Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
Os movimentos eleitorais soam falsos, como uma camada de cinza volátil sobre as brasas que, com um pouco mais de vento, podem lançar labaredas. Esclarecido o destino do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que deixa o cargo no dia 6 de abril e filia-se ao MDB, o que se podemos esperar concretamente disso, quando julho chegar, é o lançamento da chapa Temer-Meirelles. Aceitando filiar-se sem garantia de que será o candidato do partido, Meirelles aceitou esquentar o lugar para Temer. Depois vira candidato a vice. E como Lula também se tornou inelegível ontem, com a recusa de seus recursos pelo TRF-4, independentemente do que decidirá o STF sobre seu pedido de habeas corpus para não ser preso, teremos nos próximos meses dois candidatos que serão figurantes temporários.
Para se impor como candidato, Meirelles teria de chegar a julho com índices gordos nas pesquisas, empolgando o eleitorado só com a saliva, pois carisma lhe falta, alardeando que venceu a recessão e colocou as contas públicas em ordem. O primeiro argumento não comove porque o emprego, que é bom mesmo, ainda não apareceu. A reforma trabalhista, promovendo a troca de empregos formais por contratos temporários e intermitentes, está inibindo o consumo, e logo, a recuperação, bandeira de Meirelles. O segundo, o saneamento das contas públicas, é algo abstrato demais para a grande massa de eleitores, além de não ser exatamente verdadeiro. O novo ministro, seja Eduardo Guardia ou Mansueto de Almeida, terá de correr atrás de R$ 100 bilhões para cumprir a regra de ouro orçamentária este ano. Então, as chances de Meirelles pegar onda são muito remotas.
Virando candidato, e mesmo dispondo da máquina federal, Temer esbarrará no óbvio, o paredão de sua impopularidade. Parece incrível mas ele concorrerá apenas para usar o palanque eletrônico tentando espanar a biografia, tisnada por acusações graves a que terá de responder mais tarde na Justiça. Nessa hora, poderá usar dizer que foi perseguido pelos que não queriam sua candidatura à reeleição. Deixando agora Meirelles brincar de candidato, Temer garantiu-se um vice, o que não seria fácil, pelo medo do contágio que sua impopularidade desperta nos políticos.
Este bom arranjo para os dois é péssimo para o futuro que começa em primeiro de janeiro de 2019, quando tomará posse o novo presidente. Com os 30 partidos que temos, nenhum sequer se aproximará da maioria na Câmara. O novo governo, como sempre, terá de formar uma coalizão e o velho MDB, mais uma vez, será a melhor opção. E novamente, sem ter disputado para valer a Presidência, com um programa próprio, morderá boa parte do poder conferido pelo povo.
Brasil, um braseiro
O que aconteceu no Sul devia estar preocupando o andar de cima. Foi com Lula mas seria igualmente grave se fosse com outro. Policiais de braços cruzados enquanto grupos exaltados de extrema-direita atiravam pedras e ovos, quebravam ônibus, bloqueando o caminho da caravana. Só ontem, no Paraná, um juiz entrou em cena para garantir o direito de ir e vir. Desta vez, não houve revide porque o próprio Lula conteve os seus. Mas quando tombar o primeiro morto de um lado, haverá troco. Estamos a um passo dos confrontos de rua.
À negligência das autoridades somou-se a senadora o desatino da Ana Amélia, do PP, que louvou e estimulou os agressores a “tacar ovo e descer o relho nesta gente que vem aqui trazendo um condenado”. A bancada do PT decide hoje se levará representação contra ela ao Conselho de Ética do Senado, por incitação à violência. Em tudo isso houve também um recado intimidador ao STF. Foi como se dissessem: “Se o deixarem solto, nós o pegaremos”.
Os movimentos eleitorais soam falsos, como uma camada de cinza volátil sobre as brasas que, com um pouco mais de vento, podem lançar labaredas. Esclarecido o destino do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que deixa o cargo no dia 6 de abril e filia-se ao MDB, o que se podemos esperar concretamente disso, quando julho chegar, é o lançamento da chapa Temer-Meirelles. Aceitando filiar-se sem garantia de que será o candidato do partido, Meirelles aceitou esquentar o lugar para Temer. Depois vira candidato a vice. E como Lula também se tornou inelegível ontem, com a recusa de seus recursos pelo TRF-4, independentemente do que decidirá o STF sobre seu pedido de habeas corpus para não ser preso, teremos nos próximos meses dois candidatos que serão figurantes temporários.
Para se impor como candidato, Meirelles teria de chegar a julho com índices gordos nas pesquisas, empolgando o eleitorado só com a saliva, pois carisma lhe falta, alardeando que venceu a recessão e colocou as contas públicas em ordem. O primeiro argumento não comove porque o emprego, que é bom mesmo, ainda não apareceu. A reforma trabalhista, promovendo a troca de empregos formais por contratos temporários e intermitentes, está inibindo o consumo, e logo, a recuperação, bandeira de Meirelles. O segundo, o saneamento das contas públicas, é algo abstrato demais para a grande massa de eleitores, além de não ser exatamente verdadeiro. O novo ministro, seja Eduardo Guardia ou Mansueto de Almeida, terá de correr atrás de R$ 100 bilhões para cumprir a regra de ouro orçamentária este ano. Então, as chances de Meirelles pegar onda são muito remotas.
Virando candidato, e mesmo dispondo da máquina federal, Temer esbarrará no óbvio, o paredão de sua impopularidade. Parece incrível mas ele concorrerá apenas para usar o palanque eletrônico tentando espanar a biografia, tisnada por acusações graves a que terá de responder mais tarde na Justiça. Nessa hora, poderá usar dizer que foi perseguido pelos que não queriam sua candidatura à reeleição. Deixando agora Meirelles brincar de candidato, Temer garantiu-se um vice, o que não seria fácil, pelo medo do contágio que sua impopularidade desperta nos políticos.
Este bom arranjo para os dois é péssimo para o futuro que começa em primeiro de janeiro de 2019, quando tomará posse o novo presidente. Com os 30 partidos que temos, nenhum sequer se aproximará da maioria na Câmara. O novo governo, como sempre, terá de formar uma coalizão e o velho MDB, mais uma vez, será a melhor opção. E novamente, sem ter disputado para valer a Presidência, com um programa próprio, morderá boa parte do poder conferido pelo povo.
Brasil, um braseiro
O que aconteceu no Sul devia estar preocupando o andar de cima. Foi com Lula mas seria igualmente grave se fosse com outro. Policiais de braços cruzados enquanto grupos exaltados de extrema-direita atiravam pedras e ovos, quebravam ônibus, bloqueando o caminho da caravana. Só ontem, no Paraná, um juiz entrou em cena para garantir o direito de ir e vir. Desta vez, não houve revide porque o próprio Lula conteve os seus. Mas quando tombar o primeiro morto de um lado, haverá troco. Estamos a um passo dos confrontos de rua.
À negligência das autoridades somou-se a senadora o desatino da Ana Amélia, do PP, que louvou e estimulou os agressores a “tacar ovo e descer o relho nesta gente que vem aqui trazendo um condenado”. A bancada do PT decide hoje se levará representação contra ela ao Conselho de Ética do Senado, por incitação à violência. Em tudo isso houve também um recado intimidador ao STF. Foi como se dissessem: “Se o deixarem solto, nós o pegaremos”.
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