Por Álvaro Verzi Rangel, no site Carta Maior:
A história parece inspirada numa novela de John Le Carré. Mas não é ficção. Tanto Pablo Escobar, o megatraficante de drogas e chefe paramilitar colombiano, como seu testa de ferro Henry de Jesús López Londoño, mais conhecido como “Mi Sangre” (“meu sangue”), trabalharam para agências de inteligência dos Estados Unidos e realizaram trabalhos encobertos para eles.
Essas revelações não deveriam estranhar tanto, já que a primeira foi confirmada pelo próprio filho de Escobar, e o caso de Henry foi desvendado em seu processo judicial nos Estados Unidos, após sua extradição, no ano passado, desde a Argentina. Ficaram para trás as turbulentas acusações do caso Irã-Contras e do processo ao ex-homem forte do Panamá, Manuel Noriega. A realidade sempre supera qualquer ficção, sobretudo se está envolvida a “inteligência” estadunidense.
No caso de Pablo Escobar, a operação encoberta se tratou de uma rota de narcotráfico à Miami na qual foram enviados 800 quilos de cocaína por semana com o respaldo da CIA e da DEA, de acordo com o relato do filho do falecido narcotraficante, Juan Pablo Escobar, que viveu sob o pseudônimo de Juan Sebastián Marroquín até 2009, quando confessou ser filho do narco colombiano mais famoso da história.
Juan Pablo tem hoje 40 anos. Seu testemunho está detalhado no livro Pablo Escobar In Franganti(“Pablo Escobar em Flagrante”), onde diz, entre outras coisas, que “a CIA comprava os controles para que a droga entrasse em seu país, e assim obter um maravilhoso negócio”. Ele sustenta que a rota denominada “El Tren” (“o trem”) era tão segura que a droga era levada abertamente nas maletas dos narcotraficantes.
O dinheiro obtido desta operação, que durou três anos, foi utilizado pela CIA, a central de inteligência dos Estados Unidos, para financiar “a luta contra o comunismo na América Central”, numa trama que envolvia o então chefe da agência, George Bush pai. O filho de Escobar afirma que seu pai “foi apenas mais uma engrenagem dentro do grande negócio do narcotráfico universal. Quando já não servia, foi assassinado”.
Por isso, ele ressalta que “apesar de os narcotraficantes latino-americanos parecerem riquíssimos, eram na verdade os mais pobres e os menos poderosos na cadeia de narcotráfico, pois se ganham um milhão é porque os norte-americanos envolvidos levaram quatro involucrados, e ainda mantiveram o direito da queima de arquivos. Assim funciona a equação, e esse dinheiro nunca fica na América Latina, ele ajuda a irrigar o sistema financeiro estadunidense”.
O establishment colombo-estadunidense quis transformar Pablo Escobar em um mito. “O patrão do mal” foi uma telenovela colombiana produzida pelo canal Caracol Televisión entre 2009 e 2012, baseada em alguns momentos da vida do narcotraficante e mesclada com cenas e relatos fictícios. Obviamente, nada se disse sobre sua colaboração com a inteligência estadunidense.
Esta revelação, por outro lado, coincide com fatos comprovado, nos quais a CIA, junto a DEA, a agência antinarcóticos dos Estados Unidos, montaram uma complexa estrutura de tráfico de armas ao Irã e venda de drogas aos bairros pobres de Nova Orleans, para financiar a contrainsurgência nicaraguense durante os Anos 80. Todas estas operações foram dirigidas por Bush pai, para driblar a restrição imposta ao governo de Reagan para financiar a guerra contra o governo sandinista da Nicarágua.
Irã-Contras, Noriega…
O escândalo Irã-Contras, também conhecido como Irangate, veio à luz entre 1985 e 1986, e mostrou o governo dos Estados Unidos, sob a administração do presidente Ronald Reagan, vendendo armas ao governo iraniano quando este se encontrava imerso na guerra Irã-Iraque, e financiou o movimento conhecido como as “contras” nicaraguenses (milícias de contrarrevolução, criados, armados e financiados pelos Estados Unidos para atacar o governo sandinista da Nicarágua). Ambas as operações, a venta de armas e o financiamento das “contras”, estavam proibidas pelo Senado estadunidense.
