Por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual:
Após a votação na sessão do plenário da Câmara dos Deputados que cassou seu mandato e seus direitos políticos por oito anos, o agora ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) falou brevemente à imprensa. O que já foi suficiente para deixar pulgas atrás de várias orelhas na Câmara, no Senado e em várias instâncias do Executivo.
Profundo conhecedor dos conchavos de bastidores da Câmara, Cunha culpou principalmente o governo Temer por sua cassação. Disse que o resultado seria outro se o governo o tivesse apoiado a fazer Rogério Rosso (PSD-RJ) seu sucessor na presidência da Casa, em vez de Rodrigo Maia (DEM-RJ), genro de Moreira Franco, um dos homens fortes do governo Temer.
Nas previsões de Cunha, Rosso teria marcado a sessão que o cassou para depois das eleições, quando os deputados sentiriam-se menos pressionados. Quando Rodrigo Maia marcou para ontem (12), a algumas semanas das eleições municipais em todo o país, selou seu destino, pois a maioria dos deputados não teria escolha – teria de demonstrar aos respectivos eleitorados que não têm ligação com um político envolvido até o pescoço em denúncias de corrupção e desvios de dinheiro público.
As palavras de Cunha, apesar de dirigir-se só a Moreira Franco, é claro que arderam no ouvido de mais gente no Palácio do Planalto. Cunha sabe como ninguém que está sendo tratado como cachorro jogado fora de caminhão de mudança pelo governo Temer, que tanto ajudou a consolidar. Ele teve mais votos contra si do que os 367 votos de deputados contra Dilma no impeachment.
Além de Moreira Franco, pelo menos outros dois ministros articuladores políticos poderiam ter mexido os pauzinhos nos bastidores para salvar seu mandato: Eliseu Padilha, da Casa Civil e Geddel Vieira Lima, Secretário de Governo e ocupante de um cargo diretamente responsável pela articulação com o Legislativo.
Mas, exemplo do que foi armado para ele após o impeachment de Dilma Rousseff, o irmão de Geddel, deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) deu seu voto triunfante pela cassação. Para o bom entendedor, até mesmo o próprio Temer, se quisesse, pouparia Cunha. Escolheu sacrificá-lo.
Ao que tudo indica, a ira de Cunha se voltará menos contra cada um que votou contra ele do que contra os donos dos votos. Se voltará contra os caciques que tomaram dele o controle das bancadas, e as fizeram votar contra ele. O próprio Rosso acabou votando por sua cassação, mas Cunha disse que se ele (Rosso) estivesse no lugar de Rodrigo Maia o resultado seria outro, mostrando a quem atribui culpa por ter perdido o mandato.
Mas não é só Temer, seus ministros e o PMDB que terão dores de cabeça. No seu melhor estilo, Cunha disse que escreverá um livro sobre os bastidores do impeachment. Disse que contará todas as conversas que teve durante a construção do processo que depôs uma presidenta democraticamente eleita e sem ter cometido crime de responsabilidade algum.
Deu a entender que revelará conspirações, negociações e sabe-se lá mais o quê. Coisas que atingem além do PMDB, também caciques do PSDB, DEM, PP, PR etc. Dada a falta de alternativas na atual situação jurídica de Cunha, o "livro" talvez já esteja sendo rascunhado a quatro mãos junto com algum Procurador da República sob forma de delação premiada.
E Cunha só não vai para Curitiba, depor ao juiz Sergio Moro se delatar ministros, parlamentares, governadores que tenham foro privilegiado no STF.
Os fujões e os assumidos do "Fica Cunha"
Fez barulho nas redes sociais os votos declarados a favor de salvar o mandato do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) dados por seus colegas Marcos Feliciano (PSC-SP) e Paulinho da Força (SD-SP). Talvez por serem os nomes mais famosos entre os dez que deram o voto de apoio assumido. Mas na verdade, esses fizeram parte de um grupo de 63 deputados que apoiaram Cunha até o fim.
Na prática, tanto quem votou "não" à cassação, como se absteve de vota ou faltou à sessão, subtraiu um voto em favor da cassação. Portanto, na conta final deve-se contabilizar todos eles como um voto "Fica Cunha".
E a conta fica assim: dez deputados votaram "não", nove se abstiveram e 34 faltaram, perfazendo os 63 votos contra a cassação de Cunha. A falta do deputado Fernando Francischini (SD-PR) valeu tanto quando o voto "não" de Paulinho, na tentativa de salvar Cunha.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), exerceu sua opção de não votar, o que está previsto no regimento da Casa. Poderia ter votado, se quisesse. O próprio Cunha, quando ainda presidia a Câmara, votou contra Dilma no impeachment.
