quarta-feira, 8 de março de 2017

O desemprego é maior entre as mulheres


A taxa de desemprego na região metropolitana de São Paulo subiu em 2016 pelo terceiro ano seguido, com mais intensidade no caso das mulheres, segundo pesquisa da Fundação Seade e do Dieese. No ano passado, a taxa foi para 18,3%, a maior desde 2007, enquanto a dos homens ficou em 15,5%, a mais elevada desde 2005. O rendimento caiu em ambos os casos, fazendo com que a diferença praticamente não se alterasse: elas ganham o equivalente a 84,1% do recebido por eles. Enquanto o período de crescimento econômico ajudou a inserir mulheres no mercado de trabalho, o momento de crise atinge em especial os setores mais vulneráveis, que elas integram, ao lado de jovens e negros.

A procura por emprego ficou mais demorada, segundo a pesquisa: o tempo médio subiu de 28 para 37 semanas, entre as mulheres, e de 27 para 36 semanas no caso dos homens. "A elevação da taxa de desemprego veio acompanhada de um prolongamento do tempo de procura, refletindo a associação entre o maior número de pessoas desempregadas e o menor número de ocupações disponíveis, o que leva ao acirramento na disputa por uma vaga", afirmam os técnicos. Em 2016, a ocupação caiu 3,8% para as mulheres (menos 167 mil postos de trabalho) e 4,2% para os homens (menos 217 mil).

Segundo o estudo, o crescimento econômico de meados dos anos 2000 até 2011, principalmente, fez aumentar o número de vagas e reduzir o desemprego, favorecendo particularmente as mulheres. "De qualquer modo, a participação feminina no mercado de trabalho também reflete as transformações nas relações familiares, em que o modelo baseado no chefe masculino provedor vem se alterando com a criação de novas dinâmicas nas relações entre os membros da família e o mundo do trabalho", dizem Seade e Dieese. "Além disso, deve-se considerar a capacitação das mulheres para esse mercado, cujo nível de escolaridade, maior que o da média masculina, ainda vem se ampliando."

A mão de obra feminina está concentrada nos serviços: do total de ocupadas, 71,7% estão nesse setor, ante 49,1% dos homens. Ainda nos serviços, elas se distribuem em áreas como administração pública, saúde e educação (22,2%) e trabalho doméstico (14,1%). Entre outras atividades, 16,1% das mulheres estão no comércio/reparação de veículos (19% dos homens) e 10,8% na indústria de transformação (18,4%).

Das mulheres ocupadas no setor de serviços, 58,4% têm curso superior, enquanto os homens são 41,6%. O ramo que inclui atividades financeiras e científicas foi o único a registrar alta dos rendimentos reais (3,7%) para as mulheres – é onde estão empresas "de maior intensidade tecnológica e trabalhador com nível superior de escolaridade". A diferença, nesse caso, apontam os pesquisadores, "deve ser buscada na maior presença de homens em cargos de chefia".

A pesquisa mostra ainda redução em ocupações mais protegidas legalmente. Caiu 5,1% a ocupação entre assalariadas com carteira assinada e 4,7% no setor público. Assim, a proporção de mulheres registradas no setor privado em relação ao total de ocupados caiu de 51,7%, em 2015, para 51% no ano passado, enquanto no mesmo período aumentou a participação de empregadas domésticas, de 13,1% para 14,1% – com redução entre diaristas e queda no caso das mensalistas.

No caso do rendimento, houve queda pelo segundo ano seguido. Com base no ganho médio por hora, a retração foi praticamente igual: -4,8% para as mulheres e -4,9% para os homens. No primeiro caso, o valor em 2016 foi estimado em R$ 12,39 e no segundo, em R$ 13,03. A relação entre o recebido pelas mulheres e pelos homens passou de 84%, no ano anterior, para 84,1%.

Jornada

Em pesquisa divulgada ontem (6), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) informou que as mulheres têm, em média, jornada semanal com 7,5 horas a mais em relação aos homens. Em 2015, a jornada foi de 53,6 horas, ante 46,1 no caso da força de trabalho masculina. Mais de 90% das trabalhadoras declararam realizar atividades domésticas.

"É importante ressaltar que o fato de exercer atividade remunerada não afeta as responsabilidades assumidas pelas mulheres com as atividades domésticas, apesar de reduzir a quantidade de horas dedicadas a elas. As mulheres ocupadas continuam se responsabilizando pelo trabalho doméstico não remunerado, o que leva à chamada dupla jornada", observa uma das autoras do estudo, Natália Fontoura, especialista em políticas públicas e gestão governamental.

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