Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
Faltam quatro meses e três dias para o primeiro turno da eleição mas o governo acabou antes do final do mandato. A saída de Pedro Parente da presidência da Petrobras ainda não foi o epílogo da crise deflagrada pela greve dos caminhoneiros. As consequências ainda nem começaram e ainda escavarão mais o trecho de caminho que falta. O problema é como percorrê-lo sem tombos e sem fraturas. Temer, dizem aliados ressabiados, devia fazer como Sarney no final de seu governo: manter o básico e garantir a transição, mas ele parece acreditar que ainda tem um papel relevante a cumprir.
A greve, além dos transtornos e da devastação econômica que trouxe, aproximou demais o país do abismo, ameaçando a democracia. Houve risco de convulsão e é preciso reconhecer: se quisessem pretexto para um golpe, os militares o teriam tido. A pregação golpista não foi histeria de ocasião. Segundo apurou a Folha de S. Paulo, as Forças Armadas investigam a participação de militares na agitação pró “intervenção militar”, eufemismo para “golpe”. O inquérito do MPF está em andamento e o Brasil precisa conhecer seus resultados.
A queda de Parente foi uma consequência política da ambivalência do governo, que alternou a defesa de sua política de preços dolarizados com a discussão de fórmulas para baratear também, para o consumidor, a gasolina e o gás de cozinha. Ao custo de mais subsídios, impossível. Nem raspando o tacho.
Já as consequências econômicas (e sociais) das perdas produtivas com a greve e das concessões aos caminhoneiros ainda nem começaram. Algum repique a inflação terá. Não é provável que os preços fiquem inalterados depois dos danos sofridos por tantos setores. A frustração do crescimento é óbvia. Analistas já falam em menos de 2% este ano, contra expectativas anteriores de mais de 3%. Os cortes no orçamento atingem programas que vão do policiamento de rodovias (castigo para os caminhoneiros?) ao FIES, um dos mais atingidos, com perda de R$ 150 milhões. No meio do caminho só tem pedras.
E na política, a erosão da frente que fez o impeachment e deu a cadeira a Temer. As medidas relacionadas com a greve foram e serão aprovadas, mas agendas novas não têm futuro no Congresso. Se vier uma terceira denúncia contra Temer, a Casa conterá o comichão para aprová-la. Até a oposição acha tarde para afastá-lo. Falou-se em antecipação do pleito, mas também não passa, com a direita sem candidato, Lula e Bolsonaro liderando as pesquisas, afora questões constitucionais. A eleição é o porto.
O ex-presidente Sarney teve seu momento de glória com o Plano Cruzado, que deu estrondosa vitória ao PMDB em 1886. O congelamento de preços resultou na falta de produtos, tentou-se até confiscar boi no pasto para garantir a carne. Depois do pleito a inflação voltou com força, outros dois planos vieram, juntamente com a impopularidade. No final, ele optou por levar a cabo sua grande contribuição, a consolidação da transição. Maílson da Nóbrega, no ministério da Fazenda, passou a fazer a chamada “política econômica feijão-com-arroz”: o básico. Na campanha, o governo não teve candidato, apanhou muito mas garantiu a primeira eleição direta.
Entre aliados, há quem pense sugerir algo parecido a Temer. Que se recolha um pouco, enfrente as emergências, faça o essencial. Que Meirelles seja candidato, se o PMDB quiser. Mas ele parece convencido de que tem papel maior a cumprir. Do contrário, não estaria pensando em alternativas de preço para a gasolina nem em avançar com a privatização da Eletrobrás. O perigo é provocar mais confusão, na reta da eleição.
O PT agradece
Os petistas ironizam: Estão comovidos. Nunca imaginaram haver tanta gente preocupada com o sucesso eleitoral do PT, sugerindo que o partido decida logo quem substituirá Lula na disputa presidencial, para não ficar isolado nem prejudicar as alianças regionais.
A greve, além dos transtornos e da devastação econômica que trouxe, aproximou demais o país do abismo, ameaçando a democracia. Houve risco de convulsão e é preciso reconhecer: se quisessem pretexto para um golpe, os militares o teriam tido. A pregação golpista não foi histeria de ocasião. Segundo apurou a Folha de S. Paulo, as Forças Armadas investigam a participação de militares na agitação pró “intervenção militar”, eufemismo para “golpe”. O inquérito do MPF está em andamento e o Brasil precisa conhecer seus resultados.
A queda de Parente foi uma consequência política da ambivalência do governo, que alternou a defesa de sua política de preços dolarizados com a discussão de fórmulas para baratear também, para o consumidor, a gasolina e o gás de cozinha. Ao custo de mais subsídios, impossível. Nem raspando o tacho.
Já as consequências econômicas (e sociais) das perdas produtivas com a greve e das concessões aos caminhoneiros ainda nem começaram. Algum repique a inflação terá. Não é provável que os preços fiquem inalterados depois dos danos sofridos por tantos setores. A frustração do crescimento é óbvia. Analistas já falam em menos de 2% este ano, contra expectativas anteriores de mais de 3%. Os cortes no orçamento atingem programas que vão do policiamento de rodovias (castigo para os caminhoneiros?) ao FIES, um dos mais atingidos, com perda de R$ 150 milhões. No meio do caminho só tem pedras.
E na política, a erosão da frente que fez o impeachment e deu a cadeira a Temer. As medidas relacionadas com a greve foram e serão aprovadas, mas agendas novas não têm futuro no Congresso. Se vier uma terceira denúncia contra Temer, a Casa conterá o comichão para aprová-la. Até a oposição acha tarde para afastá-lo. Falou-se em antecipação do pleito, mas também não passa, com a direita sem candidato, Lula e Bolsonaro liderando as pesquisas, afora questões constitucionais. A eleição é o porto.
O ex-presidente Sarney teve seu momento de glória com o Plano Cruzado, que deu estrondosa vitória ao PMDB em 1886. O congelamento de preços resultou na falta de produtos, tentou-se até confiscar boi no pasto para garantir a carne. Depois do pleito a inflação voltou com força, outros dois planos vieram, juntamente com a impopularidade. No final, ele optou por levar a cabo sua grande contribuição, a consolidação da transição. Maílson da Nóbrega, no ministério da Fazenda, passou a fazer a chamada “política econômica feijão-com-arroz”: o básico. Na campanha, o governo não teve candidato, apanhou muito mas garantiu a primeira eleição direta.
Entre aliados, há quem pense sugerir algo parecido a Temer. Que se recolha um pouco, enfrente as emergências, faça o essencial. Que Meirelles seja candidato, se o PMDB quiser. Mas ele parece convencido de que tem papel maior a cumprir. Do contrário, não estaria pensando em alternativas de preço para a gasolina nem em avançar com a privatização da Eletrobrás. O perigo é provocar mais confusão, na reta da eleição.
O PT agradece
Os petistas ironizam: Estão comovidos. Nunca imaginaram haver tanta gente preocupada com o sucesso eleitoral do PT, sugerindo que o partido decida logo quem substituirá Lula na disputa presidencial, para não ficar isolado nem prejudicar as alianças regionais.
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