quarta-feira, 8 de março de 2017

Queda do PIB expõe falácias do golpe

Por Joana Rozowykwiat, no site Vermelho:

O IBGE anunciou que a economia brasileira recuou 3,6% em 2016, confirmado a maior recessão do país. Os números mostram uma piora no ritmo de queda da atividade nos dois últimos trimestres, marcados pela chegada de Michel Temer ao poder. Para Flávio Tonelli Vaz, assessor técnico da Câmara dos Deputados, especialista em orçamento e políticas públicas, o resultado reflete tanto a falácia de que o impeachment seria solução para a crise quanto a incapacidade de Temer de retomar o crescimento.

O resultado do PIB [Produto Interno Bruto] de 2016 é a pior notícia para o governo até a [delação da] Odebrecht sair. Porque, sob todos os aspectos que você olha, ele aponta não só a falácia do ‘tira a Dilma que a gente resolve a economia’, como a incapacidade do governo de olhar para a economia, para a produção e a circulação de bens e serviços”, disse, em entrevista ao Vermelho.

Em uma tentativa de se esquivar da responsabilidade sobre os péssimos números, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou nesta terça-feira (7), que o resultado negativo é fruto de políticas adotadas nos últimos dois anos.

Na avaliação de Tonelli Vaz, ao contrário do discurso do governo, o PIB de 2016 não deve ser entendido como reflexo do governo Dilma Rousseff e, sim, como resultado da crise articulada pela oposição à presidenta eleita, que paralisou o país e levou ao afastamento da petista. O espelho de um processo de boicote e desestabilização, que findou por afundar a economia.

“Esse é o PIB do golpe. O golpe não se deu só com o impeachment. O golpe começa com toda a articulação econômica, com apoio da mídia, para produzir a crise política. Esse é o PIB da crise, não da Dilma”, disse.

De acordo com ele, os números refletem também o desmonte das medidas que conseguiam diminuir os efeitos da crise internacional no Brasil. “A crise internacional sempre existiu, mas havia antes um conjunto de medidas que minimizavam a internalização desses efeitos, e isso foi sendo desconstruído”, lamentou, citando como exemplo a diminuição do crédito, da renda das famílias e do emprego, instrumentos importantes para enfrentar a recessão.

O assessor técnico da Câmara defende que a estratégia de enfrentamento à crise adotada entre 2008 e 2014 significou resultados positivos para o Brasil. “Quando Lula disse que a crise ia ser um marolinha, muita gente achou que ele era louco. Mas ele fez com que a crise aqui de fato virasse uma marolinha. O Brasil cresceu de 2008 a 2014 - perdendo apenas para Índia e China -, foi um dos poucos que reduziu o desemprego e um dos que menos fez crescer o endividamento público”, destacou.

Em 2016, a situação foi bem outra. Trata-se da primeira vez, desde 1996, que houve retração generalizada em todos os setores – agropecuária, indústria e serviços. E, se houve resultados negativos durante os quatro trimestres do ano passado, a verdade é que eles foram piores nos dois últimos, já sob a gestão Temer.





Segundo os dados do IBGE, a baixa do PIB no primeiro e no segundo trimestres de 2016, quando Dilma ainda ocupava a Presidência, foi de 0,6% e 0,3%, respectivamente. Depois de assumiu provisoriamente o governo em maio, Temer foi efetivado como presidente em agosto. Segundo o IBGE, houve queda de 0,7% do PIB no terceiro trimestre de 2016 e de 0,9% no quarto.

“Se pegarmos o quarto trimestre, que é todo já com Temer, o PIB desse período, na série de preços com ajustes, é o pior quarto trimestre desde 1999, que é um ano de crise. Isso é algo surpreendentemente ruim”, ressaltou Tonelli Vaz.

Segundo ele, os dados do IBGE ajudam a revelar uma realidade desoladora. “O consumo das famílias, por exemplo, está caindo há oito trimestres consecutivos. E o consumo das famílias reflete o desemprego, a queda da renda, a falta de perspectivas. Quando você junta com o dado de que, no ano passado, você perdeu 1,320 milhão de empregos com carteira assinada, isso é um número fantástico. Nos últimos dois anos, perdemos quase 3 milhões de postos de trabalho com carteira de trabalho”, enumerou.

Os números divulgados nesta terça também escancaram a falta de projetos, por parte do governo, que possam melhorar a situação, especialmente em relação ao emprego, analisou Tonelli Vaz. “Ao invés de apontar soluções para isso, [o governo] aponta uma reforma trabalhista que é um desastre, aumenta a precarização, a terceirização, o trabalho temporário. O que vem pela a frente não é um Brasil melhor”, previu.

A retração de todos os setores foi puxada pela queda no consumo das famílias, mas principalmente pela redução dos investimentos das empresas. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimento, registrou contração de 10,2%. “Então a ideia de que estamos recuperando as expectativas não é verdade”, afirmou o assessor da Câmara.

“É muito fácil convencer as empresas a tirarem o pé do acelerador, que foi o que eles fizeram desde o segundo semestre de 2014, para dizer a verdade. Mas convencer alguém a ser o primeiro a acelerar é um pouco mais difícil. O desconstruir sempre foi mais fácil que o construir”, ponderou.

Embora haja poucos sinais de melhora no cenário, o ministro Henrique Meirelles defendeu, nesta terça, que haverá crescimento em 2017. Para Tonelli, contudo, há uma grande diferença entre não ter resultados negativos – depois de tanto tempo de queda no PIB – e recuperar de fato a economia.

“É claro que o governo pode conseguir zerar o PIB, não ter resultados negativos, porque a base de comparação está tão baixa. Depois que você cai por oito trimestres seguidos, quando para de cair, vai ter quem diga que é algo positivo. Mas, mesmo que o PIB pare de cair, o emprego não se recupera assim”, disse.

A expectativa de crescimento para 2017 é hoje de 0,4%. Tonelli crê em um número ainda menor. “As expectativas continuam muito ruins, pela falta de ação do governo em favor do crescimento”, opinou.

Com a alta capacidade ociosa das empresas, seria preciso crescer mais que o previsto para recuperar as vagas fechadas. “Eu consigo aumentar um pouquinho a produção com os mesmos empregados que eu tenho hoje. Então, mesmo que o PIB deixe de ser esse desastre de 2016, para reverter o desemprego que temos hoje, teria que ter um crescimento um pouco maior do que está sendo anunciado pelas estimativas”, encerrou.

0 comentários: