Por Tereza Cruvinel, em seu blog:
Até aqui, o que enxergávamos na disputa presidencial era Lula na liderança, apesar do empenho em sua inabilitação, Bolsonaro em segundo lugar e um candidato tucano que dificilmente não seria Geraldo Alckmin, tentando viabilizar-se como alternativa de centro à polarização direita X esquerda. Com o agravamento da crise interna do PSDB, dificilmente o partido marchará unido em torno de um candidato e é de sua provável cisão, depois do confronto interno de dezembro, que pode surgir um quarto nome, reunindo forças do centro-conservador e, por inverossímil que pareça, contando com o apoio do governo.
Temer está com popularidade em 3%, o que significa zero, considerada a margem de erro, e seu apoio seria o beijo da morte para qualquer candidato. Mas é bom lembrar que uma coisa é o apoio do presidente, outra é o do governo, o que significaria o uso da poderosa máquina federal a favor do candidato governista. Temer já mostrou que não tem o menor pudor em fazer isso, como se viu no julgamento pela Câmara das duas denúncias contra ele. Nesta linha é que devem ser consideradas as possíveis candidaturas de Henrique Meirelles, José Serra e mesmo Dória, que já perdeu o trem dentro do PSDB.
Um fato que permitirá alterações tardias no quadro de candidatos é o novo prazo de filiação partidária. Ele era de um ano antes do pleito, o que exigia a filiação até outubro passado. O Congresso reduziu este prazo para seis meses, de modo que, para concorrer, agora a escolha do partido pode ser feita até 7 de abril. Ou dias antes, porque nesta data a filiação precisa estar homologada. Com isso, a turma do vai-não-vai ganhou tempo para se definir e só em abril teremos um quadro mais claro. Quadro definitivo mesmo, só depois das convenções partidárias, no final de junho.
O lançamento de duas candidaturas do centro-conservador, ou liberais, como preferem se chamar, dividiria o campo deles e isso também ajudaria Lula. Mas se o candidato for um pouquinho palatável, pode atrair os setores da classe média antipetista que não engole Bolsonaro e também perdeu as ilusões com o tucanato. Lula, embora majoritária nas classes mais pobres, precisa reconquistar uma nesga da classe média que o PT perdeu.
A turma do Jaburu tem dito, em suas conversas com aliados do Congresso, que o governo não será espectador passivo da sucessão, como foi José Sarney em 1989, que também amargava alta impopularidade e tornou-se a Geni da campanha, atacado por todos os candidatos. Dizem eles que até junho a economia terá melhorado mais, e com ou sem reforma da Previdência, o governo terá um legado a defender. É claro que isso soa a escárnio, pois o legado que o governo Temer deixará será a marca da corrupção que vai do chefe aos auxiliares, será o retrocesso na área social, o entreguismo das riquezas nacionais, a involução na frente ambiental e esta reforma trabalhista que agora entra em vigor, prometendo aos trabalhadores relações de trabalho precárias e inseguras. Mas é o que dizem, acreditando talvez que o eleitor não tenha discernimento para entender o que aconteceu no Brasil a partir do golpe.
Um eventual candidato governista seria Meirelles, que acaba de anunciar ter adiado para o ano que vem a decisão de concorrer ou não. Ele é filiado ao PSD e poderia ser apoiado por alguns partidos do Centrão e talvez pelos tucanos governistas – a turma de Aécio e Aloysio Nunes Ferreira. Mas sem resultados econômicos robustos a apresentar, iria capitalizar o quê na campanha? A PEC do teto dos gastos e o mega rombo fiscal que ficará para o sucessor?
