No último artigo que postei neste blog, constatei com pesar que valores outrora típicos das classes média e alta tinham contaminado também parte considerável do povão.
Com uma frequência alarmante, ouvimos gente pobre expressando convicções racistas, sexistas, homofóbicas, além de preconceitos de toda ordem, especialmente em relação às teses dos que lutam justamente para acabar com a pobreza, num paradoxo desafiador para quem sonha com uma sociedade mais justa e igualitária.
É inegável o papel deletério do oligopólio da mídia na formação da opinião dos mais humildes e com dificuldades de acessar meios alternativos de informação.
Mas aqui cabe um recorte para o exame desse fenômeno. Todos os dias, principalmente na parte da tarde, doses maciças de obscurantismo são aplicadas na veia do povo pelos programas policiais, tipo mundo cão, levados ao ar por canais abertos de televisão, tais como Bandeirantes, Record, SBT e Rede TV.
Durante horas a fio, âncoras e apresentadores vociferam contra os direitos humanos, defendem e incentivam a violência da polícia, pregam o extermínio de criminosos (na linha, bandido bom é bandido morto) e aderem ao discurso moralista contra a corrupção (mas só as pretensamente praticadas pelos adversários políticos de seus chefes).
Imagina a quantidade de donas de casa e estudantes residentes nas favelas e demais bairros populares e periféricos atingidos diariamente por esse lixo de programação? É fato publico e notório que esses programas caíram no gosto popular. Os motivos para tamanho sucesso têm a ver com o baixo nível educacional, mas demandam um estudo complexo.
No entanto, é fácil entender a trilha da poderosa disseminação dessa ideologia das trevas: a dona de casa passa para o marido e as vizinhas, enquanto os jovens a transmitem aos colegas de escola e parceiros do lazer.
As mesmas emissoras violam as regras de concessão de um bem público (cabe sempre lembrar que as ondas eletromagnéticas pertencem à sociedade) e alugam um latifúndio de tempo para as igrejas evangélicas.
Os telepastores fazem a festa, explorado a fé dos mais humildes e enchendo as burras de dinheiro. De quebra, ainda fazem política, de direita, claro, reforçando o que há de mais reacionário, atrasado e obtuso ideologicamente. Na agenda política nacional, se posicionam, em geral, contra os interesses de seu rebanho.
Um caso recente foi a adesão unânime da bancada evangélica do Congresso Nacional às reformas antipovo de Temer. Além de seus vínculos políticos com o mercado que financiou o golpe, esses santos do pau oco têm uma fraqueza conhecida pelo vil metal. E, como a própria mídia comercial vem noticiando, onde tem Temer tem dinheiro.
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