Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Passei a tarde de 28 de abril hoje ouvindo – na TV – depoimentos de cidadãos comuns a repórteres da Globo que ficaram sem transporte em função da greve geral. O tom da cobertura era previsível: pobres cidadãos indefesos que tiveram seu dia arruinado pela paralisação de trabalhadores, a maior de nossa história.
Parece que a culpa pelos transtornos enfrentados pelas pessoas nas rodoviárias e nas estações de trem e do metrô deve ser atribuída ao movimento sindical. Bobagem.
Com um mês de antecedência, as centrais sindicais informaram ao país inteiro que os trabalhadores iriam cruzar os braços no 28 de março. Incluía-se aí, evidentemente, a paralisação dos transportes, ação tradicional em toda paralisação desse porte – na Grécia, na França, ou no Brasil.
Como se não fosse suficiente, nos cinco dias que antecederam a greve geral, uma centena de bispos da Igreja católica publicaram vídeos, na internet, convocando a população a cruzar os braços no dia 28.
O próprio governo federal preparou-se, reforçando o aparato policial. O mesmo fizeram as PMs, na maioria dos estados. Anunciaram esquemas de policiamento, avenidas e regiões liberadas e assim por diante.
O que fez a Globo? Embora bastasse ler os jornais e dar um simples telefonema as partes envolvidas para qualquer estagiário de jornalismo inteirar-se do que acontecia, preferiu fingir que a greve não existia. Retirou o assunto de sua pauta, quando, em nome do interesse público, poderia ter antecipado a situação e alertado os espectadores. Num clássico exercício jornalismo de serviço, poderia sugerir providências para enfrentar aquela emergência. Não precisava apoiar nem divulgar a paralisação. Tinha mesmo o direito de fazer críticas – ainda que estas seriam mais aceitáveis se o Brasil não tivesse uma mídia dominada pelo pensamento único.
Em qualquer caso, bastava não esconder de seu público que – era previsível – o protesto teria grande adesão e era prudente tomar as providências cabíveis. Algo que qualquer emissora de TV, em qualquer país do mundo, aprendeu a fazer décadas atrás. Pauta banal do tele-jornalismo norte-americano quando um furacão se anuncia.
No caso brasileiro, há uma questão de fundo aí. Reconhecer os direitos dos trabalhadores implica, numa sociedade como a nossa, em aceitar os direitos de uma classe diferente da camada dominante. Implica em admitir que essas pessoas podem valer-se dos poucos instrumentos de pressão de que dispõem - como cruzar os braços - para serem ouvidas.
Passei a tarde de 28 de abril hoje ouvindo – na TV – depoimentos de cidadãos comuns a repórteres da Globo que ficaram sem transporte em função da greve geral. O tom da cobertura era previsível: pobres cidadãos indefesos que tiveram seu dia arruinado pela paralisação de trabalhadores, a maior de nossa história.
Parece que a culpa pelos transtornos enfrentados pelas pessoas nas rodoviárias e nas estações de trem e do metrô deve ser atribuída ao movimento sindical. Bobagem.
Com um mês de antecedência, as centrais sindicais informaram ao país inteiro que os trabalhadores iriam cruzar os braços no 28 de março. Incluía-se aí, evidentemente, a paralisação dos transportes, ação tradicional em toda paralisação desse porte – na Grécia, na França, ou no Brasil.
Como se não fosse suficiente, nos cinco dias que antecederam a greve geral, uma centena de bispos da Igreja católica publicaram vídeos, na internet, convocando a população a cruzar os braços no dia 28.
O próprio governo federal preparou-se, reforçando o aparato policial. O mesmo fizeram as PMs, na maioria dos estados. Anunciaram esquemas de policiamento, avenidas e regiões liberadas e assim por diante.
O que fez a Globo? Embora bastasse ler os jornais e dar um simples telefonema as partes envolvidas para qualquer estagiário de jornalismo inteirar-se do que acontecia, preferiu fingir que a greve não existia. Retirou o assunto de sua pauta, quando, em nome do interesse público, poderia ter antecipado a situação e alertado os espectadores. Num clássico exercício jornalismo de serviço, poderia sugerir providências para enfrentar aquela emergência. Não precisava apoiar nem divulgar a paralisação. Tinha mesmo o direito de fazer críticas – ainda que estas seriam mais aceitáveis se o Brasil não tivesse uma mídia dominada pelo pensamento único.
Em qualquer caso, bastava não esconder de seu público que – era previsível – o protesto teria grande adesão e era prudente tomar as providências cabíveis. Algo que qualquer emissora de TV, em qualquer país do mundo, aprendeu a fazer décadas atrás. Pauta banal do tele-jornalismo norte-americano quando um furacão se anuncia.
No caso brasileiro, há uma questão de fundo aí. Reconhecer os direitos dos trabalhadores implica, numa sociedade como a nossa, em aceitar os direitos de uma classe diferente da camada dominante. Implica em admitir que essas pessoas podem valer-se dos poucos instrumentos de pressão de que dispõem - como cruzar os braços - para serem ouvidas.
Vamos combinar: empenhado em aprovar um pacote que reduz os direitos dos assalariados a um caso de polícia - como na República Velha - o governo Temer finge dialogar, finge ouvir e finge negociar. No fim das contas, entrega um pacote pronto, igualzinho ao que recebeu de seus patrões. Nessa situação, não há muito que os que os trabalhadores possam fazer no plano da gentileza e do diálogo. Podem abaixar a cabeça ou ir à luta. Foi o que fizeram ontem.
