Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
As modas vêm e vão no debate político e agora é a vez da “terceira via”. Há algum tempo, políticos, jornalistas e entendidos dedicam-se a especular a respeito de quem poderia ser o candidato que encarnaria a tal terceira via nas próximas eleições presidenciais.
Como se o voto fosse determinado pela oferta do sistema político e não resultasse fundamentalmente da procura dos eleitores por aquele ou aquela que os represente. Essa moda não surgiu agora. Desde, pelo menos, 2002, todas as nossas eleições passaram por ela.
Discutir a terceira via é admitir que a primeira e a segunda existem e são sólidas. É reconhecer que os eleitores chegam a uma eleição com identidades políticas constituídas e histórico pessoal (e familiar) de voto. O PT é a “primeira via” da política no Brasil contemporâneo e assim se estruturou nos cinco anos entre a eleição de 1989, a crise do impeachment de Fernando Collor e o governo de Itamar Franco. Tendo recebido quase metade dos votos em sua primeira eleição nacional, Lula era, em 1994, o candidato natural do PT, o único partido significativo de oposição a Collor que não fizera parte da base parlamentar de Itamar.
As pesquisas de intenção de voto mostravam seu favoritismo e, consequentemente, do PT e das esquerdas, naquela eleição. As forças de centro e de direita estavam desgastadas pelo contágio com a imagem de Collor e fragmentadas, sem uma candidatura capaz de unificá-las. A dupla manobra da aliança do PSDB com o PFL e do lançamento do Plano Real, criado para turbinar a candidatura de Fernando Henrique Cardoso, resolveu o problema. Deu a vitória ao tucano, preparou-o para a reeleição em 1998 e transformou o PSDB na “segunda via” de nossa vida política.
E assim viemos desde então, em um sistema bipartidário no topo e desorganizadamente multipartidário na base. Todas as eleições presidenciais se resolveram no embate entre a primeira via, a do lulopetismo, e a segunda, do PSDB e forças-satélites. Para os demais partidos restaram a equidistância oportunista do PMDB e o desejo nunca realizado a ser a “terceira via”.
Em nossas últimas quatro eleições, sempre houve quem quisesse assumir o papel. Tipicamente, em projetos de cunho personalista, de quem se supõe melhor que os candidatos principais e termina abraçado a um deles no segundo turno (ou trocando beijos, como Marina Silva com Aécio Neves em 2014).
O que é diferente agora é o inesperado esfarelar-se do polo tucano. Em uma dessas viradas engraçadas do destino, a coalizão que derrubou Dilma Rousseff atirou no que viu e matou o que não viu: querendo acabar com o petismo, fez desmoronar o PSDB e revigorou o PT.
As mudanças na “segunda via” só são compreensíveis em função da força que Lula readquiriu. A falta de opções confiáveis para enfrentá-lo no PSDB, somada ao sentimento majoritário no País de que “Lula ganha se disputar”, fizeram com que a parte antipetista e antilulista da sociedade fosse buscar um rosto diferente fora do tucanato. Encontraram Jair Bolsonaro. Hoje, o candidato da segunda via é o capitão, gostem ou não os remanescentes de um grupo que já foi expressivo, os “intelectuais tucanos”.
Se consideramos as pesquisas atuais mais confiáveis a respeito das intenções espontâneas de voto, vemos que o eleitorado se encontra razoavelmente estruturado. Na mais recente pesquisa CUT/Vox Populi, que usa a metodologia internacionalmente consagrada para medi-las, vemos que, ao longo de 2107, apenas 25% dos eleitores vêm dizendo não saber em quem votarão no ano que vem.
Hoje, cerca de 20% respondem que votarão em branco ou anularão o voto, restando 55% de votos nominais. Nestes, 35% são para Lula e 20% para outros candidatos, sendo 10% de Bolsonaro e 10% de todos os demais. Os dois do PSDB que ultrapassam 0,5% são Geraldo Alckmin e João Doria, cada um com 1%. A taxa de indecisão de 25% é inferior ao padrão de eleições presidenciais anteriores. No início de 2002, por exemplo, dados da Vox Populi indicavam que era mais que o dobro, alcançando 54%. Em 2006, mais alta ainda: 64%.
“Terceira via”, em sistemas políticos como o nosso e diante de um quadro de baixa indecisão, é projeto para candidaturas pequenas, “de atitude”, ou que cultivam ilusões improváveis de grandeza. São as que sonham ser a reencarnação do Fernando Collor de 1989, esquecendo-se que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
Muita gente que conhece a vida política brasileira aposta que, quando estivermos mais perto da eleição, voltaremos à velha bipolaridade de PT versus PSDB. Por ora, no entanto, o que temos é um polo petista revigorado e uma segunda via com a cara de Jair Bolsonaro. Terceira via, por enquanto, só para fazer figuração.