A operação de venda de armas ao Irã produziu mais de 47 milhões de dólares em troca da libertação de reféns estadunidenses, dinheiro que foi gestado pelo oficial de inteligência Oliver North, tenente-coronel dos Marines, através de um emaranhado de contas bancárias na Suíça, e foi utilizado principalmente para o financiamento da agressão ao governo da Nicarágua e apoio às “contras” promovidos por e desde os Estados Unidos. No dia 3 de novembro de 1986, a revista mensal libanesa Ash Shiraa revelou esta história da venda ultrassecreta.
O escândalo respingou não só em Reagan e Bush pai, como também em Robert McFarlane e John Poindexter, diretores do Conselho Nacional de Segurança. McFarlane, North e Poindexter foram condenados, mas os dois últimos conseguiram um acordo de imunidade por seu testemunho.
Em 1989, três anos depois de descoberto o escândalo, os Estados Unidos invadiu militarmente o Panamá, provocando milhares de mortes tanto civis como militares, e causando o desmantelamento das forças militares panamenhas, o caos econômico e social no país e a posterior rendição e detenção do general Manuel Noriega. Em 1992, o ex-ditador foi julgado nos Estados Unidos e condenado a 40 anos de reclusão, sob a acusação de estar relacionado com o cartel de Medelim. A pena se rebaixou posteriormente a 30 anos, e logo a 20, por “bom comportamento”.
O advogado de Noriega, Frank Rubino, jogou para baixo do tapete vários aspectos que nunca foram investigados nos Estados Unidos: a condição do general Noriega como prisioneiro de guerra, a invasão do Panamá, o fato de que o general foi preso e levado do seu país, questões como a imunidade do mandatário de um país, entre outras polêmicas silenciadas.
“O mais terrível é que este vil personagem era, na verdade uma cria dos Estados Unidos”, comentou o jornal The Washington Post, em matéria onde diz que Noriega foi apoiado pela Casa Branca e trabalhou durante vários anos para os serviços de informação estadunidenses, incluindo a época em que Bush dirigiu a CIA. “Um homem que figurou nas listas de pagamento estadunidenses, ainda que somente uma vez, constitui uma vergonha grande para os Estados Unidos”, definiu o periódico.
Se soube por fontes não oficiais que o custo do juízo ao ex-general panamenho havia oscilado entre 10 e 250 milhões de dólares, dependendo se a conta incluía ou não o custo da invasão estadunidense ao Panamá, que levou à detenção do ditador. Claro, o que não se inclui é o chamado “custo colateral”, o genocídio de milhares de panamenhos.
Cabe recordar, ainda assim, que Gary Webb, o jornalista estadunidense assassinado com dois tiros na cabeça, desmascarou as obscuras maquinações da CIA no mundo da droga, e revelou como bairros negros de Los Angeles foram inundados de crack, com um incrível cinismo, em meio de um tráfico destinado a abastecer as “contras” nicaraguenses de dinheiro e armas.
Suas revelações foram publicadas por todos os diários da cadeia Knight-Ridder. Todos… exceto o Miami Herald, o diário vinculado à máfia narcoterrorista cubano-americana. A morte do jornalista provocou uma ação de contra informação na imprensa comercial estadunidense, que publicou longas reportagens atacando suspeitosamente várias partes de sua investigação.
“Mi sangre”, agente da DEA
No tempo em que Escobar trabalhava para/com a DEA, um de seus principais colaboradores no governo regional de Envigado trabalhava como agente encoberto do Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos, que respondia à DEA e à ICE, a polícia de imigração e aduanas, de acordo com um dos documentos oficiais do governo estadunidense revelados pelo investigador Mauro Federico, no diário argentino Ámbito Financiero.
Em novembro de 2008, o colombiano Henry de Jesús López Londoño fez um acordo com um emissário do governo norte-americano para se infiltrar nas organizações narcos e em grupos de ex-paramilitares colombianos que lavavam dinheiro proveniente do tráfico de drogas e outras atividades ilícitas, através de uma rede de empresas com contatos nos Estados Unidos. Seu primeiro grande trabalho, em meados de 2009, foi o de infiltrar a campanha presidencial de quem havia sido ministro de Defesa do narcopresidente Álvaro Uribe, e aspirava sucedê-lo: Juan Manuel Santos.
