Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Antes da sentença de Sérgio Moro contra Lula completar uma semana, a elite brasileira já exibe a clássica postura de urubu que enxerga uma providencial carniça na campanha de 2018 - a candidatura Lula, o adversário histórico, o único nome capaz de derrotar seus candidatos, conforme todas as pesquisas eleitorais.
Sem dar-se ao trabalho de disfarçar a pressa, o economista Eduardo Gianetti da Fonseca, personagem de relevo no círculo que retirou Marina Silva do universo das lutas populares de origem para transformá-la em atração nos salões da oligarquia financeira, diz na Folha de S. Paulo que o TRF-4, que irá julgar os recursos de Lula, não deve perder tempo para tomar uma decisão.
"Espero que os magistrados tenham o bom senso cívico de que não é possível protelar esse julgamento," diz o economista. Embora declare uma postura de isenção sobre o mérito da decisão, ("os juízes que decidam o que for correto na opinião deles") Gianetti alerta para o risco de se perder "a melhor oportunidade de mudança em anos num mar de discussões". Em sua opinião, uma campanha com Lula "será rancorosa, envenenada." A situação será diferente, contudo, caso ele seja impedido de concorrer. "Seria bom para o eleitorado, nos daria oportunidade de fugir de uma discussão burra e debater temas importantes."
É assim, com palavras que não disfarçam a arrogância de uma classe que se coloca acima de outra ( "discussão burra") que se tenta definir uma disputa com a presença de Lula. O uso de termos típicos de psicanálise de manual ( campanha "rancorosa", eleitorado "vingativo") serve para desqualificar o eleitorado adversário, que se tenta definir como incapaz de encarar de forma racional "questões difíceis, como a Previdência".
O que o assessor de Marina tenta evitar, com a exclusão de Lula, é um debate civilizado e necessário, que só envolve "questões difíceis como a Previdência" - olha aí eleitor, cuidado! - para candidatos que pretendam prejudicar a maioria do eleitorado. A questão tem a ver exclusivamente com a preservação das bases materiais de existência dos brasileiros na velhice e, em muitos casos, consiste na fronteira entre a vida decente e a miséria.
O caso do assessor de Marina, hoje uma concorrente apagadíssima em todas as pesquisas eleitorais, não é único.
Em editorial "A eterna vítima" (14/7/2017), o Estado de S. Paulo não faz apelo "cívico" para o TRF-4 andar depressa. Lembra corretamente que Justiça e Política obedecem ritmos e prazos diferentes, e que talvez não seja possível retirar Lula da campanha com base numa decisão judicial produzida por conveniências indevidas. Mas o jornal já se mostra engajado, de qualquer maneira: " caso o tempo da Justiça não seja o mesmo da política, que as urnas sejam tão implacáveis quanto a sentença. Para o bem do Brasil e dos brasileiros." De forma coerente, o Estado faz o possível para desqualificar as críticas de Lula à condenação. Diz que não passam de "cantilena da vitimização", típica de quem "não existe na esfera pública se não estiver sendo vítima de alguma injustiça ou atacado pela força de uma arbitrariedade. Jamais é o sujeito ativo de seus infortúnios."
Não haveria nada a estranhar se não fosse o jornal que mais críticas tem feito a atuação do Ministério Público, em nome do Estado Democrático de Direito. Em outro editorial, "É isto a Justiça?"(1/6/2017) o Estado de S. Paulo acusava Sérgio Moro de exibir "uma visão muito peculiar de justiça". A crítica a Moro se concentrava justamente no uso de delações premiadas, recurso indispensável à sentença contra Lula, transformada em farrapo jurídico quando a defesa provou que o imóvel do Guarujá não poderia lhe pertencer após ter sido empenhado -- em 2009 --num contrato com a Caixa Econômica.
Falando sobre o assunto, o jornal escreveu: "cria-se um ambiente em que as delações parecem bastar. Se é assim, o objetivo não é fazer justiça mas uma certa justiça. Aliás, o juiz Oliver W. Holmes (uma das referências da Suprema Corte dos Estados Unidos) ensinava que juiz não faz justiça, aplica a lei".
