Os tempos, definitivamente, mudaram nas relações entre a mídia e o poder.
Foi-se o tempo em que meia dúzia de famílias e seus colunistas controlavam todo o fluxo de informações e opiniões, já não se contentando mais em ser o chamado quarto poder, mas o primeiro e único - o verdadeiro poder político do país.
Jamais alguém poderia imaginar esta verdadeira revolução nas comunicações humanas provocado pela explosão da blogosfera, que em pouco tempo transformou todos os cidadãos não só em receptores, mas também em emissores de notícias, verdadeiras ou não, rompendo as barreiras entre imprensa e propaganda.
Líderes políticos e empresários em todo o mundo descobriram que a opinião pública já não é conduzida a partir dos "aquários", as salas envidraçadas das chefias das redações, onde imperavam os barões da mídia.
Os melhores exemplos da transferência de poder de influência da mídia tradicional para a internet são o presidente tuiteiro Donald Trump e o prefeito vídeomaker João Doria, que não só se elegeram, mas também governam pelas redes sociais, em linha direta com a população, sem intermediários.
A vítima mais recente desta revolução silenciosa foi a "Gazeta do Povo", o maior jornal do Paraná, que anunciou esta semana o fim da versão impressa a partir de julho, permanecendo apenas na plataforma digital.
Vários veículos da mídia tradicional já entregaram os pontos e outros estão a caminho num acelerado processo de transição.
Na tentativa de sobreviver no papel e não ter esse mesmo destino, "Folha", "O Globo" e "Estadão", os únicos jornais de circulação nacional, implantaram recentemente novos projetos editoriais, dando mais espaço justamente para seus blogueiros.
A matéria de maior repercussão da "Folha" este ano não foi feita por nenhum dos seus repórteres nem publicada na versão impressa, mas na blogosfera.
O jornal foi furado pelo blog #Agora É que São Elas no ramo digital da própria empresa, onde a figurinista Susllem Tonani, da TV Globo, denunciou uma das principais estrelas da emissora: "José Mayer me assediou".
O post provocou um rebu danado não só nas redes sociais, mas também nas redações, um choque cultural entre a nova e a velha mídias.
Poucas horas depois, a "Folha" tirou o blog do ar até que uma reportagem fosse preparada pela redação. Na Globo, entre protestos das outras funcionárias, reuniões se sucediam na alta cúpula até que o ator fosse afastado, três dias depois, por tempo indeterminado.
Tive a sorte de ser um dos primeiros repórteres do papel a migrar para a internet, ainda em 2005, a convite de velhos companheiros do falecido "Jornal do Brasil", que editavam um site jornalístico pioneiro chamado "No Mínimo".
Em 2008, fui contratado pelo portal IG, onde começou, por insistência do Caio Túlio Costa, este nosso Balaio do Kotscho, o diário eletrônico que em maio completa seis anos aqui no R7.
Desta forma, pude acompanhar por dentro a revolução da blogosfera, que ninguém ainda sabe dizer aonde vai parar, mas já mudou radicalmente não só o jornalismo, mas a forma de fazer política.
Vida que segue.
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