Por Miguel do Rosário, no blog Cafezinho:
Eu gostaria de comentar duas notícias, relacionadas ao mesmo tema: a nova ofensiva do golpe.
No Estadão
O ministro Herman Benjamin, relator da ação que investiga a chapa presidencial de 2014 formada pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e pelo presidente Michel Temer (PMDB) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), decidiu incluir a delação da Odebrecht no processo e ouvir executivos da empreiteira que firmaram o acordo de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF), segundo fontes informaram ao Estado. A ação que tramita no TSE foi proposta pelo PSDB e pode gerar a cassação do mandato de Temer e a inelegibilidade de Dilma. Benjamin pretende ouvir delatores da empresa a partir do mês de março.
Para advogados com acesso ao caso, a inclusão das declarações da Odebrecht no processo do TSE tem dois efeitos: as revelações da empreiteira podem atingir o presidente Michel Temer e a inclusão dos depoimentos deve adiar ainda mais o julgamento do caso na Corte Eleitoral.
(…)
No Jota
***
A cassação via TSE era o plano B do golpe. Se o impeachment se revelasse muito complicado, seria uma alternativa.
O impeachment, liderado por Eduardo Cunha, deu certo. Então os golpistas ficaram, por um tempo, sem saber o que fazer com o plano B. Gilmar Mendes já era o presidente do TSE e, enquanto não se decidia, foi empurrando o processo com a barriga.
Mas eles são espertos e rapidamente descobriram uma maneira de usar o processo no TSE: “esquentar” a Lava Jato, e produzir factoides midiáticos, que desviam a atenção da sociedade dos desmandos do governo.
Tudo é muito calculado. No dia seguinte à constrangedora aprovação de Alexandre de Moraes para o STF, com direito a fotos antológicas, cheia de piscadelas e gargalhadas dos senadores, o que faz um TSE já devidamente dominado pelo golpismo?
Lança, naturalmente, factoides contra o PT.
A decisão de Herman Benjamin de incluir as delações da Odebrecht no processo pedido pelo PSDB tem uma função dupla: a primeira delas é prorrogar o processo por tempo indeterminado, o que beneficia Michel Temer e o consórcio golpista; o segundo é produzir mais factoides contra o PT.
Não é preciso muita lógica. o fato da Odebrecht, assim como outras grandes empreiteiras, ser grande doadora do PSDB, além de, evidentemente, ser impossível saber quem seria o ganhador das eleições, não importa.
O que importa é fixar no pensamento coletivo a ideia de que qualquer doação para o PT, de que qualquer despesa de campanha do PT, é corrupção.
Não foi para isso que prenderam o “marketeiro de Dilma”? Para gerar exatamente uma manchete com a expressão “marketeiro de Dilma”?
Temer governará o Brasil por pouco mais de dois anos. Mas, a bem da verdade, quem já está no poder é o PSDB. O PSDB indicou o novo ministro do STF, indicará o novo PGR, terá o ministério da Justiça, coordena o Senado e a Câmara (a primeira pessoa a quem Rodrigo Maia visitou, após sua vitória, foi Aécio Neves) e, sobretudo, goza de uma espetacular blindagem da mídia e do sistema golpista de justiça – privilégios que o PMDB sonharia ter, mas não tem.
Eu gostaria de comentar duas notícias, relacionadas ao mesmo tema: a nova ofensiva do golpe.
No Estadão
O ministro Herman Benjamin, relator da ação que investiga a chapa presidencial de 2014 formada pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e pelo presidente Michel Temer (PMDB) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), decidiu incluir a delação da Odebrecht no processo e ouvir executivos da empreiteira que firmaram o acordo de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF), segundo fontes informaram ao Estado. A ação que tramita no TSE foi proposta pelo PSDB e pode gerar a cassação do mandato de Temer e a inelegibilidade de Dilma. Benjamin pretende ouvir delatores da empresa a partir do mês de março.
Para advogados com acesso ao caso, a inclusão das declarações da Odebrecht no processo do TSE tem dois efeitos: as revelações da empreiteira podem atingir o presidente Michel Temer e a inclusão dos depoimentos deve adiar ainda mais o julgamento do caso na Corte Eleitoral.
(…)
No Jota
***
A cassação via TSE era o plano B do golpe. Se o impeachment se revelasse muito complicado, seria uma alternativa.
O impeachment, liderado por Eduardo Cunha, deu certo. Então os golpistas ficaram, por um tempo, sem saber o que fazer com o plano B. Gilmar Mendes já era o presidente do TSE e, enquanto não se decidia, foi empurrando o processo com a barriga.
Mas eles são espertos e rapidamente descobriram uma maneira de usar o processo no TSE: “esquentar” a Lava Jato, e produzir factoides midiáticos, que desviam a atenção da sociedade dos desmandos do governo.
Tudo é muito calculado. No dia seguinte à constrangedora aprovação de Alexandre de Moraes para o STF, com direito a fotos antológicas, cheia de piscadelas e gargalhadas dos senadores, o que faz um TSE já devidamente dominado pelo golpismo?
Lança, naturalmente, factoides contra o PT.
A decisão de Herman Benjamin de incluir as delações da Odebrecht no processo pedido pelo PSDB tem uma função dupla: a primeira delas é prorrogar o processo por tempo indeterminado, o que beneficia Michel Temer e o consórcio golpista; o segundo é produzir mais factoides contra o PT.
Não é preciso muita lógica. o fato da Odebrecht, assim como outras grandes empreiteiras, ser grande doadora do PSDB, além de, evidentemente, ser impossível saber quem seria o ganhador das eleições, não importa.
O que importa é fixar no pensamento coletivo a ideia de que qualquer doação para o PT, de que qualquer despesa de campanha do PT, é corrupção.
