Por Tereza Cruvinel, em seu blog:
O advento das redes sociais e o aumento do acesso a elas pela inclusão digital certamente carregam virtudes e benefícios. No Brasil, entretanto, as redes têm servido também para revelar um traço horrível de parcela dos brasileiros: o ódio e sua violência latente, a intolerância, a incapacidade de aceitar a divergência e conviver com o outro, a ausência absoluta de compaixão por aquele que “não é do meu lado”, não pensa como eu, não se parece comigo.
O advento das redes sociais e o aumento do acesso a elas pela inclusão digital certamente carregam virtudes e benefícios. No Brasil, entretanto, as redes têm servido também para revelar um traço horrível de parcela dos brasileiros: o ódio e sua violência latente, a intolerância, a incapacidade de aceitar a divergência e conviver com o outro, a ausência absoluta de compaixão por aquele que “não é do meu lado”, não pensa como eu, não se parece comigo.
Em um povo que em outros tempos se dizia regido por Eros – deus do amor e do prazer na mitologia grega, que se manifestaria através da alegria, do carnaval e da leveza da alma brasileira – de repente surgem grupos dominados por Tanatos, o instinto de morte e destruição, permeado pela completa ausência da compaixão, sentimento distintivo da humanidade. Nos últimos dois dias, a pulsão de Tanatos manifestou com toda a sua força bruta, na violência das agressões, pelas redes, a dona Marisa Letícia Lula da Silva, que enfrenta em coma induzido as consequências de um acidente vascular cerebral.
Para além das moçoilas paulistanas que foram à porta do Hospital Sírio-Libanês pedir Lula na cadeia e Marisa no SUS, escorre a enxurrada de agressões nas redes sociais. Um certo Emerson Rodrigues da Silva postou no Youtube uma “nota de comemoração para celebrar o dia em que Marisa Letícia Lula da Silva foi para o inferno”. E o fez louvando a Deus por estar fazendo justiça. Segue-se a torrente de impropérios contra Lula e sua família, responsabilizados pela morte do pai do youtuber raivoso, que não entra em detalhes sobre como isso pode ter acontecido. Consegui ouvir até o fim mas foi de perder a esperança na humanidade.
Outro ativista, que se apresenta como Dom Werneck, assegura estar notificando em primeira mão que dona Marisa faleceu, teve morte cerebral. Sobre esta mentira – pois é sabido que ela continua em coma induzido, e segundo o hospital, em situação estável, embora preocupante - ele destila seu ódio: “esta família destruiu o Brasil, roubou o povo brasileiro, levou milhões de brasileiros ao desemprego...”e por vai. Ele também invoca Deus para garantir que a família Lula da Silva sofrerá muito, tanto na terra como no inferno, no outro mundo. Quem haverá de tentar dialogar com um sujeito destes? Ele continuará falando para os seus “semelhantes” e ouvindo apenas seus iguais, ignorando ou odiando todos que se afastem de suas convicções. Está tomado por Tanatos.
Mas também no mundo mais refinado do jornalismo houve manifestações que só os tempos explicam, como a do colunista Ricardo Noblat, afirmando que dona Marisa sofreu um AVC por sua própria culpa, por seus maus hábitos, como o de fumar, por sedentarismo, e pelos atos do marido que levaram tensão à família. Um tal diagnóstico não autorizado só pode ter o propósito de vacinar leitores contra interpretações de que “outros” foram os culpados. Outros de Curitiba, da Lava Jato, do Supremo etc. Um propósito que passa ao largo da missão dos jornalistas, quando o jornalismo ainda observava os cânones que Noblat tanto cultivou em sua brilhante carreira.
As moças da porta do Sírio-Libanês terão tido algum dia um parente lutando pela vida? Terão visto alguém de suas famílias morrer por falta de bom atendimento médico, como Lula viu morrer sua primeira mulher? Alguma vez protestaram contra tantos outros políticos internados naquele hospital privado, alguns de notória ficha corrida, porém brancos e bem nascidos? Elas querem um muro como o de Trump, um muro entre classes, muro que sofreu pequenas demolições justamente na era Lula, e que agora o Governo Temer repara com medidas de retrocesso. Elas também são movidas por Tanatos. Alinham-se com a morte e não com a vida.
Para além das moçoilas paulistanas que foram à porta do Hospital Sírio-Libanês pedir Lula na cadeia e Marisa no SUS, escorre a enxurrada de agressões nas redes sociais. Um certo Emerson Rodrigues da Silva postou no Youtube uma “nota de comemoração para celebrar o dia em que Marisa Letícia Lula da Silva foi para o inferno”. E o fez louvando a Deus por estar fazendo justiça. Segue-se a torrente de impropérios contra Lula e sua família, responsabilizados pela morte do pai do youtuber raivoso, que não entra em detalhes sobre como isso pode ter acontecido. Consegui ouvir até o fim mas foi de perder a esperança na humanidade.
Outro ativista, que se apresenta como Dom Werneck, assegura estar notificando em primeira mão que dona Marisa faleceu, teve morte cerebral. Sobre esta mentira – pois é sabido que ela continua em coma induzido, e segundo o hospital, em situação estável, embora preocupante - ele destila seu ódio: “esta família destruiu o Brasil, roubou o povo brasileiro, levou milhões de brasileiros ao desemprego...”e por vai. Ele também invoca Deus para garantir que a família Lula da Silva sofrerá muito, tanto na terra como no inferno, no outro mundo. Quem haverá de tentar dialogar com um sujeito destes? Ele continuará falando para os seus “semelhantes” e ouvindo apenas seus iguais, ignorando ou odiando todos que se afastem de suas convicções. Está tomado por Tanatos.
Mas também no mundo mais refinado do jornalismo houve manifestações que só os tempos explicam, como a do colunista Ricardo Noblat, afirmando que dona Marisa sofreu um AVC por sua própria culpa, por seus maus hábitos, como o de fumar, por sedentarismo, e pelos atos do marido que levaram tensão à família. Um tal diagnóstico não autorizado só pode ter o propósito de vacinar leitores contra interpretações de que “outros” foram os culpados. Outros de Curitiba, da Lava Jato, do Supremo etc. Um propósito que passa ao largo da missão dos jornalistas, quando o jornalismo ainda observava os cânones que Noblat tanto cultivou em sua brilhante carreira.
As moças da porta do Sírio-Libanês terão tido algum dia um parente lutando pela vida? Terão visto alguém de suas famílias morrer por falta de bom atendimento médico, como Lula viu morrer sua primeira mulher? Alguma vez protestaram contra tantos outros políticos internados naquele hospital privado, alguns de notória ficha corrida, porém brancos e bem nascidos? Elas querem um muro como o de Trump, um muro entre classes, muro que sofreu pequenas demolições justamente na era Lula, e que agora o Governo Temer repara com medidas de retrocesso. Elas também são movidas por Tanatos. Alinham-se com a morte e não com a vida.
1 comentários:
Sra.jornalista,sempre leio seus artigos,quase sempre concordando integralmente
e apreciando a matéria.Mas neste de hoje discordo de o componente preconceito
racial tenha influído porque ambos são brancos.Creio ser o habitual:inveja,
despeito,preconceito de classe,baixeza de caráter,torpeza.Mas a lei do retor-
no é inflexível:o que é deles está guardado e mais dia menos dia lhes cairá
sobre suas porcas cabeças.
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