condenação por improbidade administrativa, em primeira instância, por permitir que seus assessores morassem no apartamento funcional reservado exclusivamente a deputados federais, como ele era até janeiro de 2003.
Mas a Justiça, principalmente em Minas Gerais, anda muito devagar quando o investigado ou réu ostenta o sobrenome Perrella. Quer dizer, Oliveira Costa, já que Perrella é um sobrenome que o senador incorporou com autorização de uma importante família de Belo Horizonte, depois de comprar o frigorífico Perrella.
Oliveira Costa, de São Gonçalo do Pará, no centro-oeste mineiro, Zezé costuma dizer aos herdeiros de Pasquale Perrella, o fundador do frigorífico, que ele é o “Perrella do Paraguai”, mas não admite discutir o que alguns descendentes de Pasquale reivindicam: a retirada do nome Perrella da certidão de nascimento de José de Oliveira Costa.
“Tem um ramo da família que quer impedir o Zezé de usar o Perrella, em razão dos processos que ele tem – eu não tenho essa opinião -, mas um ramo da família tem, mas ninguém tomou ainda nenhuma providência e, se tomarem, correm o risco de responderem a um processo por danos morais”, diz o engenheiro civil Pachoal Perrella, que era dono do frigorífico quando Zezé, já presidente do Cruzeiro, comunicou à família que havia entrado na justiça para incorporar Perrella a seu nome.
“Na época, o Zezé era conhecido como o Zezé do Perrella, por causa do frigorífico. Ele então quis oficializar o nome Perrella, sem a preposição do. Achamos na ocasião que não havia problema nenhum. Ninguém da família se opôs”, afirma. Mas, quando os escândalos envolvendo o nome de Zezé se multiplicaram, o primo de Pachoal, Miguel, também um dos herdeiros que venderam o frigorífico, começou a falar que era necessário rever a autorização do uso do nome Perrella pelo senador.
Miguel não fala sobre o assunto por telefone, mas admite o incômodo. Um dos escândalos que mais deixaram os Perrella originais preocupados foi o do Helicoca. Pachoal acredita que, no caso do tráfico, o senador não tem nenhum envolvimento. “A Polícia Federal não iria inocentar o Zezé se ele tivesse algum envolvimento. Não fizeram isso com Zé Dirceu, que era muito mais poderoso, não fariam isso com o Zezé”, disse.
Mas, em relação a outros processos, onde a Polícia Federal não atuou e nem poderia inocentar o “Perrella do Paraguai”, Pachoal não demonstra a mesma certeza. No Ministério Público do Estado de Minas Gerais, as investigações sobre a família de Perrella mobilizam hoje dez promotores, a maioria do setor de defesa do Patrimônio Público.
Segundo os promotores, é difícil separar o negócio de Zezé dos irmãos, todos são ou foram sócios em alguma empresa. Também existe empresas comprovadamente em nome de laranjas. Esse conjunto de empresas obteve contratos de pelo menos R$ 80 milhões (em valores de 2011), nos anos em que o senador Aécio Neves era governador do Estado.
O Ministério Público chegou ao Zezé alguns anos antes do Helicoca, o helicóptero da família Perrella, pousar numa fazenda do Espírito Santo com 445 quilos de pasta base de cocaína. Foi a partir de uma denúncia de um dono de restaurante, que se sentiu prejudicado na escolha do principal fornecedor de alimentação da Cidade Administrativa, a maior obra e o cartão de visitas que Aécio apresentou durante muito tempo, como demonstração de sua eficiência como gestor.
O Ministério Público descobriu então que o conglomerado da família Perrella fornecia merenda escolar a preços superfaturados nas escolas da região de Montes Claros, mantinha cozinha irregular em alguns presídios e cobrava do Estado pelo transporte inexistente de marmitas, e fornecia carne abaixo do peso e em qualidade inferior ao acordado nos contratos com a Secretária de Defesa Social, responsável pelas cadeias.
