Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
O retrato do Brasil que emerge das pesquisas quantitativas é ruim. Mas o que vem das pesquisas qualitativas é pior. Pelo que vemos através delas, a alma brasileira nunca esteve em momento mais negativo.
É impossível falar do passado longínquo, mas, nos tempos modernos, é a primeira vez que temos tanto desânimo, desconfiança e desesperança. Talvez exista quem esteja satisfeito e otimista, mas é difícil encontrá-los. A quase totalidade da população não está assim.
Quando, ao realizar pesquisas qualitativas, reunimos mulheres e homens da classe trabalhadora, vemos um desconsolo ainda maior. Os ricos e as classes médias são menos dependentes das circunstâncias da economia e da sociedade. Estão mais blindados que os pobres.
Ainda que o desânimo seja geral, esses são os que mais sentem os problemas do País. A partir de seus depoimentos, percebe-se que as pessoas se imaginam vivendo múltiplas crises simultâneas, cada uma reforçando as outras. Segundo o que dizem, seriam cinco.
A primeira é a crise na economia, da qual a maior evidência é o desemprego, que ameaça o presente e compromete o futuro. As famílias trabalhadoras estão amedrontadas com a possibilidade de perder o que têm e de não conseguirem assegurar para os filhos oportunidades sequer iguais às que os pais tiveram.
A segunda é a crise no governo, chefiado por um presidente sem vínculos com o povo e sem moral. Um governante como Michel Temer é o inverso do que as pessoas gostariam de ter: alguém legítimo e capaz de cuidar daquilo que diz respeito a todos.
Elas também vivem uma terceira crise, essa na política, traduzida na sensação de que os políticos, de uma maneira geral, são corruptos e só pensam em si mesmos. Há exceções, mas a regra é de desconfiança nos indivíduos e nas instituições, em particular no Congresso.
Assim, com uma crise na economia, um governo como o de Temer e sem políticos que as representem, as pessoas sentem que uma quarta crise as atinge, proveniente do colapso das políticas públicas. Ganhando menos, mais afetadas pelo desemprego e cada vez com menos acesso a programas em áreas como saúde, educação e moradia, a sensação de fragilidade aumenta.
Essa sobreposição de crises produz outra, uma crise na convivência social, com o agravamento da insegurança, seja no sentido literal, proveniente da criminalidade e das ameaças à vida, seja no plano psicológico e emocional.
As pessoas estão assustadas e à procura de qualquer coisa que alivie suas ansiedades. Não é, está claro, a primeira vez que pesquisas qualitativas encontram um clima negativo na opinião pública. No passado, no entanto, o panorama era diferente.
Alguns ficaram órfãos de Fernando Collor, mas seu impeachment foi, para a maioria, um momento de afirmação. Cada um acreditou ter o poder de destituir um presidente da República inconfiável. Ao contrário do desânimo atual, aqueles foram tempos de celebração.
A sucessão de trapalhadas do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, com o colapso cambial e o apagão elétrico, deixou atônita a população, mas não implicou a quebra de confiança na economia e no País. As pessoas apenas perceberam que a competência tucana era mais lenda que realidade.
Hoje, elas se reconhecem imersas em crises cuja gênese não compreendem e para as quais não enxergam saída. Sabem apenas duas coisas: que a crise atual é a pior que conheceram e que, não faz muito tempo, tudo era diferente no Brasil.
Para os entrevistados, há um mistério e um paradoxo. Como é possível que o Brasil se encontrasse bem, que as pessoas estivessem satisfeitas e que o resto do mundo nos admirasse, e que, em pouquíssimo tempo, tudo desandasse e tantos problemas se somassem?
De Sul a Norte, as pessoas do povo são unânimes ao dizer que “as coisas estavam melhor quando Lula era presidente”. Simpatizantes ou não do ex-presidente e do PT, todos concordam que havia emprego, o País crescia, existiam muitos e bons programas sociais.
Comparado com os dias atuais, era outro Brasil. A narrativa que recebem da mídia corporativa, dos políticos conservadores e, muito especialmente, dos juízes e promotores de direita, de que “tudo era ilusão”, não as convence. Para elas, muito mais ilusória é a história que ouvem agora.
Se alguém quiser entender o porquê da força de Lula, não precisa procurar longe: basta ouvir o que contam as pessoas do tempo em que ele esteve no governo e como comparam esse período com o que aconteceu com o Brasil depois que a direita reassumiu o poder.
