Por Inês Castilho, no site Outras Palavras:
São Paulo, 1968. O movimento estudantil ferve nas ruas, e a repressão avança com a proximidade do AI-5. A Folha da Tarde é o único entre os jornais da grande imprensa que cobre as manifestações (1). Na redação, entre cerca de 40 homens, apenas três mulheres, muito jovens: Rose Nogueira, uma fotógrafa nipo-brasileira e eu, grávida.
Já não estávamos em 1930, quando nas redações mulher “circulava na área de serviço”, como relata José Hamilton Ribeiro em depoimento para pesquisa da USP (2). “Nem havia banheiro feminino. No Estadão, à noite, quando fervia o trabalho jornalístico, as mulheres não eram aceitas nem na mesa telefônica. Havia mulheres como telefonistas, mas só durante o dia. Mulher podia ser telefonista, faxineira ou servia para fazer o café: circulava na área de serviço”.
Mas a cena ainda era muito diferente da de hoje, quando as mulheres são mais de 60% entre os profissionais (ainda assim, no masculino) de jornalismo. Um crescimento geométrico: de 7% em 1950, passamos a 50,3% em 2003 (3).
Contudo, continuamos de certa forma confinadas. Divulgado no Rio de Janeiro semana passada, o estudo “Mulheres no Jornalismo Brasileiro” (5), uma realização da Gênero e Número em parceria com a Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, dá um panorama sobre a divisão de trabalho, a diferença salarial e o assédio nas redações brasileiras.
Aliando métodos quantitativos (questionário online) e qualitativos (grupos focais), a pesquisa ouviu mulheres de quatro cidades brasileiras (Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília e São Paulo) com o objetivo de mapear as desigualdades de gênero na mídia hegemônica brasileira. Os resultados mostram que a discriminação de gênero ocorre em todos os momentos da vida profissional das mulheres: contratação, demissão, promoção, definição de salário, direitos, distribuição de tarefas e oportunidades de crescimento profissional.
Num universo de 477 jornalistas, 53,4% afirmaram que em suas organizações as mulheres têm menos oportunidades que os homens de progredir na carreira. E 86,4% afirmaram já ter passado por pelo menos uma situação de discriminação de gênero no trabalho – a mais comum foi na distribuição de tarefas (57,7), seguida por promoção no emprego (39,4), oportunidade de trabalho (36,9) e obtenção de aumento (35,4).
“O gênero e os estereótipos de gênero colaboram para produzir desigualdades nos arranjos institucionais no interior das organizações jornalísticas, influenciando as relações, as redes profissionais, determinando formas de divisão do trabalho e influenciando processos de ascensão profissional e econômica de forma prejudicial às mulheres e favorável aos homens” – afirma a pesquisa.
Assédio sexual
Notas
São Paulo, 1968. O movimento estudantil ferve nas ruas, e a repressão avança com a proximidade do AI-5. A Folha da Tarde é o único entre os jornais da grande imprensa que cobre as manifestações (1). Na redação, entre cerca de 40 homens, apenas três mulheres, muito jovens: Rose Nogueira, uma fotógrafa nipo-brasileira e eu, grávida.
Já não estávamos em 1930, quando nas redações mulher “circulava na área de serviço”, como relata José Hamilton Ribeiro em depoimento para pesquisa da USP (2). “Nem havia banheiro feminino. No Estadão, à noite, quando fervia o trabalho jornalístico, as mulheres não eram aceitas nem na mesa telefônica. Havia mulheres como telefonistas, mas só durante o dia. Mulher podia ser telefonista, faxineira ou servia para fazer o café: circulava na área de serviço”.
Mas a cena ainda era muito diferente da de hoje, quando as mulheres são mais de 60% entre os profissionais (ainda assim, no masculino) de jornalismo. Um crescimento geométrico: de 7% em 1950, passamos a 50,3% em 2003 (3).
Contudo, continuamos de certa forma confinadas. Divulgado no Rio de Janeiro semana passada, o estudo “Mulheres no Jornalismo Brasileiro” (5), uma realização da Gênero e Número em parceria com a Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, dá um panorama sobre a divisão de trabalho, a diferença salarial e o assédio nas redações brasileiras.