Mas, segundo a denúncia dos promotores, o maior trunfo da família do “Perrella do Paraguai” era a fiscalização do Estado governado por Aécio Neves. Os fiscais fechavam os olhos para as empresas da família e eram rigorosíssimos sobre os concorrentes. Resultado: “Perrella do Paraguai” e suas empresas praticamente dominaram o fornecimento de refeições nos presídios e em parte do sistema educacional.
Outra descoberta dos promotores foi a do uso de um frigorífico pequeno do grupo para a emissão de notas sem mercadoria. Em tese, emitir nota sem entregar mercadoria configura crime de lavagem de dinheiro. Essa investigação faz parte do rol de inquéritos civis sobre o senador.
O Helicoca também rendeu ações no setor de defesa do patrimônio público da Promotoria de Minas Gerais. Gustavo e Zezé Perrella foram denunciados por desviar recursos da Assembleia Legislativa para voar.
Quando era deputado estadual, Zezé tinha um avião e costumava ir a Salvador e Rio de Janeiro – sempre na véspera de Carnaval – com combustível pago pelos contribuintes mineiros.
A família trocou o avião pelo Helicoca – um Robson 66 –, mas continuou com o hábito de cobrar do cidadão mineiro pelos deslocamentos aéreos, sem vinculação com o mandato de deputado estadual de Gustavo Perrella.
O Ministério Público cobra mais de 800 mil reais de Zezé e cerca de 20 mil reais de Gustavo. Os promotores também denunciaram Gustavo por manter o piloto do Helicoca, Rogério Almeida Antunes, numa vaga da Assembleia Legislativa, onde recebia salário e tinha plano médico e vale refeição, mas os voos que o piloto realizava, conforme planilha juntada ao processo, não eram de interesse do Poder Legislativo.
O Ministério Público quer que Gustavo e o piloto sejam condenados a devolver o dinheiro do salário e dos benefícios à Assembleia Legislativa.
Com uma ficha corrida, o senador Zezé Perrella se tornou um dos mais ativos defensores do impeachment da presidente Dilma Rousseff na comissão de senadores. Durante o depoimento da “jurista” Janaína Paschoal, autora do parecer sobre as pedaladas fiscais, ele saiu na defesa dela, quando os senadores contra o impeachment a criticaram.
Janaína recebeu R$ 45 mil do PSDB para dar o parecer. “Pior é quem cobra 700 mil por palestra que nunca fez”, afirmou o senador, num afago a Janaína e numa crítica a senadores contrários ao impeachment. Ele não disse a quem se referia quando disse sobre a palestra de R$ 700 mil, mas provavelmente era ao ex-presidente Lula – mas não existe nenhuma acusação de que recebeu por palestra não realizada.
Com suas intervenções, Zezé tem procurado ajudar o relator da comissão do impeachment, o ex-governador mineiro Antônio Anastasia. Ela dá sua colaboração ao trabalho de Anastasia, embora todos saibam de antemão qual será o veredicto do relator.
A ajuda do senador Zezé Perrella não deixa de ser uma tarefa em família. É que Zezé, ao incorporar o nome Perrella, passou a se vincular ao passado do senador Anastasia.
O avô de Antonio Anastasia, Anielo Anastasia, era irmão de Josefina, a mulher de Pasquale Perrella, o fundador do frigorífico Perrella. Anielo e Pasquale não eram apenas cunhados, eram sócios do frigorífico que, muitas décadas depois, Zezé compraria.
O avô do relator do impeachment, Anielo, era também tio-avô dos Perrella de sangue, os verdadeiros Perrella. Ao “entrar” na família, Zezé se tornou primo de Antonio Anastasia. Um primo paraguaio, digamos assim. Juntos, Anastasia e Perrella estão fazendo história no Senado Federal.
Imediatamente após ser indicado pelo senador Fernando Collor para compor a comissão do impeachment, o senador Zezé Perrella foi à tribuna do Senado para cobrar rapidez na conclusão do processo. ”O país não aguenta mais”, disse.
