domingo, 24 de julho de 2016

Temer lança “Minha Mansão, Minha Vida”

Por Altamiro Borges

Logo após o governo golpista anunciar na semana passada a sua nova política de financiamento habitacional, que privilegia os imóveis com valores de até R$ 3 milhões, o escritor Marcelo Rubens Paiva ironizou nas redes sociais: “Minha Mansão, Minha Vida. Questão de classe”. De fato, a corja que assaltou o Palácio do Planalto não esconde a sua opção classista. O “golpe dos corruptos” foi bancado pelos ricaços para beneficiar os ricaços. Ao sabotar a democracia, ele visou abortar o “reformismo brando” dos últimos anos para inverter as prioridades dos gastos públicos. A decisão serve ao menos como mais um alerta aos trabalhadores: Acorda peão. O golpe foi dado contra você!

O anúncio oficial gerou imediata reação dos movimentos sociais. A Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf), que representa os bancários da Caixa Econômica Federal, publicou artigo com duras críticas à nova política de financiamento do banco. Vale conferir:

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Minha Mansão, Minha Vida: Caixa vai financiar imóveis para os mais ricos

21/07/2016

A partir da próxima segunda-feira (25), a Caixa Econômica Federal irá financiar imóveis de até R$ 3 milhões pelo Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), em que são utilizados recursos da poupança. O anúncio foi feito no dia 18. Atualmente, o limite em vigor é de R$ 1,5 milhão. As mudanças também preveem o aumento da parcela que pode ser financiada: para imóveis usados, de 60% para 70%; e para compra de imóvel novo, construção em terreno próprio, aquisição de terrenos e reforma ou ampliação, de 70% para 80%.

Para o presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, esta é mais uma demonstração da natureza do governo interino golpista, de Michel Temer. “Retirar o estímulo das classes das classes mais desfavorecidas e canalizar esse mesmo recurso para os setores mais ricos da sociedade é uma completa inversão de prioridades. Um passo para transformar o que é público e para todos, num banco que é para poucos”.

“Em 17 de maio, o governo ilegítimo de Michel Temer revogou a portaria da presidenta Dilma que ampliava o Minha Casa, Minha Vida, programa que beneficia justamente a população de baixa renda. Após forte pressão Brasil afora, voltou atrás. Essa foi apenas uma prova do que temos dito ao longo dos últimos meses: os programas sociais que transformaram o país na última década estão seriamente ameaçados”, afirma o presidente da Fenae, Jair Pedro Ferreira

“Estão criando o ‘Minha Mansão, Minha Vida’. Enquanto a Caixa aumenta o teto de financiamento, o crédito voltado para os mais pobres está com várias restrições. Os bancos privados sempre viraram as costas para a população mais carente, e a Caixa se tornou a esperança dos mais necessitados realizarem o sonho da casa própria. Não vamos permitir mais esse retrocesso de um governo golpista, que atua em prol das classes mais privilegiadas”, diz Fabiana Matheus, coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa).

Outro ponto a ser considerado, segundo o vice-presidente da Fenae, Clotário Cardoso, é o fato de a arrecadação da poupança estar em queda. “Ou seja, num momento em que há menos dinheiro no caixa, resolve-se ofertar mais crédito para os que menos precisam? É um erro. Além disso, a Caixa é um banco 100% público, e como tal deveria priorizar as pessoas que são alvo das políticas públicas”, observa.

Crédito para os mais pobres

Em 2015, as contratações da carteira de crédito habitacional somaram R$ 91,1 bilhões, o que envolveu quase 800 mil unidades e beneficiou 3 milhões de pessoas. Do total, R$ 55,5 bilhões foram financiados com recursos do FGTS, incluindo subsídios, o que beneficiou os brasileiros mais pobres, sobretudo por meio do Minha Casa, Minha Vida. O banco se manteve na liderança do setor, com participação de 67,2% do mercado e carteira de R$ 384 bilhões.

Desde a sua criação, em 2009, o MCMV beneficiou mais de 10 milhões de pessoas, com a entrega de 2,5 milhões de moradias e a contratação de outras 1,6 milhão. Somente no ano passado, na média, foram 1.220 casas entregues por dia. “Disponibilizar crédito habitacional para os menos favorecidos está no DNA da Caixa. Não tem jeito, se ela privilegiar os mais ricos, poderão faltar recursos para as classes mais baixas”, frisa Jair Pedro Ferreira.


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Inversão de prioridades da Caixa

As críticas ao programa já batizado de “Minha Mansão Minha Vida” não partiram apenas dos movimentos sociais. Miriam Belchior, presidente da Caixa Econômica Federal no governo Dilma, também reagiu indignada à inversão de prioridades da instituição. Em entrevista ao jornalista Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada, ela condenou a decisão do covil golpista, que “garante financiamento para quem tem renda muita alta e congela todas as contratações para as famílias de baixa renda”.

“Tenho só a lamentar que um banco público como a Caixa mude sua orientação e passe a fazer financiamento de um montante tão alto. Imagine o que é um imóvel de R$ 3 milhões, que se localiza, por exemplo, em São Paulo. Quantos quartos ou suítes, quantas vagas de garagem. E a gente sabe que 80% do déficit habitacional do país fica na faixa de até três salários mínimos. Ao mesmo tempo em que puxa para R$ 3 milhões, congela este ano contratações para a Faixa 1 do programa Minha Casa, Minha Vida – para famílias com renda de até R$ 1,8 mil mensais. Acho que essa é a grande questão: o recurso sendo usado para imóveis de valor muito mais alto, enquanto a população que mais precisa fica sem alternativa”.

Fies e Ciência sem Fronteiras

Não é só o programa “Minha Casa Minha Vida” que está na mira dos golpistas. Antes mesmo da consolidação do golpe, com a votação definitiva do impeachment de Dilma no Senado, eles já planejam outros retrocessos nas políticas públicas. Na semana passada, a Folha noticiou sem maior alarde a proposta de cortes no Fundo de Financiamento Estudantil. “Em gestação no governo, a reforma do Fies deve envolver uma mudança ampla nos critérios de seleção dos estudantes que terão direito ao crédito para cursar a faculdade. A ideia, em análise no MEC, é que a União subsidie a formação de profissionais considerados “em falta” no mercado ou de setores ‘estratégicos’... As mudanças começarão a ser divulgadas após o impeachment".

O mesmo jornal, que apoiou freneticamente o “golpe dos corruptos”, também informou seus leitores – inclusive muitos “midiotas” que já devem estar arrependidos da besteira que fizeram – que “o governo federal vai interromper a concessão de novas bolsas de intercâmbio internacional a estudantes de graduação no âmbito do ‘Ciência sem Fronteiras’. As bolsas para universitários sempre foram o foco do programa, e representam 79% dos benefícios já concedidos”. O jornal golpista até tenta justiçar a punhalada, afirmando que os gastos com as bolsas eram elevados – ele só não informa aos seus “midiotas” que os gastos com os juros, que beneficiam uma minoria de agiotas financeiros, são bem maiores.

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