Por Igor Viginotti Canevare, no site Brasil Debate:
Dilma Rousseff foi a primeira presidenta do Brasil, além de ser integrante de um partido historicamente ligado às causas sociais. Ela sofreu muitas críticas durante seu governo e isso serviu como combustível para posicionamentos sexistas por parte da mídia, muito provavelmente pelo machismo já entranhado na sociedade brasileira e também pelo ineditismo de se ter uma mulher no cargo mais importante do país.
A primeira reação a causar polêmica se deu quando ela adotou a denominação “presidenta”, questionada com o argumento: o “correto” seria a presidente, sendo mulher, ou o presidente, tratando-se de um homem. Foram feitos comentários irônicos desse uso da forma feminina “a”, utilizando-se dela como expediente para questionar a capacidade intelectual da governante.
Contudo, a forma presidenta é dicionarizada e aceita pela gramática da língua portuguesa e, consequentemente, ajuda a desnudar a dificuldade de aceitação de que um cargo de tal importância possa ter uma denominação feminina, mesmo que isso esteja previsto no vernáculo:
- No Dicionário Houaiss: Presidenta – Acepções: substantivo feminino. 1 Mulher que se elege para a presidência de um país.
Representação da mulher na mídia
A discussão sobre a inclusão feminina no mercado de trabalho começa a aparecer no Brasil no século XIX, quando há o incentivo de algumas publicações, apesar de ir na direção de que a política não tem espaço para a mulher, então ligada aos seus papéis básicos: dona de casa, esposa, mãe. A partir dos anos 1960, surgiu uma tendência que privilegiava a consumidora e o status de “namorada” foi se fortalecendo.
Essa antiga representação aconteceu também nesse ano de 2016, num contexto um pouco anterior ao impeachment, que se avistava a possibilidade de Michel Temer como presidente substituto. Publicações favoráveis à troca dos governantes enfatizavam seu bom português, em oposição ao ocorrido quando as mesmas ressaltavam o fato de Dilma se auto intitular presidenta, como fruto de seu mau português.
O texto jornalístico que mais se destacou nesse sentido foi publicado na revista Veja. Nele era enfatizada a figura da esposa do ex-vice-presidente, Marcela Temer, pois ela não participava da política, apenas de questões domésticas; exatamente o oposto de Dilma. A famigerada matéria, com o título de “Marcela Temer: bela, recatada e “do lar”, enfatizava características de coadjuvante como positivas para a esposa de Temer.
Esse texto vai ao encontro da representação feminina pela mídia do período anterior à emancipação nos anos de 1960, causou grande revolta e foi amplamente ridicularizado nas redes sociais. Uma multidão satirizou-o de tal forma que o “bela, recatada e do lar” se tornou bordão e legenda para as mais diversas fotos nas redes sociais.
Esse tipo de “protesto” e de indignação com a representatividade das mulheres serve como um primeiro exemplo de que tivemos avanço em relação ao debate e à não aceitação de que se utilizem de velhos paradigmas e estereótipos femininos tão facilmente como ocorria nas décadas de 1950 e 1960. Portanto, mesmo que a presença feminina na política ainda não seja diretamente proporcional ao número de mulheres na população, também não se aceita mais que a mulher seja colocada apenas como coadjuvante de um homem poderoso.
Representação de Dilma Rousseff na mídia
A candidatura de Dilma, desde o começo, esteve ligada à figura e popularidade de Lula, e os grandes meios de comunicação faziam questão de enfatizar isso. Na transição da figura de Dilma como ministra chefe da casa civil para candidata à presidente, ela sofreu um processo de mudança de imagem, que sempre foi representado como sendo vontade de Lula.
Com a possibilidade de Dilma chegar ao poder, o status quo passa a tentar minar e denegrir o governo feminino ou progressista, como podemos ver no texto da Istoé, “Como construir uma candidata”, em que se tenta mostrar a dependência de Dilma com relação a Lula.
Para a disputa ser possível, a candidata teve de ser indicada e ter por trás dela uma figura masculina e precisou mudar sua imagem de acordo com a vontade dessa figura. As matérias jornalísticas enfatizaram isso como forma de denegrir a sua imagem, como se ela não tivesse decisões próprias, mas fosse um mero fantoche.
Entretanto, uma das matérias mais controversas foi publicada pela revista IstoÉ, na iminência do impeachment, com o título: “Uma presidente fora de si”. Ela descrevia Dilma como uma pessoa desequilibrada e sem mais condições de conduzir o país. Mesmo nesse ínterim, em que ela já estava no segundo mandato, os repórteres trazem à tona a figura de Lula e comparam os dois, utilizam-se do desequilíbrio emocional e histeria feminina, supostamente presentes em Dilma, para questionar a capacidade dela de governar o país.
Essa reportagem também causou muita revolta nas redes sociais, o que serve aqui, como um segundo exemplo, de que grande parcela da sociedade não tolera mais esse comportamento por parte da mídia; da mesma forma que ocorreu com a matéria sobre Marcela Temer; porque essa publicação denegria Dilma sem citar fontes, utilizando-se de subterfúgios como “segundo relatos”, “assessores palacianos (…) andam aturdidos”, de forma a dar pouca credibilidade ao texto quanto à sua qualidade jornalística.
Por isso, podemos concluir que a ascensão de governos progressistas no Brasil e a presença de uma mulher na presidência da nação foram fatores importantes para se municiar o debate e para uma não aceitação, por grande parte da sociedade, de que os meios de comunicação continuem se valendo de ideias retrógradas e sexistas.