Se a Justiça usasse contra Perrella o mesmo critério que ele cobra de seus colegas senadores - celeridade -, seria grande a chance de Perrella já estar com a ficha suja, tantos são inquéritos e processos a que ele responde.
Ele só tem uma condenação por improbidade administrativa, em primeira instância, por permitir que seus assessores morassem no apartamento funcional reservado exclusivamente a deputados federais, como ele era até janeiro de 2003.
Mas a Justiça, principalmente em Minas Gerais, anda muito devagar quando o investigado ou réu ostenta o sobrenome Perrella. Quer dizer, Oliveira Costa, já que Perrella é um sobrenome que o senador incorporou com autorização de uma importante família de Belo Horizonte, depois de comprar o frigorífico Perrella.
Oliveira Costa, de São Gonçalo do Pará, no centro-oeste mineiro, Zezé costuma dizer aos herdeiros de Pasquale Perrella, o fundador do frigorífico, que ele é o “Perrella do Paraguai”, mas não admite discutir o que alguns descendentes de Pasquale reivindicam: a retirada do nome Perrella da certidão de nascimento de José de Oliveira Costa.
“Tem um ramo da família que quer impedir o Zezé de usar o Perrella, em razão dos processos que ele tem – eu não tenho essa opinião -, mas um ramo da família tem, mas ninguém tomou ainda nenhuma providência e, se tomarem, correm o risco de responderem a um processo por danos morais”, diz o engenheiro civil Pachoal Perrella, que era dono do frigorífico quando Zezé, já presidente do Cruzeiro, comunicou à família que havia entrado na justiça para incorporar Perrella a seu nome.
“Na época, o Zezé era conhecido como o Zezé do Perrella, por causa do frigorífico. Ele então quis oficializar o nome Perrella, sem a preposição do. Achamos na ocasião que não havia problema nenhum. Ninguém da família se opôs”, afirma. Mas, quando os escândalos envolvendo o nome de Zezé se multiplicaram, o primo de Pachoal, Miguel, também um dos herdeiros que venderam o frigorífico, começou a falar que era necessário rever a autorização do uso do nome Perrella pelo senador.
Miguel não fala sobre o assunto por telefone, mas admite o incômodo. Um dos escândalos que mais deixaram os Perrella originais preocupados foi o do Helicoca. Pachoal acredita que, no caso do tráfico, o senador não tem nenhum envolvimento. “A Polícia Federal não iria inocentar o Zezé se ele tivesse algum envolvimento. Não fizeram isso com Zé Dirceu, que era muito mais poderoso, não fariam isso com o Zezé”, disse.
Mas, em relação a outros processos, onde a Polícia Federal não atuou e nem poderia inocentar o “Perrella do Paraguai”, Pachoal não demonstra a mesma certeza. No Ministério Público do Estado de Minas Gerais, as investigações sobre a família de Perrella mobilizam hoje dez promotores, a maioria do setor de defesa do Patrimônio Público.
Segundo os promotores, é difícil separar o negócio de Zezé dos irmãos, todos são ou foram sócios em alguma empresa. Também existe empresas comprovadamente em nome de laranjas. Esse conjunto de empresas obteve contratos de pelo menos R$ 80 milhões (em valores de 2011), nos anos em que o senador Aécio Neves era governador do Estado.
O Ministério Público chegou ao Zezé alguns anos antes do Helicoca, o helicóptero da família Perrella, pousar numa fazenda do Espírito Santo com 445 quilos de pasta base de cocaína. Foi a partir de uma denúncia de um dono de restaurante, que se sentiu prejudicado na escolha do principal fornecedor de alimentação da Cidade Administrativa, a maior obra e o cartão de visitas que Aécio apresentou durante muito tempo, como demonstração de sua eficiência como gestor.
O Ministério Público descobriu então que o conglomerado da família Perrella fornecia merenda escolar a preços superfaturados nas escolas da região de Montes Claros, mantinha cozinha irregular em alguns presídios e cobrava do Estado pelo transporte inexistente de marmitas, e fornecia carne abaixo do peso e em qualidade inferior ao acordado nos contratos com a Secretária de Defesa Social, responsável pelas cadeias.
