O IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, foi convertido pelos golpistas em um braço de propaganda ideológica para falsificar a história recente do Brasil, destruir o legado dos governos do PT e danificar a imagem do ex-presidente Lula.
Esta prática manipuladora da direção golpista do IPEA tem precedente. Em 2015, o presidente do Instituto, Ernesto Lozardo, censurou estudo técnico que identificava os prejuízos bilionários causados ao SUS com a PEC 241/55 que congelou os gastos sociais por 20 anos.
Agora o IPEA organizou o livro digital “Agricultura e indústria no Brasil - inovação e competitividade”, de autoria dos economistas José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, pesquisador do IPEA; e Albert Fishlow, professor emérito da Universidade de Columbia, EUA, um “brasilianista” de direita que participou da elaboração do Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico e Social no período do ditador Castelo Branco [1967].
Na página 149, o livro é ilustrado com uma fotografia de manifestação promovida por grupos de direita em Brasília. A foto, que estampa em destaque a imagem de um boneco inflável gigante que imita o ex-presidente Lula com uniforme de presidiário, tem como legenda:
“MANIFESTAÇÕES TOMAM CONTA DO BRASIL – A insatisfação pública foi uma resposta direta à corrupção instaurada na Petrobrás e investigada pela operação Lava Jato. O Congresso Nacional foi tomado pelos manifestantes com camisas verdes e amarelas, fazendo claro contraste à cor vermelha característica dos movimentos socialistas que apoiavam o governo. Os protestos foram considerados as maiores manifestações de rua depois das “Diretas já” na década de 1980. A diferença foi que as aglomerações nesse momento histórico ganharam corpo com a massificação das novas tecnologias de comunicação, as quais ajudaram a convocar milhões de pessoas em tempo real, tal como foram os panelaços sempre que havia pronunciamento da presidência em rede nacional”.
Outra fotografia, na página 148, de uma suposta manifestação de “agricultores” em Belo Horizonte, tem a seguinte legenda:
“INSATISFAÇÃO TAMBÉM CHEGA AOS AGRICULTORES – No dia 15 de março de 2015, ocorreu a primeira grande manifestação contra o governo eleito de Dilma Rousseff. No coreto da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, cartaz questiona ‘quem financia os invasores profissionais do MST?’, em uma alusão ao apoio partidário do PT ao Movimento dos Sem Terras. Naquela data, foram mais de 30 mil manifestantes apenas na capital mineira. Os protestos espalharam-se em várias outras capitais. Somente São Paulo foi responsável por mais de um milhão de pessoas nas ruas. Segundo avaliações da Polícia Militar, em todo o Brasil, foram cerca de 1,4 milhão de participantes, enquanto os organizadores estimaram um público superior a 3 milhões de pessoas”.
Essas duas fotografias são as únicas imagens, de todo o livro, que têm como “Fonte: arquivo próprio”. Todas as demais ilustrações foram obtidas nos bancos de imagens e arquivos oficiais da Embrapa, Petrobras, Embraer, EBC e IBGE.
Na seção de agradecimentos, os autores fazem uma menção a ninguém menos que o justiceiro Sérgio Moro: “Destacamos, nesse sentido, os nomes de Sérgio Fernando Moro [e outros] pelas frases de incentivo”. E finalizam: “é importante mencionar o auxílio institucional que tivemos nessa jornada, tanto no lado do IPEA, quanto no âmbito da Universidade de Columbia”; apoio confirmado na apresentação feita pelo presidente do Instituto.
Não existe, em toda a história do IPEA, tal instrumentalização ideológica. É uma propaganda explícita, nada subliminar. Este aparelhamento ideológico do Estado só tem equiparação com o período da ditadura civil-militar.
Eram os tempos em que a oligarquia golpista alardeava histericamente a existência do “ouro de Moscou” que financiava o movimento comunista no Brasil. Naqueles tempos, como no regime de exceção de hoje, a direita apelava aos “manifestantes com camisas verdes e amarelas” para defender o país da ameaça dos “movimentos socialistas” [sic].
É inaceitável o uso de instituições públicas para fazer propaganda contra aqueles que se opõe ao golpe e ao regime de exceção. A direção golpista do IPEA e os técnicos responsáveis por esta aberração perderam totalmente a condição de continuar nesta importante instituição de Estado, e devem ser demitidos e responder judicialmente pelo crime que cometeram.
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