Aliando métodos quantitativos (questionário online) e qualitativos (grupos focais), a pesquisa ouviu mulheres de quatro cidades brasileiras (Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília e São Paulo) com o objetivo de mapear as desigualdades de gênero na mídia hegemônica brasileira. Os resultados mostram que a discriminação de gênero ocorre em todos os momentos da vida profissional das mulheres: contratação, demissão, promoção, definição de salário, direitos, distribuição de tarefas e oportunidades de crescimento profissional.
Num universo de 477 jornalistas, 53,4% afirmaram que em suas organizações as mulheres têm menos oportunidades que os homens de progredir na carreira. E 86,4% afirmaram já ter passado por pelo menos uma situação de discriminação de gênero no trabalho – a mais comum foi na distribuição de tarefas (57,7), seguida por promoção no emprego (39,4), oportunidade de trabalho (36,9) e obtenção de aumento (35,4).
“O gênero e os estereótipos de gênero colaboram para produzir desigualdades nos arranjos institucionais no interior das organizações jornalísticas, influenciando as relações, as redes profissionais, determinando formas de divisão do trabalho e influenciando processos de ascensão profissional e econômica de forma prejudicial às mulheres e favorável aos homens” – afirma a pesquisa.
Assédio sexual
O tema mais mencionado foi o assédio sexual: 70,4% das 477 mulheres que responderam ao questionário admitiram já terem recebido cantadas que as deixaram desconfortáveis no exercício da profissão. Assédios casuais ou contínuos, crescentes e intimidadores, de chefes, colegas e fontes – como o caso do assassinato, com dois tiros pelas costas, da editora de economia Sandra Gomide pelo chefe de redação do Estadão, Antonio Pimenta Neves – coincidentemente um dos editores da Folha da Tarde em 1968. Cometido em 2000, o assassinato foi julgado em 2006 e Pimenta Neves, condenado a 19 anos, só foi preso em 2011 – e já em 2016 passou a regime aberto.
O assédio sexual, revelam as participantes da pesquisa, pode ser uma iniciativa individual e escondida, numa sala fechada, por mensagens ou email. Ou também o que uma informante classificou de “assédio coletivo”, quando é usado por um grupo de homens como forma de interação entre si, às custas da dignidade das colegas.
“Esse último tipo de assédio estabelece um clima de tolerância, cumplicidade masculina e normalidade com relação aos comentários, piadas e outras formas de assédio sexual nas redações, o que torna a reação ou denúncia mais difícil e penosa, uma vez que o comportamento do(s) assediador(es) é validado pelo grupo.”
As jornalistas tentam se proteger do assédio das fontes restringindo o contato com seus informantes ao essencial e recusando convites para cafés e jantares, quando geralmente são feitas entrevistas e conversas. Isso é limitador à sua atuação como repórter, como bem resumiu uma informante: “Eu não janto com fonte, e isso já nos coloca atrás”.
A percepção das mulheres como objeto sexual é generalizada: 75,3% das jornalistas admitiram já ter ouvido comentário sobre suas roupas, corpo ou aparência que as deixaram desconfortáveis no exercício da profissão. Sugestões da chefia para usar decotes e roupas curtas em determinadas situações, por um lado, ou para não usar vestido ou sandália, por outro, são comuns. “Eu já fui retirada da primeira fileira [numa sessão da plenária do STF] por estar de saia, porque atrapalharia a TV Justiça e desconcentraria os ministros.” “E aí ele falava: ‘Olha, você não pode usar sapato aberto porque as pessoas podem reparar nos teus pés…’” “Um editor me falou ‘Ah, eu sugiro que você bote um decote bem caprichado e vá falar’”.
Segundo chefias e colegas, cabe a elas administrar os casos de assédio, seja sabendo “se impor”, seja reavaliando a própria conduta. “É bizarro, porque você sabe que tem um cara assim na redação e ao invés de irem falar com ele para parar, você diz ‘mulheres, tomem cuidado com esse homem’”.