“Se os ianques querem que Chucky (Santos) seja presidente é porque pode garantir a continuidade das políticas de Uribe e não há nada nem ninguém que possa impedi-lo”, disse a López Londoño um velho amigo do Partido Liberal colombiano.
Durante o segundo semestre de 2009, Henry “Mi Sangre” López Londoño trasladou parte de suas operações à faixa costeira sobre o mar do Caribe, onde operavam várias células de uma organização paramilitar insurgente que preocupava as autoridades por sua ferocidade. López Londoño reportou várias de suas atividades e contatos, desde sua condição de informante secreto das agências federais estadunidenses, com as quais também se envolvi o presidente Uribe.
Em dezembro de 2009, Uribe declarou publicamente a López Londoño culpado pelos delitos de extorsão e formação de quadrilha, e pediu publicamente por sua captura. Essa ordem gerou um curto circuito entre os agentes da DEA que operavam na Colômbia, e também nos da ICE, que sabiam do trabalho de seu agente duplo. A pedido da ICE, em maio de 2011, “Mi Sangre” se mudou para a Venezuela
A história parece inspirada numa novela de John Le Carré. Mas não é ficção. Tanto Pablo Escobar, o megatraficante de drogas e chefe paramilitar colombiano, como seu testa de ferro Henry de Jesús López Londoño, mais conhecido como “Mi Sangre” (“meu sangue”), trabalharam para agências de inteligência dos Estados Unidos e realizaram trabalhos encobertos para eles.
Essas revelações não deveriam estranhar tanto, já que a primeira foi confirmada pelo próprio filho de Escobar, e o caso de Henry foi desvendado em seu processo judicial nos Estados Unidos, após sua extradição, no ano passado, desde a Argentina. Ficaram para trás as turbulentas acusações do caso Irã-Contras e do processo ao ex-homem forte do Panamá, Manuel Noriega. A realidade sempre supera qualquer ficção, sobretudo se está envolvida a “inteligência” estadunidense.
No caso de Pablo Escobar, a operação encoberta se tratou de uma rota de narcotráfico à Miami na qual foram enviados 800 quilos de cocaína por semana com o respaldo da CIA e da DEA, de acordo com o relato do filho do falecido narcotraficante, Juan Pablo Escobar, que viveu sob o pseudônimo de Juan Sebastián Marroquín até 2009, quando confessou ser filho do narco colombiano mais famoso da história.
Juan Pablo tem hoje 40 anos. Seu testemunho está detalhado no livro Pablo Escobar In Franganti(“Pablo Escobar em Flagrante”), onde diz, entre outras coisas, que “a CIA comprava os controles para que a droga entrasse em seu país, e assim obter um maravilhoso negócio”. Ele sustenta que a rota denominada “El Tren” (“o trem”) era tão segura que a droga era levada abertamente nas maletas dos narcotraficantes.
O dinheiro obtido desta operação, que durou três anos, foi utilizado pela CIA, a central de inteligência dos Estados Unidos, para financiar “a luta contra o comunismo na América Central”, numa trama que envolvia o então chefe da agência, George Bush pai. O filho de Escobar afirma que seu pai “foi apenas mais uma engrenagem dentro do grande negócio do narcotráfico universal. Quando já não servia, foi assassinado”.
Por isso, ele ressalta que “apesar de os narcotraficantes latino-americanos parecerem riquíssimos, eram na verdade os mais pobres e os menos poderosos na cadeia de narcotráfico, pois se ganham um milhão é porque os norte-americanos envolvidos levaram quatro involucrados, e ainda mantiveram o direito da queima de arquivos. Assim funciona a equação, e esse dinheiro nunca fica na América Latina, ele ajuda a irrigar o sistema financeiro estadunidense”.
O establishment colombo-estadunidense quis transformar Pablo Escobar em um mito. “O patrão do mal” foi uma telenovela colombiana produzida pelo canal Caracol Televisión entre 2009 e 2012, baseada em alguns momentos da vida do narcotraficante e mesclada com cenas e relatos fictícios. Obviamente, nada se disse sobre sua colaboração com a inteligência estadunidense.