A lista completa dos votos de cada deputado você encontra aqui.
Profundo conhecedor dos conchavos de bastidores da Câmara, Cunha culpou principalmente o governo Temer por sua cassação. Disse que o resultado seria outro se o governo o tivesse apoiado a fazer Rogério Rosso (PSD-RJ) seu sucessor na presidência da Casa, em vez de Rodrigo Maia (DEM-RJ), genro de Moreira Franco, um dos homens fortes do governo Temer.
Nas previsões de Cunha, Rosso teria marcado a sessão que o cassou para depois das eleições, quando os deputados sentiriam-se menos pressionados. Quando Rodrigo Maia marcou para ontem (12), a algumas semanas das eleições municipais em todo o país, selou seu destino, pois a maioria dos deputados não teria escolha – teria de demonstrar aos respectivos eleitorados que não têm ligação com um político envolvido até o pescoço em denúncias de corrupção e desvios de dinheiro público.
As palavras de Cunha, apesar de dirigir-se só a Moreira Franco, é claro que arderam no ouvido de mais gente no Palácio do Planalto. Cunha sabe como ninguém que está sendo tratado como cachorro jogado fora de caminhão de mudança pelo governo Temer, que tanto ajudou a consolidar. Ele teve mais votos contra si do que os 367 votos de deputados contra Dilma no impeachment.
Além de Moreira Franco, pelo menos outros dois ministros articuladores políticos poderiam ter mexido os pauzinhos nos bastidores para salvar seu mandato: Eliseu Padilha, da Casa Civil e Geddel Vieira Lima, Secretário de Governo e ocupante de um cargo diretamente responsável pela articulação com o Legislativo.
Mas, exemplo do que foi armado para ele após o impeachment de Dilma Rousseff, o irmão de Geddel, deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) deu seu voto triunfante pela cassação. Para o bom entendedor, até mesmo o próprio Temer, se quisesse, pouparia Cunha. Escolheu sacrificá-lo.
Ao que tudo indica, a ira de Cunha se voltará menos contra cada um que votou contra ele do que contra os donos dos votos. Se voltará contra os caciques que tomaram dele o controle das bancadas, e as fizeram votar contra ele. O próprio Rosso acabou votando por sua cassação, mas Cunha disse que se ele (Rosso) estivesse no lugar de Rodrigo Maia o resultado seria outro, mostrando a quem atribui culpa por ter perdido o mandato.
Mas não é só Temer, seus ministros e o PMDB que terão dores de cabeça. No seu melhor estilo, Cunha disse que escreverá um livro sobre os bastidores do impeachment. Disse que contará todas as conversas que teve durante a construção do processo que depôs uma presidenta democraticamente eleita e sem ter cometido crime de responsabilidade algum.
Deu a entender que revelará conspirações, negociações e sabe-se lá mais o quê. Coisas que atingem além do PMDB, também caciques do PSDB, DEM, PP, PR etc. Dada a falta de alternativas na atual situação jurídica de Cunha, o "livro" talvez já esteja sendo rascunhado a quatro mãos junto com algum Procurador da República sob forma de delação premiada.
E Cunha só não vai para Curitiba, depor ao juiz Sergio Moro se delatar ministros, parlamentares, governadores que tenham foro privilegiado no STF.
Os fujões e os assumidos do "Fica Cunha"
Fez barulho nas redes sociais os votos declarados a favor de salvar o mandato do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) dados por seus colegas Marcos Feliciano (PSC-SP) e Paulinho da Força (SD-SP). Talvez por serem os nomes mais famosos entre os dez que deram o voto de apoio assumido. Mas na verdade, esses fizeram parte de um grupo de 63 deputados que apoiaram Cunha até o fim.
Na prática, tanto quem votou "não" à cassação, como se absteve de vota ou faltou à sessão, subtraiu um voto em favor da cassação. Portanto, na conta final deve-se contabilizar todos eles como um voto "Fica Cunha".
E a conta fica assim: dez deputados votaram "não", nove se abstiveram e 34 faltaram, perfazendo os 63 votos contra a cassação de Cunha. A falta do deputado Fernando Francischini (SD-PR) valeu tanto quando o voto "não" de Paulinho, na tentativa de salvar Cunha.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), exerceu sua opção de não votar, o que está previsto no regimento da Casa. Poderia ter votado, se quisesse. O próprio Cunha, quando ainda presidia a Câmara, votou contra Dilma no impeachment.
A lista completa dos votos de cada deputado você encontra aqui.
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