Possivelmente embriagada por um poder de manipulação social que possuía em tempos que felizmente não existem mais, a Globo imaginou que seria possível impedir um fato – a greve – pelo boicote da notícia. Recusou-se a reconhecer os direitos do outro. Reduziu a classe operária a uma não-pessoa, típico exercício de totalitarismo político.
O vexame - cuja origem profunda se encontra no desprezo histórico pela capacidade de luta dos trabalhadores – se comprovou ao longo do dia.
Desprevenidos como cidadãos que não são alertados para sair de casa com capa e guarda-chuva em dia de tempestade, a Globo encontrou pessoas que chegaram desavisadas às estações de trem e metrô. Ofereceu microfones e câmaras sempre abertas para ouvir seus depoimentos, sendo colocados na posição de vítimas de grevistas. Com isso, ajudavam a Globo a cumprir a função política de desgastar as lideranças dos trabalhadores, evitando reconhecer que elas indiscutivelmente expressam um ponto de vista partilhado por uma maioria imensa dos brasileiros.
Ainda que uma greve geral como a de ontem seja um evento particularmente grave na conjuntura de um governo enfraquecido como Temer, é preciso reconhecer que paralisações desse porte são eventos corriqueiros sob regimes democráticos. Ao demonstrar que não aprendeu a conviver com elas, a Globo confirma que pouco aprendeu com a história do país e com seus próprios erros.
Há 37 anos, a emissora boicotava a campanha pelas diretas-já, a maior mobilização popular da historia republicana. Chegou dizer que um comício contra a ditadura, na Praça da Sé, havia sido uma festa pelo aniversário de São Paulo. Agora, culpa a luta de trabalhadores, apoiada por várias forças legítimas da sociedade, inclusive bispos da Igreja católica, pelos efeitos previsíveis de uma opção politicamente errada de seu jornalismo. Se tivesse mesmo preocupada com eventuais dores de cabeça que uma greve geral poderia causar aos brasileiros, o mínimo que poderia ter feito era orientá-los a se preparar para ela em vez de fazer o possível para esconder uma gigantesca mobilização em curso.
O saldo dessa opção política de cobertura é fácil de prever. Alimenta a retórica artificial de que uma greve geral teve pouca adesão, argumento que o Planalto já rascunha no esforço para levar a proposta adiante, em vez de assumir a única atitude decente depois de uma paralisação desse porte, que é retirar o projeto de reforma da Previdência.
Possivelmente embriagada por um poder de manipulação social que possuía em tempos que felizmente não existem mais, a Globo imaginou que seria possível impedir um fato – a greve – pelo boicote da notícia. Recusou-se a reconhecer os direitos do outro. Reduziu a classe operária a uma não-pessoa, típico exercício de totalitarismo político.
O vexame - cuja origem profunda se encontra no desprezo histórico pela capacidade de luta dos trabalhadores – se comprovou ao longo do dia.
Desprevenidos como cidadãos que não são alertados para sair de casa com capa e guarda-chuva em dia de tempestade, a Globo encontrou pessoas que chegaram desavisadas às estações de trem e metrô. Ofereceu microfones e câmaras sempre abertas para ouvir seus depoimentos, sendo colocados na posição de vítimas de grevistas. Com isso, ajudavam a Globo a cumprir a função política de desgastar as lideranças dos trabalhadores, evitando reconhecer que elas indiscutivelmente expressam um ponto de vista partilhado por uma maioria imensa dos brasileiros.
Ainda que uma greve geral como a de ontem seja um evento particularmente grave na conjuntura de um governo enfraquecido como Temer, é preciso reconhecer que paralisações desse porte são eventos corriqueiros sob regimes democráticos. Ao demonstrar que não aprendeu a conviver com elas, a Globo confirma que pouco aprendeu com a história do país e com seus próprios erros.
Há 37 anos, a emissora boicotava a campanha pelas diretas-já, a maior mobilização popular da historia republicana. Chegou dizer que um comício contra a ditadura, na Praça da Sé, havia sido uma festa pelo aniversário de São Paulo. Agora, culpa a luta de trabalhadores, apoiada por várias forças legítimas da sociedade, inclusive bispos da Igreja católica, pelos efeitos previsíveis de uma opção politicamente errada de seu jornalismo. Se tivesse mesmo preocupada com eventuais dores de cabeça que uma greve geral poderia causar aos brasileiros, o mínimo que poderia ter feito era orientá-los a se preparar para ela em vez de fazer o possível para esconder uma gigantesca mobilização em curso.
O saldo dessa opção política de cobertura é fácil de prever. Alimenta a retórica artificial de que uma greve geral teve pouca adesão, argumento que o Planalto já rascunha no esforço para levar a proposta adiante, em vez de assumir a única atitude decente depois de uma paralisação desse porte, que é retirar o projeto de reforma da Previdência.
1 comentários:
Os irmãos metralha Marinho, filhos do mafioso Roberto Marinho, nasceram em berço de ouro, ao contrário da grande maioria do povo brasileiro, tinham condições de sobra para estudarem, mas os vagabundos preferiram a vidinha fácil de filhinhos de papai rico e nem curso superior quiseram fazer. Ao contrário da grande maioria dos brasileiros, eles tinham todos os recursos disponíveis de uma família bilionária para se formarem, mas não preferiram a vida fácil de herdeiros de fortunas adquiridas de forma ilícita que fazem a alegria dos paraísos fiscais. Sem diploma superior, vão para cadeia comum, porém Requião prometeu visitá-los na cadeia.
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