Por Rodrigo Perez Oliveira, no site Jornalistas Livres:
Venho utilizando o termo “fábrica de narrativas” para tratar da atuação da grande imprensa na crise brasileira contemporânea. Talvez este seja um dos aspectos mais importantes da crise: nunca antes na história do Brasil a imprensa foi player tão relevante no jogo político.
Isso não significa poder absoluto de manipulação. As pessoas não são gado. O público não é rebanho que simplesmente segue a toada da narrativa midiática. É certo que a imprensa hegemônica tenta pautar a opinião pública, conduzir a crise, mas sua eficiência é limitada. É essa tensão entre tentativas e limites o tema deste ensaio.
Acho mesmo que a imagem da “fábrica” nos ajuda a compreender a atuação dos conglomerados midiáticos na conjuntura da crise. Uma fábrica precisa ser gerenciada, organizada a partir de um centro administrativo comprometido com a realização de um determinado projeto.
O projeto da grande imprensa brasileira está claro, desde o início da crise: legitimar na opinião pública a agenda desenvolvimentista neoliberal, marcada pelo desmonte do Estado e pela entrega da tutela do desenvolvimento nacional ao controle das forças do mercado.
Quando falo em “grande imprensa brasileira” estou me referindo, naturalmente, à Rede Globo. Há outros veículos, com suas especificidades. Mas no geral é a Rede Globo quem dá o tom, quem gerencia a fábrica de narrativas.
Não quero dizer que a Rede Globo, em si, tenha compromisso moral com o neoliberalismo. A Globo não tem moral própria, não tem projeto próprio. A Globo tem clientes.
Hoje, no Brasil e no mundo, não existe cliente mais valioso que o neoliberalismo, representado pelos grupos que pretendem varrer o Estado de Bem-Estar Social do mapa ocidental.
Pois sim, leitor e leitora: a crise não é só brasileira.
O Brasil até pode ser o principal laboratório da ofensiva neoliberal contra o Estado, mas a crise tá longe de ser uma exclusividade nossa.
O investimento da Rede Globo na defesa da agenda neoliberal é tão intenso que está modificando uma antiga prática da empresa. Antes, o núcleo do entretenimento era relativamente independente do núcleo do jornalismo. As agendas eram diferentes.
As novelas da Globo, por exemplo, contribuíram bastante para a ampliação dos direitos civis no Brasil, especialmente no que se refere aos direitos de mulheres, de pretos e pretas e da comunidade LGBT. Ou seja, se o departamento de jornalismo da emissora é historicamente conservador e alinhado com as agendas econômicas e políticas do grande capital, o departamento de entretenimento sempre foi relativamente progressista.
Não que exista propriamente uma contradição entre os interesses políticos e econômicos do grande capital e os valores progressistas ligados ao plano do comportamento e comprometidos com o princípio da “liberdade do corpo”. Cada vez mais, o capitalismo busca a leveza e o distensionamento das relações sociais, o que sugere a superação de opressões que restringem mercados e atrapalham os negócios, como é o caso do machismo, da homofobia e do racismo. Mas não é desse capitalismo leve que quero falar, não aqui, não agora.
Quero mostrar como o núcleo do jornalismo vem, cada vez mais, utilizando o núcleo do entretenimento para defender as reformas neoliberais que estão desmontando o Estado brasileiro.
Acontece que o projeto defendido pela fábrica de narrativas tem um grande adversário: o imaginário da população brasileira, que é atravessado pela ideia de que cabe ao Estado prover direitos sociais e tutelar o desenvolvimento nacional.
Temos, então, a seguinte situação: de um lado está o projeto neoliberal, que apesar de ter tomado de assalto o Poder Executivo e partes consideráveis do Poder Legislativo e do Sistema de Justiça, não conta com o apoio da maioria da população. Do outro lado, o imaginário popular, que depositando suas expectativas de direitos sociais no Estado, resiste à ofensiva neoliberal.
O Partido dos Trabalhadores ainda é predileto dos brasileiros. Se for candidato, Lula será eleito, talvez no primeiro turno. Chamo isso de resistência.
A defesa da Rede Globo das reformas neoliberais propostas pelo governo de Michel Temer é um bom termômetro para medirmos a real capacidade da mídia hegemônica em pautar a opinião pública. Muitas vezes, essa capacidade é superestimada.
Até aqui, foram três as principais reformas: A PEC 241, (também conhecida como a “PEC dos gastos”), a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência.
