Ilustração: Marcio Baraldi |
A força que o governo Temer demonstrou ontem ao aprovar a reforma trabalhista no plenário da Câmara foi a revelação de sua fraqueza: se estivesse em pauta a reforma previdenciária, que é uma PEC (proposta de emenda constitucional), o governo não teria tido os 308 votos necessários para aprová-la. Para a trabalhista, que é um projeto de lei, foram 296 votos favoráveis. Mais que a maioria absoluta de 257, mas 12 votos abaixo dos 3/5 que serão necessários para aprovar a PEC 287, a da Previdência. Diante da operação de guerra montada para a votação de ontem, o placar mostrou que Temer não tem votos garantidos para aprovar a reforma previdenciária. Se queria impressionar bem as tais forças do mercado com uma exibição de força, não funcionou.
E como daqui para a frente a reação popular às reformas deve aumentar, a começar pela greve geral de amanhã, será mais difícil tanger os votos da base. Deputados que só pensam na reeleição vão sentir-se ainda mais pressionados a votar contra. Ou pelo menos a mitigar ainda mais a proposta, tirando-lhe a relevância. Segundo pesquisa Vox Populi, 93% dos brasileiros rejeitam esta reforma que, para muitos, transforma a aposentadoria numa miragem.
Somando-se aos 296 votos obtidos pelo governo na votação de ontem aos 177 que votaram contra, temos 473 votos. Isso significa que, dos 513 deputados, 40 não votaram ontem. Neste universo, o governo, com todo seu arsenal de vantagens, poderá perfeitamente capturar os 12 votos que faltaram para o quórum qualificado de que precisará na reforma previdenciária. Mas se estes 40 preferiram não comparecer ontem, apesar de todos os apelos de Temer, é sinal de que estão evitando se comprometer.
Tudo isso, ainda vamos conferir. Ontem o governo ganhou, aprovando a reforma social mais regressiva de todos os tempos. Mas ainda há jogo político pela frente na batalha das reformas. Eduardo Cunha aprovou um projeto de terceirização que o Senado depois engavetou. Lá agora tem Renan Calheiros jogando contra as duas reformas. Com o resultado de ontem, e depois da greve de sexta-feira, o governo vai aumentar a pressão sobre a base aliada. Afinal, se não entregar estas reformas o que será de Temer, que tem como único trunfo a maioria parlamentar?
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