Mas, segundo a denúncia dos promotores, o maior trunfo da família do “Perrella do Paraguai” era a fiscalização do Estado governado por Aécio Neves. Os fiscais fechavam os olhos para as empresas da família e eram rigorosíssimos sobre os concorrentes. Resultado: “Perrella do Paraguai” e suas empresas praticamente dominaram o fornecimento de refeições nos presídios e em parte do sistema educacional.
Outra descoberta dos promotores foi a do uso de um frigorífico pequeno do grupo para a emissão de notas sem mercadoria. Em tese, emitir nota sem entregar mercadoria configura crime de lavagem de dinheiro. Essa investigação faz parte do rol de inquéritos civis sobre o senador.
O Helicoca também rendeu ações no setor de defesa do patrimônio público da Promotoria de Minas Gerais. Gustavo e Zezé Perrella foram denunciados por desviar recursos da Assembleia Legislativa para voar.
Quando era deputado estadual, Zezé tinha um avião e costumava ir a Salvador e Rio de Janeiro – sempre na véspera de Carnaval – com combustível pago pelos contribuintes mineiros.
A família trocou o avião pelo Helicoca – um Robson 66 –, mas continuou com o hábito de cobrar do cidadão mineiro pelos deslocamentos aéreos, sem vinculação com o mandato de deputado estadual de Gustavo Perrella.
O Ministério Público cobra mais de 800 mil reais de Zezé e cerca de 20 mil reais de Gustavo. Os promotores também denunciaram Gustavo por manter o piloto do Helicoca, Rogério Almeida Antunes, numa vaga da Assembleia Legislativa, onde recebia salário e tinha plano médico e vale refeição, mas os voos que o piloto realizava, conforme planilha juntada ao processo, não eram de interesse do Poder Legislativo.
O Ministério Público quer que Gustavo e o piloto sejam condenados a devolver o dinheiro do salário e dos benefícios à Assembleia Legislativa.
Com uma ficha corrida, o senador Zezé Perrella se tornou um dos mais ativos defensores do impeachment da presidente Dilma Rousseff na comissão de senadores. Durante o depoimento da “jurista” Janaína Paschoal, autora do parecer sobre as pedaladas fiscais, ele saiu na defesa dela, quando os senadores contra o impeachment a criticaram.
Janaína recebeu R$ 45 mil do PSDB para dar o parecer. “Pior é quem cobra 700 mil por palestra que nunca fez”, afirmou o senador, num afago a Janaína e numa crítica a senadores contrários ao impeachment. Ele não disse a quem se referia quando disse sobre a palestra de R$ 700 mil, mas provavelmente era ao ex-presidente Lula – mas não existe nenhuma acusação de que recebeu por palestra não realizada.
Com suas intervenções, Zezé tem procurado ajudar o relator da comissão do impeachment, o ex-governador mineiro Antônio Anastasia. Ela dá sua colaboração ao trabalho de Anastasia, embora todos saibam de antemão qual será o veredicto do relator.
A ajuda do senador Zezé Perrella não deixa de ser uma tarefa em família. É que Zezé, ao incorporar o nome Perrella, passou a se vincular ao passado do senador Anastasia.
O avô de Antonio Anastasia, Anielo Anastasia, era irmão de Josefina, a mulher de Pasquale Perrella, o fundador do frigorífico Perrella. Anielo e Pasquale não eram apenas cunhados, eram sócios do frigorífico que, muitas décadas depois, Zezé compraria.
O avô do relator do impeachment, Anielo, era também tio-avô dos Perrella de sangue, os verdadeiros Perrella. Ao “entrar” na família, Zezé se tornou primo de Antonio Anastasia. Um primo paraguaio, digamos assim. Juntos, Anastasia e Perrella estão fazendo história no Senado Federal.
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