Serra é outra hipótese. Ele não desistiu de disputar a Presidência e na semana passada, numa reunião do PSDB, declarou que será candidato. Perguntado, não quis dizer a qual cargo. Como ele ainda tem quatro anos de mandato como senador, só lhe interessaria concorrer a governador ou a presidente. Na trombada entre Aécio e Tasso Jereissati, não fez declarações, não se posicionou mas continua afinado com o governo que integrou como chanceler. Dependendo do rumo que a crise interna tomar, ele e alguns podem deixar o PSDB e filiar-se ao PMDB para concorrer com apoio do governo. Vale dizer, da máquina. Serra hoje tricota mais com os peemedebistas do que com os tucanos. Dória também poderia fazer este mesmo jogo, se oficializada a opção por Alckmin, mas nesta altura, seu nome já é uma fruta desidratada.
Luciano Huck é outro jogo. Ele está se movimentando intensamente e promete decidir até o final do ano se entra ou não no jogo, embora tenha prazo até abril para se filiar. O PPS já lhe abriu as portas, tendo ele até se reunido com Roberto Freire e Raul Jugmann. Como gosta o PPS deste papel de barriga de aluguel! Mas Huck seria um nome apoiado pelas Organizações Globo, que hoje combatem o governo Temer e a parcela aecista que o apoia. De modo que Huck pode ser um fato novo mas não seria o tal candidato apoiado pela máquina.
Você, que não consegue imaginar-se dizendo “o presidente Bolsonaro”, já imaginou pronunciando um “presidente Huck”? Seria castigo demais para um país já tão maltratado. Mas eles dois, como “out siders”, nomes de fora da política (Bolsonaro é deputado mas não integra a elite política dominante) apostam em algo que é real: a indisposição de uma vasta parcela do eleitorado para votar em políticos já conhecidos e experimentados. O problema viria depois: eles não têm noção do que seja governar o Brasil, não dispõem de estrutura partidária que lhes proporcione um “fio terra” com a realidade politica, e não dominam o jogo com o Congresso, uma condição fundamental para a governança do Brasil.
Até aqui, o que enxergávamos na disputa presidencial era Lula na liderança, apesar do empenho em sua inabilitação, Bolsonaro em segundo lugar e um candidato tucano que dificilmente não seria Geraldo Alckmin, tentando viabilizar-se como alternativa de centro à polarização direita X esquerda. Com o agravamento da crise interna do PSDB, dificilmente o partido marchará unido em torno de um candidato e é de sua provável cisão, depois do confronto interno de dezembro, que pode surgir um quarto nome, reunindo forças do centro-conservador e, por inverossímil que pareça, contando com o apoio do governo.
Temer está com popularidade em 3%, o que significa zero, considerada a margem de erro, e seu apoio seria o beijo da morte para qualquer candidato. Mas é bom lembrar que uma coisa é o apoio do presidente, outra é o do governo, o que significaria o uso da poderosa máquina federal a favor do candidato governista. Temer já mostrou que não tem o menor pudor em fazer isso, como se viu no julgamento pela Câmara das duas denúncias contra ele. Nesta linha é que devem ser consideradas as possíveis candidaturas de Henrique Meirelles, José Serra e mesmo Dória, que já perdeu o trem dentro do PSDB.
Um fato que permitirá alterações tardias no quadro de candidatos é o novo prazo de filiação partidária. Ele era de um ano antes do pleito, o que exigia a filiação até outubro passado. O Congresso reduziu este prazo para seis meses, de modo que, para concorrer, agora a escolha do partido pode ser feita até 7 de abril. Ou dias antes, porque nesta data a filiação precisa estar homologada. Com isso, a turma do vai-não-vai ganhou tempo para se definir e só em abril teremos um quadro mais claro. Quadro definitivo mesmo, só depois das convenções partidárias, no final de junho.
O lançamento de duas candidaturas do centro-conservador, ou liberais, como preferem se chamar, dividiria o campo deles e isso também ajudaria Lula. Mas se o candidato for um pouquinho palatável, pode atrair os setores da classe média antipetista que não engole Bolsonaro e também perdeu as ilusões com o tucanato. Lula, embora majoritária nas classes mais pobres, precisa reconquistar uma nesga da classe média que o PT perdeu.