Apesar de toda essa pressão, 46% das participantes da pesquisa disseram que as empresas em que trabalham não têm canais para receber e responder a denúncias de assédio e discriminação de gênero. Somente 30% delas disseram que as empresas têm esse tipo de canal, mas destas somente 30,8% os consideram eficazes. Não sem razão, apenas 15,1% das jornalistas afirmaram já ter denunciado os assédios sofridos.
Salário, gravidez, poder
O assédio sexual, revelam as participantes da pesquisa, pode ser uma iniciativa individual e escondida, numa sala fechada, por mensagens ou email. Ou também o que uma informante classificou de “assédio coletivo”, quando é usado por um grupo de homens como forma de interação entre si, às custas da dignidade das colegas.
“Esse último tipo de assédio estabelece um clima de tolerância, cumplicidade masculina e normalidade com relação aos comentários, piadas e outras formas de assédio sexual nas redações, o que torna a reação ou denúncia mais difícil e penosa, uma vez que o comportamento do(s) assediador(es) é validado pelo grupo.”
As jornalistas tentam se proteger do assédio das fontes restringindo o contato com seus informantes ao essencial e recusando convites para cafés e jantares, quando geralmente são feitas entrevistas e conversas. Isso é limitador à sua atuação como repórter, como bem resumiu uma informante: “Eu não janto com fonte, e isso já nos coloca atrás”.
A percepção das mulheres como objeto sexual é generalizada: 75,3% das jornalistas admitiram já ter ouvido comentário sobre suas roupas, corpo ou aparência que as deixaram desconfortáveis no exercício da profissão. Sugestões da chefia para usar decotes e roupas curtas em determinadas situações, por um lado, ou para não usar vestido ou sandália, por outro, são comuns. “Eu já fui retirada da primeira fileira [numa sessão da plenária do STF] por estar de saia, porque atrapalharia a TV Justiça e desconcentraria os ministros.” “E aí ele falava: ‘Olha, você não pode usar sapato aberto porque as pessoas podem reparar nos teus pés…’” “Um editor me falou ‘Ah, eu sugiro que você bote um decote bem caprichado e vá falar’”.
Segundo chefias e colegas, cabe a elas administrar os casos de assédio, seja sabendo “se impor”, seja reavaliando a própria conduta. “É bizarro, porque você sabe que tem um cara assim na redação e ao invés de irem falar com ele para parar, você diz ‘mulheres, tomem cuidado com esse homem’”.
Apesar de toda essa pressão, 46% das participantes da pesquisa disseram que as empresas em que trabalham não têm canais para receber e responder a denúncias de assédio e discriminação de gênero. Somente 30% delas disseram que as empresas têm esse tipo de canal, mas destas somente 30,8% os consideram eficazes. Não sem razão, apenas 15,1% das jornalistas afirmaram já ter denunciado os assédios sofridos.
Salário, gravidez, poder
A pesquisa mostra que as mulheres tendem a receber salários menores e ser excluídas dos cargos de maior prestígio e remuneração. O estudo da UFSC, que ouviu 2.731 jornalistas, revela que a maioria das jornalistas mulheres está na faixa salarial de até cinco salários mínimos, enquanto a maioria dos homens ganha acima de cinco.
Trata-se da persistência, também no imaginário dessa categoria profissional, de que o trabalho feminino é “complementar” e “inferior” ao do homem, influenciando o valor dos salários e direitos do trabalho. “Eu tive um colega na mesma posição que eu, antes de eu ter o cargo de chefia, com o salário muito mais alto por ele ser o homem da família”, exemplificou uma participante.
No cálculo salarial entra ainda a possibilidade da jornalista engravidar e usufruir de licença maternidade, considerada um prejuízo à empresa. O assédio moral sofrido pelas jornalistas para que não engravidem foi muito mencionado pelas participantes. “…Eu tava fazendo três anos no [jornal X], estava fazendo uma pauta muito pesada e achei que o momento era ótimo [para pedir um aumento]. A resposta que eu tive foi: ‘Você veio me pedir um aumento com esse barrigão?’”.
