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Freixo deu ontem uma entrevista para a Folha de S. Paulo que bombou nas redes. E o prato principal da polêmica foi a frase: “A gente vive um momento de reconstrução: qual esquerda a sociedade vai enxergar? Porque precisa enxergar o diferente. Não sei se esse é o momento de unificar todo mundo, não”. Os mais petistas vão me odiar, mas tendo a concordar com Freixo neste aspecto, em especial se Lula for candidato.
Se o ex-presidente puder disputar a eleição acho que deveria haver sim outras candidaturas à esquerda num primeiro turno para que esse campo pudesse expressar sua diversidade. Digo isso, porque considero diferentes as perspectivas políticas do que representam, por exemplo, Ciro Gomes e o PSoL, em especial. E também acho que Manoela, sendo candidata, poderia trazer um frescor ao debate. Porque só ela trataria de certos temas na campanha com muita autoridade, como a defesa dos direitos das mulheres, a luta contra a violência de gênero, a homofobia etc.
Ou seja, acho que essa frase de Freixo foi deslocada de contexto. E que isso tem relação com o resto da entrevista. Na qual, ele, que é uma grande liderança política, se comportou de forma mesquinha e e ególatra. Falando sempre em primeira pessoa para explicar as últimas decisões importantes do seu partido. E mesmo para comparar o fenômeno do voto Freixo e Bolsonaro.
Dizer que a decisão de convidar uma importante liderança, como Boulos, para ser o candidato do PSoL à presidência da República, se deu dessa forma: “Estava em casa, tomando um café com minha companheira, a Antônia. Conversávamos sobre o que é esta esquerda do século 21. Os olhos dela são meio que termômetro. Falei do Boulos, e arregalaram. Pensei: ‘Opa, ali tem caldo'”. E que depois disso testou o nome com sua equipe do gabinete e pummmm. Ligou pro Boulos e marcou um papo num boteco “bem vagaba” da Paulista. E que ao convidá-lo para o desafio, Boulos quase caiu da cadeira.
O contexto é a desqualificação completa da política e do PSoL como partido que deveria privilegiar o coletivo. Para convidar Boulos para disputar o cargo mais importante da nação, pela sua narrativa, sequer conversou com seus colegas deputados federais e estaduais do Rio de Janeiro. Muito menos com a direção da sigla. Escolheu Boulos apenas convencido de que o olhar de Antonia não erra. E pelo fato de a ideia ter sido aprovada pela galera do seu gabinete.
Há ainda um outro momento da entrevista onde Freixo mostra todo seu desconhecimento sobre intelectualidade. Ele diz que levou Boulos para conversar com “setores da intelectualidade” na casa da Paula (Lavigne, companheira de Caetano). E que as perguntas eram pertinentes: “O que vocês fazem é invadir a casa de alguém?” E “é justo ter mais imóvel vazio do que gente morando na rua?”
Que perguntas pertinentes são essas do ponto de vista da construção de um projeto nacional para o país? E com essa “intelectualidade” que não sabe a diferença entre invadir a casa de alguém e ocupar áreas abandonadas para debater o déficit habitacional que Freixo pretender construir um novo campo político e a esquerda do século 21? Pelamor….
Freixo é muito melhor do que essa entrevista e tem uma trajetória que não pode ser achincalhada por meia dúzia de frases. Incluindo a que ele fala do Bolsonaro, sem dar-lhe boas estocadas, como sempre faz Jean Wyllys, por exemplo.
Mas ao mesmo tempo deveria ter a humildade de ponderar sobre o que disse e de pedir desculpas, em especial, para seus colegas parlamentares e do partido. Talvez até para aquele que pretende tornar candidato a presidente da República, Guilherme Boulos. Porque conhecendo o líder do MTST, imagino que ele deve ter quase caído da cadeira, aí sim, ao ler a forma como Freixo “escolheu” seu nome.
Quem quer fazer uma nova política e construir uma nova esquerda não pode tomar decisões importantes, de forma messiânica, com base em olhares. E quem quiser fazer política de forma contemporânea tem que ter tranquilidade para dizer, me empolguei e errei. Desculpas e segue o jogo.
Se fizesse isso, Freixo ficaria muito maior. Fazer de conta que tudo naquela entrevista de ontem “é deboas” não vai levar o PSoL a ser o que muitos dos seus militantes sonham.
PS: Claro que como veio petista me cutucar quando escrevi este texto criticando a declaração de Lula sobre o PSoL, agora vai vir gente do PSoL me cutucar. É da vida. Mas antes peço que deem uma lidinha nesta nota aí linkada para que não errem ao dizer que se o Freixo fosse do PT eu não escreveria isso.
PS2: Se Lula não puder ser candidato defendo com todas as forças que a esquerda vá unida já no primeiro turno para a disputa eleitoral de 2018. Porque neste caso o risco de ficarmos sem um candidato mais à esquerda no segundo turno é imenso. E se isso acontecer, o golpe avançará sem freios.
1 comentários:
É triste ver alguns elementos tão inteligentes como Freixo ainda darem ´entrevista´para a Folha quando todos sabemos que haverá manipulação.
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