Por Tomás Chiaverini, no site The Intercept-Brasil:
Diga-me com quem andas…
Raquel Dodge foi conduzida ao cargo por Michel Temer. Em outras palavras, diga-me com quem andas que te direi quem és. O leitor impaciente poderá argumentar que ela não podia chegar ali de outra forma. É verdade, mas há alguns agravantes aí.
Dodge foi a segunda colocada na lista tríplice elaborada a partir da votação de membros do Ministério Público de todo o país. Ao escolhê-la, o presidente não-eleito contrariou uma praxe mantida desde 2003, de se indicar o primeiro colocado. Pra piorar, essa escolha está coberta com as digitais de ninguém menos do que Gilmar Mendes, aquele juiz do Supremo que não vê problema em soltar bandidos (contanto que sejam bandidos amigos).
As manchas curriculares de Dodge, contudo, vão além das más companhias. Uma vez ungida pelo novo cargo, a nova xerifona da nação começou, mais que depressa, a mostrar toda a afinidade com o modus operandi do governo. Não viu (ou fingiu que não viu) problema em encontrar o Conde na calada da noite, sem registro oficial. Quando um vídeo da visita ao Jaburu vazou na imprensa, disse que tinha ido à caverna de Temer para combinar o cerimonial de posse.
Para além dos encontros furtivos, Dodge também tem se mostrado à vontade com o toma-lá-dá-cá que se tornou a principal marca do PMDB. Antes mesmo de se sentar na cadeira de Janot, já estava brigando para aumentar o salário dos amiguinhos que a colocaram na lista tríplice. E, também no melhor estilo peemedebista, deixou claro que voltar atrás nunca é ruim, contanto que seja para agradar aos amigos.
Confuso, caro leitor? Calma que explicamos. Raquel Dodge, diante dos temores de uma pizza generalizada na Lava Jato, havia garantido que manteria na operação todos os quadros que não pedissem para sair.
Mas, segundo a revista Época, ela já documentou o afastamento de dois importantes procuradores que haviam manifestado o desejo de ficar após a saída de Janot. A quebra de promessa, ao que parece, não é o pior nessa história. O pior é que um dos afastados, Rodrigo Telles, tinha sido responsável por investigar o presidente do DEM, senador José Agripino, acusado de receber R$ 1 milhão em propina. O senador é unha e carne com Temer e primo de Luciano Maia, o procurador que, vejam só, foi escolhido por Dodge para ser o vice dela na PGR.
Claro que os fatos narrados acima podem ser um misto de coincidências com uma personalidade dotada de traquejo político indispensável a qualquer um que queira chegar ao comando do Ministério Público Federal.
Paralelamente, vale lembrar Rodrigo Janot, o antecessor de Dodge, colocou o cacique petista José Dirceu atrás das grades menos de dois meses depois de ter sido indicado pela também petista Dilma Rousseff. E, ao longo de sua carreira como procurador-geral, ainda que tenha cometido erros e excessos, flechou políticos das mais diversas colorações ideológicas. Do pré-mártir petista Luiz Inácio Lula da Silva, ao tucano imaculado revestido de teflon Aécio Neves.
Diante disso tudo, os próximo passos de Raquel Dodge serão determinantes para, nas palavras dela, “restabelecer a confiança das pessoas nas instituições”. A missão é desafiadora. Não só pelas trapalhadas prévias, mas também pelo parâmetro de comparação.
“Deu a louca no Ministério Público” seria o título de um filme da Sessão da Tarde baseado na cerimônia de posse de Raquel Dodge, ocorrida na manhã desta segunda (18). A nova procuradora-geral da República já chegou mostrando que está pronta para muita confusão. Logo no começo do discurso, por exemplo, ela disse que se dirigia ao povo brasileiro “de quem emana todo o poder”.
Seria uma frase bastante adequada, não fosse o fato de que ali do lado estava ninguém menos do que Michel Temer, o presidente sem votos, que permanece no cargo apesar dos recordes de impopularidade, ofertando uma constante banana a qualquer coisa que emane do povo.
Soou hipócrita, convenhamos. Mas não foi só isso. Ao lado da nova procuradora-geral, na mesa da solenidade, estava uma dupla do barulho sempre pronta para aprontar alguma trapalhada: Rodrigo Maia, presidente da Câmara, e Eunício Oliveira, presidente do Senado. Os dois, além de comparsas fiéis do Conde, são, claro, investigados por corrupção.
Aparentemente, isso não causou grandes desconfortos à sucessora de Rodrigo Janot, que abordou o tema como se não estivesse rodeada por uma provável quadrilha.