Dilma Rousseff foi a primeira presidenta do Brasil, além de ser integrante de um partido historicamente ligado às causas sociais. Ela sofreu muitas críticas durante seu governo e isso serviu como combustível para posicionamentos sexistas por parte da mídia, muito provavelmente pelo machismo já entranhado na sociedade brasileira e também pelo ineditismo de se ter uma mulher no cargo mais importante do país.
A primeira reação a causar polêmica se deu quando ela adotou a denominação “presidenta”, questionada com o argumento: o “correto” seria a presidente, sendo mulher, ou o presidente, tratando-se de um homem. Foram feitos comentários irônicos desse uso da forma feminina “a”, utilizando-se dela como expediente para questionar a capacidade intelectual da governante.
Contudo, a forma presidenta é dicionarizada e aceita pela gramática da língua portuguesa e, consequentemente, ajuda a desnudar a dificuldade de aceitação de que um cargo de tal importância possa ter uma denominação feminina, mesmo que isso esteja previsto no vernáculo:
- No Dicionário Houaiss: Presidenta – Acepções: substantivo feminino. 1 Mulher que se elege para a presidência de um país.
Representação da mulher na mídia
A discussão sobre a inclusão feminina no mercado de trabalho começa a aparecer no Brasil no século XIX, quando há o incentivo de algumas publicações, apesar de ir na direção de que a política não tem espaço para a mulher, então ligada aos seus papéis básicos: dona de casa, esposa, mãe. A partir dos anos 1960, surgiu uma tendência que privilegiava a consumidora e o status de “namorada” foi se fortalecendo.
Essa antiga representação aconteceu também nesse ano de 2016, num contexto um pouco anterior ao impeachment, que se avistava a possibilidade de Michel Temer como presidente substituto. Publicações favoráveis à troca dos governantes enfatizavam seu bom português, em oposição ao ocorrido quando as mesmas ressaltavam o fato de Dilma se auto intitular presidenta, como fruto de seu mau português.
O texto jornalístico que mais se destacou nesse sentido foi publicado na revista Veja. Nele era enfatizada a figura da esposa do ex-vice-presidente, Marcela Temer, pois ela não participava da política, apenas de questões domésticas; exatamente o oposto de Dilma. A famigerada matéria, com o título de “Marcela Temer: bela, recatada e “do lar”, enfatizava características de coadjuvante como positivas para a esposa de Temer.
Esse texto vai ao encontro da representação feminina pela mídia do período anterior à emancipação nos anos de 1960, causou grande revolta e foi amplamente ridicularizado nas redes sociais. Uma multidão satirizou-o de tal forma que o “bela, recatada e do lar” se tornou bordão e legenda para as mais diversas fotos nas redes sociais.
Esse tipo de “protesto” e de indignação com a representatividade das mulheres serve como um primeiro exemplo de que tivemos avanço em relação ao debate e à não aceitação de que se utilizem de velhos paradigmas e estereótipos femininos tão facilmente como ocorria nas décadas de 1950 e 1960. Portanto, mesmo que a presença feminina na política ainda não seja diretamente proporcional ao número de mulheres na população, também não se aceita mais que a mulher seja colocada apenas como coadjuvante de um homem poderoso.
Representação de Dilma Rousseff na mídia
A candidatura de Dilma, desde o começo, esteve ligada à figura e popularidade de Lula, e os grandes meios de comunicação faziam questão de enfatizar isso. Na transição da figura de Dilma como ministra chefe da casa civil para candidata à presidente, ela sofreu um processo de mudança de imagem, que sempre foi representado como sendo vontade de Lula.
Com a possibilidade de Dilma chegar ao poder, o status quo passa a tentar minar e denegrir o governo feminino ou progressista, como podemos ver no texto da Istoé, “Como construir uma candidata”, em que se tenta mostrar a dependência de Dilma com relação a Lula.
Para a disputa ser possível, a candidata teve de ser indicada e ter por trás dela uma figura masculina e precisou mudar sua imagem de acordo com a vontade dessa figura. As matérias jornalísticas enfatizaram isso como forma de denegrir a sua imagem, como se ela não tivesse decisões próprias, mas fosse um mero fantoche.
Entretanto, uma das matérias mais controversas foi publicada pela revista IstoÉ, na iminência do impeachment, com o título: “Uma presidente fora de si”. Ela descrevia Dilma como uma pessoa desequilibrada e sem mais condições de conduzir o país. Mesmo nesse ínterim, em que ela já estava no segundo mandato, os repórteres trazem à tona a figura de Lula e comparam os dois, utilizam-se do desequilíbrio emocional e histeria feminina, supostamente presentes em Dilma, para questionar a capacidade dela de governar o país.
Essa reportagem também causou muita revolta nas redes sociais, o que serve aqui, como um segundo exemplo, de que grande parcela da sociedade não tolera mais esse comportamento por parte da mídia; da mesma forma que ocorreu com a matéria sobre Marcela Temer; porque essa publicação denegria Dilma sem citar fontes, utilizando-se de subterfúgios como “segundo relatos”, “assessores palacianos (…) andam aturdidos”, de forma a dar pouca credibilidade ao texto quanto à sua qualidade jornalística.
Por isso, podemos concluir que a ascensão de governos progressistas no Brasil e a presença de uma mulher na presidência da nação foram fatores importantes para se municiar o debate e para uma não aceitação, por grande parte da sociedade, de que os meios de comunicação continuem se valendo de ideias retrógradas e sexistas.
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