Esta revelação, por outro lado, coincide com fatos comprovado, nos quais a CIA, junto a DEA, a agência antinarcóticos dos Estados Unidos, montaram uma complexa estrutura de tráfico de armas ao Irã e venda de drogas aos bairros pobres de Nova Orleans, para financiar a contrainsurgência nicaraguense durante os Anos 80. Todas estas operações foram dirigidas por Bush pai, para driblar a restrição imposta ao governo de Reagan para financiar a guerra contra o governo sandinista da Nicarágua.
Irã-Contras, Noriega…
O escândalo Irã-Contras, também conhecido como Irangate, veio à luz entre 1985 e 1986, e mostrou o governo dos Estados Unidos, sob a administração do presidente Ronald Reagan, vendendo armas ao governo iraniano quando este se encontrava imerso na guerra Irã-Iraque, e financiou o movimento conhecido como as “contras” nicaraguenses (milícias de contrarrevolução, criados, armados e financiados pelos Estados Unidos para atacar o governo sandinista da Nicarágua). Ambas as operações, a venta de armas e o financiamento das “contras”, estavam proibidas pelo Senado estadunidense.
A operação de venda de armas ao Irã produziu mais de 47 milhões de dólares em troca da libertação de reféns estadunidenses, dinheiro que foi gestado pelo oficial de inteligência Oliver North, tenente-coronel dos Marines, através de um emaranhado de contas bancárias na Suíça, e foi utilizado principalmente para o financiamento da agressão ao governo da Nicarágua e apoio às “contras” promovidos por e desde os Estados Unidos. No dia 3 de novembro de 1986, a revista mensal libanesa Ash Shiraa revelou esta história da venda ultrassecreta.
O escândalo respingou não só em Reagan e Bush pai, como também em Robert McFarlane e John Poindexter, diretores do Conselho Nacional de Segurança. McFarlane, North e Poindexter foram condenados, mas os dois últimos conseguiram um acordo de imunidade por seu testemunho.
Em 1989, três anos depois de descoberto o escândalo, os Estados Unidos invadiu militarmente o Panamá, provocando milhares de mortes tanto civis como militares, e causando o desmantelamento das forças militares panamenhas, o caos econômico e social no país e a posterior rendição e detenção do general Manuel Noriega. Em 1992, o ex-ditador foi julgado nos Estados Unidos e condenado a 40 anos de reclusão, sob a acusação de estar relacionado com o cartel de Medelim. A pena se rebaixou posteriormente a 30 anos, e logo a 20, por “bom comportamento”.
O advogado de Noriega, Frank Rubino, jogou para baixo do tapete vários aspectos que nunca foram investigados nos Estados Unidos: a condição do general Noriega como prisioneiro de guerra, a invasão do Panamá, o fato de que o general foi preso e levado do seu país, questões como a imunidade do mandatário de um país, entre outras polêmicas silenciadas.
“O mais terrível é que este vil personagem era, na verdade uma cria dos Estados Unidos”, comentou o jornal The Washington Post, em matéria onde diz que Noriega foi apoiado pela Casa Branca e trabalhou durante vários anos para os serviços de informação estadunidenses, incluindo a época em que Bush dirigiu a CIA. “Um homem que figurou nas listas de pagamento estadunidenses, ainda que somente uma vez, constitui uma vergonha grande para os Estados Unidos”, definiu o periódico.
Se soube por fontes não oficiais que o custo do juízo ao ex-general panamenho havia oscilado entre 10 e 250 milhões de dólares, dependendo se a conta incluía ou não o custo da invasão estadunidense ao Panamá, que levou à detenção do ditador. Claro, o que não se inclui é o chamado “custo colateral”, o genocídio de milhares de panamenhos.
Cabe recordar, ainda assim, que Gary Webb, o jornalista estadunidense assassinado com dois tiros na cabeça, desmascarou as obscuras maquinações da CIA no mundo da droga, e revelou como bairros negros de Los Angeles foram inundados de crack, com um incrível cinismo, em meio de um tráfico destinado a abastecer as “contras” nicaraguenses de dinheiro e armas.