“No Ministério Público, temos o dever de cobrar dos que gerenciam o gasto público que o façam de modo honesto, eficiente e probo, ao ponto de restabelecer a confiança das pessoas nas instituições de governança”, disse. O uso de adjetivos como “probo” e “honesto” naquele contexto não pegou muito bem, mas o conjunto da obra fica ainda mais bizarro se gastarmos algumas linhas para relembrar a trajetória recente da nova procuradora-geral.
Seria uma frase bastante adequada, não fosse o fato de que ali do lado estava ninguém menos do que Michel Temer, o presidente sem votos, que permanece no cargo apesar dos recordes de impopularidade, ofertando uma constante banana a qualquer coisa que emane do povo.
Soou hipócrita, convenhamos. Mas não foi só isso. Ao lado da nova procuradora-geral, na mesa da solenidade, estava uma dupla do barulho sempre pronta para aprontar alguma trapalhada: Rodrigo Maia, presidente da Câmara, e Eunício Oliveira, presidente do Senado. Os dois, além de comparsas fiéis do Conde, são, claro, investigados por corrupção.
Aparentemente, isso não causou grandes desconfortos à sucessora de Rodrigo Janot, que abordou o tema como se não estivesse rodeada por uma provável quadrilha.
“No Ministério Público, temos o dever de cobrar dos que gerenciam o gasto público que o façam de modo honesto, eficiente e probo, ao ponto de restabelecer a confiança das pessoas nas instituições de governança”, disse. O uso de adjetivos como “probo” e “honesto” naquele contexto não pegou muito bem, mas o conjunto da obra fica ainda mais bizarro se gastarmos algumas linhas para relembrar a trajetória recente da nova procuradora-geral.
Diga-me com quem andas…
Raquel Dodge foi conduzida ao cargo por Michel Temer. Em outras palavras, diga-me com quem andas que te direi quem és. O leitor impaciente poderá argumentar que ela não podia chegar ali de outra forma. É verdade, mas há alguns agravantes aí.
Dodge foi a segunda colocada na lista tríplice elaborada a partir da votação de membros do Ministério Público de todo o país. Ao escolhê-la, o presidente não-eleito contrariou uma praxe mantida desde 2003, de se indicar o primeiro colocado. Pra piorar, essa escolha está coberta com as digitais de ninguém menos do que Gilmar Mendes, aquele juiz do Supremo que não vê problema em soltar bandidos (contanto que sejam bandidos amigos).
As manchas curriculares de Dodge, contudo, vão além das más companhias. Uma vez ungida pelo novo cargo, a nova xerifona da nação começou, mais que depressa, a mostrar toda a afinidade com o modus operandi do governo. Não viu (ou fingiu que não viu) problema em encontrar o Conde na calada da noite, sem registro oficial. Quando um vídeo da visita ao Jaburu vazou na imprensa, disse que tinha ido à caverna de Temer para combinar o cerimonial de posse.
Para além dos encontros furtivos, Dodge também tem se mostrado à vontade com o toma-lá-dá-cá que se tornou a principal marca do PMDB. Antes mesmo de se sentar na cadeira de Janot, já estava brigando para aumentar o salário dos amiguinhos que a colocaram na lista tríplice. E, também no melhor estilo peemedebista, deixou claro que voltar atrás nunca é ruim, contanto que seja para agradar aos amigos.
Confuso, caro leitor? Calma que explicamos. Raquel Dodge, diante dos temores de uma pizza generalizada na Lava Jato, havia garantido que manteria na operação todos os quadros que não pedissem para sair.
Mas, segundo a revista Época, ela já documentou o afastamento de dois importantes procuradores que haviam manifestado o desejo de ficar após a saída de Janot. A quebra de promessa, ao que parece, não é o pior nessa história. O pior é que um dos afastados, Rodrigo Telles, tinha sido responsável por investigar o presidente do DEM, senador José Agripino, acusado de receber R$ 1 milhão em propina. O senador é unha e carne com Temer e primo de Luciano Maia, o procurador que, vejam só, foi escolhido por Dodge para ser o vice dela na PGR.
Claro que os fatos narrados acima podem ser um misto de coincidências com uma personalidade dotada de traquejo político indispensável a qualquer um que queira chegar ao comando do Ministério Público Federal.
Paralelamente, vale lembrar Rodrigo Janot, o antecessor de Dodge, colocou o cacique petista José Dirceu atrás das grades menos de dois meses depois de ter sido indicado pela também petista Dilma Rousseff. E, ao longo de sua carreira como procurador-geral, ainda que tenha cometido erros e excessos, flechou políticos das mais diversas colorações ideológicas. Do pré-mártir petista Luiz Inácio Lula da Silva, ao tucano imaculado revestido de teflon Aécio Neves.
Diante disso tudo, os próximo passos de Raquel Dodge serão determinantes para, nas palavras dela, “restabelecer a confiança das pessoas nas instituições”. A missão é desafiadora. Não só pelas trapalhadas prévias, mas também pelo parâmetro de comparação.
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