Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:
A foto aí de cima não é, evidentemente, de refugiados árabes ou africanos atulhados num destes barcos que a toda hora lemos naufragarem no Mediterrâneo, numa terrível ironia com os navios que levam multidões de refugiados para a Europa, que os repele.
São imigrantes italianos, como poderiam ser espanhóis, migrando para a Argentina, como poderia ser para o Brasil, aos milhões, como o fizeram especialmente no final do século XIX e início do XX, até a 2ª Grande Guerra.
O que os movia, todos sabem, era a pobreza e a falta terra para plantar e de perspectivas para viver. E, do lado de cá, a necessidade de substituir a mão de obra escrava, que minguava desde antes da Abolição. No cartaz ao lado, recolhido por Elcio Alberton em seu livro “Construir Esperança”, o convite é tentador: “Terras para os italianos no Brasil(…) Venham construir os seus sonhos com a família. Um país de oportunidades, clima tropical, vida em abundância, riquezas minerais. No Brasil você poderá ter o seu castelo. O Governo dá terra e ferramentas para todos”.
É preciso lembrar disso quando se lê a nada surpreendente pesquisa da Folha onde se registra que “Se pudessem, 62% dos jovens brasileiros iriam embora do país“.
Falta, é claro, trabalho – temos um quarto dos jovens sem emprego -, faltam terras mas, sobretudo, faltam-nos perspectivas de uma vida em convívio civilizado, agora que transformamos a exclusão, o ódio social e a destruição do Estado em “estado natural das coisas”, depois de uma década de recuperação da identidade e autoestima nacionais.
Ambição e tolice sempre houve e sempre haverá, para que se deseje as Miami da vida, sobretudo entre os que têm dinheiro e escassa brasilidade. Nem se diga que desejar correr mundo seja algum pecado, ainda mais nos tempos em que viajar e conhecer terras e gentes do planeta tornou-se muito mais fácil e menos custoso que arranjar um lugar num “cargueiro do Lloyd, lavando o porão”.
Depois, que diabos, se o dinheiro pode circular sem peias por todo o mundo, porque não as pessoas?
Mas o desejo de ir-se passou deste grupo, e muito, para estender-se a gente que ao contrário, sente-se parte do país mas esmorece diante dos subprodutos dos defeitos que não sabe ou não quer ou ainda que não lhe deixam corrigir os “dois brasis” fadados a viver em um só espaço.
E quando se pode, sobretudo por ter grau de instrução ou renda (que este país lhes deu, afinal), sonhar com aqueles lugares onde o Estado – sim, o bom e velho Estado, o do bem-estar social, aquele que fez a Europa deixar de ser exportadora de gente atrás de sonhos -, como condenar quem faz isso?
A resposta para nosso dilema está ali, no amarelado cartaz com que se encantavam italianos e os faziam juntar família e farrapos para tomar um navio em Gênova para terras distantes:
Um país de oportunidades.
Esta é a fronteira que os donos do Brasil, com sua subnobreza colonial que acha que a vida ter futuro se não for boa para todos, não permite que se cruze.
A foto aí de cima não é, evidentemente, de refugiados árabes ou africanos atulhados num destes barcos que a toda hora lemos naufragarem no Mediterrâneo, numa terrível ironia com os navios que levam multidões de refugiados para a Europa, que os repele.
São imigrantes italianos, como poderiam ser espanhóis, migrando para a Argentina, como poderia ser para o Brasil, aos milhões, como o fizeram especialmente no final do século XIX e início do XX, até a 2ª Grande Guerra.
O que os movia, todos sabem, era a pobreza e a falta terra para plantar e de perspectivas para viver. E, do lado de cá, a necessidade de substituir a mão de obra escrava, que minguava desde antes da Abolição. No cartaz ao lado, recolhido por Elcio Alberton em seu livro “Construir Esperança”, o convite é tentador: “Terras para os italianos no Brasil(…) Venham construir os seus sonhos com a família. Um país de oportunidades, clima tropical, vida em abundância, riquezas minerais. No Brasil você poderá ter o seu castelo. O Governo dá terra e ferramentas para todos”.
É preciso lembrar disso quando se lê a nada surpreendente pesquisa da Folha onde se registra que “Se pudessem, 62% dos jovens brasileiros iriam embora do país“.
Falta, é claro, trabalho – temos um quarto dos jovens sem emprego -, faltam terras mas, sobretudo, faltam-nos perspectivas de uma vida em convívio civilizado, agora que transformamos a exclusão, o ódio social e a destruição do Estado em “estado natural das coisas”, depois de uma década de recuperação da identidade e autoestima nacionais.
Ambição e tolice sempre houve e sempre haverá, para que se deseje as Miami da vida, sobretudo entre os que têm dinheiro e escassa brasilidade. Nem se diga que desejar correr mundo seja algum pecado, ainda mais nos tempos em que viajar e conhecer terras e gentes do planeta tornou-se muito mais fácil e menos custoso que arranjar um lugar num “cargueiro do Lloyd, lavando o porão”.
Depois, que diabos, se o dinheiro pode circular sem peias por todo o mundo, porque não as pessoas?
Mas o desejo de ir-se passou deste grupo, e muito, para estender-se a gente que ao contrário, sente-se parte do país mas esmorece diante dos subprodutos dos defeitos que não sabe ou não quer ou ainda que não lhe deixam corrigir os “dois brasis” fadados a viver em um só espaço.
E quando se pode, sobretudo por ter grau de instrução ou renda (que este país lhes deu, afinal), sonhar com aqueles lugares onde o Estado – sim, o bom e velho Estado, o do bem-estar social, aquele que fez a Europa deixar de ser exportadora de gente atrás de sonhos -, como condenar quem faz isso?
A resposta para nosso dilema está ali, no amarelado cartaz com que se encantavam italianos e os faziam juntar família e farrapos para tomar um navio em Gênova para terras distantes:
Um país de oportunidades.
Esta é a fronteira que os donos do Brasil, com sua subnobreza colonial que acha que a vida ter futuro se não for boa para todos, não permite que se cruze.
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