Nos três casos, a Rede Globo mobilizou toda a sua estrutura, incluindo o núcleo do entretenimento, para manipular a opinião pública e garantir apoio popular à agenda reformista. Os programas da grade matutina mostram claramente esse esforço.
Por partes, um passo de cada vez:
Isso não significa poder absoluto de manipulação. As pessoas não são gado. O público não é rebanho que simplesmente segue a toada da narrativa midiática. É certo que a imprensa hegemônica tenta pautar a opinião pública, conduzir a crise, mas sua eficiência é limitada. É essa tensão entre tentativas e limites o tema deste ensaio.
Acho mesmo que a imagem da “fábrica” nos ajuda a compreender a atuação dos conglomerados midiáticos na conjuntura da crise. Uma fábrica precisa ser gerenciada, organizada a partir de um centro administrativo comprometido com a realização de um determinado projeto.
O projeto da grande imprensa brasileira está claro, desde o início da crise: legitimar na opinião pública a agenda desenvolvimentista neoliberal, marcada pelo desmonte do Estado e pela entrega da tutela do desenvolvimento nacional ao controle das forças do mercado.
Quando falo em “grande imprensa brasileira” estou me referindo, naturalmente, à Rede Globo. Há outros veículos, com suas especificidades. Mas no geral é a Rede Globo quem dá o tom, quem gerencia a fábrica de narrativas.
Não quero dizer que a Rede Globo, em si, tenha compromisso moral com o neoliberalismo. A Globo não tem moral própria, não tem projeto próprio. A Globo tem clientes.
Hoje, no Brasil e no mundo, não existe cliente mais valioso que o neoliberalismo, representado pelos grupos que pretendem varrer o Estado de Bem-Estar Social do mapa ocidental.
Pois sim, leitor e leitora: a crise não é só brasileira.
O Brasil até pode ser o principal laboratório da ofensiva neoliberal contra o Estado, mas a crise tá longe de ser uma exclusividade nossa.
O investimento da Rede Globo na defesa da agenda neoliberal é tão intenso que está modificando uma antiga prática da empresa. Antes, o núcleo do entretenimento era relativamente independente do núcleo do jornalismo. As agendas eram diferentes.
As novelas da Globo, por exemplo, contribuíram bastante para a ampliação dos direitos civis no Brasil, especialmente no que se refere aos direitos de mulheres, de pretos e pretas e da comunidade LGBT. Ou seja, se o departamento de jornalismo da emissora é historicamente conservador e alinhado com as agendas econômicas e políticas do grande capital, o departamento de entretenimento sempre foi relativamente progressista.
Não que exista propriamente uma contradição entre os interesses políticos e econômicos do grande capital e os valores progressistas ligados ao plano do comportamento e comprometidos com o princípio da “liberdade do corpo”. Cada vez mais, o capitalismo busca a leveza e o distensionamento das relações sociais, o que sugere a superação de opressões que restringem mercados e atrapalham os negócios, como é o caso do machismo, da homofobia e do racismo. Mas não é desse capitalismo leve que quero falar, não aqui, não agora.
Quero mostrar como o núcleo do jornalismo vem, cada vez mais, utilizando o núcleo do entretenimento para defender as reformas neoliberais que estão desmontando o Estado brasileiro.
Acontece que o projeto defendido pela fábrica de narrativas tem um grande adversário: o imaginário da população brasileira, que é atravessado pela ideia de que cabe ao Estado prover direitos sociais e tutelar o desenvolvimento nacional.
Temos, então, a seguinte situação: de um lado está o projeto neoliberal, que apesar de ter tomado de assalto o Poder Executivo e partes consideráveis do Poder Legislativo e do Sistema de Justiça, não conta com o apoio da maioria da população. Do outro lado, o imaginário popular, que depositando suas expectativas de direitos sociais no Estado, resiste à ofensiva neoliberal.
O Partido dos Trabalhadores ainda é predileto dos brasileiros. Se for candidato, Lula será eleito, talvez no primeiro turno. Chamo isso de resistência.
A defesa da Rede Globo das reformas neoliberais propostas pelo governo de Michel Temer é um bom termômetro para medirmos a real capacidade da mídia hegemônica em pautar a opinião pública. Muitas vezes, essa capacidade é superestimada.
Até aqui, foram três as principais reformas: A PEC 241, (também conhecida como a “PEC dos gastos”), a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência.