Antes da sentença de Sérgio Moro contra Lula completar uma semana, a elite brasileira já exibe a clássica postura de urubu que enxerga uma providencial carniça na campanha de 2018 - a candidatura Lula, o adversário histórico, o único nome capaz de derrotar seus candidatos, conforme todas as pesquisas eleitorais.
Sem dar-se ao trabalho de disfarçar a pressa, o economista Eduardo Gianetti da Fonseca, personagem de relevo no círculo que retirou Marina Silva do universo das lutas populares de origem para transformá-la em atração nos salões da oligarquia financeira, diz na Folha de S. Paulo que o TRF-4, que irá julgar os recursos de Lula, não deve perder tempo para tomar uma decisão.
"Espero que os magistrados tenham o bom senso cívico de que não é possível protelar esse julgamento," diz o economista. Embora declare uma postura de isenção sobre o mérito da decisão, ("os juízes que decidam o que for correto na opinião deles") Gianetti alerta para o risco de se perder "a melhor oportunidade de mudança em anos num mar de discussões". Em sua opinião, uma campanha com Lula "será rancorosa, envenenada." A situação será diferente, contudo, caso ele seja impedido de concorrer. "Seria bom para o eleitorado, nos daria oportunidade de fugir de uma discussão burra e debater temas importantes."
É assim, com palavras que não disfarçam a arrogância de uma classe que se coloca acima de outra ( "discussão burra") que se tenta definir uma disputa com a presença de Lula. O uso de termos típicos de psicanálise de manual ( campanha "rancorosa", eleitorado "vingativo") serve para desqualificar o eleitorado adversário, que se tenta definir como incapaz de encarar de forma racional "questões difíceis, como a Previdência".
O que o assessor de Marina tenta evitar, com a exclusão de Lula, é um debate civilizado e necessário, que só envolve "questões difíceis como a Previdência" - olha aí eleitor, cuidado! - para candidatos que pretendam prejudicar a maioria do eleitorado. A questão tem a ver exclusivamente com a preservação das bases materiais de existência dos brasileiros na velhice e, em muitos casos, consiste na fronteira entre a vida decente e a miséria.
O caso do assessor de Marina, hoje uma concorrente apagadíssima em todas as pesquisas eleitorais, não é único.
Em editorial "A eterna vítima" (14/7/2017), o Estado de S. Paulo não faz apelo "cívico" para o TRF-4 andar depressa. Lembra corretamente que Justiça e Política obedecem ritmos e prazos diferentes, e que talvez não seja possível retirar Lula da campanha com base numa decisão judicial produzida por conveniências indevidas. Mas o jornal já se mostra engajado, de qualquer maneira: " caso o tempo da Justiça não seja o mesmo da política, que as urnas sejam tão implacáveis quanto a sentença. Para o bem do Brasil e dos brasileiros." De forma coerente, o Estado faz o possível para desqualificar as críticas de Lula à condenação. Diz que não passam de "cantilena da vitimização", típica de quem "não existe na esfera pública se não estiver sendo vítima de alguma injustiça ou atacado pela força de uma arbitrariedade. Jamais é o sujeito ativo de seus infortúnios."
Não haveria nada a estranhar se não fosse o jornal que mais críticas tem feito a atuação do Ministério Público, em nome do Estado Democrático de Direito. Em outro editorial, "É isto a Justiça?"(1/6/2017) o Estado de S. Paulo acusava Sérgio Moro de exibir "uma visão muito peculiar de justiça". A crítica a Moro se concentrava justamente no uso de delações premiadas, recurso indispensável à sentença contra Lula, transformada em farrapo jurídico quando a defesa provou que o imóvel do Guarujá não poderia lhe pertencer após ter sido empenhado -- em 2009 --num contrato com a Caixa Econômica.
Falando sobre o assunto, o jornal escreveu: "cria-se um ambiente em que as delações parecem bastar. Se é assim, o objetivo não é fazer justiça mas uma certa justiça. Aliás, o juiz Oliver W. Holmes (uma das referências da Suprema Corte dos Estados Unidos) ensinava que juiz não faz justiça, aplica a lei".
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