As modas vêm e vão no debate político e agora é a vez da “terceira via”. Há algum tempo, políticos, jornalistas e entendidos dedicam-se a especular a respeito de quem poderia ser o candidato que encarnaria a tal terceira via nas próximas eleições presidenciais.
Como se o voto fosse determinado pela oferta do sistema político e não resultasse fundamentalmente da procura dos eleitores por aquele ou aquela que os represente. Essa moda não surgiu agora. Desde, pelo menos, 2002, todas as nossas eleições passaram por ela.
Discutir a terceira via é admitir que a primeira e a segunda existem e são sólidas. É reconhecer que os eleitores chegam a uma eleição com identidades políticas constituídas e histórico pessoal (e familiar) de voto. O PT é a “primeira via” da política no Brasil contemporâneo e assim se estruturou nos cinco anos entre a eleição de 1989, a crise do impeachment de Fernando Collor e o governo de Itamar Franco. Tendo recebido quase metade dos votos em sua primeira eleição nacional, Lula era, em 1994, o candidato natural do PT, o único partido significativo de oposição a Collor que não fizera parte da base parlamentar de Itamar.
As pesquisas de intenção de voto mostravam seu favoritismo e, consequentemente, do PT e das esquerdas, naquela eleição. As forças de centro e de direita estavam desgastadas pelo contágio com a imagem de Collor e fragmentadas, sem uma candidatura capaz de unificá-las. A dupla manobra da aliança do PSDB com o PFL e do lançamento do Plano Real, criado para turbinar a candidatura de Fernando Henrique Cardoso, resolveu o problema. Deu a vitória ao tucano, preparou-o para a reeleição em 1998 e transformou o PSDB na “segunda via” de nossa vida política.
E assim viemos desde então, em um sistema bipartidário no topo e desorganizadamente multipartidário na base. Todas as eleições presidenciais se resolveram no embate entre a primeira via, a do lulopetismo, e a segunda, do PSDB e forças-satélites. Para os demais partidos restaram a equidistância oportunista do PMDB e o desejo nunca realizado a ser a “terceira via”.
Em nossas últimas quatro eleições, sempre houve quem quisesse assumir o papel. Tipicamente, em projetos de cunho personalista, de quem se supõe melhor que os candidatos principais e termina abraçado a um deles no segundo turno (ou trocando beijos, como Marina Silva com Aécio Neves em 2014).
O que é diferente agora é o inesperado esfarelar-se do polo tucano. Em uma dessas viradas engraçadas do destino, a coalizão que derrubou Dilma Rousseff atirou no que viu e matou o que não viu: querendo acabar com o petismo, fez desmoronar o PSDB e revigorou o PT.
As mudanças na “segunda via” só são compreensíveis em função da força que Lula readquiriu. A falta de opções confiáveis para enfrentá-lo no PSDB, somada ao sentimento majoritário no País de que “Lula ganha se disputar”, fizeram com que a parte antipetista e antilulista da sociedade fosse buscar um rosto diferente fora do tucanato. Encontraram Jair Bolsonaro. Hoje, o candidato da segunda via é o capitão, gostem ou não os remanescentes de um grupo que já foi expressivo, os “intelectuais tucanos”.
Se consideramos as pesquisas atuais mais confiáveis a respeito das intenções espontâneas de voto, vemos que o eleitorado se encontra razoavelmente estruturado. Na mais recente pesquisa CUT/Vox Populi, que usa a metodologia internacionalmente consagrada para medi-las, vemos que, ao longo de 2107, apenas 25% dos eleitores vêm dizendo não saber em quem votarão no ano que vem.
Hoje, cerca de 20% respondem que votarão em branco ou anularão o voto, restando 55% de votos nominais. Nestes, 35% são para Lula e 20% para outros candidatos, sendo 10% de Bolsonaro e 10% de todos os demais. Os dois do PSDB que ultrapassam 0,5% são Geraldo Alckmin e João Doria, cada um com 1%. A taxa de indecisão de 25% é inferior ao padrão de eleições presidenciais anteriores. No início de 2002, por exemplo, dados da Vox Populi indicavam que era mais que o dobro, alcançando 54%. Em 2006, mais alta ainda: 64%.
“Terceira via”, em sistemas políticos como o nosso e diante de um quadro de baixa indecisão, é projeto para candidaturas pequenas, “de atitude”, ou que cultivam ilusões improváveis de grandeza. São as que sonham ser a reencarnação do Fernando Collor de 1989, esquecendo-se que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
Muita gente que conhece a vida política brasileira aposta que, quando estivermos mais perto da eleição, voltaremos à velha bipolaridade de PT versus PSDB. Por ora, no entanto, o que temos é um polo petista revigorado e uma segunda via com a cara de Jair Bolsonaro. Terceira via, por enquanto, só para fazer figuração.
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