Sérgio Reis canta para Temer. Reprodução: Youtube |
Quando o presidente Michel Temer comemorou um ano de gestão, no último 13 de maio, um grupo de políticos, entre eles deputados e ministros, festejou com ele em um refinado restaurante italiano de Brasília, o Trattoria do Rosário. Na ocasião, a voz rouca do cantor e deputado Sérgio Reis (PRB/SP) entoou o clássico sertanejo “O menino da porteira” para aplausos do presidente. Na Câmara, o deputado também anda tendo motivos para comemorar: ele foi o que mais teve emendas pagas este ano pelo governo. Foram R$ 8,4 milhões no total, segundo levantamento feito por The Intercept Brasil com base nos dados do site Siga Brasil.
Após a publicação desta matéria, a assessoria do deputado Sérgio Reis enviou a seguinte nota à reportagem:
“O deputado federal e cantor Sérgio Reis nunca participou de jantar comemorativo da gestão Temer. Esteve apenas num jantar oferecido a um grupo de parlamentares pelo deputado Heráclito Fortes [ ] na residência de sua filha, do qual participou o presidente Michel Temer poucos meses após sua assunção ao cargo. Apenas isso! Na ocasião, como é de sua própria natureza artística, Sérgio Reis cantou, sim, ao som de viola caipira.”
Um ranking feito por TIB mostra que os dez deputados com mais emendas pagas em 2017 receberam um total de R$ 72,5 milhões. A maioria deles é intimamente alinhado às pautas do governo e defende categoricamente Temer pelos corredores do Congresso Nacional. Ainda de acordo com o levantamento, só em 2017 já foram liberados cerca de R$ 1,5 bilhão de reais a 737 deputados com e sem mandato.
Na liderança da lista, Sérgio Reis teve um total de sete emendas pagas pelo governo neste ano. Em fevereiro, houve um pagamento de R$ 252.607,99 destinado a apoio e manutenção de unidades de saúde para o estado de São Paulo. Para o mesmo fim, outras quatro emendas totalizando R$ 2.965.541,91 foram liberadas em março. Em junho, o valor das emendas do deputado cresce, e o governo paga mais duas que, somadas, chegam a R$ 5.188.383,49 também para a área da saúde. Ao todo, nos seis primeiros meses deste ano, o total foi de exatos R$ 8.406.533,39 executados.
O governo vem sofrendo duras críticas pela liberação desenfreada de grandes recursos no mês mais grave da crise política, quando o Planalto se via ameaçado: ou atendia aos interesses dos deputados ou poderia não conseguir maioria para rejeitar a denúncia de corrupção contra o presidente, com votação prevista para a próxima semana, em 2 de agosto.
As emendas parlamentares individuais são dotações inseridas no Orçamento da União que abastecem os redutos eleitorais dos parlamentares com recursos para obras públicas. Em ano pré-eleitoral, são essenciais para que os políticos beneficiem suas bases nos estados. TIB mostrou recentemente que até o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso no complexo de Pinhais, em Curitiba, também foi agraciado com a liberação de recursos de mais de R$ 1,6 milhão.
Para quem a banda toca, afinal?
Apesar de todo o agrado por parte do governo e mesmo já tendo elogiado Temer num passado recente, o cantor tem se aproximado muito nos últimos tempos do aspirante ao Planalto Álvaro Dias (PV-PR), árduo crítico da atual gestão, que chegou a pedir a renúncia do presidente após a divulgação das gravações comprometedoras feitas pelo dono da JBS, Joesley Batista. Sérgio Reis figura como “indeciso” no site 342agora, criado para acompanhar o posicionamento dos congressistas sobre a continuidade da denúncia criminal contra Temer.
A reportagem entrou em contato com o deputado Sérgio Reis para entender a aplicação dos recursos, mas o deputado não havia se manifestado até o momento da publicação.
Nesta quarta (26), a assessoria de imprensa de Sérgio Reis enviou nota, também reproduzida em sua página no Facebook, em que afirmou que “sempre pautou e pauta sua vida pessoal e profissional pela mais profunda seriedade, respeito e honestidade para com o povo, que só lhe deu amor e carinho ao longo de sua vitoriosa carreira artística de quase 60 anos.”
Sérgio Reis sente-se muito feliz por ser o campeão de liberação de recursos em 2017, pois só assim tem a certeza de que mais e mais pessoas necessitadas serão atendidas no sistema de saúde
O deputado também disse que todas as suas emendas são voltadas para a área da saúde, setor onde ele tem 30 anos de experiência em trabalhos voluntários. E afirmou que “sente-se muito feliz por ser o campeão de liberação de recursos em 2017, pois só assim tem a certeza de que mais e mais pessoas necessitadas serão atendidas no sistema de saúde, e que sua missão como parlamentar está sendo cumprida.”
Sérgio Reis também garantiu que “jamais participou ou participaria de qualquer negociata visando à liberação de suas emendas, e que a escolha do momento de fazer o pagamento das chamadas ’emendas individuais’ é uma decisão única e exclusiva do governo e de seu ministério.”
Por fim, sem adiantar seu voto para o prosseguimento ou não da denúncia contra Temer, o cantor informou que “na condição de deputado federal, deixa claro que votará de acordo com a sua consciência, colocando sempre os interesses do povo brasileiro acima de quaisquer outros interesses.”
Entre os dez deputados mais bem pagos com emendas parlamentares em 2017, a maioria faz parte da tropa de choque de Temer. Em segundo lugar, está o líder do PMDB na Câmara Baleia Rossi (SP), com R$ 7.660.534,74. Em seguida, Alexandre Serfiotis (PMDB-RJ), que recebeu R$ 7.553.345,51. Partiu de Rossi a iniciativa de que o PMDB fechasse questão contra a continuidade da denúncia contra Temer. Ele também sugeriu que Zveiter fosse retirado da CCJ após apresentação do parecer contra Temer.
Os deputados Laerte Bessa (PR/DF) e Paulo Maluf (PP/SP), membros da CCJ e que votaram contra o andamento da denúncia de corrupção contra Temer, receberam respectivamente R$ 7.039.886 e R$ 6.768.072, ocupando os sétimo e oitavo lugares do ranking. De acordo com o 342agora, todos se manifestaram contrários à continuidade da investigação contra Temer.
Coube a Paulo Maluf contar sobre as qualidades até então desconhecidas de Temer aos presentes que acompanham a sessão na CCJ. “Conheço Temer há 35 anos e, em 35 anos de convivência, não dá para a gente se enganar. Temer é um homem honesto, probo, correto e decente que está sendo acusado de maneira absolutamente imprópria”, profetizou.
O cargo que Bessa ocupou na CCJ era anteriormente de Jorginho Melo (PR/SC), retirado pelo partido por ter uma posição favorável à continuidade da denúncia. Manobras, promessa de cargos e liberação de emendas a aliados ajudaram o governo a garantir uma vitória montada na artificialidade parlamentar.
Bessa entrou na comissão sem nem sequer saber o nome dos colegas: se enrolou para citar o sobrenome do relator, Sérgio Zveiter, chamando-o de “Velter”, e do deputado Wadih Damous (PT/RJ) de “Uadi Vadus”. “Não é muito estranho uma denúncia nessa hora em que o Brasil começa a ver uma luz no fim do túnel?”, questionou, mostrando por que foi escalado para a CCJ.
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