quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Globo, Valor e pensamento único neoliberal

Por Altamiro Borges

A própria Folha publicou nesta terça-feira (13) o obituário: “O Grupo Globo comprou os 50% da empresa Valor Econômico S.A. que eram detidos pelo Grupo Folha. Com isso, a empresa que publica o jornal ‘Valor Econômico’ passa a ser de propriedade exclusiva do grupo carioca. Não foi revelado o montante da operação, que ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)”. A nota fúnebre permite duas conclusões iniciais. A primeira é de que o império midiático da famiglia Frias encontra-se em estado pré-falimentar. Na semana passada, a Folha já havia anunciado a extinção do seu caderno de Esporte e a demissão de vários jornalistas. Agora, o grupo se desfaz do jornal Valor.

A segunda é de que o império global, que também não anda bem das pernas, passa a deter a total hegemonia na narrativa sobre a economia. A famiglia Marinho é uma ardorosa defensora das teses neoliberais do desmonte do Estado, da nação e do trabalho. É entusiasta da privataria das estatais, do chamado Estado Mínimo – mínimo para os trabalhadores e máximo para os rentistas –, da desnacionalização das riquezas do país – como da exploração do pré-sal – e da extinção da CLT. Com esta pauta-bomba, o Grupo Globo – com seus vários veículos – foi protagonista do “golpe dos corruptos” que resultou na eleição indireta do Judas Michel Temer.

A vitória dos golpistas produziu uma abrupta mudança na linha editorial dos veículos da famiglia. Durante os governos Lula e Dilma, os “analistas econômicos” da Globo, que atuam como porta-vozes dos abutres financeiros, só divulgaram notícias negativas e espalharam o pessimismo no país. Não é para menos que eles e elas – como Carlos Alberto Sardenberg e Miriam Leitão – foram apelidados de “urubólogos”. A partir do assalto ao Palácio do Planalto pela gangue de Michel Temer, a cobertura econômica mudou de tom. Parece que o Brasil saiu do inferno para ingressar no paraíso num passe de mágica – ou melhor, num golpe! Agora, todos os sinais são de recuperação da economia.

É esta linha editorial manipuladora que deverá se impor no “Valor Econômico”. Dedicado à chamada nata do empresariado – que mais se parece com o esgoto –, o jornal já foi considerado sério e sóbrio em suas análises. Lançado em maio de 2000, ele não visava interferir diretamente nos humores da opinião pública – circulava basicamente através da venda de assinaturas, sem maior presença nas bancas. Nos últimos tempos, ele até reforçou o coro dos golpistas, mas ainda mantinha uma aura de credibilidade. Agora, com a transação comercial formalizada, a sua linha editorial tende a se degradar rapidamente. O “Valor” será a bíblia do pensamento único emburrecedor do neoliberalismo.

Em tempo: Segundo a notinha fúnebre da Folha, o “Valor” é o maior jornal de economia e negócios do país. “Registrou circulação paga de 61.184 em julho deste ano, segundo os dados mais recentes do IVC (Instituto Verificador de Comunicação). A audiência digital no mesmo mês foi de 50 milhões de páginas acessadas ("page views") e 2 milhões de visitantes únicos. O jornal é líder na publicação de demonstrações financeiras de empresas (publicidade legal), que, de acordo com a legislação atual, precisam ser divulgadas em veículos impressos. Essa obrigatoriedade de publicação, no entanto, está sendo discutida no Congresso Nacional”. Este último registro é importante e vale um comentário:

Em plena era digital, a obrigatoriedade da publicação nos jornais dos balanços financeiros das empresas é uma verdadeira excrescência. Em boa parte dos países do mundo, essa anomalia já foi extinta. No Brasil, ela segue enriquecendo os barões da mídia. Com certeza, a famiglia Marinho – que foi indispensável para a concretização do “golpe dos corruptos” e que tem forte influência no Senado – vai cobrar esta fatura. No comando do jornal “Valor”, ela exigirá a manutenção da obrigatoriedade da publicação dos balanços das empresas. Os senadores, que nutrem um complexo de sedução e medo diante da Rede Globo, serão sensíveis aos apelos. Já o Judas Michel Temer é um típico office boy da famiglia Marinho!

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