O fato de 84,9% das participantes não terem filhos menores de 18 anos sugere que as pressões sobre o tempo, a imprevisibilidade de horários e as exigências de escala nos finais de semana desencorajam as mães de crianças – que ainda carregam o maior peso no cuidados com os filhos – a trabalhar nas redações.
As mulheres tendem também a ser excluídas dos cargos de maior prestígio e remuneração, tais como editores, coordenadores e diretores. Apenas 19,4% das entrevistadas apontaram haver igual proporção de homens e mulheres nessas posições, enquanto 65,4% alegaram haver mais homens em cargos de poder e somente 15% disseram haver mais mulheres.
“No tocante à cor ou raça, o quadro é dramaticamente desigual. Um total de 94,5% das respondentes disse haver mais pessoas brancas do que negras em seus veículos. Nos cargos de liderança, esse percentual foi de 95,6%” – revela a pesquisa.
As mulheres editoras estão concentradas nas áreas de turismo, moda, gastronomia e estilo de vida, enquanto os homens se concentram em esportes e tecnologia, sugerindo uma certa divisão do trabalho jornalístico conforme os antigos estereótipos de trabalho feminino e masculino. “Quando é pauta com criança é mulher fazendo, sempre!”.
No entanto, afirma o estudo, a forte presença de mulheres editoras em áreas como jornalismo econômico mostra que há mais nuances nesse quadro e que as mulheres têm conquistado posições antes consideradas domínios masculinos.
Violência
Trata-se da persistência, também no imaginário dessa categoria profissional, de que o trabalho feminino é “complementar” e “inferior” ao do homem, influenciando o valor dos salários e direitos do trabalho. “Eu tive um colega na mesma posição que eu, antes de eu ter o cargo de chefia, com o salário muito mais alto por ele ser o homem da família”, exemplificou uma participante.
No cálculo salarial entra ainda a possibilidade da jornalista engravidar e usufruir de licença maternidade, considerada um prejuízo à empresa. O assédio moral sofrido pelas jornalistas para que não engravidem foi muito mencionado pelas participantes. “…Eu tava fazendo três anos no [jornal X], estava fazendo uma pauta muito pesada e achei que o momento era ótimo [para pedir um aumento]. A resposta que eu tive foi: ‘Você veio me pedir um aumento com esse barrigão?’”.
O fato de 84,9% das participantes não terem filhos menores de 18 anos sugere que as pressões sobre o tempo, a imprevisibilidade de horários e as exigências de escala nos finais de semana desencorajam as mães de crianças – que ainda carregam o maior peso no cuidados com os filhos – a trabalhar nas redações.
As mulheres tendem também a ser excluídas dos cargos de maior prestígio e remuneração, tais como editores, coordenadores e diretores. Apenas 19,4% das entrevistadas apontaram haver igual proporção de homens e mulheres nessas posições, enquanto 65,4% alegaram haver mais homens em cargos de poder e somente 15% disseram haver mais mulheres.
“No tocante à cor ou raça, o quadro é dramaticamente desigual. Um total de 94,5% das respondentes disse haver mais pessoas brancas do que negras em seus veículos. Nos cargos de liderança, esse percentual foi de 95,6%” – revela a pesquisa.
As mulheres editoras estão concentradas nas áreas de turismo, moda, gastronomia e estilo de vida, enquanto os homens se concentram em esportes e tecnologia, sugerindo uma certa divisão do trabalho jornalístico conforme os antigos estereótipos de trabalho feminino e masculino. “Quando é pauta com criança é mulher fazendo, sempre!”.
No entanto, afirma o estudo, a forte presença de mulheres editoras em áreas como jornalismo econômico mostra que há mais nuances nesse quadro e que as mulheres têm conquistado posições antes consideradas domínios masculinos.
Violência
Também nas redações manifesta-se a violência contra as mulheres: 83,6% das jornalistas relataram já ter sofrido ao menos uma das situações de violência psicológica listadas no questionário. As formas mais comuns são abuso de poder ou autoridade, intimidação verbal, escrita ou física e insultos verbais, seja na relação com as chefias ou com as fontes.