Não foi para isso que prenderam o “marketeiro de Dilma”? Para gerar exatamente uma manchete com a expressão “marketeiro de Dilma”?
Temer governará o Brasil por pouco mais de dois anos. Mas, a bem da verdade, quem já está no poder é o PSDB. O PSDB indicou o novo ministro do STF, indicará o novo PGR, terá o ministério da Justiça, coordena o Senado e a Câmara (a primeira pessoa a quem Rodrigo Maia visitou, após sua vitória, foi Aécio Neves) e, sobretudo, goza de uma espetacular blindagem da mídia e do sistema golpista de justiça – privilégios que o PMDB sonharia ter, mas não tem.
O PMDB, para não ser inteiramente posto na prisão, terá que pagar o preço de um dia ter se aliado ao PT. O preço é fazer o serviço sujo de cortar direitos sociais, implementar mais arrocho e destruir empresas. Houve um tempo em que o PMDB era um partido de centro, que se posicionava de maneira moderada em relação às privatizações e iniciativas neoliberais mais radicais. Hoje não. Hoje o PMDB se tornou um entusiasta neoliberal, porque sabe que esta é a única maneira de sobreviver politicamente – pois tem apoio da grande mídia e, com ela, do judiciário. A proteção do STF à Moreira Franco e à Sarney é a prova disso. Tudo que não deram a Lula e ao PT eles dão ao PMDB – enquanto o partido se comportar.
A notícia de que um cidadão entregava dinheiro a membros do PT no ano de 2014 me fez pensar também em duas coisas: 1) o oportunismo de mais um vazamento seletivo, e 2) a futilidade da denúncia.
Se o TSE investigasse qualquer outra campanha presidencial, encontraria, naturalmente, pessoas responsáveis pelo pagamento da campanha.
Por que esses vazamentos do TSE contra o PT, antes de haver qualquer denúncia ou acusação?
As campanhas políticas no Brasil envolvem dinheiro, gráficas e pagamento de trabalhadores.
Entretanto, nessa era de pós-verdade, mais uma vez teremos uma jabuticaba: a campanha do PT será a única criminalizada.
O pagamento às gráficas vira crime – se imprimirem material de campanha do PT.
O pagamento de trabalhadores de campanha é crime – se for campanha do PT.
Os donos das gráficas são criminosos – caso tenham prestado serviços ao PT.
No fundo, é tudo um teatro. Se o TSE cassar a chapa, Temer tentará a separação. Provavelmente conseguirá, porque já terá tido tempo de nomear outros ministros para o TSE e ganhar maioria. Se acaso não conseguir, tudo termina no STF, onde já conta com seu fiel escudeiro Alexandre de Moraes.
Naturalmente, tanto o TSE quanto o STF só tomarão alguma decisão após lerem atentamente as instruções emanadas pela Globo. Se a ordem for derrubar Temer, para, mais uma vez, desviar a atenção da opinião pública, então eles o farão. Acho mais provável, contudo, que mantenham Temer até 2018. O objetivo agora é continuar moendo o PT na mais poderosa máquina de aniquilar reputação já vista na história, quiçá só comparável aos esquemas de Stálin. Sistema de justiça e mídia trabalhando juntos, para criminalizar um partido, esgotá-lo, aterrorizá-lo, cercá-lo de uma aura radioativa, que contamine todos que cheguem perto. Ao mesmo tempo, blindar e apoiar o PSDB, a legenda do neoliberalismo, dos rentistas e da mídia.
As instituições, como diria Toffoli, continuam funcionando normalmente.
A notícia de que um cidadão entregava dinheiro a membros do PT no ano de 2014 me fez pensar também em duas coisas: 1) o oportunismo de mais um vazamento seletivo, e 2) a futilidade da denúncia.
Se o TSE investigasse qualquer outra campanha presidencial, encontraria, naturalmente, pessoas responsáveis pelo pagamento da campanha.
Por que esses vazamentos do TSE contra o PT, antes de haver qualquer denúncia ou acusação?
As campanhas políticas no Brasil envolvem dinheiro, gráficas e pagamento de trabalhadores.
Entretanto, nessa era de pós-verdade, mais uma vez teremos uma jabuticaba: a campanha do PT será a única criminalizada.
O pagamento às gráficas vira crime – se imprimirem material de campanha do PT.
O pagamento de trabalhadores de campanha é crime – se for campanha do PT.
Os donos das gráficas são criminosos – caso tenham prestado serviços ao PT.
No fundo, é tudo um teatro. Se o TSE cassar a chapa, Temer tentará a separação. Provavelmente conseguirá, porque já terá tido tempo de nomear outros ministros para o TSE e ganhar maioria. Se acaso não conseguir, tudo termina no STF, onde já conta com seu fiel escudeiro Alexandre de Moraes.
Naturalmente, tanto o TSE quanto o STF só tomarão alguma decisão após lerem atentamente as instruções emanadas pela Globo. Se a ordem for derrubar Temer, para, mais uma vez, desviar a atenção da opinião pública, então eles o farão. Acho mais provável, contudo, que mantenham Temer até 2018. O objetivo agora é continuar moendo o PT na mais poderosa máquina de aniquilar reputação já vista na história, quiçá só comparável aos esquemas de Stálin. Sistema de justiça e mídia trabalhando juntos, para criminalizar um partido, esgotá-lo, aterrorizá-lo, cercá-lo de uma aura radioativa, que contamine todos que cheguem perto. Ao mesmo tempo, blindar e apoiar o PSDB, a legenda do neoliberalismo, dos rentistas e da mídia.
As instituições, como diria Toffoli, continuam funcionando normalmente.
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