Ao anunciar que pretende engavetar uma Medida Provisória negociada entre Michel Temer, a Força Sindical e a UGT, destinada supostamente a amenizar determinados pontos da reforma trabalhista, Rodrigo Maia produz dois ensinamentos políticos.
Primeiro: confirma que as negociações entre sindicatos e o Planalto em torno da MP nunca deveriam ter sido tomadas pelo valor de face. Não passavam, essencialmente, de um esforço para esvaziar a greve geral de 30 de junho e a mobilização contra a reforma, na sequencia da bem sucedida paralisação de 28 de abril, uma demonstração de unidade poucas vezes vista. Isso foi denunciado na época, como se sabe.
A segunda lição é sobre a conjuntura política. Seja na presidência da Câmara, seja como primeiro nome na linha sucessória de Temer, Maia também se coloca de braços abertos para prestar serviços a Globo. Não temos eleições diretas. Mas temos eleitor direto.
Com sua declaração, ele procura-se mostrar-se mais fiel a Globo do que Temer.
Vejam a coincidência. Em editorial publicado na edição de ontem do Globo, leitura diária de todo profissional com funções de responsabilidade na Vênus Platinada, era possível ler uma mensagem clara e dura - de que a Globo não aceitaria nenhuma alternação na versão original das reformas, em particular na trabalhista.
Exigia respeito pelo pacote pronto. Menos de 24 horas depois, Rodrigo Maia mostrava- se disposto até a confrontar Temer para sustentar a decisão.
Com um título significativo para uma situação de tumulto e insegurança sobre a presidência da República, falando diretamente aos interessados ("Fragilidade de Temer favorece alternativa Maia") o Globo faz críticas duras ao atual "inquilino do Planalto".
Em tom de lamento, como se não tivesse a menor responsabilidade em episódios lamentáveis na crise brasileira recente, o Globo diz que Temer foi "vendido no mercado das esperanças como o único capaz de garantir reformas" mas se mostrou incapaz de dar conta da tarefa. '"Fragilizado," acabou negociando as reformas no "balcão do toma lá dá cá", que cria mudanças "inócuas", que o jornal define como pura "fantasia".
Num cuidado que ajuda entender o anúncio de Maia, o editorial denuncia , em particular, toda iniciativa gradual - como foi negociado por Temer - para a extinção do imposto sindical. Empregando a velha retórica da hipocrisia que o empresariado brasileiro refina há décadas, empregando argumentos nobres para aplicar golpes baixos, diz que o fim do imposto irá "moralizar o movimento sindical " e permitirá o surgimento de lideranças autênticas em vez de "espertalhões acostumados ao acesso fácil ao dinheiro público".
(Só para esclarecer: pode-se criticar ou defender o imposto sindical, por vários motivos. Só não acho que ele seja responsável pela criação de lideranças fajutas e mesmo corruptas no meio sindical. Estas são, essencialmente, o resultado inevitável da perseguição empresarial e política à lideranças independentes e combativas de empresas e do chão de fábrica).
Ao bater continência para a Globo, Rodrigo Maia deixa claro quem precisa agradar para tentar chegar ao Planalto.
É mais uma cena lamentável de submissão e tutela, numa crise de legitimidade que só poderá ser resolvida com a realização de eleições diretas, quando todos candidatos precisam agradar a um único sujeito soberano - o povo.
Alguma dúvida?
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