Nos três casos, a Rede Globo mobilizou toda a sua estrutura, incluindo o núcleo do entretenimento, para manipular a opinião pública e garantir apoio popular à agenda reformista. Os programas da grade matutina mostram claramente esse esforço.
Por partes, um passo de cada vez:
A PEC 241
Entre agosto e dezembro de 2016, nos dias e meses seguintes ao golpe parlamentar que derrubou Dilma Rousseff, o governo de Michel Temer vivia o apogeu de sua vitalidade política. Temer não foi eleito pela opinião pública. Temer foi eleito pelo Congresso Nacional. Por isso, seu governo nasce marcado pela combinação entre a rejeição popular e o apoio parlamentar. Michel Temer entendeu perfeitamente que o Congresso era tudo que tinha.
A PEC dos gastos foi a primeira grande agenda política de Michel Temer e representa uma mudança nos fundamentos conceituais do Estado brasileiro. Trata-se da restrição do poder de investimento do Estado, ou seja, o Estado deixa de ser soberano para planejar políticas públicas e cumprir seu papel civilizatório. Com a aprovação da PEC, a ação do Estado passa a estar subordinada ao crescimento econômico, ao mercado.
Na prática, a PEC criminaliza os movimentos anticíclicos do Estado. Ou em outras palavras: em momentos de recessão, de crise, o Estado não tem mais instrumentos legais para contrariar a crise, para fomentar desenvolvimento. O poder, portanto, está no mercado e não no Estado.
A PEC 241 significa uma ofensiva contra o principal fundamento do imaginário político do Brasil moderno, que desde os anos 1930 define o Estado como o centro de planejamento do desenvolvimento nacional. Até aqui, esse imaginário não tinha sido contrariado, nem pelos militares, nem pelos tucanos.
Nem os militares, nem os governos de Fernando Henrique Cardoso, chegaram tão longe quanto Michel Temer.
Uma mudança desse tamanho precisa cortejar a opinião pública. Não que o apoio popular seja imprescindível para a aprovação do projeto, já que a PEC foi aprovada no Congresso e sancionada pelo Palácio do Planalto sem nenhum tipo de consulta.
Mas todos sabemos que não existe golpe que dure pra sempre. Em algum momento, teremos eleições no Brasil e a manutenção da obra do golpe depende do apoio popular. Não se faz política apenas no palácio. Em algum momento, as ruas serão chamadas, serão ouvidas.
Nas semanas que envolveram a tramitação da PEC 241, o programa de “Bem Estar” apresentou uma série de matérias que tematizaram a “saúde financeira das famílias”. A mensagem era clara: se uma família não pode gastar mais do que ganha, o Estado também não pode.
A narrativa midiática implodiu as diferenças que distinguem a família do Estado. A família, núcleo social privado sem nenhum compromisso com o bem comum, se tornou equivalente ao Estado, organização institucional responsável pela manutenção do marco civilizatório.
É como se ao limitar a capacidade de investimento do Estado, o golpe neoliberal estivesse agindo como um pai zeloso que cuida das finanças da família.
Entre agosto e dezembro de 2016, nos dias e meses seguintes ao golpe parlamentar que derrubou Dilma Rousseff, o governo de Michel Temer vivia o apogeu de sua vitalidade política. Temer não foi eleito pela opinião pública. Temer foi eleito pelo Congresso Nacional. Por isso, seu governo nasce marcado pela combinação entre a rejeição popular e o apoio parlamentar. Michel Temer entendeu perfeitamente que o Congresso era tudo que tinha.
A PEC dos gastos foi a primeira grande agenda política de Michel Temer e representa uma mudança nos fundamentos conceituais do Estado brasileiro. Trata-se da restrição do poder de investimento do Estado, ou seja, o Estado deixa de ser soberano para planejar políticas públicas e cumprir seu papel civilizatório. Com a aprovação da PEC, a ação do Estado passa a estar subordinada ao crescimento econômico, ao mercado.
Na prática, a PEC criminaliza os movimentos anticíclicos do Estado. Ou em outras palavras: em momentos de recessão, de crise, o Estado não tem mais instrumentos legais para contrariar a crise, para fomentar desenvolvimento. O poder, portanto, está no mercado e não no Estado.
A PEC 241 significa uma ofensiva contra o principal fundamento do imaginário político do Brasil moderno, que desde os anos 1930 define o Estado como o centro de planejamento do desenvolvimento nacional. Até aqui, esse imaginário não tinha sido contrariado, nem pelos militares, nem pelos tucanos.