Suas revelações foram publicadas por todos os diários da cadeia Knight-Ridder. Todos… exceto o Miami Herald, o diário vinculado à máfia narcoterrorista cubano-americana. A morte do jornalista provocou uma ação de contra informação na imprensa comercial estadunidense, que publicou longas reportagens atacando suspeitosamente várias partes de sua investigação.
“Mi sangre”, agente da DEA
No tempo em que Escobar trabalhava para/com a DEA, um de seus principais colaboradores no governo regional de Envigado trabalhava como agente encoberto do Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos, que respondia à DEA e à ICE, a polícia de imigração e aduanas, de acordo com um dos documentos oficiais do governo estadunidense revelados pelo investigador Mauro Federico, no diário argentino Ámbito Financiero.
Em novembro de 2008, o colombiano Henry de Jesús López Londoño fez um acordo com um emissário do governo norte-americano para se infiltrar nas organizações narcos e em grupos de ex-paramilitares colombianos que lavavam dinheiro proveniente do tráfico de drogas e outras atividades ilícitas, através de uma rede de empresas com contatos nos Estados Unidos. Seu primeiro grande trabalho, em meados de 2009, foi o de infiltrar a campanha presidencial de quem havia sido ministro de Defesa do narcopresidente Álvaro Uribe, e aspirava sucedê-lo: Juan Manuel Santos.
“Se os ianques querem que Chucky (Santos) seja presidente é porque pode garantir a continuidade das políticas de Uribe e não há nada nem ninguém que possa impedi-lo”, disse a López Londoño um velho amigo do Partido Liberal colombiano.
Durante o segundo semestre de 2009, Henry “Mi Sangre” López Londoño trasladou parte de suas operações à faixa costeira sobre o mar do Caribe, onde operavam várias células de uma organização paramilitar insurgente que preocupava as autoridades por sua ferocidade. López Londoño reportou várias de suas atividades e contatos, desde sua condição de informante secreto das agências federais estadunidenses, com as quais também se envolvi o presidente Uribe.
Em dezembro de 2009, Uribe declarou publicamente a López Londoño culpado pelos delitos de extorsão e formação de quadrilha, e pediu publicamente por sua captura. Essa ordem gerou um curto circuito entre os agentes da DEA que operavam na Colômbia, e também nos da ICE, que sabiam do trabalho de seu agente duplo. A pedido da ICE, em maio de 2011, “Mi Sangre” se mudou para a Venezuela
Toda a informação detalhada nas notas jornalísticas se desprende da análise de dezenas de intercâmbios de emails e mensagens de texto entre López Londoño (ou seus advogados) e ao menos cinco funcionários de diferentes agências e dependências públicas do governo norte-americano, com datas entre 2008 e 2015. Entre esses funcionários estava Roberto Luna (do Departamento do Tesouro), Stephen Monks e Franck Burrola (agentes especiais da ICE), Jorge Rodríguez e Alex Navarro (agentes da DEA em Bogotá) e Sergio Adame (codinome “Pé Grande”, supervisor de ambas as agências).
Mesmo estando preso na penitenciária argentina de Ezeiza, López Londoño recebeu, em fevereiro de 2015, a visita do promotor norteamericano Michael Nadler, acompanhado por agentes da DEA, que o interrogaram sobre os diferentes objetivos aos quais López Londoño devia se infiltrar na Argentina.
“Entreguei informação de inteligência sobre a estrutura das organizações, instalações de produção de cocaína, rotas de narcotráfico, atividades de lavagem de dinheiro e a identidade de altos funcionários envolvidos em corrupção política na Colômbia, Venezuela e Argentina”.
Após a morte de Escobar, Henry também integrou o grupo paramilitar denominado Autodefesas Unidas da Colômbia, dedicado à guerra suja contra as guerrilhas colombianas, e obviamente ao narcotráfico. Quando estes se desmobilizaram e deixaram de apoiar o governo de Álvaro Uribe, em 2006, ele passou a operar como integrante de outro exército paramilitar, conhecido como Los Urabeños, com presença na Colômbia e na Venezuela.
Em todo esse tempo, seu trabalho esteve relacionado às operações de narcotráfico e de infiltração, tal como fez na equipe de campanha do presidente Juan Manuel Santos, para conhecer sua visão sobre a política interna da Colômbia.