Insultos verbais foram relatados por 44,2% das entrevistadas, humilhação em público por 40,5%, abuso de poder ou autoridade por 63,9%, intimidação verbal por 59,7% e tentativa de causar danos à reputação por 31,0%.
Insultos verbais foram relatados por 44,2% das entrevistadas, humilhação em público por 40,5%, abuso de poder ou autoridade por 63,9%, intimidação verbal por 59,7% e tentativa de causar danos à reputação por 31,0%.
Agressões físicas no exercício da profissão foram sofridas por 17,3% (80 mulheres). Na metade dos casos (52,8%) a agressão veio de desconhecidos, mas os agressores foram também superiores hierárquicos (18%), colegas de trabalho (15%) e fontes (14%). Em 90,3% dos casos o gênero do agressor era masculino. Apesar disso, apenas 24,3% das mulheres responderam positivamente à pergunta: Você diria que a sua empresa adota medidas para proteger a sua segurança pessoal?.
Elas apontaram também formas mais sutis – ou veladas – de violência e discriminação de gênero. Como o questionamento frequente de sua competência, o tratamento com mais condescendência e menos seriedade, além de distribuição desigual do poder e da palavra, e invisibilidade ou mesmo apropriação do seu trabalho pelos colegas do gênero masculino. “Quando o colega homem fala, parece que tem mais garantia nisso. Quando a gente vai apresentar uma coisa tem que estar com todas as provas na mesa para mostrar que aquilo que a gente está dizendo é aquilo que a gente tá dizendo”.
Hegemonia masculina
Elas apontaram também formas mais sutis – ou veladas – de violência e discriminação de gênero. Como o questionamento frequente de sua competência, o tratamento com mais condescendência e menos seriedade, além de distribuição desigual do poder e da palavra, e invisibilidade ou mesmo apropriação do seu trabalho pelos colegas do gênero masculino. “Quando o colega homem fala, parece que tem mais garantia nisso. Quando a gente vai apresentar uma coisa tem que estar com todas as provas na mesa para mostrar que aquilo que a gente está dizendo é aquilo que a gente tá dizendo”.
Hegemonia masculina
Essa hegemonia masculina na grande imprensa – ainda importante na definição das pautas do debate público – traz consequências na escolha dos temas tratados e na forma de tratá-los.
As jornalistas queixam-se com frequência de que editores e colegas homens tendem a banalizar temas como violência doméstica, estupro, feminicídio, discriminação e machismo. “Algumas reclamaram da interferência de editores em suas matérias, apontando sua tendência a eufemizar os casos ou suavizar as matérias, incluindo trocadilhos ou brincadeiras nos títulos de textos que reportam casos de violência contra a mulher. Mais de uma jornalista se queixou de ter tido o título de uma matéria alterado e depois enfrentar a revolta das leitoras mulheres.”
Ocorre também de editores homens fazerem sugestões a pretexto de “equilibrar” o texto, colocando os homens em posição simétrica à das mulheres em casos de violência. Ou então são as fontes que tendem a tratar os casos de forma a descaracterizar os crimes contra as mulheres. “E aí teve uma vez que eu fiz uma matéria e era caso de feminicídio, eu coloquei que era feminicídio e alguém foi lá e trocou por crime passional.”
Muitas jornalistas têm se esforçado para modificar esse quadro: 71% delas afirmaram já ter publicado ao menos uma matéria sobre a questão de gênero envolvendo desigualdade, discriminação ou representatividade da mulher em espaços de poder. “Sempre tenho matérias que falem sobre a mulher e é sempre muito difícil emplacar.”
Tentam também diversificar as fontes e entrevistar mais mulheres, segundo 43,1% das participantes da pesquisa. Adotam estratégias como estreitar o contato entre jornalistas mulheres e leitoras. A pesquisa revela que, diante da demanda crescente, algumas empresas começam, finalmente, a apoiar a diversificação das fontes quanto a gênero e raça.
“A mídia é central na reprodução de um discurso que reforça lógicas identitárias de uma sociedade patriarcal e de consumo. Ao decidir quem fala, quem escreve e o que é importante o suficiente para ser reportado, a mídia forma nossa compreensão de quem somos e do que podemos ser.”