A turma do Jaburu tem dito, em suas conversas com aliados do Congresso, que o governo não será espectador passivo da sucessão, como foi José Sarney em 1989, que também amargava alta impopularidade e tornou-se a Geni da campanha, atacado por todos os candidatos. Dizem eles que até junho a economia terá melhorado mais, e com ou sem reforma da Previdência, o governo terá um legado a defender. É claro que isso soa a escárnio, pois o legado que o governo Temer deixará será a marca da corrupção que vai do chefe aos auxiliares, será o retrocesso na área social, o entreguismo das riquezas nacionais, a involução na frente ambiental e esta reforma trabalhista que agora entra em vigor, prometendo aos trabalhadores relações de trabalho precárias e inseguras. Mas é o que dizem, acreditando talvez que o eleitor não tenha discernimento para entender o que aconteceu no Brasil a partir do golpe.
Um eventual candidato governista seria Meirelles, que acaba de anunciar ter adiado para o ano que vem a decisão de concorrer ou não. Ele é filiado ao PSD e poderia ser apoiado por alguns partidos do Centrão e talvez pelos tucanos governistas – a turma de Aécio e Aloysio Nunes Ferreira. Mas sem resultados econômicos robustos a apresentar, iria capitalizar o quê na campanha? A PEC do teto dos gastos e o mega rombo fiscal que ficará para o sucessor?
Serra é outra hipótese. Ele não desistiu de disputar a Presidência e na semana passada, numa reunião do PSDB, declarou que será candidato. Perguntado, não quis dizer a qual cargo. Como ele ainda tem quatro anos de mandato como senador, só lhe interessaria concorrer a governador ou a presidente. Na trombada entre Aécio e Tasso Jereissati, não fez declarações, não se posicionou mas continua afinado com o governo que integrou como chanceler. Dependendo do rumo que a crise interna tomar, ele e alguns podem deixar o PSDB e filiar-se ao PMDB para concorrer com apoio do governo. Vale dizer, da máquina. Serra hoje tricota mais com os peemedebistas do que com os tucanos. Dória também poderia fazer este mesmo jogo, se oficializada a opção por Alckmin, mas nesta altura, seu nome já é uma fruta desidratada.
Luciano Huck é outro jogo. Ele está se movimentando intensamente e promete decidir até o final do ano se entra ou não no jogo, embora tenha prazo até abril para se filiar. O PPS já lhe abriu as portas, tendo ele até se reunido com Roberto Freire e Raul Jugmann. Como gosta o PPS deste papel de barriga de aluguel! Mas Huck seria um nome apoiado pelas Organizações Globo, que hoje combatem o governo Temer e a parcela aecista que o apoia. De modo que Huck pode ser um fato novo mas não seria o tal candidato apoiado pela máquina.
Você, que não consegue imaginar-se dizendo “o presidente Bolsonaro”, já imaginou pronunciando um “presidente Huck”? Seria castigo demais para um país já tão maltratado. Mas eles dois, como “out siders”, nomes de fora da política (Bolsonaro é deputado mas não integra a elite política dominante) apostam em algo que é real: a indisposição de uma vasta parcela do eleitorado para votar em políticos já conhecidos e experimentados. O problema viria depois: eles não têm noção do que seja governar o Brasil, não dispõem de estrutura partidária que lhes proporcione um “fio terra” com a realidade politica, e não dominam o jogo com o Congresso, uma condição fundamental para a governança do Brasil.
O golpe, todos sabemos, só aconteceu porque a maioria parlamentar se juntou e decidiu derrubar Dilma. Numa tacada, poderiam “estancara a sangria” da Lava Jato, usurpar o governo e servir ao deus-mercado impondo uma agenda que o eleitorado rejeitou em 2014. Um presidente que venha de fora do sistema político, como Bolsonaro e Huck, não traria a necessária e urgente estabilização politica. Ao menor vacilo na relação com o Congresso, seria enxotado. Agora eles já sabem como é fácil dar um golpe manipulando o princípio do impeachment.
1 comentários:
Deus nos livre e guarde:é tragédia demais para um pobre país e a grande
maioria de sua população...
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