Logo, encomendaram a Henry a tarefa de se infiltrar no governo de Hugo Chávez para investigar, supostamente, “o acionar de um cartel da Rússia no país” – embora as revelações obtidas pelo jornalista Mauro Federico não precisam seus objetivos específicos. Tudo isto se sabe porque este narcotraficante foi extraditado pelo governo argentino aos Estados Unidos. Quando os tribunais do país latino acataram a ordem da justiça estadunidense, seus advogados pediram a desclassificação dos documentos que o envolvem ao Departamento de Segurança Nacional, para solicitar sua libertação.
Dias atrás, em sua cela no Centro de Detenção Federal de Miami, enquanto aguarda uma resolução sobre seu caso, López Londoño recebeu a confirmação oficial de um segredo que soube guardar sob sete chaves: a Homeland Security International (HSI-ICE), ligada ao Departamento de Segurança Nacional e criada após os atentados de 11 de setembro de 2001, que concentra seu acionar na investigação das pessoas, do dinheiro e dos materiais que prestam apoio ao “terrorismo” e outras atividades criminais, como o contrabando de narcóticos, armas, e comércio de seres humanos, além de outros tipos de delitos financeiros, informáticos e de exportação, é uma das agências para a qual ele trabalhou de forma oculta, aponta a reportagem.
Os documentos apresentados pela defesa do colombiano, até agora secretos, confirmam que López Londoño trabalhou formalmente para ICE e para a DEA, na qualidade de informante secreto, efetuando missões de infiltração entre as organizações paramilitares, para descobrir operações de lavagem de dinheiro, tráfico de armas e drogas na Colômbia.
“Henry entregou informação privilegiada sobre as organizações, plantas de produção, rotas de narcotráfico e embarques de cocaína, e essa informação levou a pelo menos duas grandes operações antidrogas bem sucedidas por parte dos Estados Unidos”, alegou o advogado Daniel Fedel, em entrevista ao jornal argentino Ámbito Financiero. Essas palavras foram validadas por vários documentos desclassificados a pedido da defensa, e que foram apresentados ao tribunal onde deve se decidir o destino do colombiano.
Ali consta que os agentes estadunidenses o chamavam por seu nome codificado: Assis. Num escrito que continha a assinatura do promotor de Miami, Wilfredo Ferrer, se afirma que “o governo reconhece que o acusado era uma fonte confidencial registrada para a ICE e que colaborou em várias investigações. Entretanto, Ferrer não admite algo que os defensores de Henry dizem ter provado: que seu cliente também trabalhou para a DEA.
E para prová-lo, eles apresentaram a transcrição de chats entre Henry de Jesús López Londoño e um agente especial, onde o colombiano recebe detalhes da missão encomendada pelo organismo, além das felicitações pelo trabalho desempenhado, que incluiu informes detalhados sobre líderes e hierarquias, rotas, localização de laboratórios e atividades para lavar dinheiro.
Tudo isso demonstra que estas revelações provam a complexa convivência entre as agências de segurança nacional dos Estados Unidos e o narcotráfico internacional, um matrimônio que, sem dúvidas, serve para financiar operações encobertas e de guerra suja a escala regional e global. E também confirma que, depois de tudo, tanto a CIA quanto a DEA são ao menos controladores dos grandes cartéis de drogas e do terrorismo global.
Nada mais distante do virtual: esta é a realidade real.
* Álvaro Verzi Rangel é sociólogo venezuelano, investigador do Observatório de Comunicação e Democracia, associado ao Centro Latino-americano de Análise Estratégica (CLAE). Tradução de Victor Farinelli.
Mesmo estando preso na penitenciária argentina de Ezeiza, López Londoño recebeu, em fevereiro de 2015, a visita do promotor norteamericano Michael Nadler, acompanhado por agentes da DEA, que o interrogaram sobre os diferentes objetivos aos quais López Londoño devia se infiltrar na Argentina.
“Entreguei informação de inteligência sobre a estrutura das organizações, instalações de produção de cocaína, rotas de narcotráfico, atividades de lavagem de dinheiro e a identidade de altos funcionários envolvidos em corrupção política na Colômbia, Venezuela e Argentina”.