As jornalistas queixam-se com frequência de que editores e colegas homens tendem a banalizar temas como violência doméstica, estupro, feminicídio, discriminação e machismo. “Algumas reclamaram da interferência de editores em suas matérias, apontando sua tendência a eufemizar os casos ou suavizar as matérias, incluindo trocadilhos ou brincadeiras nos títulos de textos que reportam casos de violência contra a mulher. Mais de uma jornalista se queixou de ter tido o título de uma matéria alterado e depois enfrentar a revolta das leitoras mulheres.”
Ocorre também de editores homens fazerem sugestões a pretexto de “equilibrar” o texto, colocando os homens em posição simétrica à das mulheres em casos de violência. Ou então são as fontes que tendem a tratar os casos de forma a descaracterizar os crimes contra as mulheres. “E aí teve uma vez que eu fiz uma matéria e era caso de feminicídio, eu coloquei que era feminicídio e alguém foi lá e trocou por crime passional.”
Muitas jornalistas têm se esforçado para modificar esse quadro: 71% delas afirmaram já ter publicado ao menos uma matéria sobre a questão de gênero envolvendo desigualdade, discriminação ou representatividade da mulher em espaços de poder. “Sempre tenho matérias que falem sobre a mulher e é sempre muito difícil emplacar.”
Tentam também diversificar as fontes e entrevistar mais mulheres, segundo 43,1% das participantes da pesquisa. Adotam estratégias como estreitar o contato entre jornalistas mulheres e leitoras. A pesquisa revela que, diante da demanda crescente, algumas empresas começam, finalmente, a apoiar a diversificação das fontes quanto a gênero e raça.
“A mídia é central na reprodução de um discurso que reforça lógicas identitárias de uma sociedade patriarcal e de consumo. Ao decidir quem fala, quem escreve e o que é importante o suficiente para ser reportado, a mídia forma nossa compreensão de quem somos e do que podemos ser.”
Notas
(1) “Até a véspera do Natal de 1968, a Folha da Tarde teve como editor-chefe Antônio Pimenta Neves. A redação de esquerda seria desmontada no início do ano seguinte. Em janeiro de 1969, Frei Betto cai na clandestinidade; em maio, Miranda Jordão, que se tornara peça importante no esquema de apoio a Marighella, e já fora do jornal, é demitido da empresa; e, em 4 de novembro, no mesmo dia em que o líder da ALN morre numa emboscada, Rose Nogueira é detida. Todo o grupo da organização subversiva que trabalhava na Folha da Tardeacaba sendo preso.”
http://www.editora3estrelas.folha.uol.com.br/primeiraleitura/16663-a-guinada-ideologica-da-br-ifolha-da-tarde-i.shtml
(2) “A inserção das mulheres no jornalismo e a imprensa alternativa: as primeiras experiências no final do século XIX”, de Eliza Bachega Casadei.
http://www.usp.br/alterjor/ojs/index.php/alterjor/article/viewArticle/aj3-d3
(3) “Quem é o jornalista brasileiro?”, lançada em maio de 2013 pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em parceria com a FENAJ.
http://perfildojornalista.ufsc.br/files/2013/04/Perfil-do-jornalista-brasileiro-Sintese.pdf
(4) Idem
(5) http://mulheresnojornalismo.org.br
http://www.editora3estrelas.folha.uol.com.br/primeiraleitura/16663-a-guinada-ideologica-da-br-ifolha-da-tarde-i.shtml
(2) “A inserção das mulheres no jornalismo e a imprensa alternativa: as primeiras experiências no final do século XIX”, de Eliza Bachega Casadei.
http://www.usp.br/alterjor/ojs/index.php/alterjor/article/viewArticle/aj3-d3
(3) “Quem é o jornalista brasileiro?”, lançada em maio de 2013 pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em parceria com a FENAJ.
http://perfildojornalista.ufsc.br/files/2013/04/Perfil-do-jornalista-brasileiro-Sintese.pdf
(4) Idem
(5) http://mulheresnojornalismo.org.br
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