O retrato do Brasil que emerge das pesquisas quantitativas é ruim. Mas o que vem das pesquisas qualitativas é pior. Pelo que vemos através delas, a alma brasileira nunca esteve em momento mais negativo.
É impossível falar do passado longínquo, mas, nos tempos modernos, é a primeira vez que temos tanto desânimo, desconfiança e desesperança. Talvez exista quem esteja satisfeito e otimista, mas é difícil encontrá-los. A quase totalidade da população não está assim.
Quando, ao realizar pesquisas qualitativas, reunimos mulheres e homens da classe trabalhadora, vemos um desconsolo ainda maior. Os ricos e as classes médias são menos dependentes das circunstâncias da economia e da sociedade. Estão mais blindados que os pobres.
Ainda que o desânimo seja geral, esses são os que mais sentem os problemas do País. A partir de seus depoimentos, percebe-se que as pessoas se imaginam vivendo múltiplas crises simultâneas, cada uma reforçando as outras. Segundo o que dizem, seriam cinco.
A primeira é a crise na economia, da qual a maior evidência é o desemprego, que ameaça o presente e compromete o futuro. As famílias trabalhadoras estão amedrontadas com a possibilidade de perder o que têm e de não conseguirem assegurar para os filhos oportunidades sequer iguais às que os pais tiveram.
A segunda é a crise no governo, chefiado por um presidente sem vínculos com o povo e sem moral. Um governante como Michel Temer é o inverso do que as pessoas gostariam de ter: alguém legítimo e capaz de cuidar daquilo que diz respeito a todos.
Elas também vivem uma terceira crise, essa na política, traduzida na sensação de que os políticos, de uma maneira geral, são corruptos e só pensam em si mesmos. Há exceções, mas a regra é de desconfiança nos indivíduos e nas instituições, em particular no Congresso.
Assim, com uma crise na economia, um governo como o de Temer e sem políticos que as representem, as pessoas sentem que uma quarta crise as atinge, proveniente do colapso das políticas públicas. Ganhando menos, mais afetadas pelo desemprego e cada vez com menos acesso a programas em áreas como saúde, educação e moradia, a sensação de fragilidade aumenta.
Essa sobreposição de crises produz outra, uma crise na convivência social, com o agravamento da insegurança, seja no sentido literal, proveniente da criminalidade e das ameaças à vida, seja no plano psicológico e emocional.
As pessoas estão assustadas e à procura de qualquer coisa que alivie suas ansiedades. Não é, está claro, a primeira vez que pesquisas qualitativas encontram um clima negativo na opinião pública. No passado, no entanto, o panorama era diferente.
Alguns ficaram órfãos de Fernando Collor, mas seu impeachment foi, para a maioria, um momento de afirmação. Cada um acreditou ter o poder de destituir um presidente da República inconfiável. Ao contrário do desânimo atual, aqueles foram tempos de celebração.
A sucessão de trapalhadas do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, com o colapso cambial e o apagão elétrico, deixou atônita a população, mas não implicou a quebra de confiança na economia e no País. As pessoas apenas perceberam que a competência tucana era mais lenda que realidade.
Hoje, elas se reconhecem imersas em crises cuja gênese não compreendem e para as quais não enxergam saída. Sabem apenas duas coisas: que a crise atual é a pior que conheceram e que, não faz muito tempo, tudo era diferente no Brasil.
Para os entrevistados, há um mistério e um paradoxo. Como é possível que o Brasil se encontrasse bem, que as pessoas estivessem satisfeitas e que o resto do mundo nos admirasse, e que, em pouquíssimo tempo, tudo desandasse e tantos problemas se somassem?
De Sul a Norte, as pessoas do povo são unânimes ao dizer que “as coisas estavam melhor quando Lula era presidente”. Simpatizantes ou não do ex-presidente e do PT, todos concordam que havia emprego, o País crescia, existiam muitos e bons programas sociais.
Comparado com os dias atuais, era outro Brasil. A narrativa que recebem da mídia corporativa, dos políticos conservadores e, muito especialmente, dos juízes e promotores de direita, de que “tudo era ilusão”, não as convence. Para elas, muito mais ilusória é a história que ouvem agora.
Se alguém quiser entender o porquê da força de Lula, não precisa procurar longe: basta ouvir o que contam as pessoas do tempo em que ele esteve no governo e como comparam esse período com o que aconteceu com o Brasil depois que a direita reassumiu o poder.
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