Após a morte de Escobar, Henry também integrou o grupo paramilitar denominado Autodefesas Unidas da Colômbia, dedicado à guerra suja contra as guerrilhas colombianas, e obviamente ao narcotráfico. Quando estes se desmobilizaram e deixaram de apoiar o governo de Álvaro Uribe, em 2006, ele passou a operar como integrante de outro exército paramilitar, conhecido como Los Urabeños, com presença na Colômbia e na Venezuela.
Em todo esse tempo, seu trabalho esteve relacionado às operações de narcotráfico e de infiltração, tal como fez na equipe de campanha do presidente Juan Manuel Santos, para conhecer sua visão sobre a política interna da Colômbia.
Logo, encomendaram a Henry a tarefa de se infiltrar no governo de Hugo Chávez para investigar, supostamente, “o acionar de um cartel da Rússia no país” – embora as revelações obtidas pelo jornalista Mauro Federico não precisam seus objetivos específicos. Tudo isto se sabe porque este narcotraficante foi extraditado pelo governo argentino aos Estados Unidos. Quando os tribunais do país latino acataram a ordem da justiça estadunidense, seus advogados pediram a desclassificação dos documentos que o envolvem ao Departamento de Segurança Nacional, para solicitar sua libertação.
Dias atrás, em sua cela no Centro de Detenção Federal de Miami, enquanto aguarda uma resolução sobre seu caso, López Londoño recebeu a confirmação oficial de um segredo que soube guardar sob sete chaves: a Homeland Security International (HSI-ICE), ligada ao Departamento de Segurança Nacional e criada após os atentados de 11 de setembro de 2001, que concentra seu acionar na investigação das pessoas, do dinheiro e dos materiais que prestam apoio ao “terrorismo” e outras atividades criminais, como o contrabando de narcóticos, armas, e comércio de seres humanos, além de outros tipos de delitos financeiros, informáticos e de exportação, é uma das agências para a qual ele trabalhou de forma oculta, aponta a reportagem.
Os documentos apresentados pela defesa do colombiano, até agora secretos, confirmam que López Londoño trabalhou formalmente para ICE e para a DEA, na qualidade de informante secreto, efetuando missões de infiltração entre as organizações paramilitares, para descobrir operações de lavagem de dinheiro, tráfico de armas e drogas na Colômbia.
“Henry entregou informação privilegiada sobre as organizações, plantas de produção, rotas de narcotráfico e embarques de cocaína, e essa informação levou a pelo menos duas grandes operações antidrogas bem sucedidas por parte dos Estados Unidos”, alegou o advogado Daniel Fedel, em entrevista ao jornal argentino Ámbito Financiero. Essas palavras foram validadas por vários documentos desclassificados a pedido da defensa, e que foram apresentados ao tribunal onde deve se decidir o destino do colombiano.
Ali consta que os agentes estadunidenses o chamavam por seu nome codificado: Assis. Num escrito que continha a assinatura do promotor de Miami, Wilfredo Ferrer, se afirma que “o governo reconhece que o acusado era uma fonte confidencial registrada para a ICE e que colaborou em várias investigações. Entretanto, Ferrer não admite algo que os defensores de Henry dizem ter provado: que seu cliente também trabalhou para a DEA.
E para prová-lo, eles apresentaram a transcrição de chats entre Henry de Jesús López Londoño e um agente especial, onde o colombiano recebe detalhes da missão encomendada pelo organismo, além das felicitações pelo trabalho desempenhado, que incluiu informes detalhados sobre líderes e hierarquias, rotas, localização de laboratórios e atividades para lavar dinheiro.
Tudo isso demonstra que estas revelações provam a complexa convivência entre as agências de segurança nacional dos Estados Unidos e o narcotráfico internacional, um matrimônio que, sem dúvidas, serve para financiar operações encobertas e de guerra suja a escala regional e global. E também confirma que, depois de tudo, tanto a CIA quanto a DEA são ao menos controladores dos grandes cartéis de drogas e do terrorismo global.
Nada mais distante do virtual: esta é a realidade real.
* Álvaro Verzi Rangel é sociólogo venezuelano, investigador do Observatório de Comunicação e Democracia, associado ao Centro Latino-americano de Análise Estratégica (CLAE). Tradução de Victor Farinelli.
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