Nem os militares, nem os governos de Fernando Henrique Cardoso, chegaram tão longe quanto Michel Temer.
Uma mudança desse tamanho precisa cortejar a opinião pública. Não que o apoio popular seja imprescindível para a aprovação do projeto, já que a PEC foi aprovada no Congresso e sancionada pelo Palácio do Planalto sem nenhum tipo de consulta.
Mas todos sabemos que não existe golpe que dure pra sempre. Em algum momento, teremos eleições no Brasil e a manutenção da obra do golpe depende do apoio popular. Não se faz política apenas no palácio. Em algum momento, as ruas serão chamadas, serão ouvidas.
Nas semanas que envolveram a tramitação da PEC 241, o programa de “Bem Estar” apresentou uma série de matérias que tematizaram a “saúde financeira das famílias”. A mensagem era clara: se uma família não pode gastar mais do que ganha, o Estado também não pode.
A narrativa midiática implodiu as diferenças que distinguem a família do Estado. A família, núcleo social privado sem nenhum compromisso com o bem comum, se tornou equivalente ao Estado, organização institucional responsável pela manutenção do marco civilizatório.
É como se ao limitar a capacidade de investimento do Estado, o golpe neoliberal estivesse agindo como um pai zeloso que cuida das finanças da família.
A Reforma Trabalhista
A reforma trabalhista também violentou outro fundamento do imaginário político brasileiro: a vinculação entre cidadania e o trabalho formal.
Durante décadas, o trabalhador formal, com carteira assinada, foi definido como o modelo ideal de cidadão. Esse princípio alimentou práticas de violência contra grupos que por estarem excluídos do trabalho formal eram tratados como “vadios” pelas forças policiais do Estado.
Teve perseguição ao samba, às religiões de matriz africana. Perseguição aos pobres em geral. Mas a ideia do trabalho formal como exercício de cidadania se consolidou no imaginário político brasileiro.
A reforma trabalhista, ao “flexibilizar” as leis trabalhistas, atacou o trabalho formal, violentou a cidadania, tal como ela é pensada no Brasil há mais de 70 anos. Temos aqui assunto muito sério e o golpe neoliberal sabe disso. A fábrica de narrativas sabe disso.
A Reforma Trabalhista tramitou entre maio e julho de 2017. Nesse período, o programa “Encontro com Fátima Bernardes” investiu no culto ao empreendedorismo, trazendo à cena, prioritariamente, empreendedoras mulheres, periféricas e negras. A fábrica sabe o que faz.
A direção da fábrica sabe que o empoderamento de mulheres, negras e periféricas é uma agenda social relevante. O empreendedorismo dessas mulheres foi tratado como uma estratégia de empoderamento, de libertação.
Libertação de quem? De qual algoz?
O patrão, personificando o trabalho formal, foi pintado como o algoz.
“Quando trabalhava de carteira assinada, eu não tinha tempo nem pra levar minha filha ao médico”, disse a empreendedora em reportagem exibida no horário nobre da programação matutina da principal emissora de TV do Brasil.
O trabalho formal, nesse sentido, deixa de ser representado como fundamento da cidadania para se tornar uma experiência de opressão.
E a libertação? Se daria pela rebelião dos trabalhadores? Pela divisão dos lucros? Por relações de trabalho mais humanas?
É claro que não!
A libertação é individual, no melhor estilo liberal, e se dá pela abolição do trabalho formal.
Cada um que seja livre para resolver seus problemas. Livre para levar a filha ao médico na hora que bem entender. Livre para ficar sem assistência social em situação de doença. Livre para não receber 13° salário. Livre para ser demitido sem nenhum tipo de garantia;
Liberdade é uma palavrinha safada e perigosa. Inspira cuidados.
A reforma trabalhista também violentou outro fundamento do imaginário político brasileiro: a vinculação entre cidadania e o trabalho formal.
Durante décadas, o trabalhador formal, com carteira assinada, foi definido como o modelo ideal de cidadão. Esse princípio alimentou práticas de violência contra grupos que por estarem excluídos do trabalho formal eram tratados como “vadios” pelas forças policiais do Estado.
Teve perseguição ao samba, às religiões de matriz africana. Perseguição aos pobres em geral. Mas a ideia do trabalho formal como exercício de cidadania se consolidou no imaginário político brasileiro.
A reforma trabalhista, ao “flexibilizar” as leis trabalhistas, atacou o trabalho formal, violentou a cidadania, tal como ela é pensada no Brasil há mais de 70 anos. Temos aqui assunto muito sério e o golpe neoliberal sabe disso. A fábrica de narrativas sabe disso.
A Reforma Trabalhista tramitou entre maio e julho de 2017. Nesse período, o programa “Encontro com Fátima Bernardes” investiu no culto ao empreendedorismo, trazendo à cena, prioritariamente, empreendedoras mulheres, periféricas e negras. A fábrica sabe o que faz.
A direção da fábrica sabe que o empoderamento de mulheres, negras e periféricas é uma agenda social relevante. O empreendedorismo dessas mulheres foi tratado como uma estratégia de empoderamento, de libertação.
Libertação de quem? De qual algoz?
O patrão, personificando o trabalho formal, foi pintado como o algoz.
“Quando trabalhava de carteira assinada, eu não tinha tempo nem pra levar minha filha ao médico”, disse a empreendedora em reportagem exibida no horário nobre da programação matutina da principal emissora de TV do Brasil.
O trabalho formal, nesse sentido, deixa de ser representado como fundamento da cidadania para se tornar uma experiência de opressão.
E a libertação? Se daria pela rebelião dos trabalhadores? Pela divisão dos lucros? Por relações de trabalho mais humanas?
É claro que não!
A libertação é individual, no melhor estilo liberal, e se dá pela abolição do trabalho formal.
Cada um que seja livre para resolver seus problemas. Livre para levar a filha ao médico na hora que bem entender. Livre para ficar sem assistência social em situação de doença. Livre para não receber 13° salário. Livre para ser demitido sem nenhum tipo de garantia;
Liberdade é uma palavrinha safada e perigosa. Inspira cuidados.
A Reforma da Previdência
É aqui que podemos observar claramente os limites da manipulação. A Reforma da Previdência é a menina dos olhos do golpe neoliberal. É a única reforma que não foi aprovada.
Por que?
Porque a opinião pública está resistindo, não está se deixando manipular. Aposentadoria, INSS, é coisa sagrada para os brasileiros e brasileiras. No ano de eleição, nenhum deputado quis colocar sua assinatura em projeto tão polêmico.
De fato, a Reforma da Previdência subiu no telhado, foi derrotada. Mas não dá pra dizer que faltou empenho da fábrica de narrativas. A Rede Globo tentou, em todos os lugares, em todos os programas da sua grade, convencer os brasileiras e brasileiras de que é bom trabalhar na terceira idade.
O Programa da Ana Maria Braga, o programa da Fátima Bernardes, o “Bem Estar”, todos eles passaram os últimos meses de 2017 e os primeiros meses de 2018 defendendo a Reforma da Previdência. Eram velhos e velhas por toda parte. Atrizes e atores idosos cozinhando com a Ana Maria Braga, fazendo exercícios físicos no “Bem Estar”, contando para a Fátima Bernardes como suas vidas sexuais são ativas.
Não basta o esforço do núcleo de jornalismo. Para passar a Reforma da Previdência não dá pra contar apenas com a Miriam Leitão. Só o economês não é suficiente. Carece de usar toda a estrutura da fábrica.
A fábrica tentou fazer sua parte.
A fábrica tentou convencer os brasileiros e brasileiros que acordam às 6 de manhã, que enfrentam duas horas de transporte público, que trabalham até às 17 e voltam pra casa, depois de mais duas horas sacolejando nos trens, ônibus e metrôs, que na velhice eles serão tão saudáveis e ativos como Lima Duarte, Fernanda Montenegro e Natália Grimberg.
O povo não é burro. De burro, o povo não tem nada.
Os esforços foram intensos. A fábrica trabalhou bastante. Mas não teve êxito. Todas as pesquisas mostravam que a opinião pública não apoiava a reforma da previdência. Aí, o governo golpista tentou uma saída honrosa, inventando uma intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro.
Enfim, o que quis dizer neste ensaio é algo relativamente simples, que pode ser facilmente observador por qualquer um com olhar mais atento para a realidade da crise: a grande imprensa brasileira, a fábrica de narrativa do golpe neoliberal, tenta manipular a opinião pública.
Tenta, mas não consegue, ou pelo menos não consegue como gostaria. Mas a fábrica é insistente e continua tentando em cada um dos seus produtos, até mesmo naqueles programas bonitinhos, aparentemente despretensiosos e inocentes. Não existe inocência na fábrica.
A fábrica apostou todas as suas fichas no golpe. Não dá pra voltar atrás.
Os motores da fábrica estão girando até mesmo quando uma petista, mulher, negra e periférica é laureada campeã de reality show. Pra ser eficiente, a manipulação precisa estar camuflada. A fábrica precisa ser vista como uma empresa de comunicação democrática e aberta a todas as opiniões políticas.
Tão achando que é paranoia, né? Tão achando que é viagem? Que é teoria da conspiração?
Ah leitor, ah leitora.. não sejam ingênuos.
Não existe golpe de Estado sem conspiração. E para que aconteça uma conspiração, para que aconteça um golpe, basta apenas que pessoas muito poderosas estejam dispostas a conspirar.
É aqui que podemos observar claramente os limites da manipulação. A Reforma da Previdência é a menina dos olhos do golpe neoliberal. É a única reforma que não foi aprovada.
Por que?
Porque a opinião pública está resistindo, não está se deixando manipular. Aposentadoria, INSS, é coisa sagrada para os brasileiros e brasileiras. No ano de eleição, nenhum deputado quis colocar sua assinatura em projeto tão polêmico.
De fato, a Reforma da Previdência subiu no telhado, foi derrotada. Mas não dá pra dizer que faltou empenho da fábrica de narrativas. A Rede Globo tentou, em todos os lugares, em todos os programas da sua grade, convencer os brasileiras e brasileiras de que é bom trabalhar na terceira idade.
O Programa da Ana Maria Braga, o programa da Fátima Bernardes, o “Bem Estar”, todos eles passaram os últimos meses de 2017 e os primeiros meses de 2018 defendendo a Reforma da Previdência. Eram velhos e velhas por toda parte. Atrizes e atores idosos cozinhando com a Ana Maria Braga, fazendo exercícios físicos no “Bem Estar”, contando para a Fátima Bernardes como suas vidas sexuais são ativas.
Não basta o esforço do núcleo de jornalismo. Para passar a Reforma da Previdência não dá pra contar apenas com a Miriam Leitão. Só o economês não é suficiente. Carece de usar toda a estrutura da fábrica.
A fábrica tentou fazer sua parte.
A fábrica tentou convencer os brasileiros e brasileiros que acordam às 6 de manhã, que enfrentam duas horas de transporte público, que trabalham até às 17 e voltam pra casa, depois de mais duas horas sacolejando nos trens, ônibus e metrôs, que na velhice eles serão tão saudáveis e ativos como Lima Duarte, Fernanda Montenegro e Natália Grimberg.
O povo não é burro. De burro, o povo não tem nada.
Os esforços foram intensos. A fábrica trabalhou bastante. Mas não teve êxito. Todas as pesquisas mostravam que a opinião pública não apoiava a reforma da previdência. Aí, o governo golpista tentou uma saída honrosa, inventando uma intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro.
Enfim, o que quis dizer neste ensaio é algo relativamente simples, que pode ser facilmente observador por qualquer um com olhar mais atento para a realidade da crise: a grande imprensa brasileira, a fábrica de narrativa do golpe neoliberal, tenta manipular a opinião pública.
Tenta, mas não consegue, ou pelo menos não consegue como gostaria. Mas a fábrica é insistente e continua tentando em cada um dos seus produtos, até mesmo naqueles programas bonitinhos, aparentemente despretensiosos e inocentes. Não existe inocência na fábrica.
A fábrica apostou todas as suas fichas no golpe. Não dá pra voltar atrás.
Os motores da fábrica estão girando até mesmo quando uma petista, mulher, negra e periférica é laureada campeã de reality show. Pra ser eficiente, a manipulação precisa estar camuflada. A fábrica precisa ser vista como uma empresa de comunicação democrática e aberta a todas as opiniões políticas.
Tão achando que é paranoia, né? Tão achando que é viagem? Que é teoria da conspiração?
Ah leitor, ah leitora.. não sejam ingênuos.
Não existe golpe de Estado sem conspiração. E para que aconteça uma conspiração, para que aconteça um golpe, basta apenas que pessoas muito poderosas estejam dispostas a conspirar.
1 comentários:
As novelas da rede globo sempre foram machistas, racistas e homofóbicos, até muitos noveleiros reconhecem isso. Só ultimamente que tem posado de ''progressista'' por necessidade.
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